O encontro de duas peças de um quebra-cabeça sentimental. Contornando o luto pra desembolar acontecimentos do passado, o longa-metragem sueco Agradecimento e Desculpas segue sua estrada por um tom melancólico que gruda como chiclete num roteiro que evolui a curtos passos dentro de vulcões de sentimentos prestes a explodirem. Dirigido por Lisa Aschan, com roteiro assinado por Marie Østerbye, o filme é um daqueles casos que precisamos ter paciência até a narrativa encontrar o epicentro do discurso.
Na trama, conhecemos Sara (Sanna Sundqvist), uma mulher casada, amargurada e infeliz que
durante a fase final de sua segunda gestação é surpreendida com a morte
repentina de seu marido. Sabendo do fato, sua irmã mais velha Linda (Charlotta Björck) tenta uma
reaproximação já que as duas irmãs se distanciaram faz muito tempo por conta de
escolhas na época de separação dos pais. Completamente diferentes e precisando
ceder para o diálogo acontecer, as duas embarcam em uma jornada de
reestabelecimento dos laços familiares.
As diferentes formas de entender a vida é o plano de fundo,
o ponto de interseção presente e importante na composição dos personagens. Duas
irmãs. Dois modos de levar a vida. O espectador pode se identificar com muitos
pontos, nos debates que o projeto levanta através dos conflitos emocionais de
suas protagonistas: as dúvidas na criação dos filhos, as incertezas após uma tragédia,
as formas de lidar com o luto, a importância do diálogo para qualquer relação
social, a obviedade de uma ruína de um relacionamento amoroso, a acomodação sem
vontade de resolver os óbvios problemas que estão na sua frente, até mesmo as
indelicadezas de uma sogra enxerida. A questão é como cinematograficamente se
busca chegar nessas reflexões.
Importantes despertares, envoltos de uma agonia saltante,
uma angústia sem fim, chegam com um forte tom melancólico que pode ser
interpretado de muitas formas até a junção com o discurso. A narrativa então
busca em suas imagens e movimentos captar os detalhes implícitos nas ações que
beiram o caos emocional. Toda essa construção para se chegar nas reflexões pode
ser uma jornada sonolenta para alguns, interessante para outros.