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19/03/2024

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Crítica do filme: 'As Quatro Filhas de Olfa'


A angústia de um desaparecimento duplo. Exibido no Festival de Cannes do ano passado, o documentário As 4 Filhas de Olfa, por meio de ensaios, bate-papo entre personagens reais e atrizes, nos mostra uma história que vai se montando por seus detalhes tendo como alicerce toda forte relação familiar entre uma mãe e suas quatro filhas. O reabrir as feridas se torna uma marca presente dentro de um contexto no passado doloroso que influenciou a trajetória de todas elas. Indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2024, o projeto é escrito e dirigido pela cineasta tunisiana Kaouther Ben Hania.

Ao longo de 107 minutos de projeção vamos acompanhando recortes nas vidas de Olfa e suas filhas. Desde a infância, o crescimento das meninas, a vivência no período da conhecida Revolução de Jasmim até uma radicalização e sumiço de duas delas que acaba trazendo dor e sofrimento sem fim. Reviver tudo o que passaram se transporta para a tela, com encenações de momentos das duas filhas que ficaram e duas atrizes substituindo as que foram. Memórias se misturam com as incertezas que duram até os dias atuais.

A angústia do desaparecimento é algo que percorre todo o filme. Não sabemos a princípio o que realmente aconteceu com as duas filhas mais velhas de Olfa. Fugiram? Foram sequestradas? Quando as peças se alinham nas posições de revelação, o campo de reflexões se amplia nos levando até alguns porquês. Dentro desse contexto, se expõe o processo criativo do projeto como um complemento da narrativa.

Nesse interessante documentário, com 18 prêmios internacionais, todo rodado em um hotel abandonado, passamos por uma Tunísia em plena revolução e a protagonista buscando a própria, chegando até uma temida organização jihadista que justifica seus atos pela aplicação da lei religiosa islâmica e muitas questões políticas que se amontoam. As 4 Filhas de Olfa é um forte e contundente retrato de uma sociedade que parte da dor de uma família até os caminhos da perplexidade.


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08/03/2024

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Crítica do filme: 'Morcego Negro'


Será só um o vilão dessa história? Exibido no Festival é Tudo Verdade do ano passado, o espetacular documentário Morcego Negro nos leva de volta para o final da década de 80 e início dos anos 90, um período de recomeço da democracia, onde um lobista de Alagoas se tornaria uma figura central no impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Com 10 anos de pesquisas sobre a vida de PC Farias, materiais de arquivos (alguns exclusivos), depoimentos de jornalistas, amigos, família, os cineastas Chaim Litewski e Cleisson Vidal resumem de forma intrigante o cenário político dentro da recém-restaurada democracia brasileira além de fatos sobre o misterioso assassinato do lobista.

1989, primeiras eleições com voto popular após mais de duas décadas. Em Alagoas, surge um forte nome para a presidência do Brasil, Fernando Collor de Mello. Com a ajuda da elite empresarial brasileira, preocupadas com a possibilidade do outro candidato (Lula) vencer as eleições apostam suas fichas em Collor. Ao lado dele, seu braço direito, o tesoureiro da campanha para presidência, PC Farias, um homem de negócios, até então desconhecido, que se tornou o cérebro de um amplo esquema de corrupção. Nesse resumo, estão inseridas informações que nos ajudam ao longo da cronologia dos fatos.

Amante da aviação, inclusive seu avião mais famoso, o Morcego Negro, dá nome ao documentário, Paulo César Farias tem importante recortes de sua vida contada ao longo de duas horas de projeção. Sua ascensão como homem poderoso ligado ao presidente, sua vida pessoal ao lado da esposa e filhas, seu relacionamento posterior, suas fugas espetaculares, o circo midiático que se tornou sua vida, negociações mal explicadas, se misturam com os andares do conturbado cenário político brasileiro. Uma cronologia impecável, com riqueza de detalhes, contextualizada, indo a fundo sobre muitas questões.

Sobre a mais misteriosa situação que envolve PC Farias, seu assassinato, o documentário apresenta os fatos, opiniões de legistas deixando para o espectador uma série de reflexões. Foi queima de arquivo? A mulher com quem estava o matou? O que aconteceu de fato naquele dia e lugar?

Baseado em partes no livro Morcegos Negros de Lucas Figueiredo, esse documentário investigativo mostra a chegada ao poder e a queda de um figura que marcou a história da política brasileira. Um filme importante para conhecer mais sobre nosso país. Dia 21 de março chega aos cinemas. Imperdível.

 

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01/12/2023

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Critica do filme: 'Nada Será como Antes – A Música do Clube da Esquina'


Que notícia que nos dão de vocês? Buscando trazer novos olhares para um famoso movimento de talentosos músicos mineiros na década de 60, o Clube da Esquina, o documentário dirigido pela cineasta Ana Rieper, Nada Será como Antes – A Música do Clube da Esquina, navega com leveza e poesia pela história de algumas criações de sucessos em canções oriundas de uma observação detalhada do que viviam, também dos amores. As referências musicais e os paralelos entre o movimento estudantil e o cinema como pontos importantes para a criação do grupo são amplamente debatidos sob diversos olhares. Ganchos para um recorte mais amplo de uma época de constante mudanças no Brasil são vistos mas a narrativa estaciona na superfície.


A primeira parte do documentário é contagiante, seguimos numa estrada deliciosa que nos mostra curiosidades da amizade ao brilhantismo. No bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte, futuros compositores e letristas de sucessos se reuniam, cada um com suas referências musicais, alguns adoravam Jazz, outros Beatles. Essa diversidade de influências é muito bem captada pelas lentes da diretora que por meio de imagens de arquivos e depoimentos de quem viveu todo aquele início de história leva o espectador a ficar hipnotizado durante a reflexão de como a simplicidade e a genialidade encontram paralelos constantes.


Todo dia é dia de viver. Na sua segunda metade, sem se desprender de mérito algum, o filme perde fôlego, tentando entrar em um recorte mais amplo de uma época com muita coisa a se dizer, caminha lentamente para um lugar perto do comum, como muitas outras produções. Exibido no Festival do Rio, na Mostra de São Paulo e filme de abertura da décima oitava edição do Fest Aruanda Nada Será como Antes – A Música do Clube da Esquina pode ser visto como um registro marcante para quem viveu o Brasil desde aqueles tempos além de plantar uma semente para o olhar atento de uma nova geração.


Naquela calçada, fugindo de outro lugar, talvez num domingo qualquer, a história foi escrita. Milton Nascimento, Lô Borges, Marcio Borges, Toninho Horta, Wagner Tiso, Beto Guedes e outros integrantes brindaram a todos nós com o flerte ao inesquecível, uma poderosa ferramenta de amor pela cultura como um todo de um timaço da nossa música que provaram a cada verso que os sonhos não envelhecem.

 


 

 

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08/11/2023

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Crítica do filme: 'De Tirar o Fôlego'


O equilíbrio entre a mente e o corpo nos preenchimentos de lacunas ligadas aos limites. Um dos mais impactantes documentários lançados no universo dos streamings em 2023, De Tirar o Fôlego, indicado à cinco prêmios desde seu lançamento, nos mostra o forte elo de dois destinos que se cruzam através dos riscos de um dos esportes mais perigosos do mundo, o mergulho livre. Escrito e dirigido pela cineasta irlandesa Laura McGann, esse projeto tem a maestria de uma narrativa que consegue manter o interesse do espectador do início ao fim onde reviravoltas são vistas aos montes nos levando para enormes caminhos de tensão, angústia e reflexões sobre a vida.


O epicentro da trama gira em torno de duas correntes paralelas, duas almas com destinos escritos para se cruzarem, um renomado instrutor de mergulho irlandês chamado Stephen Keenan e uma atleta fenômeno dos esportes aquáticos, a italiana Alessia Zecchini. Do primeiro, acompanhamos sua trajetória ao redor do mundo, sua necessidade de ir atrás dos seus sonhos sem saber ao certo onde será seu porto seguro. Da segunda, acompanhamos uma atleta de destaque desde muito jovem que trocou as piscinas pelos mares em busca de cada vez mais chegar às profundezas, lutando constantemente contra uma imaturidade e ansiedade em quebras de recordes inéditos que a leva algumas vezes para caminhos de incertezas. Essas duas almas vão se encontrar, se conectar e passarão por uma enorme tragédia num conhecido lugar de mergulho chamado Blue Hole em Dahab, no Egito.


Essa é uma história pública, mas de conhecimento apenas de quem é ligado a esse peculiar esporte. Então, basicamente, tudo que vemos trazem enormes surpresas. A maneira como é contada essa história (narrativa) transforma esse projeto em um filme com altas cargas dramáticas que deixam as respostas chegarem aos poucos, onde as peças do quebra-cabeça vão sendo montadas aos poucos após a linda apresentação dos dois personagens.


Temos aqui uma pegada Nietzschiana, em cima do conhecido espírito livre, algo que encosta na trajetória de vida dos dois personagens, e principalmente no entendimento deles em relação às responsabilidades das próprias ações. Os depoimentos de amigos e dos que os conhecem, preenchem curiosidades, moldam suas essências, trazendo para a tela um enorme raio-x.


Estão cada vez mais fascinantes os documentários que conseguem traduzir na tela os conflitos emocionais de personagens reais e suas interações entre a natureza e o alcançar objetivos que levam ao limite a mente e o corpo. Foi assim com o Professor Polvo (Netflix) e Free Solo (Disney Plus) e alguns outros. De Tirar o Fôlego segue essa linha, um poderoso extrato do abstrato dos emoções, um filme marcante, emocionante, que vamos levar nas nossas memórias durante muito tempo.



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25/05/2023

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Crítica do filme: 'Tina'


Se você não cura as feridas do passado, você vive sangrando. Como contar a história de uma das maiores cantoras da história? Ao longo de cerca de duas horas, dirigido pela dupla Daniel Lindsay e T.J. Martin, o documentário Tina nos mostra com detalhes a trajetória profissional e momentos chaves pessoais da inesquecível Tina Turner. A sensualidade, o carisma, a energia, o sucesso, a fama, se entrelaçam com seu passado, voltando décadas atrás, para memórias de enormes traumas, ligados ao abandono de seu pai e sua mãe quando criança até os longos anos em que foi abusada e violentada pelo ex-marido. Esse projeto é o raio-x completo da vida intensa de uma mulher poderosa que soube se reinventar depois dos 40.


Disponível na HBO Max, repleto de imagens e gravações de shows antológicos, além de fitas k7 antigas com gravações de inúmeras entrevistas de momentos importantes na carreira da cantora, o projeto indicado para três prêmios Emmys em 2021 nos leva num primeiro momento até a década de 50, no Tennessee, onde a jovem Tina se encontrou com suas primeiras referências musicais, no gospel, no blues, na música de B. B. King, assim logo conseguiu uma vaga para cantar no coral da igreja batista quando adolescente. Aos 17 anos, foi chamada ao palco pela primeira vez dando início assim à carreira profissional, ao lado do ex-marido Ike Turner. O sucesso veio ao mesmo tempo que a violência, nos momentos difíceis na primeira fase de sua carreira profissional, principalmente no relacionamento repleto de situações absurdas com Ike.


Essa corajosa mulher, que ensinou Mike Jagger a dançar e que nunca estudou dança, nem música, tendo como sua marca registrada a voz marcante, suas pernas saltitantes, sua impressionante presença no palco precisou se reinventar quando enfim se livrou do ex-marido. Nessa fase, tudo foi novo de novo para ela, empresário que nunca havia trabalhado, uma maior liberdade artística enfim assinando sua carreira conforme ela queria. Nesse momento, sua carreira logo atinge o ponto mais alto, com sucessos marcantes como o número 1 da Billboard na época: ‘what's love got to do with it’. Em meados da década de 80, no auge da carreira, assinou para participar do filme Mad Max - Além da Cúpula do Trovão.


A menina que tinha o sonho de lotar plateias pelo mundo, feito apenas conseguido por alguns na época, principalmente no disputado universo do Rock and Roll, chegou lá! Até mesmo o marcante show no Rio de Janeiro, para mais de 180 mil pessoas, no final da década de 80, foi lembrado no documentário. Em meio a shows e mais shows e uma enorme preocupação com a carreira, o lado mãe também ganhou espaço, os tempos longe dos filhos e todos os conflitos que viveu ao longo da criação deles.


Tina, nos mostra de maneira impressionante como essa impactante super estrela conviveu durante anos com conflitos que levou por toda sua vida mas sem deixar de brilhar um segundo quando subia no palco.



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01/04/2023

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Critica do filme: 'Criminoso ou Inocente: O Caso Big Mäck'


Aquilo que foi dito pode ser de fato o que não é. Lançado em janeiro de 2023 na Alemanha, esse projeto, made for Tv, que ganhou espaço no catálogo da Netflix nesse início de abril, nos mostra a mirabolante vida e os conflitos de Donald Stellwag, um homem que ficara preso por quase 10 anos por um crime que não cometeu e anos mais tarde fora novamente acusado de um outro crime que pode ou não ter cometido. Dirigido pelo trio: Fabienne Hurst, Andreas Spinrath e Facundo Scalerandi, o documentário se divide em três arcos, o primeiro roubo, o segundo roubo e um raio-x geral sobre os bastidores da vida dessa figuraça que conseguia convencer todos ao seu redor (não importando o lugar onde estivesse). Uma vida que realmente merecia um filme!


Criminoso ou Inocente: O Caso Big Mäck nos mostra grande parte da vida de um homem que teve muitas profissões e foi epicentro de situações curiosas. Filho de um norte-americano e uma alemã, seus pais morreram quando ele era muito jovem e ele foi criado pelos avós maternos no interior da Alemanha. No início da fase adulta, descobriu dois tumores cerebrais, fato que o deixou limitado e amargurado por um bom tempo. Sua vida ganharia um roteiro digno de cinema quando na cidade de Nuremberg, no início da década de 90, mais de 50 mil marcos alemães foram roubados de poderoso banco alemão por um homem sozinho que fugiu num táxi após o delito. Donald foi acusado do crime e mais, inacreditavelmente sua condenação fora feita por um laudo de um perito baseado na semelhança de uma de suas orelhas por comparação as fotos do dia do crime. Ele passou quase 10 anos preso e logo após ser solto, descobriu que a polícia achou quem realmente cometeu o crime.


O documentário mostra com detalhes a questão do primeiro julgamento e todo seu desenrolar até a liberdade de Donald. Vítima de um erro judicial que colocou em mudanças determinadas questões na jurisdição alemã, ele foi atrás de seus direitos sendo indenizado pelo tribunal pelo erro cometido. Mas logo depois, um segundo crime é cometido por um rapper famoso, que acusa Donald de estar envolvido. Nesse segundo caso, o documentário apresenta versões de fatos que colocam em dúvida se ele participou ou não da tal situação.


Golpista mas também vítima? Uma batalha interna entre o bem e o mal? Definir um raio- do protagonista desse documentário é algo muito complexo. Através de conhecidos dele, durante fases de sua vida, vamos entendendo que Big Mäck é uma figura central de várias histórias, além de ser um aumentador de suas próprias façanhas. Aproveitando a fama após a justiça reconhecer o erro de sua condenação, frequentou todos os programas sensacionalistas da televisão alemã se tornando uma figura conhecida por todo o país. Mas será ele um malabarista na arte do enganar? Em uma hora e meia de projeção vamos buscando decifrar esse personagem intrigante da história alemã.



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24/01/2023

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Crítica do filme: 'O Mochileiro Kai: Herói ou Assassino?'


As dúvidas e conflitos sobre um inusitado acontecimento que dividiu a opinião pública. Lançado em janeiro de 2023 na Netflix, o documentário O Mochileiro Kai: Herói ou Assassino nos apresenta um recorte cheio de variáveis de um mochileiro sem teto, nômade, que sobrevive de estado em estado através da bondade dos que encontra pelo caminho, que no primeiro dia de fevereiro de 2013, em Fresno, na Califórnia, empunhando uma machadinha, salva uma mulher de um maluco e logo vira celebridade nos Estados Unidos. Ao longo do tempo, a partir dessa situação outras facetas da nova celebridade não demoram para aparecer.


O projeto busca seguir uma lógica de narrativa onde a lineariedade é o foco, mostrando cronologicamente os passos desse jovem com graves problemas psicológicos, primeiro através de um repórter da KMPH News que acabou sendo o primeiro a entrevistá-lo, inclusive criando um vínculo de empatia com ele. Mas logo Kai vira uma celebridade da era digital, ganhando reacts, comentários em todas as redes sociais do momento além de ser pauta em programas que adoram explorar o sensacionalismo. Nesse momento outros personagens entram na história quando ele vira notícia. Seguindo na linha do tempo, uma outra situação acontece, uma terrível assassinato de uma pessoa que o ajudou num noite anterior ao crime, transformando o protagonista dessa história no principal suspeito.


A partir do momento onde Kai vai de herói a vilão muitas perguntas ficam no ar: Será ele um barril de pólvoras prestes a explodir? Há alguma culpa da mídia nessa exposição de sua história? E a família dele, o que pensam sobre isso? Logo entendemos que a trajetória de Kai já como celebridade num mundo pulsante das redes sociais vira um caso conflitante de opinião pública que levantam questões para reflexões dos espectadores.



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21/06/2022

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Crítica do filme: 'Me Chama que eu vou'


Exibido no Festival In-Edit Brasil, dedicado ao documentário musical, Me Chama que eu vou busca em longos bate-papos, entrevistas de décadas passadas, apresentar algumas etapas da trajetória de um artista único no cenário da música popular brasileira, Sidney Magal. Um símbolo sexual? Amante latino? Há uma questão existencial interessante que esse documentário apresenta. Os dois lados do Sidney, o com a família e o que sobe no palco. Um ídolo popular. O narcisismo quase característico aqui é apenas um detalhe, um ingrediente para tentarmos ao longo de menos de 80 minutos traçar reflexões sobre esse influente ídolo popular. O projeto, dirigido pela cineasta Joana Mariani, não atinge além da superfície, do indecifrável, nos mostra um artista aos olhos do próprio.


Ele nunca quis ser o Sydney Magalhães conhecido por uma meia dúzia de pessoas e sim um grande artista conhecido por todos. Incentivado pelas mulheres de sua família, foi começar na carreira se apresentando em bares, chegando a programas populares da época. Um tour pela Europa, foi onde nasceu o Magal a partir de uma ideia de um dono de boate. Repleto de sucessos ao longo da vitoriosa carreira, como: Meu Sangue Ferve por Você, Tenho, Sandra Rosa Madalena e a música que dá título a esse projeto, o documentário também bate na tecla do lado familiar, as escolhas que tomou em conjunto com seus entes mais queridos por conta das loucuras da fama ganham emocionados momentos. Buscando a simplicidade, quase quatro décadas casado com Magali, mãe de seus filhos, conhecemos o Magal pai, marido, um apaixonado por sua família.


Um artista completo. Filmes, novelas, musicais. Magal é um fenômeno até hoje, um homem que não deixou um segundo de se arriscar profissionalmente, até mesmo quando fora taxado de brega transformou isso em público, em sucessos. Trechinhos de músicas são ouvidas pelo Magal da atualidade, acompanhado de um piano a belíssima canção Onde Anda Você, de Toquinho e Vinicius de Moraes. Em outros momentos, passagens de algumas de suas inúmeras entrevistas para nomes como Leda Nagle e Marília Gabriela, são exibidos com pequenos recortes de suas longas histórias que de alguma forma contornaram a trajetória da música popular brasileira.



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19/06/2022

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Crítica do filme: 'Os Reféns de Gladbeck'


Um dos sequestros mais absurdos e com desenrolares inacreditáveis da história da Europa.  Gravações feitas no mês de agosto do ano de 1988 se transformaram em um documentário que nos impacta do início ao fim. Os Reféns de Gladbeck, lançado recentemente na Netflix tem a proposta de apresentar os fatos de um sequestro onde, por mais de 50 horas, sem interrupção, telespectadores da Alemanha Ocidental acompanharam os desenrolares da ação criminosa que virou um grande circo midiático. Totalmente feito com gravações originais, mostrados em ordem cronológica, vamos acompanhando uma série de absurdos que se sucedem, desde um passivo comando das forças policiais até a interferência massiva de jornalistas ao longo de todos os fatos.


O drama dos primeiros reféns começou logo pela manhã, perto das 8 horas quando dois criminosos conhecidos da polícia, muito por já terem longa ficha criminal, invadiram um banco na cidade de Gladbeck e fizeram um gerente e uma funcionária de reféns. Negociando com a polícia para em troca soltarem os dois inocentes dessa história, conseguem um carro e dinheiro, assim rumam para o norte do país, mais precisamente a cidade que se formou às margens do rio Weser, Bremen, onde uma série de bizarras situações acontecem. A polícia parecia estar bastante perdida, sem saber lidar com a situação. Os horrores da situação em si eram camufladas por ações absurdamente amistosas de dezenas de jornalistas que cobriam os desenrolares desses dias caóticos com uma proximidade aos fatos e aos criminosos poucas vezes vista.


Talvez o maior ponto de reflexão de tudo que assistimos ao longo das pouco mais de uma hora e meia de projeção seja o papel da imprensa, esse colocado em reflexão a todo instante. Inusitadas situações acontecem enquanto pessoas eram feitas de reféns, como por exemplo um dos sequestradores, totalmente sem medo, começa a dar entrevistas para os jornalistas em clima amistoso, uma situação absurda que, no mínimo, afronta ostensivamente as convenções e conveniências morais e sociais quando pensamos em tudo que estava acontecendo naquele momento ali. E os absurdos não param por aí, há inclusive tentativas independentes de mediação por partes de alguns jornalistas, o maior exemplo disso é um editor-chefe de um jornal de Colônia que entrou no carro dos bandidos buscando soluções para a situação (ou apenas mais material para seu jornal) quando não era esse seu papel.


Muitas mudanças em relação a cobertura jornalística (conduta da mídia) na Alemanha foram determinadas após tudo que acontece nessa história. Em uma delas, o Conselho de Imprensa Alemão, após o ocorrido, proibiu qualquer entrevista com sequestradores durante situações com reféns. Até hoje os acontecimentos de agosto de 1988 são lembrados e intensos debates são travados não só em relação ao papel da imprensa mas também sobre os erros e os desencontros das forças policiais e também em relação à justiça e a sentenças dadas aos envolvidos.



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28/07/2021

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Crítica do filme: 'Três Estranhos Idênticos'


E se você soubesse que tem um irmão? E ainda mais: gêmeo? O que você faria? Um dos documentários mais polêmicos disponíveis na plataforma líder dos streamings, a Netflix, Três Estranhos Idênticos nos mostra os absurdos de uma história que se fosse mentira já seria mirabolante imagina então o choque dela ser real. Por meio de memórias, documentos e depoimentos, vamos acompanhando a surpresa de três irmãos gêmeos adotados por lares diferentes que nunca sabiam da existência um do outro e acabam enfrentando uma jornada ainda mais profunda e surpreendente para saber o que aconteceu.


Nesse curioso documentário dirigido por Tim Wardle, acompanhamos a saga de Eddy Galland, David Kellman e Robert Shafran, três jovens que perto de iniciar sua fase adulta, já na época de faculdade, descobrem que são irmãos, e gêmeos! Essa inacreditável história foi muito divulgada na época do ocorrido, inclusive com matérias jornalísticas, a mídia falava dos irmãos para todo lado. Eles até foram a grandes programas de sucesso da época. Mas a questão não é só essa! Aos poucos e indo mais a fundo nessa história, os irmãos descobrem que foram adotados separadamente, cada um para uma família de classes sociais diferentes, com o intuito de pesquisa liderada por cientista. Somos testemunhas dos desenrolares dessa história traumática e quase inacreditável.


Buscando ir atrás de todo o tempo que ficaram separados, os irmãos, a partir do momento em que souberem da existência um do outro, não se desgrudavam. Até participação em filme fizeram. Talvez no passo mais audacioso, empreenderam, abriram um restaurante em Nova Iorque. Mas aos poucos foram se afastando. O documentário também aborda a reação e conclusões das famílias de cada um dos três.


O circo midiático em torno dessa história é muito bem detalhado com as participações dos irmãos em diversos shows de televisão de grande sucesso. Mas isso é apenas um paralelo para se chegar no outro clímax que o projeto nos mostra que é a descoberta da experiência feita por um cientista que ainda é secreta em partes não divulgadas pela empresa que conhece o fato. O filme é bem impactante nesse momento já no seu desfecho. Vale a pena conferir esse documentário!

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24/07/2021

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Crítica do filme: 'Sob o Pé de Toranja - A História de CC Sabathia'


A importância da família e a força de vontade na busca de ser um ser humano melhor para si mesmo e para os outros. Disponível no ótimo catálogo do streaming da HBO Max, Sob o Pé de Toranja - A História de CC Sabathia é um documentário muito interessante que nos mostra as conquistas e os dramas de uma lenda da liga profissional de Baseball norte-americana, o arremessador CC Sabathia. Ao longo de menos de uma hora e dez de projeção, vamos vendo sua forte ligação com a família, e o seu auge como atleta quando enfrentou um grave problema de Alcoolismo que o deixou à beira de perder tudo que conquistara até ali. Por meio de depoimentos, vídeos e imagens, vamos entendendo um pouco da vida desse talento raro.


Tudo começou em Vallejo (Califórnia), no quintal de sua avó. Ela tinha um imenso pé de toranja e o protagonista sempre que a visitava jogava as frutas que caia tendo uma cadeira como alvo. Ali, naquele lugar simples CC Sabathia (que viria ser um dos maiores esportistas das grandes ligas dos esportes norte-americanos), podia sonhar com tudo que queria em sua vida. Aos poucos ele cresce e os conflitos começam a aparecer na sua frente: o afastamento da relação com o pai após a separação com a esposa (mãe de Sabathia); mais perdas que viriam acontecer pelo caminho; suas dificuldades no casamento de muitos anos ao lado da esposa que ajudou como pode o jogador nos momentos mais difíceis; o grave e quase silencioso problema de alcoolismo que passou.


Segundo ele mesmo: “sempre que uma coisa boa acontecia, outra ruim vinha logo em sequência”. Nos mostrando parte de seu último ano como atleta, após 19 anos como profissional de um esporte muito querido pelos Estados Unidos e vestindo a camisa de um dos times mais tradicionais da maior liga de baseball do mundo, o documentário busca nos mostrar a maior parte da vida desse pai, marido que, quando estava longe dos estádios, das competições, muitas vezes não soube lidar com os problemas que apareciam na sua frente mas de muitas formas deu a volta por cima.


O filme gera seu impacto mas também grandes pontas de esperança. Belo projeto, que sirva de inspiração para muitos outros atletas ou não atletas.

 

 

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04/07/2021

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Crítica do filme: 'Migliaccio, o Brasileiro em Cena'


O homem que sempre sonhou em ser John Wayne. Dono de interpretações inesquecíveis como Seu Chalita e Xerife, que percorreu o início do Cinema Novo (movimento nas décadas de 60 e 70 em nosso cinema revelando pela arte as desigualdades e questões sociais da sociedade brasileira), um dos filhos de uma família de onze irmãos, o ator, produtor, diretor e roteirista Flávio Migliaccio foi um dos grandes nomes da Tv, do Teatro e do Cinema no Brasil. Co-Produzido por Globo Filmes, GloboNews e Canal Brasil em Migliaccio, o Brasileiro em Cena acompanhamos algumas de suas histórias e partes de seu caminho do seu início vindo de uma família humilde até virar um dos rostos mais conhecidos pelo seu trabalho. Dirigido pelo trio: Alexandre Rocha, Marcelo Pedrazzi e João Mariano (Tuco).


Com estreia marcada para o dia 8 de julho nos cinemas brasileiros, o documentário busca de maneira mais profunda possível passar o modo de pensar e histórias da carreira de um artista muito criativo que conquistou o Brasil contando histórias próximas da realidade de muitos. Sempre em busca da importância de se comunicar com seu público através de sua arte, Flávio Migliaccio, um ótimo contador de histórias, através de entrevistas em algumas fases de sua vida, vamos começando a entender essa personalidade do universo das artes do Brasil.


Seu primeiro emprego foi de engraxate, mas seu pai queria mesmo que ele fosse barbeiro. A descoberta do teatro profissional, do descobrir a vida através daquela realidade veio nos tempos de Teatro Arena em São Paulo. A partir daí, nunca mais pensou em ter outra profissão na vida, conheceu nomes importantes para a cena teatral e do cinema como Leon Hirszman e Gianfrancesco Guarnieri. No cinema, seu primeiro trabalho foi Cinco Vezes Favela (1962), onde inclusive escreveu um dos episódios, foi assistente de direção e fez um dos papéis no curta dirigido por Marcos Farias. Havia um paralelo entre todos os rumos de seu trabalho e o Cinema Novo assim embarcando de corpo e alma no mundo mágico do cinema.


Em papos descontraídos, Migliaccio, o Brasileiro em Cena daria até um filme mais amplo, muitas histórias devem ter ficado pelo caminho. Sabemos mais sobre bastidores de filmes do artista, de teatros, sobre os lados da fama, sua visão sobre a arte e seu poder, da própria história brasileira como o incêndio no prédio da UNE nos anos 60 durante a Ditadura Militar. O artista nos deixou em maio do ano de 2020 e estará para sempre na história do teatro, tv e cinema do Brasil.


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30/06/2021

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Crítica do filme: 'Rumo'




O que é a palavra dentro da canção? No início da década de 80, a ditadura emergia e as produções musicais em SP, origem do grupo que vamos conhecer ou redescobrir nesse documentário, se encontravam nos porões do teatro Lira Paulistana. Com Músicas declamadas, Poesias sociais, reflexivas, sobre a vida e momentos de muitas estradas, o grupo Rumo começava a surgir. Por meio de depoimentos dos integrantes, as histórias, as ideias, o início, vamos conhecendo melhor esses sonhadores, quase teóricos, da música brasileira. Interessante documentário dirigido pela dupla de cineastas Flavio Frederico e Mariana Pamplona.


O projeto tem vários méritos, navega por assuntos importantes dentro de um cenário musical concorrido em uma época que tocar nas rádios era uma vantagem, inclusive com uma análise bem profunda sobre essa questão. Havia uma falta de espaço nessas mesmas rádios, dominadas pelas táticas comerciais das gravadoras e para um grupo tão inovador em sua proposta como o Rumo, o início da produção independente acabara sendo um caminho preponderante em sua jornada mesmo que isso não significasse viver 100% da música para sobreviver. Um grupo sem fins lucrativos? Eles buscavam viver de uma maneira livre mas ou menos um paralelo com suas músicas, sem tom fixo, buscando quase o elemento na canção que caracterizava a linguagem. Talvez por não terem o lucro como o foco principal, o agradar, tinha uma liberdade artística caminhando em cima da teoria e evolução da música brasileira.


O início do grupo é bem explicado, com divertidos depoimentos de seus integrantes, quase todos vivos até hoje. De peculiar, um exemplo são os debates sobre as canções, após inesquecíveis shows na FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), no início da carreira. De vez em quando buscavam simetrias em canções de outros, como em uma música de Noel Rosa inclusive. Esse documentário é quase um grande aulão sobre o cenário da música brasileira em décadas passadas e mais profundamente de maneira simples e explicativa navegamos pelos fundamentos da linguagem da música popular, até da arte teatral, aliada a um humor que fazia um elo com os sambas dos anos 30. Muito prazer Rumo, gostei de conhecer você. O documentário tem lançamento nacional em 01 de julho.



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20/05/2021

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Crítica do filme: 'Castelo de Terra'


A fuga do sistema capitalista. Com filmagens ao longo de sete anos, Castelo de Terra, nos apresenta a jornada de uma jovem francesa de classe média que vem ao Brasil, descobre o amor e vai descobrindo aos poucos como viver dentro do sonho de uma vida autossuficiente. É a trajetória da própria diretora Oriane Descout, muitas vezes com a câmera na mão, combatendo ao capitalismo que vigora o mundo com suas tentativas de ações alternativas, de uma implementação do comércio local e ações coletivas ligadas à terra, sempre junta à seu companheiro, o brasileiro Marreco. A crise política do Brasil é debatida na superfície mas está embutida, de alguma forma, nas escolhas que são tomadas. Uma boa definição desse documentário que rodou festivais na Bélgica, na Austrália e em Portugal, é: uma luta diária dentro do contexto complexo de uma sociedade que não evolui.


Em Castelo de Terra, conhecemos Oriane Descout e Marreco, um casal que se conheceu quando a primeira chegou ao Brasil e logo se apaixonaram não só amorosamente mas também dentro da mesma linha de raciocínio de viverem uma vida autossustentável com ações sociais simples mas que impactam a todos que buscam fugir da loucura capitalista do mundo de fora. As dificuldades são imensas, ao longo dos anos, vamos vendo todas as tentativas que fazem. Na terra dos outros, sem saber se vão conseguir ficar ali à longa prazo, a mudança de pensamento (ou dúvidas) sobre a questão do coletivo as várias tentativas de implementação desse sonho, o caminho é árduo e cheio de obstáculos.


As encruzilhadas do coletivo são um bom campo de reflexão, antes ‘tudo feito por muitos para todos’ era uma forma básica dentro da utopia imaginada mas com o passar do tempo, e, nisso entram experiências interpessoais sobre as ações, a ajuda e o trabalho, a questão da diretora e seu companheiro viverem como uma família toma conta se importando mas nas ações coletivas quando em mutirões ou decisões de uma possível associação.


Uma luta pela terra? Sonho de uma vida autossuficiente? Qual o apoio nisso? As opiniões da família da diretora são vistas por conferência via conferência pela internet e quando a diretora volta à França para explicar suas escolhas à sua mãe, fora uma visita no arco final. Ela que na França militava pelos imigrantes sem documentação e trabalhava em uma associação busca equilibrar a razão com a emoção dentro de uma admirável sensibilidade para transformar a utopia em exemplo.

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13/05/2021

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Crítica do filme: 'Alvorada'


A visão de um contexto que todos nós conhecemos. Exibido no Festival É Tudo Verdade de 2021, o documentário Alvorada, de Anna Muylaert e Lô Politi, apresenta em forma quase de memórias, registros, de uma situação poucas vezes vistas em nossa história. Golpe? Absurdo? Inconstitucional? Assistimos ao impeachment da presidente Dilma Rousseff visto pelo olhar dos que circulam por dentro da residência oficial dos presidentes brasileiros. Você leitor recebe mais alguns argumentos, mesmo que de forma nada explícita, na superfície, através da arte, do cinema, para chegar as suas próprias conclusões. As reflexões sobre a fragilidade da maldade chegam já no contexto final, talvez a parte mais profunda de um projeto que poderia contextualizar muito mais sobre a decisão de tirar da presidência a única mulher da história a chegar nesse posto.


Discutir sobre política no Brasil virou algo estressante e muitas vezes até perigoso, já tivemos mostra de alguns exemplos de radicalismo (de ambos os lados). Mesmo não mostrado nesse projeto, uma alta polarização é nítida desde lá até agora, dos bastidores da velha política os gritos a favor ou contra Dilma tomando conta das ruas. Em abril de 2016 se instaura por meio da câmara dos deputados do Brasil, o início do processo do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Logo após, em maio, ela é afastada, assim chegamos ao epicentro desse documentário, esse retrato, recorte, que busca os detalhes das últimas horas de esperança no veredito do senado. Dilma passa a maior parte desse tempo no palácio da Alvorada.


Entre assessores e políticos que passam pela Alvorada, vale a atenção do público para a aflição dos funcionários e de todos que são próximos dela mas não são políticos. Outro detalhe importante é que em meio a conturbados momentos nos discursos argumentativos, e, às vezes, técnicos sobre sua defesa, volta e meia a própria Dilma pede para não gravarem determinados diálogos. Sobre curiosidades, vemos diálogos da presidente sobre música, inclusive relembra uma passagem quando estava presa onde uma outra prisioneira a ensinou sobre o tango pois tinha toda a coleção de Gardel; também sobre literatura, história. Porém, acaba falando pouco sobre si mesma deixando apenas como foco principal o registro de uma página complicada e polêmica na história do Brasil.

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01/05/2021

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Crítica do filme: 'Os Quatro Paralamas'


A arte de viver da fé no que acreditam. Amigos de quase toda uma vida, uma das maiores bandas da história da música brasileira. Em Os Quatro Paralamas, documentário disponível no catálogo da Netflix, temos a chance de acompanhar bem de perto, ao longo de um pouco mais de 90 minutos, entrevistas atuais, muitos vídeos de arquivo do diretor Roberto Berliner, fotos aos montes, lembranças de uma história que andou em paralelo com todas as mudanças sociais e políticas de nosso país. Exibido no Festival É Tudo Verdade de 2020, o documentário nos mostra em meio a muito papo, reflexões sobre a vida, desses paralamas, que passaram mais tempo juntos do que com as próprias famílias.


Selvagem, Vital e sua moto, meu erro, alagados, Bora Bora, Trac-Trac...inúmeros sucessos em versões de registro de ao vivos fantásticos que somente quem viveu sabe mensurar fazem parte dessa trajetória fílmica que nos mostra a simplicidade das reuniões dos amigos e colegas de trabalho que sempre viam na música uma saída importante para dizer o que sentem, o que veem, o que pensam. Mas você deve estar pensando, mas a banda não tem somente três integrantes? O quarto elemento é um afigura muito importante, Zé, o primeiro e único empresário da banda, amigo de Hebert desde o início dos tempos de faculdade.


Passando quase que na superfície pela estrutura política de todas as décadas de existência da banda, há a curiosa menção de que eles durante o tempo de Collor e as reformas que afundaram o Brasil os Paralamas do Sucesso faziam mais shows na Argentina do que no próprio país. Sobre a chegada do sucesso, importante ponto é mencionado, o emblemático show do Rock in Rio, quase um divisor de águas na carreira dessa banda amada por todos os brasileiros.


Se o seu mundo for o mundo inteiro, sua vida, seu amor, seu lar, deixe tudo que for verdadeiro e tudo que não for passar. Já caminhando pro arco final, o momento mais triste dessa trajetória dos quatro paralamas, o acidente de avião que levou embora Lucy, a esposa de Hebert, e deixou esse último com muitas sequelas. São emocionantes os relatos que vemos além da força que precisaram ter para continuar, se segurando no que mais amam: a música.

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16/04/2021

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Crítica do filme: 'Paraíso'


As canções, as almas e os corações que sempre se deixam emocionar. Após quatro décadas fora do Brasil, o cineasta Sérgio Tréfaut resolve buscar por suas memórias primárias até onde lembra de estar no seu país através de um grupo de pessoas, em sua grande maioria na feliz idade, que se reúnem nos jardins de um ponto turístico carioca para uma seresta semanal. No karaokê popular da alegria instaurado, que acontece faz muito tempo, ouvimos grandes clássicos de diversas gerações, de Alceu e Elba até Wando, De Lupicínio Rodrigues à Moska, Caetano. Entre outros. Filmado nos jardins do palácio do catete, pouco antes da pandemia, o filme apresenta um reflexivo desfecho que se conecta com o momento atual do mundo, particularmente do Brasil e alguns desses frequentadores.


Em menos de 90 minutos, o documentário busca resgatar memórias dos personagens que aparecem mas também do cineasta. A solidão acaba sendo uma testemunha ocular desse ‘Paraíso’ que remete ao título, aparece quando estão sozinhos, ou em memórias nos depoimentos, mesmo isso sendo feito sem muita profundidade, entre uma canção e outra a mensagem chega em nossos corações. O bom humor e a descontração navegam no contraponto da constatação do estar sozinho.


A seresta que participam é acontecimento semanal da vida deles, a segunda casa de muitos. O palco é a sede do governo de nosso país até a criação de Brasília, um lugar belíssimo, muito bem cuidado que de alguma forma respira arte, até cinema possui. E como ia ser lindo ver esse filme passando lá no cinema do Museu da República. Quem sabe né?

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11/04/2021

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Crítica do filme: 'Gorbachev.Céu'


Selecionado para a Competição Internacional de Longas do Festival É Tudo Verdade 2021, Gorbachev.Céu mostra opiniões e lembranças do oitavo e último líder da União Soviética, Mikhail Gorbachev, gestor de uma grande reforma em sua parte comandada do mundo e que podemos dizer que deu um nó no planeta, responsável pela Perestroika e Glasnost em meados da década de 80. Vamos sendo testemunhas oculares de sua rotina, agora já mostrando diversas fragilidades que chegam com a idade avançada, além de termos uma grande aula sobre história mundial através desse hábil contador de histórias, uma figura histórica, mundialmente conhecida que ainda se vê como socialista tendo Lênin (Organizador do Partido Comunista Russo) como seu Deus. Dirigido pelo cineasta ucraniano Vitaly Mansky.


A modelagem do documentário é bastante ágil e dinâmica, uma entrevista cheia de caminhos e momentos de grande reflexão, praticamente a história da Rússia das últimas décadas passando na frente de nossos olhos através da opinião sempre firme desse ex-chefe de sua nação, filho de pai ucraniano e mãe russa. Mesmo demasiadamente curioso nos detalhes do apartamento do entrevistado, o documentário consegue preencher lacunas importantes sobre muitas das figuras políticas mencionadas por Gorbachev, o que acaba virando um ótimo complemento dos contextos detalhados de maneira bem simples e didática.   


Alguns assuntos ficam com suas respostas jogadas pelas inúmeras entrelinhas, mesmo quando o entrevistador faz perguntas bem incisivas, como por exemplo a ampla questão sobre a democratização dos contornos após o fim da União Soviética e os detalhes de seu encontro com o ex-presidente norte-americano Ronald Reagan. Mesmo com a Rússia voltando a não-liberdade como sua forma natural de existência, vemos a todo instante seu brilho no olhar desse ex-advogado que governou a União Soviética de 1985 até 1991, deixando o poder depois de traições e manobras políticas de figuras conhecidas do enorme país que tem em Moscou como sua capital.


Esse projeto deveria ser complemento escolar para todas as gerações que estão estudando as décadas recém passadas e todos os rumos, seus porquês, que o mundo tomou. Tem fatos que o cinema ensina em um ritmo fluente de narrativa objetiva que muitas vezes gera a sensação de estarmos folheando livros e mais livros.

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10/04/2021

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Crítica do filme: 'Glória à Rainha'


A imersão profunda onde o tempo desaparece. Selecionado para a Competição Internacional de Longas e Médias-Metragens do Festival É Tudo Verdade de 2021, Glória à Rainha, dirigido pelas cineastas Tatia Skhirtladze e Anna Khazaradze conta a história de quatro das maiores enxadristas da história desse esporte, todas elas Georgianas e contemporâneas. Concentração, silêncio, o click do relógio. As dificuldades de deixar suas famílias para viajarem pelo mundo, histórias do treinamento intenso (cada uma delas perdia cerca de meio quilo durante um único jogo de xadrez), somos ouvintes de relatos/lembranças dos tempos de seus respectivos momentos grandiosos como reconhecidas enxadristas profissionais, algumas delas até disputavam torneios masculinos contra grandes mestres da época. Uma interessante jornada com mais uma certeza sobre a força das mulheres pelo mundo.


Em Rhodes, Grécia em 2019, no campeonato europeu de xadrez sênior, que começa essa jornada sobre as memórias e realizações, além do impacto social e de nomes no país que nasceram (muitos bebês na época de suas conquistas foram batizados com seus nomes). Encontros em diversos torneios pelo mundo, no vai e vem de lembranças sobre as carreiras de sucesso, principalmente durante o período de Guerra Fria, e os impactos que possuíram sobre todo um país que durante muito tempo pertenceu a União Soviética. Na Geórgia é comum presentear com um jogo de xadrez à noiva como parte do dote, essa entre outras curiosidades vamos acompanhando ao longo dos quase 90 minutos de projeção, aprendemos muito sobre a cultura desse país considerado antigamente como a Califórnia soviética, destino de muitos nas férias dentro da Antiga União Soviética.


O filme explora muito bem a força feminina da história desse país muito desconhecido por aqui. Exemplos não faltam, como: Santa Nino, que trouce o cristianismo para esse pequeno país antes do século V, o ‘Rei’ Tamar que na verdade era uma Rainha mas chamada de rei na Idade Média, e, no século XX as brilhantes enxadristas aqui mencionadas, famosas em todo o mundo pelo Xadrez. Além desses fatos, vamos acompanhando as consequências positivas dos feitos das esportistas não só para seu país e região mas também para esse esporte muito machista durante bom tempo.


Há 18 trilhões de movimentos em um jogo de xadrez, já imaginaram buscar controlar sua mente e seu corpo contra qualquer uma dessas variáveis? E os movimentos externos, guerra fria, união soviética, pressão, marketing unilateral feito pelo governo...? Glória à Rainha é um documentário atemporal que mostra muito através do olhar de corajosas e inteligentes mulheres.

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09/04/2021

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Crítica do filme: 'Fuga (Flee)'


A amizade como ajuda na cura de feridas do passado. Baseado em fatos reais, uma história muito próxima do diretor desse projeto, o cineasta dinamarquês Jonas Poher Rasmussen, consegue ser muito criativo usando a técnica de animação para criar um ambiente respeitoso e criativo para um homem pronto para contar sua história, esse que escrevia em um caderno velho suas verdades até aqui agora às vésperas de casar ele precisa enfrentar seu passado. Por meio de memórias e até algo parecido com um relaxamento, quase em ponto de hipnose, voltamos ao ano de 1984 em Cabul (Afeganistão), onde toda avalanche de situações dramáticas deram início na vida do protagonista. Descoberta de sua sexualidade, guerras civis, países saindo do comunismo, fugas e mais fugas. Somos testemunhas de uma incrível história que passa por muitas questões globais. Fuga, ou Flee no original, foi o filme de abertura do Festival É Tudo Verdade de 2021.


Não deixa de ser uma história contada por conta da amizade entre o diretor e seu protagonista, um velho amigo desde os tempos onde não muitos imigrantes chegavam na capital da Dinamarca, Copenhage. Amin, nosso protagonista, é um homem já pensando no pós-doutorado em Princeton (EUA) mas que ninguém perto dele sabe sobre seu passado, só que é afegão e chegou na Dinamarca e de lá nunca mais saiu. Decidido em enfrentar seu passado para poder oferecer seu amor em 100% ao seu namorado com quem pretende construir uma família e morar junto, ao amigo dos tempos de colégio resolve contar as suas verdades sobre como chegou até ali. Passamos a conhecer o Afeganistão e sua relação com a família, o misterioso sumiço do pai e uma fuga desesperada para fugir dos novos domínios da região onde vivia. Chega em Moscou, nessa fuga, enfrenta outro fato histórico mundial, na época que chega, um ano após o comunismo e testemunha de situações tristes: pessoas morrendo de fome, mercados sem nada, moeda desvalorizada, muitos crimes, polícia impiedosa. Nesse período até a chegada do Mc’Donalds à Rússia ele testemunha.


Paralelo as fugas que dominaram grande parte de sua vida, vamos conhecendo os pensamentos de Amin desde cedo. As histórias de aviação da irmã, mesmo que pudessem ser enormes invenções o deixava com as asas prontas para sonhar, sem nunca pensar que seus próximos dias, semanas, meses e anos seriam como se fossem um enredo de filme dramático, praticamente lutando para existir, fugindo de muitos males que encontra pelo caminho, buscando uma identidade mesmo que para isso a jornada tenha que ser feita sozinha, longe de todos que ama. Passa por dezenas de constrangimentos, se enche de vergonha sem saber ao certo como sobreviver em meio ao mundo que consegue enxergar até ali. Descobre sua sexualidade cedo, mesmo que até a adolescência ainda seja confuso para ele pois no Afeganistão os homossexuais ‘não existiam’, davam vergonha para a família, um lugar difícil de se aceitar ser gay.


Fuga (Flee) nos provoca reflexões que vão desde as políticas mundiais, os horrores de uma guerra civil descontrolada, sangrenta e impiedosa, o capitalismo, até os traumas que vivem dentro de nós e muitas vezes nos travam de seguir em frente. Contando suas verdades, Amin se liberta. É lindo ver isso diante de nossos olhos, como testemunhas de mais esse renascimento de um homem que merece demais que a paz e a felicidade nunca mais deixem de estar por perto.

 

 

 

 

 

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