O inusitado recorte da comida como protagonista de conflitos. Depois de uma grande experiência dirigindo episódios de seriados de sucesso, como: Succession, The Affair e até mesmo Game of Thrones, o cineasta britânico Mark Mylod chega ao seu quarto longa-metragem da carreira trazendo para o público uma sátira sobre rejeição e medo, ao mesmo tempo inteligente que navega nos fenômenos que podem ocorrer na mente humana. A vibe gourmet que acompanha a narrativa nada mais é que uma alegoria já que o subliminar das refeições aqui traçam um paralelo com o instantâneo desabrochar dos pensamentos dos personagens, um reflexo de como enxergam a vida ao seu redor. O roteiro é assinado pela dupla Seth Reiss e Will Tracy, esse último teve a ideia durante sua lua de mel passada na Noruega, quando entrou em um barco para um restaurante chique em uma ilha particular.
Na trama, conhecemos um jovem casal, que logo perceberemos
que não andam em compasso de harmonia, Tyler (Nicholas Hoult) um milionário que tem um verdadeiro fascínio pela
alta gastronomia e Margot (Anya
Taylor-Joy) uma mulher cheia de personalidade e também segredos. Eles e
mais um grupo de selecionadas pessoas, pagaram um valor bem alto para terem uma
experiência gastronômica de um dia em um restaurante que fica numa ilha chamada
Hawthorn, com quase cinco hectares de florestas e pastos, sendo essa comandado
pelo brilhante chef Slowik (Ralph
Fiennes). Ao longo desse dia, coisas estranhas começam a acontecer e os
clientes serão surpreendidos a cada minuto que passa.
O filme, que estreou no prestigiado Festival Internacional
de Cinema de Toronto no ano passado, anda em cima das interpretações, muitas
vezes ambíguas, do desprazer e satisfação provocadas pelas estradas de vida de
cada um dos personagens, as linhas do afiado roteiro, que possui pitadas
generosas de duplo sentido, nos mostra horizontes dentro das imperfeições da
natureza humana aqui quase como se cada personagem se colocasse de frente a um
espelho onde a partir de suas ações caminham para aceitações ou não da situação
que estão metidos. Esse olhar dos selecionados para aquele menu e para tudo o
que acontece em quase 110 minutos de projeção tiram de trás da cortina uma
sátira de rejeição e medo muito inteligente.
Já ambientado nos tempo atuais, no pós pandemia da Covid-19,
e com filmagens que incluíram a costa da Ilha Jekyll (na Georgia) o filme é um
terror elegante, com entradas teatrais, que parece com muita calma, e usando do
chocar como ferramenta, oferecer ao público o marinar, liquefazer, esterificar,
geleificar, dentro de um cardápio de interpretações para seu desfecho
impactante.