01/01/2024

Crítica do filme: 'Sisu: Uma História de Determinação'


Buscar inovações dentro de um recheado gênero cinematográfico, aqui no caso, a ação, é sempre algo louvável. Dito isso, no último dia do ano de 2023 me deparei com um projeto violento, sangrento, que nos joga de frente para a figura de um anti-herói, um imortal em sua determinação, que dentro de um contexto histórico real, já no finalzinho da Segunda Guerra Mundial, se joga em sua jornada de incertezas tendo a sobrevivência como um único objetivo. Escrito e dirigido pelo cineasta Jalmari Helander, Sisu: Uma História de Determinação se destaca por cenas muito bem filmadas, empolgantes, e um roteiro que se destaca usando do indestrutível para dizer verdades de um embolado contexto geopolítico.

Na trama, conhecemos Aatami (Jorma Tommila), um ex-comandante do exército finlandês, temido pelo próprio batalhão, que abandonou os tempos de guerra, largado em uma terra ao norte, ainda destruída, no meio do nada, onde vira garimpeiro e começa a achar generosas quantidades de ouro. Só que logo seu caminho se cruza com o de nazistas inescrupulosos sedentos pelo ouro encontrado.

Curtinho e objetivo. Essa produção finlandesa não perde muito tempo para apresentar suas peças mesmo que uma necessária maior explicação sobre o contexto da época seja uma lacuna em aberto. Em 1944, já no finalzinho da Segunda Guerra Mundial, na região da Lapônia, rodeada por outros países além da Finlândia, a União Soviética e a Finlândia assinaram um armistício onde a segunda deveria expulsar as tropas nazistas restantes da região. Fato esse que criou uma corrida por sobrevivência de todos os lados, já que a Finlândia ficou arrasada pela guerra e seus próprios cidadãos não sabiam como seria o futuro. O gancho para o roteiro vem exatamente desse ponto, daí a importância do ouro num tempo de incertezas.

Com um orçamento na casa de seis milhões de dólares, valor bem baixo para os padrões de hoje em dia, a figura do anti-herói tem interpretações variadas dentro de uma narrativa que empolga o espectador elevando as bases da linguagem cinematográfica como o tempo e o espaço, muito pelo dinamismo alcançado. A sobrevivência na ponta do discurso, seja na terra, seja na água, seja no mar, afasta qualquer semelhança com a jornada do herói já que seu fim não causa transformação e somente mais um dia de guerra para alguém que se adaptou a isso no cotidiano. Essa análise em cima do personagem é um caminho instigante, reflexivo, que o espectador pode alcançar.