O antes influencia o depois. Baseado no livro homônimo de 378 páginas, lançado 23 anos atrás, pela escritora espiritualista paulista Zíbia Gasparetto, Ninguém é de Ninguém molda seus olhares e reflexões para um dos mais delicados estados emocionais do ser humano, o ciúmes. Caminhando por estradas dolorosas das reações complexas que se estabelecem nas desconfianças para com o outro, o roteiro busca ampliar seu campo de desenvolvimento através dos conflitos de seus personagens mas acaba se perdendo no momento em que a técnica é aplicada na narrativa. Subtramas rasas geram certo desequilíbrio, como se peças faltassem para um entendimento mais amplo do complicado caminho do abstrato proposto. Por outro lado, a mensagem consegue chegar ao campo de reflexão, até mesmo com várias interpretações sobre quais lições a história busca passar, principalmente sobre a explicação estar em acontecimentos de vidas passadas.
Na trama, conhecemos Gabriela (Carol Castro, em destacada atuação) e Roberto (Danton Mello), um casal que passa por uma séries de instabilidades
na relação após o segundo caminhar por diversos obstáculos e seu empreendimento
afundar, ao mesmo tempo que Gabriela, uma advogada em ascensão na empresa onde
trabalha, começa a colher os frutos de sua dedicação. A situação piora quando
Roberto começa a desconfiar da fidelidade da esposa com o dono da empresa onde
ela trabalha, o Dr. Renato (Rocco
Pitanga). Esse último também passa por situações complexas no relacionamento
com a socialite Gioconda (Paloma
Bernardi), também com a motivação do ciúmes no epicentro dos problemas. Ao
longo do filme vamos vendo que esses destinos de alguma forma já estavam
entrelaçados.
O relacionamento abusivo no centro da questão. Tendo como
foco o ciúmes, a desconfiança, numa estrada com um forte viés espiritual, somos
levados a abrir a porta da casa de duas famílias que passam por situações
dolorosas, amarguradas, que geram inconsequências para todos os lados. Nesse
olhar íntimo para casamentos na iminência do naufrágio, o desenvolvimento do
roteiro gira em torno desses conflitos dos personagens e num segundo momento no
resgate de acontecimentos em vidas passadas com imersões sobrenaturais. Nesse
último ponto a história se perde chegando em uma conclusão interpretativa onde
nada-se para o oceano do perdão, do arrependimento, de forma simplista, sem
profundidade.
Esse é o segundo lançamento recente de um filme baseado em
um livro de Zíbia Gasparetto, no
final do ano passado chegou aos cinemas Nada
é Por Acaso. Dirigido por Wagner de
Assis, cineasta que já dirigiu filmes Kardec
e Nosso Lar, dois filmes também com
essa pegada espírita, Ninguém é de
Ninguém, de forma atabalhoada, consegue chegar em seu objetivo, sua mensagem,
muito ligada à uma emblemática questão existencial ligada ao indivíduo possuir
somente a si e as várias formas de entender a vida dessa forma.