Quantas pessoas são felizes em uma multidão? Explorando fortes vértices dos reais sentidos do que podemos definir como solidão, o longa-metragem sul-coreano Aloners é aquele tipo de filme que você precisa ter paciência até ele acontecer. A construção narrativa caminha pelas águas marejadas da melancolia tendo como pilar uma protagonista introspectiva, calada, que parece conviver bem com sua solitude. Dirigido pela cineasta Hong Seong-eun, o projeto joga seus holofotes para o indivíduo numa visão macro inserido em um mundo de constantes necessidades na questão das relações interpessoais.
Na trama, conhecemos Jin Ah (Jeong Da-eun), uma jovem solitária, que não gosta de interagir, passando
seus dias no trabalho, um call center de uma empresa de cartão de créditos, um
emprego onde ninguém percebe sua ausência. Ela opta pela sua rotina igual todos
os dias do que se jogar na vida e interagir com os outros. A mãe faleceu
recentemente e o pai que a abandonou por quase duas décadas voltou faz pouco
tempo para os momentos finais da mãe tempo suficiente de ficar com a herança
toda. Certo dia, um estranho acontecimento a faz ampliar seu leque de
percepções.
Com um faturamento de menos de 90 mil dólares em bilheterias
nos cinemas que foi lançado mundo a fora, algo bem baixo para qualquer produção
com pretensões comerciais, esse longa-metragem parece querer conversar com o
espectador sobre as linhas tênues do viver em sociedade, da iminência do
precisar do outro, dos medos que uma hora aparecem de viver em eterno repouso. Exibido
no Festival de San Sebastian em 2021, o filme causa essa reflexão social na
questão do se expor. Em um mundo tão conectado, cheio de urgências
insignificantes, onde a ansiedade se torna um grave problema, pode uma pessoa
viver desconectada dos outros?
Será isso fruto de uma defesa? Algo próximo de uma proteção
contra um passado com conflitos mal resolvidos? A investigação sobre a essência
da protagonista nos leva ao confronto entre a solidão e a solitude, esse último
num sentido de estado de privacidade. Assim percebemos as barreiras dos
traumas, a comunicação agressiva com o pai e o fechar de portas para amizades.
A narrativa caminha pelo olhar e seus desenrolares tendo como ponto fixo sua
protagonista. Para quem se interessar, o filme está disponível no catálogo da
MUBI.