A ganância e os absurdos contra uma tribo indígena. Lançado aos olhos do mundo no Festival de Cannes desse ano, Assassinos da Lua das Flores, novo trabalho do aclamado cineasta Martin Scorsese nos mostra mais um retrato doloroso da história americana que envolve a ganância de intrusos brancos a um território rico dos indígenas Osage em um período que também marcou o início do hoje conhecido FBI, agência na época liderada por J. Edgar Hoover. Baseado em um livro homônimo do jornalista nova iorquino David Grann e com um orçamento na casa dos 200 milhões de dólares além de uma narrativa impecável somos guiados por um imenso vale de lágrimas, rastros de dor e tristeza que alguns tentaram esconder mas que agora, mais que nunca, jamais serão esquecidos.
Na trama, conhecemos Ernest (Leonardo DiCaprio), um jovem que acabara de voltar da primeira
guerra mundial e vai de encontro a William Hale (Robert De Niro), um tio influente na região de Oklahoma, terra essa
dos indígenas Osage que ao longo do tempo foram descobrindo uma enorme riqueza ligadas
ao tão cobiçado petróleo transformando aquela região em uma das mais ricas do
mundo na década de XX. Dentro desse cenário, Ernest descobre o amor entrando na
sua vida a indígena Mollie (Lily
Gladstone) mas também logo se mete nos planos de uma enorme conspiração de
homens brancos contra os indígenas, com direito a manipulações, explorações e assassinatos.
Antes de qualquer coisa, a importância do reaparecimento
dessa história, agora viva não só pelo livro mas principalmente a chegada desse
filme, apagada de contextos, é fundamental para que as reflexões sobre as
verdades não sejam esquecidas e sim debatidas! Dito isso, o recorte da época do
filme, muito bem transmitido pelas lentes de Scorsese, era um cenário total de
manipulação feita por homens brancos, sedentos pelo dinheiro jorrando na região
com cúmplices em escala federal. Sim, aqui não tem só um vilão!
Scorsese, antes de ampliar sua discussão para o todo, opta
pelo olhar ao relacionamento de Ernest e Mollie, desabrochando suas personalidades
completamente distintas além de todo o passado cultural de um e de outro. O
embate entre o que Ernest tinha de sabedoria e o que Mollie absorveu de toda
sua cultura indígena viram elementos importantes para entendermos alguns
porquês que seguiriam pelos destinos dos personagens. Sem passar o pano e metendo
o dedo em feridas dolorosas de páginas que muitos quiseram que ficassem
esquecidas da história americana, a brilhante narrativa arranca até o último
suspiro da ganância e interesses que logo se interligam. Não há dúvidas que
Scorsese sabe como contar uma história!
Uma variável que chega com tremenda importância e talvez tenha
sido o fator surpresa para os engravatados que comandavam os jogos de interesse
pela aquelas terras foi que nesse mesmo período dava-se o início aos primeiros
grandes avanços na forma da lei do departamento federal de investigação, o Federal
Bureau of Investigation, ou sua sigla mais conhecida, FBI, agência na época liderada
por J. Edgar Hoover que entra de cabeça na investigação dos assassinatos. A
importância desse fato é fundamental para mudanças em alguns rumos.
Assassinos da Lua das
Flores é um importante registro histórico, um filme que brinda os cinéfilos
com suas quase três horas e meia de duração no mais alto nível cinematográfico,
fruto de uma mente brilhante e sua inquietude em mostrar algumas verdades de
seu próprio país.