Como resumir uma história complexa que envolve sentimentos conflitantes e brilhantismo em paralelo a impactantes poderes dentro de um cenário bélico mundial que se estende até os dias atuais? O novo trabalho do cineasta britânico Christopher Nolan, baseado no livro vencedor do Pulitzer, American Prometheus, uma biografia de J. Robert Oppenheimer escrito pela dupla Kai Bird e Martin J. Sherwin, explora com maestria o uso das possibilidades de uma narrativa, buscando em detalhes chaves os elos para contar uma história de brilhantismo e caos emocional que influenciou poderes que vemos até hoje na geopolítica mundial. Sem adotar o tão batido CGI (imagens geradas por computador), o filme mais longo da carreira de Nolan, com 180 minutos, nos mostra de forma impactante a vida, os romances, os fundamentais encontros, sua relação conturbada com o governo americano, as decisões polêmicas do ‘pai da bomba atômica’.
Na trama, em meio a passagens de tempo, voltamos até o
início do século XX, onde um prodígio aluno do curso de química da prestigiada
universidade de Harvard, J. Robert
Oppenheimer (Cillian Murphy)
daria seus primeiros passos rumo a física teórica, viajando pelos principais
centros de estudos do tema, conhecendo nomes depois renomados da ciência, até
chegar ao comando do ‘Projeto Manhattan’ encarregado de desenvolver armas de
destruição em massa, no laboratório de Los Alamos, e onde foi criada as famosos
bombas atômicas que atingiram Hiroshima e Nagazaki já no final da segunda guerra
mundial. Em paralelo a isso, vamos conhecendo também sua vida pessoal, repleta
de amores, traições, problemas nos relacionamentos interpessoais, e seus
embates com a política norte-americana, muito por conta dos tempos em que foi
considerado comunista, inclusive o filme retrata o tempo em que foi vítima da
caça às bruxas durante o Macartismo.
Nesse segundo filme onde Nolan encontra um recorte para sua
narrativa dentro do cenário caótico da segunda guerra mundial (o outro foi
Dunkirk), passamos a refletir sobre por boa parte de um dos períodos mais
conflitantes da história norte-americana, próximo do fim da segunda guerra
mundial, com a não acenada dos japoneses em se renderem. Mas antes de encontrar
esse ponto da história, vamos percorrendo a vida de estudos e descobertas do personagem
título, um homem que parecia uma chaminé ambulante que se dedicava de forma
integral ao seu trabalho. O lado psicológico aqui também ganha destaque, o protagonista
se vê em um quadros depressivos constantes e ao longo de sua trajetória foi se
aproximando dos movimentos políticos pelo mundo principalmente depois dos
impactos do nazismo e fascismo. Ele se associou ao partido comunista nos Estados
Unidos, apoiou greves, ajudou amigos cientistas a saírem de uma Europa em
chamas, entre outras ações, algumas delas são relatadas no filme.
Mecânica quântica, física nuclear... O fisiquês aqui é
mostrado de forma bem didática, objetiva, um caminho inteligente para uma
narrativa que quer trazer o refletir para o máximo de pessoas possíveis. Desde
a descoberta do Neutron até a concepção de uma bomba com poder de várias,
períodos que acabam andando em paralelo a vida de Oppenheimer, contar essa história do início ao fim acaba sendo um
dos grandes desafios da produção. Um
fato curioso, é que Nolan ligou o
sinal positivo de realizar essa obra, entre outros pontos, quando recebeu de
presente um livro sobre a vida de Oppenheimer dado a ele pelo ator Robert Pattinson.
Com um elenco estelar, com nomes como: Robert Downey Jr, Emily Blunt, Florence Pugh, Matt Damon, e claro, Cillian Murphy , Oppenheimer é mais uma obra-prima de um diretor que usa da
inteligência, da grande pesquisa, para ampliar a imersão do espectador dentro
de uma sala de cinema.