Quem não é visto, não é lembrado. Logo nos primeiros dias de exibições da 27a Mostra de Tiradentes de Cinema foi exibido um documentário paulista que busca ampliar as reflexões sobre um gênero musical pulsante e também polêmico, o funk. Sempre com o andamento rítmico marcante de plano de fundo, o primeiro filme da dupla de diretores Felipe Lorozza e GG Albuquerque, Terror Mandelão, com seus curtos 75 minutos, se desenvolve a partir do olhar de alguns personagens que acabam sendo uma voz representante dos jovens da periferia que lutam para viver dos seus sonhos dentro do concorrido mercado fonográfico.
Se fossemos dividir o filme em duas partes, podemos dizer que a narrativa costura seu pontapé inicial através de um resumo geral sobre Dj K, um jovem que luta para conseguir um espaço no cenário do funk paulista, dentro do subgênero dos bailes intitulado por bruxaria, e que começa a colher os frutos de mais de uma década nesse caminho. As influências, a busca pelo seu próprio olhar dentro do Funk, as incertezas, os dilemas e principalmente o processo criativo são vistos dentro de uma espécie de resumão. Esse último ponto, o processo criativo, acaba deixando essa primeira parte do documentário algo como uma vídeo aula sobre um subgênero do Funk que possuem letras fortemente ligados ao sexo.
A segunda parte é bem mais dinâmica pois os holofotes se jogam na ascensão, depois dos altos e baixos na carreira. A primeira viagem internacional, os convites para começarem a trilhar o cenário europeu, a real validação de que podem enfim viver da música depois de muita luta. Sempre ao lado de seu simbólico boné de crochê o Dj K é a grande alma dessa narrativa que tem o mérito de a partir de seu personagem principal chegar até as introduções sobre uma visão macro que mistura sonhos, dedicação e também pitadas de sorte.
O filme também chega, mesmo que seja de forma superficial, até as polêmicas que contornam as letras com forte teor sexual. A visão dos personagens é bem objetiva sobre o tema, não se veem presos dentro de qualquer linha de absurdo. Há muitas reflexões, debates construtivos, que podem surgir a partir disso. Terror Mandelão mostra que o cinema pode ser uma ferramenta importante para a sociedade refletir sobre muitas vozes que tem sonhos mas que nunca sabem se vão chegar até eles.