Mostrando postagens com marcador Documentário. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Documentário. Mostrar todas as postagens

26/05/2025

Crítica do filme: 'O Efeito Casa Branca'


Por meio de reportagens televisivas que incluem opiniões, coletivas de imprensa, entrevistas, além da exposição de documentos internos que trazem revelações importantes, o chocante documentário O Efeito Casa Branca mete o dedo em feridas, trazendo verdades incômodas via fatos, sobre a relação política x meio ambiente sob a ótica dos Estados Unidos. Filme de abertura da 14ª Mostra Ecofalante de Cinema, esse projeto é um aulão de economia revelando o embate entre interesses políticos e questões ambientais.

Dividido em quatro partes, que funcionam muito bem como complementos narrativos, percorre em seu auge o retrato do governo de George H. W. Bush — figura que esteve à sombra de Ronald Reagan durante quase toda a década de 1980 — e seu duvidoso compromisso ambientalista. Ao longo dessa trajetória, vamos entendendo de forma clara e objetiva alguns porquês sobre os sacrifícios que quase ninguém queria fazer quando o assunto é a mudança climática sem precedentes.

A narrativa, de forma cirúrgica, busca ‘linkar’ situações que levaram a origem da crise climática, que viu seu epicentro no tumultuado governo do 41º presidente dos Estados Unidos. Assim, entramos em questões sobre efeito estufa, aquecimento global, desenfreada queima de combustíveis fósseis, fatores que levaram até um verdadeiro atropelamento do meio ambiente.

Bush (o pai), tinha seu passado ligado a exploração de petróleo e de maneira surpreendente convenceu eleitores que durante seu governo iria se dedicar as causas ambientais, para isso trouxe para ser chefe da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, o ambientalista William Reilly. A questão é que do outro lado da mesa de debates tinha John Sununu, um ex-engenheiro que virou o chefe de gabinete do governo. Esse iminente confronto desencadeou intensos debates que foram de discursos orquestrados, intrigas, até observações empíricas sendo joga na lata do lixo.

Um dos pontos mais perturbadores é quando há um desenvolvimento de situações deixando margens para interpretação sobre a ‘Ciência estar à venda’. Nesse momento, acompanhamos cientistas céticos sobre a questão das previsões climáticas futuras que foram usados como pontos argumentativos do lado governamental, fato que confundiu qualquer leigo e dividiu a opinião pública sobre o assunto.

Exibido no Festival do Rio do ano passado e filme de abertura da 14ª Mostra Ecofalante de Cinema, O Efeito Casa Branca, produção norte-americana dirigida pela dupla Bonni Cohen e Jon Shenk e pelo brasileiro Pedro Kos, tem o mérito de mostrar detalhadamente os bastidores do poder no país mais poderoso do mundo em torno de um do temas mais importantes da humanidade. É reflexão atrás de reflexão, do início ao fim.

Continue lendo... Crítica do filme: 'O Efeito Casa Branca'

25/05/2025

,

Crítica do filme: 'Thunderbirds: A Força Aérea de Elite dos EUA'


Pouca gente sabe mas a maior potência bélica do planeta tem um ‘Dream Team’ na sua força aérea que se prontifica a percorrer os Estados Unidos, e outros lugares do mundo, realizando acrobacias aéreas de tirar o fôlego! Pegando um recorte que avança todo o período de certificação de novos integrantes dessa equipe de pilotos de elite, chegou na Netflix um documentário que abre as portas dessa que é uma das mais antigas equipes acrobáticas em atividade, os Thunderbirds.

Com o nome inspirado no ‘Pássaro-Trovão’, criatura lendária que faz parte das mitologias de algumas culturas indígenas norte-americanas, os Thunderbirds tendo como ferramenta o caça supersônico F-16C Fighting Falcon, muitas vezes percorrendo quatro vezes a força da gravidade, em situações de extremo perigo.   

Guiados pelos depoimentos do Tenente-Coronel Justin Elliott — nome de guerra ‘Astro’ — líder do esquadrão que se despede do posto de comandante da frota, acompanhamos a jornada rumo à excelência e à construção da confiança, em um ciclo contínuo de renovação com a chegada anual de novos pilotos às posições de destaque. Personagem central da narrativa, Elliott é um pai de família que sonhava em ser astronauta, mas acabou trilhando um caminho diferente, encontrando nas acrobacias perigosas uma nova missão de vida.

É uma pena que a narrativa se perca em um foco excessivo no processo, um verdadeiro calcanhar de aquiles comum em obras de apresentação. Como mencionado, acompanhamos alguns meses do período de certificação, mergulhados em uma rotina árdua marcada por erros, correções e uma repetição incessante. Os poucos conflitos que ganham destaque na tela estão ligados ao perfeccionismo extremo exigido pela função — onde um único erro pode significar a diferença entre a vida e a morte.

Sem tanta profundidade, mesmo que passe por tragédias e conflitos que acompanharam a trajetória dessa equipe desde sua criação no início dos anos 1950, o documentário se coloca numa posição de mera apresentação desse esquadrão que não é tão conhecido assim pelo mundo. Quem curte aviões e todo seu contexto vai se deliciar com imagens de tirar o fôlego. Já quem procura um roteiro mais profundo - com fortes desenrolares de conflitos que se mostram presentes - pode se decepcionar.   

 

Continue lendo... Crítica do filme: 'Thunderbirds: A Força Aérea de Elite dos EUA'

22/05/2025

,

Crítica do filme: 'Um Outro Francisco'


Dois fotógrafos estrangeiros. Um evento religioso de um famoso santo italiano em terras cearenses. Com essas duas vertentes se unindo por um tour fascinante, objetivo e reflexivo sobre o universo da fotografia, o documentário Um Outro Francisco, dirigido por Margarita Hernández, amplia o olhar para os espelhos culturais através dos personagens que encontram.

Expandindo os horizontes do inesperado e abrindo caminhos para um trabalho fotográfico instigante, a dupla Dario De Dominicis e Giorgio Negro assume, simultaneamente, os papéis de protagonista e coadjuvante em um registro documental que transita pelo essencial e alcança novas formas de compreender as conexões culturais. Descobrindo que na cidade de Canindé (Ceará) acontece uma concorrida celebração dedicada a São Francisco, durante cinco anos resolvem produzir registros dos fiéis e moradores locais.

Com uma estrutura bem delineada — com início, meio e fim — a jornada, que se estende de 2013 a 2017, revela ao longo do tempo imagens e movimentos que caminham juntos rumo a um destino que se confunde com o próprio discurso: a troca de significados por trás dos registros. Os instantes, os sentimentos, os desabafos, as curiosidades, aqui se jogam num contexto sobre a fé, logo virando um laboratório de exposição sobre as emoções genuínas.

Os diferentes olhares e os diálogos em torno do que esperar – num jogo corajoso entre fotógrafos e fotografados - através do que foi registrado, preenche a narrativa com um dinamismo que transmite luz para as linhas que se aproximam (muito mais do que se distanciam) entre a arte e as ferramentas para se chegar num recorte profundo sobre identidade.

Um Outro Francisco chegou recentemente ao circuito exibidor de algumas cidades. É um filme simples, mas potente em suas reflexões. Com menos de 80 minutos, consegue expandir seus questionamentos para além da fotografia, utilizando o audiovisual como um recurso essencial para capturar e transmitir suas verdades.


Continue lendo... Crítica do filme: 'Um Outro Francisco'

16/05/2025

,

Crítica do filme: 'Hora do Recreio'


Estabelecendo paralelos entre o poder da educação contra a violência, o fascinante documentário Hora do Recreio constrói uma narrativa que transita entre o documental e o ficcional, sempre alinhada ao discurso proposto. A partir de depoimentos de estudantes de escolas públicas do Rio de Janeiro, a obra traça de forma impactante reflexões profundas sobre a sociedade brasileira.

Menção Especial do Júri Jovem da Mostra Generation 14 plus na última edição do Festival de Berlim e selecionado para os programas especiais da 30ª edição do Festival É Tudo Verdade, esse novo trabalho da ótima documentarista Lúcia Murat escancara ao mundo verdades. Por meio de relatos reais, temas como a violência contra a mulher, o racismo e a gravidez na adolescência tornam-se pontos de encontro para debates ricos e significativos, conduzidos sob o olhar e fala de uma juventude que conquista cada vez mais voz.

O teatro, a dança, também ganham espaço no projeto, ampliando o campo de argumentações. Um dos grandes momentos do projeto é a performance de uma peça baseada no livro Clara dos Anjos, escrita no final da década de 1940 pelo jornalista e escritor brasileiro Lima Barreto. A obra retrata o abuso sofrido por uma jovem negra do subúrbio, tornando-se ponto de partida para reflexões e paralelos com a realidade vivida por moradores das comunidades na atualidade.

Ao longo da projeção, somos testemunhas de uma imersão contínua a retratos dolorosos - e por vezes conflitantes - através de inúmeras formas artísticas, o que valida a cultura como ferramenta importante pra qualquer sociedade. Guiado por importantes mensagens, dividido em atos complementares, as perspectivas futuras se jogam pelas entrelinhas, com o senso crítico cada vez mais afiado de uma juventude atenta e revidando.

Essa realidade de nosso país contada pelo olhar dos jovens que vivem nessas realidades é uma fórmula que traz o choque para encararmos as reflexões que se formam necessárias. Hora do Recreio deve chegar ao circuito exibidor brasileiro ainda em 2025, uma obra cinematográfica que escancara ao mundo verdades que precisam ser debatidas.  


Continue lendo... Crítica do filme: 'Hora do Recreio'

06/05/2025

, ,

Crítica do filme: 'Criaturas da Mente'


A partir de uma inquietação e também curiosidade de um consolidado cineasta brasileiro, o fascinante documentário Criaturas da Mente vai de encontro as possibilidades de preenchimentos de lacunas onde um universo fascinante logo se abre. Imerso num curioso paradoxo onde um cineasta não consegue mais sonhar, Marcelo Gomes encontra o neurocientista Sidarta Ribeiro e juntos abrem diálogos para profundos paralelos entre o cinema e os sonhos.

Sob esses dois pontos de vistas, inclusive com Gomes – diretor pernambucano de Cinema, Aspirinas e Urubus, Paloma e outros ótimos filmes - se colocando como um importante personagem, vamos entendendo estudos presentes e a espiritualidade de muitos anos que de alguma forma compõem o sonho como objeto científico. Nesse momento engrandece os desenrolares a chegada de Sidarta Ribeiro, professor, escritor e um dos fundadores do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, referência mundial na área dos sonhos.

Filme de abertura da 57ª edição do Festival de Brasília, Criaturas da Mente instiga o público para uma jornada onde o acreditar e o descobrir andam lado a lado através de experiências bastante pessoais conseguindo amplo contexto. O alerta dos pesadelos na vida cotidiana, a representação do que seriam as ‘criaturas da mente’, as janelas de percepções, tudo isso vira pauta para uma investigação detalhada que são lapidadas por depoimentos interessantes e imagens que contemplam o refletir.

Um dos mais visíveis méritos dessa obra é que o discurso nunca se desprender dos 80 minutos de projeção. Contornando as dúvidas do diretor-narrador e as experiências que se joga, abre-se portas para os saberes ancestrais de povos originários, um diálogo enriquecedor com um psicanalista Junguiano e as descobertas de culturas afrodescendentes. Além dessa busca incessante por respostas, caminhamos também por parte da obra de Marcelo Gomes, que 30 anos atrás fez sua estreia no universo cinematográfico assumindo a direção e roteiro do curta-metragem Maracatu, Maracatus.

Desbravando e compartilhando o mundo das sensações e interpretações, Criaturas da Mente - coprodução com Globo Filmes e GloboNews e em associação com a Carnaval Filmes - é um dos ótimos documentários que estrearão esse ano no circuito exibidor brasileiro. Não tenham dúvidas de que é um chamado para se pensar sobre o inconsciente! As reflexões chegam por todos os lados.


Continue lendo... Crítica do filme: 'Criaturas da Mente'

19/04/2025

,

Crítica do filme: 'Noel Rosa, um Espírito Circulante'


Quem nasce lá na Vila, nem sequer vacila! Exibido na Mostra Retratos da última edição do Festival do Rio, o documentário Noel Rosa, um Espírito Circulante busca decifrar curiosidades e histórias desse importante personagem da nossa cultura. Através da sua conhecida vida boêmia, da importância e relevância de muitas das suas mais de 200 canções até hoje e da forte ligação que tinha com um famoso bairro da zona norte do Rio de Janeiro, o trabalho da diretora e roteirista Joana Nin nos leva para um encontro animado entre o antes e o depois.

Fixando-se em um espaço querido por sambistas de todo o país - apresentando para muitos não cariocas o bairro de Vila Isabel – desfilando imagens por suas principais ruas e pontos de encontro, o projeto busca em algumas etapas reconstruir a vivência de outrora, a relação com o samba, e a força do legado que o famoso músico deixou para as futuras gerações. Para isso também conta com lindas interpretações de suas canções através do talento de nomes como: Edu Krieger, Dori Caymmi, Moacyr Luz e Mart'nália.

Um dos grandes acertos do projeto é transformar o bairro que nasceu Noel em um personagem, isso dá muito sentido a toda uma costura narrativa que apresenta seu olhar sem precisar se aprofundar, navegando a favor das memórias e das interpretações de quem seria esse célebre boêmio vindo de uma família de classe média, que estudou no prestigiado Colégio São Bento e frequentou a Faculdade de Medicina, na visão daquela época e no olhar do agora.

Conseguindo trilhar numa narrativa pulsante que ainda não foge do seu discurso em nenhum instante, guiada por animadas entrevistas de sambistas de vários períodos, além de canções marcantes do eterno cria de Vila Isabel, ao longo 71 minutos viajamos confortavelmente pela trajetória de um dos mais impactantes compositores da música brasileira - que faleceu de tuberculose aos 26 anos no final da década de 1930.

Noel Rosa, um Espírito Circulante estreia nos cinemas no dia 24 de abril. É um oportunidade de você conhecer melhor esse meteoro criativo que nos deixou muito cedo mas que nunca cairá no esquecimento.


Continue lendo... Crítica do filme: 'Noel Rosa, um Espírito Circulante'

18/02/2025

,

Crítica do filme: 'Nós derrotamos o Dream Team'


No primeiro ano que os jogadores da NBA puderam disputar as olimpíadas, um verdadeiro time dos sonhos foi enviado até a Espanha para vencer com autoridade o evento no verão de 1992 em Barcelona. Durante os treinamentos, oito jovens astros do basquete universitário foram chamados para um jogo treino. Eles venceram o Dream Team.

Disponível na Max, o documentário Nós derrotamos o Dream Team nos mostra por meio de vídeos e depoimentos, olhares para um detalhe pouco mencionado em meio ao estrondoso impacto que teve a equipe norte-americana, liderados por Magic Johnson, Michael Jordan e Larry Bird, no mundo dos esportes.

Mas para entender por completo essa história, é importante um contexto que o documentário passa como uma flecha. Os Estados Unidos até 1988 enviavam times de jogadores universitários para os eventos mundiais, até que perderam pra união soviética numa semifinal e mais outras derrotas em sequência em eventos pelo mundo. Assim, entrando em acordo com a FIBA (Federação Internacional de Basquete), ficou permitido que os atletas da principal liga de basquete do mundo disputassem pelo seu país eventos internacionais.

Com algumas regras que se diferem da aplicada na NBA, o treinador Chuck Daly resolveu criar um cenário utilizando jogadores fantásticos mas ainda não profissionais que fizeram sucesso em suas faculdades. Assim, um jogo impressionante aconteceu a portas fechadas.

Narrado em grande parte por Grant Hill, ex-atleta de sucesso na NBA e que fez parte dos oito selecionados para treinar com o Dream Team, ao longo do documentário, que conta detalhes sobre a ótica dos envolvidos, percebemos uma mudança de foco na parte final quando nota-se um certo desabafo por conta de um depoimento de um dos assistentes de Daly anos após o ocorrido. Esse fato preenche ainda mais a riqueza dos fatos apresentados, mostrando a importância e pressão que até os maiores nomes do esportes podem sofrer.


Continue lendo... Crítica do filme: 'Nós derrotamos o Dream Team'

30/12/2024

,

Crítica do filme: 'A Música de John Williams'


A magia do cinema do cinema também está associada a elementos que muitas vezes não damos devido valor, como a trilha sonora. E quando pensamos nessa questão não podemos esquecer de John Williams. No documentário, lançado no segundo semestre de 2024 na Disney Plus, A Música de John Williams acompanhamos curtos recortes na carreira e vida pessoal desse genial compositor e maestro de 92 anos autor de temas inesquecíveis: Star Wars, Superman, ET – o Extraterrestre, Jurassic Park e tantos outros.

Nesse glorioso passeio pela criação e emoção de forma preponderante para uma obra cinematográfica nos encontram depoimentos de amigos, músicos, cineastas e sua família, sem esquecer de mostrar as origens de suas mais belas contribuições à sétima arte. A narrativa encontra sentido por meio de uma linha temporal detalhando os primeiros trabalhos, suas referências e o poder que uma orquestra possui. História é o que não falta.

Desde os tempos de pianista seguindo a carreira no jazz, que teve como grande referência o próprio pai, já no fim dos anos 1950, após voltar do exército começou sua estrada associada à Hollywood chegando ao grande reconhecimento anos depois assinado a trilha sonora de Tubarão. E por falar nessa obra, o diretor da mesma, Steven Spielberg marca presença no projeto, praticamente um capítulo à parte, já que John Williams fez a trilha de quase todos seus filmes.

Capaz de entregar a emoção de forma preponderante para um filme, a importância da trilha sonora é um ponto fundamental e amplamente debatido por aqui. Desde os primórdios da adição desse elemento no corte final até as novas tecnologias, além da importância citada do uso das orquestras, esse documentário – que teve um lançamento limitado nos cinemas de Nova York, Los Angeles e Londres - se torna um projeto atemporal para profundos debates.

Indicado mais de 50 vezes ao Oscar, vencendo em cinco oportunidades, John Williams é um daqueles nomes que os amantes da sétima arte nunca irão esquecer. Tendo em vista o sucesso na ampla contextualização dentro da narrativa, que passa pelos principais sucessos do compositor sem deixar de entregar acontecimentos importantes no tempo e discurso proposto, A Música de John Williams é um documentário inesquecível.

 

 

 

 

 

Continue lendo... Crítica do filme: 'A Música de John Williams'

23/11/2024

, , , ,

Crítica do filme: 'Kubrusly – Mistérios Sempre há de pintar por aí' [Mostra de Cinema de Gostoso 2024]


Uma história de amor em meio a um rico material de um profissional exemplar que sempre colocou a cultura brasileira em suas pautas. Assim podemos começar uma análise sobre esse cativante projeto. Exibido em primeira mão na Mostra de Cinema de Gostoso 2024, Kubrusly – Mistérios Sempre há de pintar por aí reúne uma importante pesquisa, que junta materiais de arquivo aos detalhes do cotidiano, para registrar o começo, meio e as novas descobertas do viver de um homem diagnosticado com uma doença cruel que continua a escrever a sua própria história.

Diagnosticado com demência frontotemporal, o jornalista Maurício Kubrusly marcou a história do rádio e da televisão brasileira. Desde a primeira matéria de repercussão – ainda quando era estagiário – um furo de reportagem sobre a passagem da atriz francesa Brigitte Bardot pelo Rio de Janeiro décadas atrás, até as lendárias críticas musicais, passando também por um quadro de sucesso no importante programa televisivo da Rede Globo, Fantástico, que levou o olhar curioso de vários pontos do Brasil que poucos conheciam, Kubrusly é um mestre na arte de como atrair a atenção dos espectadores - inspiração para tantos outros profissionais da área.

Fugindo do convencional, o projeto vai do divertido ao curioso, guiado por um olhar delicado, sensível, que navega pelo tempo sendo essa uma variável com paralelos e trocas com a fabulosa carreira do personagem principal. Com um rico material, em áudio e vídeo, ultrapassa os desafios dos arquivos criando uma sintonia no discurso honesto e intimista que se propõe. Através de retratos de uma história de amor, sua forte ligação com a esposa – que conheceu anos atrás em um site de relacionamentos – logo chegamos na intimidade que conversa com as lembranças e se juntam com a sua condição de hoje, na perda da memória.  

Sendo também importante para falar de uma condição de saúde (demência frontotemporal (DFT) que invade tantos outros lares, que recentemente ganhou holofotes por ser a mesma que passa o ator Bruce Willis, Kubrusly – Mistérios Sempre há de pintar por aí é um recorte também sobre os caminhos para lidar com essa doença e pode servir de inspiração para tantas outras famílias que passam pela questão com um alguém próximo.

Dirigido por Caio Cavechini e Evelyn Kuriki esse projeto que chega no início de dezembro na Globoplay se consolida como uma obra atemporal, muito bem estruturada, comovente, que vai seguir como um importante registro de um jornalista único, uma linda história de amor e a eterna arte de novos olhares para o viver.  

Continue lendo... Crítica do filme: 'Kubrusly – Mistérios Sempre há de pintar por aí' [Mostra de Cinema de Gostoso 2024]

16/11/2024

,

Crítica do filme: 'As Crianças Perdidas'


A sobrevivência em meio as leis da selva. Reunindo uma série de detalhes sobre um dos resgates mais emocionantes de toda a história da América do Sul, o excelente documentário As Crianças Perdidas nos leva até uma região conflituosa, onde grupos paramilitares, indígenas e militares entram em embates faz muitos anos e se tornam variáveis de uma busca por crianças que sofreram uma traumática tragédia no coração da Amazônia Colombiana.

No início do ano passado, quatro irmãos pequenos embarcaram em um avião em Araracuara para ir encontrar o pai/padrasto no município de San José del Guaviare. Um acidente terrível acontece, com o meio de transporte caindo numa região de difícil acesso. Logo o governo colombiano é avisado e começa uma intensa busca pela difícil selva. Mas será que alguém sobreviveu? Ao longo de desgastantes 40 dias, as respostas vem chegando conforme pistas aparecem e com a adição necessária ao grupo de busca de voluntários representantes indígenas que melhor conhecem a região.

A narrativa chama a atenção pela forte contextualização não só da vida das vítimas mas também sobre a violência em um país de belezas mas de enormes perigosos: uma nação em eterno conflito interno, assim pode ser definida a Colômbia. O governo numa luta de muitas décadas contra a FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), também vê embates entre seus militares e tribos indígenas, tudo isso é mostrado através dos relatos de heróis que fizeram parte da expedição.

Repleto de depoimentos de testemunhas dessa busca, familiares e conhecidos das vítimas, vamos de forma impactante conhecendo melhor um contundente recorte de uma região que logo vira um pano de fundo para um final que já se conhecia. A sabedoria indígena ganha destaque, um ponto onde o sobrenatural chama a atenção, algo que ao lado da estratégia dos militares vira uma soma importante para a equação de salvamento ter êxito. Esse entendimento entre as partes envolvidas em prol do salvamento pode ter aberto caminho para curar feridas do passado. Pelo menos uma porta se abriu.

As Crianças Perdidas completa um ciclo sobre uma situação abrindo camadas para tantas outras reflexões, um trabalho impecável que liga o passado ao presente mostrando a importância das conciliações através do caos de um desaparecimento.


Continue lendo... Crítica do filme: 'As Crianças Perdidas'
,

Crítica do filme: 'Toquinho: Encontros e um Violão' [Festival de Cinema Italiano 2024]


O reconhecimento de um fabuloso artista. Trazendo para o público histórias cativantes da carreira de um dos maiores nomes da música popular brasileira, Toquinho: Encontros e um Violão, documentário de 90 minutos selecionado para a ótima seleção do Festival de Cinema italiano 2024, parte do vínculo do músico - grande parceiro de Vinícius de Moraes - com a Itália para nos apresentar detalhes de fatos marcantes que marcaram a história da música.

Com arquivos de shows e entrevista compondo a narrativa, além de depoimentos de pessoas próximas e do próprio Toquinho, ao longo de um delicioso bate-papo com o artista paulista de 78 anos vamos vendo a história cultural de dois países sendo contada. Sempre ao lado de seu violão, uma união que gerou canções eternizadas, vemos um depoimento emocionado de um alguém que nasceu pra brilhar.

Das lembranças das melodias do passado e da importância do início dos contatos com fabulosos professores, passamos pelo primeiro grande sucesso no início da década de 1970, uma parceria inesquecível com Jorge Ben JorQue Maravilha – até sua caminhada ao lado de Vinícius de Moraes e os sucessos que se seguiram na carreira solo, no Brasil e no exterior.

Conforme as histórias são sendo contadas, percebemos a importância de sua carreira que não deixa de percorrer gerações. Seus trabalhos inesquecíveis pela música infantil não são esquecidos e aqui faz-se um elo novamente com a Itália. Assim conhecemos seu ponto de vista na criação de algumas dessas canções, como a mais emblemática delas: Aquarela.

Em resumo, Toquinho: Encontros e um Violão se consolida como um registro importante sobre a obra de um gênio. Um documentário pra ter na coleção.


Continue lendo... Crítica do filme: 'Toquinho: Encontros e um Violão' [Festival de Cinema Italiano 2024]

26/09/2024

,

Critica do filme: 'Má Reputação' [CINEBH 2024]


As dificuldades de uma perseguição social e moral. Trazendo aos olhos do público um recorte intimista através de uma carismática protagonista e seus desabafos, o documentário uruguaio Má Reputação estaciona nas possibilidades, focado na sua figura central, sem deixar de deixar a sugestão de bons debates. Ao longo de 78 minutos de projeção, o tema da prostituição, do ativismo e dos direitos trabalhistas se mostram presentes.

Começamos essa caminhada através da rotina de Karina, uma profissional no sexo de quarenta e poucos anos que se joga dia após dia em uma estrada para oferecer seus serviços. Com a experiência de um profissão tratada sem respeito por grande parte da sociedade, certo dia ela resolve buscar a união para buscar direitos que logo se transforma numa luta com uma forte representatividade, através de uma associação para trabalhadoras do sexo – a Otras, Organización de Trabajadoras Sexuales. Além disso, Karina se joga em uma jornada para talvez enxergar novas possibilidades fora desse ramo.

Mostrando seu passo a passo até ali, seu relacionamento com as pessoas mais próximas do seu cotidiano, além da visão de outras mulheres que oferecem os mesmos serviços, vamos aos poucos entendendo as aflições da personagem principal em relação a todo um amplo contexto social e a posição marginalizada aos olhos de muitos. Há depoimentos de experiências passadas no seu tempo de estrada na profissão que ganham fôlego para reflexões através do olhar objetivo do que pode vir pela frente.

Dirigido por Marta García e Sol Infante, a primeira com vasta experiência no mercado de distribuição e a segunda como diretora de fotografia de vários projetos – uma junção que dá super certo com um olhar inteligente aos pontos que podem trazem reflexões – esse projeto não perde a chance de ser objetivo em nenhum momento. É uma história que vemos em nossa sociedade. Assim, Má Reputação adota uma narrativa que busca envolver através de uma imersão às emoções que culminam nas ações de luta de um presente repleto de desafios.  

 

Continue lendo... Critica do filme: 'Má Reputação' [CINEBH 2024]

27/07/2024

, ,

Crítica do filme: 'Neirud' [Bonito CineSur 2024]


Onde está o passado que alguns não esquecem? A partir de um resgate sobre os tempos circenses da própria família, a cineasta Fernanda Faya, em seu primeiro longa-metragem da carreira, nos leva até décadas atrás, com o tempo sendo uma mola propulsora de uma narrativa, com o objetivo de documentar uma história muito próxima que se apresenta aos poucos através do que não tem mas existe. A partir de um vazio, de uma perda, chega-se em memórias recém descobertas através de personagens que sempre estiveram muito próximos dela.

Selecionado para a Mostra Competitiva Filme Sul-Americano de Longa-Metragem do Bonito CineSur 2024, Neirud começa pelas primeiras lembranças, até mesmo de uma personificação da heroína e aqui chegamos num dos alicerces da história, uma misteriosa tia chamada Neirud e seu passado escondido. Através de revelações nunca ditas, onde muitas vezes parece se sentir nômade da própria história, a cineasta, numa espécie de diário de descobertas, adiciona de forma inteligente outros protagonismos dentro das narrativas familiares, principalmente quando encontra novas verdades através dos diálogos com o pai. O desenrolar em cena, se junta a tudo que se encontra de material, fotos, vídeos, cartazes e até mesmo reproduções de lembranças quando criança. Nesse ponto, a narrativa se arrisca em transformar a diretora narradora num protagonismo que desconversa com o discurso proposto no arco introdutório.

Assim, com algumas mudanças de direção mas não um carro desgovernado, o documentário embarca para uma forte contextualização que vai encontrar muitas questões que se abrem em camadas, algumas de forma profundas, outras ficam pela superfície mas que um olhar mais detalhista alcança mais reflexões. Se cerca também de contextos de um Brasil em ebulição entre as décadas de 60 e final dos 80 para imersar ao passado circense, onde chegamos na luta livre feminina, aqui com relatos de perseguições e preconceitos, evento esse que tinha sua tia Neirud como total protagonista. Dentro desse universo, que vai aos poucos ganhando a atenção do público, chegamos em outro ponto explorado, a descoberta de um amor.

Ganhador do prêmio de melhor roteiro no Festival Mix Brasil e vencedor do prêmio de melhor filme no Festival Internacional de Curitiba (Olhar de Cinema), uma das certezas que ficam sobre esse documentário brasileiro é que ele abre um leque de possibilidades para entendimentos e reflexões. Gera bons debates! Essa exposição de histórias de sua família aos diversos ‘observar dos outros’, não deixa de ser um ato de coragem de uma cineasta que em seu primeiro projeto opta por uma forma de dialogar através de uma imaginário diário que vai preenchendo com as surpreendentes revelações que encontra pelo caminho.

 


Continue lendo... Crítica do filme: 'Neirud' [Bonito CineSur 2024]

24/07/2024

, ,

Critica do filme: 'La Ilusión de la Abundancia' [Bonito CineSur 2024]


Poucos filmes nos impactaram tanto esse ano como essa produção colombiana selecionada para a Mostra Competitiva do Bonito CineSur 2024. La Ilusión de la Abundancia, dirigido pela dupla Erika Gonzalez Ramirez e Matthieu Leitaert conta com um discurso afiado colocando na tela verdades sobre três regiões do mundo onde a ganância e os absurdos tomaram conta. Pelos olhares de três fortes figuras femininas latino-americanas, Bertha, Máxima e Carolina, somos imersos em uma narrativa que busca nas reflexões o complemento para absurdos das injustiças sociais e ambientais. Com uma narração que ajuda a costurar a forte mensagem contida em cada linha do roteiro, somos testemunhas de histórias que nunca esqueceremos.

Exibido em mais de 100 festivais em todo o mundo e vencedor de 12 prêmios internacionais, o projeto se divide em três partes mas que dialogam frequentemente transformando esse media-metragem em um projeto de força avassaladora. Com ganchos intercessores que dão dinamismo à narrativa, o espectador tende a ficar com os olhos grudados em tudo que é exibido. São relatos e mais relatos chocantes, que nos causam indignação, mas que geram perguntas diversas.

No Peru, chegamos até a história de Máxima Acuña, uma agricultora que frequentemente é intimidada de várias formas por uma empresa que busca os recursos da região onde ela mora  para benefícios. Essa sede pelos recursos naturais de empreendimentos gerenciados por quem tem dinheiro, encosta no conceito de ‘novos conquistadores’ reforçado pelos relatos marcantes, viscerais, sobre os absurdos contra moradores violentamente caminhando para o desabrigo. Além disso, o documentário joga uma luz num sistema judicial peruano trabalhando para quem tem o poder além de uma importante reflexão sobre a necessidade de um sopro de resistência, com os camponeses se juntando e ganhando voz mundial.

Em Honduras, a morte da ativista ambiental Berta Cáceres acende uma chama de luta e reflexão sobre a escassez pela privatização dos recursos naturais, as desapropriações de terra, a causa indígena. Sua filha Bertha se coloca à frente dessa luta, abrindo a todos os absurdos cometido em toda a região onde moram provocado pelo consumismo descontrolado que chegam rapidamente até a violência e um bico nos princípios morais.  

A última parada desses choques de realidade é o nosso país, mais precisamente no pós desastre de Brumadinho que colocou a mineração no centro de discussões. Através da ativista Carolina e numa batalha incansável para justiça ao mais de 200 mortos na tragédia, após  rompimento da barragem do córrego do feijão, uma série de ações são feitas na busca por transparência, visibilidade e justiça.

Com um discurso único que se transmite através dessas três histórias, chegamos ao desfecho com a sensação de perguntas não respondidas sobre os crimes de responsabilidade citados. A importância dessa obra audiovisual chega exatamente para isso: documentar os absurdos,  lutar por justiça e não deixar cair no esquecimento!

 

 

 

 

 

Continue lendo... Critica do filme: 'La Ilusión de la Abundancia' [Bonito CineSur 2024]

23/07/2024

, , ,

Crítica do filme: 'Luiz Melodia – No Coração do Brasil' [Bonito CineSur]


Um observador do próprio cotidiano sem deixar de ampliar os olhares para o coletivo. Escolhido como filme de encerramento do 'Festival É Tudo Verdade' 2024 e selecionado para o Bonito CineSur do mesmo ano, Luiz Melodia - No Coração do Brasil nos leva para um tour objetivo sobre a carreira gloriosa, com altos e baixos, de um dos maiores artistas que o Brasil já viu. Chegando até o sucesso e o inusitado de ir ao seu desencontro, ao longo de 85 minutos de projeção, pelas ruas da alegria e com o violão debaixo do braço, acompanhamos um meteoro de carisma e genialidade que saiu do morro e conquistou plateias de todo o país.

Com o auxílio do próprio protagonista contando sua história através de imagens e vídeos, o documentário passa pelo toque de sonhar sozinho que levou o grande melodia a uma direção de sucesso atrás de sucesso. Sem fronteiras quanto ao gosto musical, seus embates com o próprio mercado fonográfico, a primeira canetada de sucesso, as parcerias musicais, são algumas das passagens desse belo trabalho assinado por Alessandra Dorgan que venceu o prêmio de Melhor Filme na 16ª edição do In-Edit Brasil – Festival Internacional do Documentário Musical.

Passando rapidamente também pelos seus primeiros passos na música, sua relação carinhosa e muito próxima com o lugar onde foi criado, o Morro Do Estácio, a chegada ao mundo da fama, num primeiro momento logo reconhecido como talentoso compositor, depois seu desabrochar como um intérprete de apresentações únicas, vemos ao longo de 85 minutos a caminhada até seu brilhantismo que conquistou a atenção de Gal Costa e outras lendas da Música Brasileira.

Com o rico auxílio de imagens de outrora, numa fabulosa montagem, passeando no estácio, um lugar que sempre lhe quis, ou num momento pelos palcos da vida, Luiz Melodia - No Coração do Brasil costura o encontro entre as observações do cotidiano e as emoções, na visão do próprio centro das atenções, chegando até um recorte interessante sobre sua carreira, o homem e o artista de forma empolgante. Melodia pode ter ido por aí mas jamais saiu daqui...dos nossos corações.

 

Continue lendo... Crítica do filme: 'Luiz Melodia – No Coração do Brasil' [Bonito CineSur]
, , ,

Crítica do filme: 'Rotas Monçoeiras – História de um Rio e seu Povo' [Bonito CineSur]


Selecionado para a Mostra Competitiva de Filmes Sul-Mato-Grossenses da segunda edição do Bonito CineSur, dirigido pela dupla Cid Nogueira e Silas Ismael, o longa-metragem documental Rotas Monçoeiras – História de um Rio e seu Povo antes de qualquer coisa é um rico aulão de história e geografia, com belíssimas imagens e uma competente pesquisa. Dito esse mérito, precisamos apontar que parece estarmos assistindo a uma edição de programas educativos. Com uma óbvia forma definida como episódica, mas exibido como filme, o projeto busca apresentar a rica história de uma região através das expedições fluviais, mais precisamente no Rio Coxim que banha o estado do Mato Grosso do Sul.

Há uma estrutura narrativa que segue através do tempo a partir de recortes históricos explicados passando de forma objetiva pelos processos de expedições do século XVII até as consequências socioambientais da atualidade. Pode ser dividido em quatro partes: a história de uma região, os ribeirinhos, os pescadores e os garimpeiros. Os fios intercessores chegam por estudiosos e pesquisadores que, com grande conhecimento do tema, exploram seus olhares como se fossem professores em uma espécie de vídeo aula, que de forma didática, ajudam a construir caminhos para reflexões.

A questão é: como alocar tanta informação numa obra cinematográfica? Com um ritmo acelerado para contar uma história de séculos em 70 minutos (uma tarefa realmente bem difícil!), é preciso de muita atenção e concentração do espectador. Mesmo assim, corre-se o risco de necessitar do complemento de leituras futuras, ou outras obras audiovisuais, para preencher lacunas. Um ponto que poderia ser muito útil mas naufraga é o uso de legendas explicativas que em alguns momentos entram e saem rapidamente, evidenciando um mal uso do elemento.

Algumas críticas sociais, em relação à situações e ações que foram ganhando multiplicidade com o tempo e, em certos pontos, provocando um efeito dominó que impactaram toda a região mostrada, ganham espaço já quase no desfecho mas sem muita profundidade. A cultura ribeirinha, aos olhos de relatos pessoais de alguns personagens que tem um amplo conhecimento daquele espaço, buscando o resgate dessa história, se junta aos pontos positivos da obra.

Em complemento, as pesquisas culturais e o paralelo ao movimento monçoeiro, além das belíssimas imagens da região do Pantanal, um lugar onde convergem vários rios, podem se tornar um prato cheio para geógrafos, historiadores, Botânicos, orquidófilos. Rotas Monçoeiras – História de um Rio e seu Povo se encaixaria melhor como uma obra seriada, dentro da sua estrutura vestido de documentário pode ter um discurso com méritos mas confuso.

 

Continue lendo... Crítica do filme: 'Rotas Monçoeiras – História de um Rio e seu Povo' [Bonito CineSur]

11/06/2024

, , ,

Crítica do filme: 'Geografia Afetiva'


Poético, tocante, através de memórias recriadas por lembranças. Falaremos agora do ótimo documentário Geografia Afetiva. Exibido no último dia de exibições do CINEPE 2024, o longa-metragem paulista encontra sentido nas descrições dos sentimentos, nos encontros e desencontros de uma família com conexões entre Brasil, Canadá e El Salvador. Contando parte da sua própria história, a cineasta Mari Moraga leva ao público de forma cativante e honesta os desabafos dos tempos de guerra, o sofrimento da distância, a satisfação dos reencontros. Marcas que acompanham toda uma vida.

O primeiro recorte, logo na abertura, é a base do discurso, algo que a narrativa preenche com poesia, imagens e movimentos que fazem total sentido, uma busca por respostas após a dor de uma perda. Aos poucos, passando por dilemas, dramas e escolhas, algumas lacunas são preenchidas, algo que a realizadora divide com o espectador de forma honesta e delicada, abrindo a porta da sua família para que todos possam refletir sobre muitas questões. Em certo momento entendemos que nem todas as respostas seriam ditas mas o que viesse já era o suficiente.

Junta-se à narrativa um olhar curioso que mostra o elo da geografia com as descobertas, algo feito de forma elegante, sucinta, também trazendo um interessante paralelo com a natureza. A aparente superficialidade em alguns temas na verdade se mostra um convite à pesquisa, o início de um refletir, um exercício que o espectador pode se aprofundar futuramente. Através de uma espécie de road movie, onde cada ponto no mapa afetivo é detalhado através de relatos objetivos dos entrevistados, entendemos contextos mais amplos, políticos, sociais, econômicos, de décadas atrás e os reflexos hoje.

A planta da emoção chega como um registro. Vou explicar: uma folha de cartolina com detalhes de lugares onde familiares fixaram raízes no início de trajetória. Uma mapa que mostra uma história. Nesse ponto, marcas de um passado difícil que logo flertam com o adeus se tornam o combustível de um dia caminharem de volta. Logo, estamos de frente para o passado e o presente, um choque que traz suas questões, um momento esperado por décadas no coração de cada integrante dessa família.

Geografia Afetiva encontra a beleza no reencontro, na necessidade de um registro definitivo de uma história familiar que começa num lugar e avança para outros. Um ciclo que nada mais é do que a jornada de uma vida, com altos e baixos, mas com a vontade de voltar mais uma vez e relembrar.

 

 

Continue lendo... Crítica do filme: 'Geografia Afetiva'

08/06/2024

, , ,

Crítica do filme: 'Memórias de um Esclerosado'


Um retrato honesto, corajoso e emocionante. Filme de abertura da mostra competitiva de longas-metragens do CINEPE 2024, o documentário gaúcho Memórias de um Esclerosado nos leva para uma intensa viagem de um homem em busca de registrar suas memórias após ser diagnosticado com esclerose múltipla. Em uma belíssima construção narrativa, colocando na tela um poderoso pulsar de alguns pontos marcantes de toda uma trajetória até uma notícia avassaladora, encontramos uma estrada que percorre o real sentido dos sonhos que aqui ganham força em imagens e movimentos.

Na trama, conhecemos o cartunista Rafael Côrreas, que 14 anos atrás, recebeu o diagnóstico de esclerose múltipla. Com o avanço da doença, resolve ir atrás de um registro sobre momentos importantes de sua vida, até mesmo personificações importantes do abstrato mundo das emoções, que traçam paralelos com o mix de sentimentos que entra em ebulição de forma dilacerante em uma enorme inquietante e produtiva conversa com o espectador.

Passando pelo karma de um acontecimento quando criança, em um antes e depois imersivo, a narrativa busca fugir do lugar comum e tratar o epicentro do discurso de mãos dadas com os medos que chegam. Esse exercício de linguagem interessante, se soma a uma metalinguagem cirúrgica, algo que traz o refletir para perto a todo instante. O desfecho inesquecível, dentro do campo da infinidade de possibilidades criativas que a sétima arte abraça, vira poesia nas mãos competentes da cineasta Thaís Fernandes.  

Estima-se que no Brasil mais de 40.000 pessoas foram diagnosticada por essa doença neurológica. É papel do cinema ser um caminho para mostrar essa realidade que sempre nos trazem reflexões sobre tudo que envolve um tema tão delicado, com ligação aos importantes debates sobre acessibilidade.


Continue lendo... Crítica do filme: 'Memórias de um Esclerosado'

27/05/2024

,

Crítica do filme: 'Dorival Caymmi – Um Homem de Afetos'


O que é que o baiano tem? Chegou aos cinemas um documentário super interessante que contorna a poesia de um dos maiores nomes da Música Popular Brasileira. Dorival Caymmi – Um Homem de Afetos nos apresenta um grande contador de histórias, um artista que aprendeu a gostar de si, pelos outros. Escrito, dirigido e produzido por Daniela Broitman, com um rico material, muito bem aproveitado, ao longo de 90 minutos passeamos por meio de memórias do seu passado e as inspirações que moldaram sua vida e suas canções.

Na casa de amigos, já pelos oitenta anos e com depoimentos de Caetano Veloso, Gilberto Gil e de seus filhos, o projeto apresenta imagens que conversam com as suas letras. Uma história contada por ele mesmo e por muitos que o cercavam. O mar e o cotidiano, a Bahia, a fase romântica pelo Rio de Janeiro, histórias sobre a composição de uma das mais conhecidas músicas na voz de Carmen Miranda, sua ligação com o candomblé. Repleta de contextos que encostam na história de artistas de uma outra época, esse documentário reproduz décadas de amor pela arte.

Os tempos no Rio de Janeiro, as histórias por Copacabana, ganham boa parte do filme com momentos engraçados, além de prováveis inspirações por paixões relâmpagos que se tornaram eternas em algumas de suas letras, algumas bem famosas. O reconhecimento como artista, o lado mulherengo, nada é colocado de lado em papos francos, abertos, onde tudo se torna uma grande celebração.

Em sua imaginária jangada que saiu pro mar, aqui no caso, da Bahia para o mundo, Dorival Caymmi marcou seu nome na história da nossa cultura, um nome que merece sempre ser relembrado e descoberto pelas futuras gerações.



Continue lendo... Crítica do filme: 'Dorival Caymmi – Um Homem de Afetos'

28/04/2024

,

Crítica do filme: 'Verissimo'


O Luis Fernando do Verissimo. Partindo 15 dias antes do aniversário de 80 anos de uma das lendas da literatura brasileira, o documentário Verissimo, busca um recorte do dia a dia de um dos maiores cronistas do cotidiano. Com um acertado tom intimista, a narrativa, de alguma forma, simplifica a personificação de um homem pacato que adora criar laços com as palavras através de seu próprio universo. Dirigido por Angelo Defanti, o projeto foi um dos destaques do Festival É Tudo Verdade desse ano.

Ao longo de uma hora e meia de projeção, da simplicidade ao brilhantismo, caminhamos pelas reflexões não expostas, nos momentos de relaxamento, na rotina, algo que cobre e desvenda um pouco de uma personalidade que vê os holofotes como uma consequência de seu brilhante trabalho que segue constante mesmo aos 80.

O estático que não quer dizer parado. Ouvindo músicas do musical Hamilton, leituras de jornais, brincando com os netos, batendo seu pensar criativo nas teclas do seu computador, acompanhamos um introvertido Luis Fernando, não adepto do celular, que já jogou ao mundo os mais variados assuntos e insiste em nunca parar. Ao mesmo tempo, um pouco do seu processo criativo, um contemplar único com ideias reunidas pelo humor peculiar acaba ganhando formas.

A sacada de apresentar um novo olhar em meio a tanto que já foi falado e filmado sobre o escritor é o maior mérito. O emblema do seu clube de futebol do coração, o Internacional de Porto Alegre, fixo na altura da distante na fileira de uma coleção de Fernando Sabino, sua relação carinhosa com seus parentes, as inúmeras idas à eventos, seus momentos de pausa e pensativo, sua dedicação memorável ao ofício que lhe deu projeção internacional. Em sua residência na cidade de Porto Alegre, acompanhamos o Luis Fernando do próprio veríssimo.


Continue lendo... Crítica do filme: 'Verissimo'