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19/10/2025

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Crítica do filme: 'Stans'


Chegou de mansinho ao catálogo da Paramount Plus um documentário interessante que parte de uma relação entre um dos maiores rappers da história - ícone de uma geração dos anos 1990/2000 - e seu fandom, abrindo um leque de camadas originais e cheias de intensidade, que vão de encontro a momentos marcantes de sua carreira. Stans é muito mais que um olhar sobre o vínculo entre fã e artista: é uma imersão em sentimentos reais expressos em canções que atingiram em cheio corações pelo mundo – e que, logo, viraram arte.

No ano 2000, Marshall Bruce Mathers III, mais conhecido como Eminem, já no topo das paradas de sucessos com suas letras provocantes - que retratavam alguns pontos de vistos bem pessoais sobre recortes de sua vida - lançou uma música chamada Stan, que se tornaria um de seus maiores sucessos, sobre um fã devoto, andando na linha tênue entre admiração e obsessão. A palavra (e seu significado), 17 anos depois, foi reconhecida pelo Oxford English Dictionary. Esse é o gancho para chegarmos a este instigante documentário dirigido por Steven Leckart.

A partir de depoimentos de fãs fanáticos - em algumas escalas de intensidades – por seu ídolo, incluindo Ed Sheeran, chegamos em um produtivo e fascinante debate sobre a relação de identificação e admiração por um artista. Mas a obra não estaciona nessa questão, usando esse gancho para explorar outras camadas que jogam na tela recortes da vida profissional e pessoal de um exímio contador de histórias: um rapper que apresenta músicas bastante pessoais, com letras provocantes e videoclipes criativos, que algumas vezes partem para o confronto com a hipocrisia.

O interessante é que não se trata necessariamente de um documentário sobre toda a vida do Eminem. São duas correntes - fã e ídolo - que encontram-se para conversar sobre questões influenciadas pela trajetória do músico, em ambas perspectivas. Com uma edição inventiva – um dos grandes méritos dessa produção -, a narrativa percorre pontos importantes da carreira (mesmo não desenvolvendo além da superfície a questão do legado), além de abordar o processo criativo e a influência na vida de pessoas de um artista que teve como válvula de escape criar forças na vulnerabilidade, abrindo o livro de suas experiências.

Seja você é fã ou não de Eminem, pode ter certeza: essa é uma obra para se conferir. Stans se consolida como um documentário criativo e magnético, que insere questões sociais dentro de um universo bem particular - o de uma relação unidirecional que se amplia até as influências culturais.  

  

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17/10/2025

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Crítica do filme: 'A Vizinha Perfeita'


Com uma narrativa brilhante, que encontra enorme coesão na sua montagem, o novo documentário da Netflix, A Vizinha Perfeita, detalha uma tragédia real e chocante que atingiu em cheio a cidade de Ocala, no Condado de Marion (Flórida). Dirigido pela cineasta Geeta Gandbhir, o projeto – que prende a atenção desde seu início até o sufocante desfecho - levanta questões importantes sobre preconceito racial, leis de legítima defesa e o papel da polícia, chegando em um recorte profundo sobre a sociedade norte-americana.

A partir de desentendimentos – que já duravam semanas – entre vizinhos e uma específica moradora da região, acontece um fato mortal. Tendo esse episódio como pontapé inicial, acompanhamos uma cronologia de acontecimentos bem detalhada, apresentada sob diversos pontos de vistas. Aos poucos, sem perder o ritmo e tensão, somos guiados até os horrores de um caso que chocou os Estados Unidos alguns anos atrás.

O antes, o ocorrido e o depois. Exibido no Festival de Sundance deste ano, esse True Crime apresenta seus personagens reais e conflitos através de uma criativa narrativa que utiliza apenas gravações feitas por câmeras – muitas delas corporais, daquelas que policiais usam. Assim, vamos descobrindo a origem dos fatos que nos conduzem até o final nada feliz dessa história – vou logo falando, os minutos finais são de partir o coração.

Na composição dessa tragédia real, chegamos a alguns pontos de argumentação, o principal deles é sobre a Lei Stand Your Ground. Por conta dessa polêmica lei de defesa pessoal – em vigor em alguns estados norte-americanos, como a Flórida, desde 2005 -, que permite o uso de força letal caso se sinta em risco de morte e autoriza uma reação imediata ao que julgar ser uma ameaça, uma das personagens envolvidas demorou para ser presa, gerando uma série de protestos.

Os debates em torno dessa questão apresentada acima é um dos ótimos tópicos que o documentário levanta para reflexões sociais sobre alguns dos caminhos que levam à violência. Da cultura da impunidade ao preconceito racial, A Vizinha Perfeita apresenta essa história forte e real, que dilacerou uma família e colocou em evidência - mais uma vez - as leis mais permissivas de uso e porte de armas, fator preponderante para a crueldade ocorrida.   

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01/09/2025

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Crítica do filme: 'Devo'


Pode ser que você – assim como eu – nunca tenha ouvido falar de uma banda formada no início da década de 1970 que, misturando música, teatro e principalmente, filosofia, conseguiu alçar voos dentro do movimento New Wave. Pioneiros no foguete de visibilidade que foi a MTV, o Devo, como eles próprios se definem, incompreendidos, merece ser redescoberto! E esse é justamente o trunfo de um documentário que acabou de chegar à Netflix.

Com um idealismo surgido há 50 anos, em meio a um cenário caótico dos EUA - em plena guerra do Vietnã - e refletindo cada vez mais sobre a arte como instrumento de ideias, por qualquer meio que seja, um grupo de amigos da Universidade de Kent State despertou para sua própria ideia após o absurdo assassinato de quatro estudantes. Com raízes no art rock, logo assumiram um viés subversivo, sem nunca perder a identidade: pensando de forma crítica, decidiram se expressar através da música.

O documentário Devo nos leva desde o início até os dias atuais dessa banda de décadas de importância – embora talvez não tão reconhecida quanto deveria. Com ótimo material de arquivos e entrevistas, vamos sendo guiados por uma narrativa fascinante, numa cronologia detalhista e repleta de conceitos que marcaram a trajetória de seus membros fundadores. Tendo a ironia afiada e os acordes intensos de suas guitarras, chegamos aos princípios básicos de uma banda que sempre criticou questões que norteiam – até hoje – a sociedade.

Adeptos do termo ‘Involução’ - na qual consiste em acreditar que a humanidade regredia, não evoluía - o Devo chamava a atenção por onde andavam, através de canções que pulsam sátira e os vícios constantes da hipocrisia. Caminhando na incógnita do sucesso, a banda seguiu jornadas nada comerciais e, por incrível que pareça, nunca perdeu sua identidade, fato que formou uma pequena, mas fiel, legião de fãs até hoje. 

Exibido em alguns festivais de cinema pelo mundo, o documentário Devo é muito mais do que o retrato de uma banda de rock que foge do comum. Com ampla contextualização, traz reflexões sobre os caminhos da humanidade, encontrando importantes sentidos - críticas, certezas, afirmações – dentro da sempre conturbada cultura Pop.

 

 

 

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15/07/2025

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Crítica: 'Cazuza, Boas Novas'


Falar de um artista que ainda pulsa por meio de sua obra nunca é simples. O documentário Cazuza: Boas Novas, exibido com grande sucesso no Festival In-Edit Brasil, mergulha de forma sensível e intimista em um recorte marcante do fim dos anos 1980 — um período turbulento e intenso na vida pessoal e profissional do eterno Cazuza. A produção revela a explosão de emoções e criatividade de um dos nomes mais geniais da nossa música.

A obra percorre histórias curiosas contadas por amigos e familiares, entrelaçadas com reportagens de TV e canções que muitos de nós sabemos de cor e seguimos cantando até hoje. Clássicos como Faz Parte do Meu Show, Codinome Beija-Flor e tantos outros não ficam de fora. O mais interessante é como essas músicas surgem dentro de um contexto que dialoga com os arcos da narrativa, permitindo que o filme flua com leveza, mesmo ao abordar temas polêmicos que marcaram a trajetória de Cazuza.

Repleto de depoimentos de figuras marcantes da nossa música, como Gilberto Gil, Ney Matogrosso e Roberto Frejat, o documentário acerta ao construir uma narrativa organizada que mistura falas emocionantes, reportagens, imagens de arquivo e apresentações musicais — algumas possivelmente inéditas. Entre os destaques, está o espetáculo O Tempo Não Para, que arrastou multidões por todo o país. Em seus 90 minutos de projeção, o filme prende do início ao fim: é emoção atrás de emoção, e o tempo, ironicamente, parece mesmo não passar.

Dirigido por Nilo Romero e co-dirigido por Robert Moret — primeiro amigo e diretor musical do show final de Cazuza — o documentário tem como maior mérito a proximidade genuína que alcança com seu personagem central. A cada história contada, o público é conquistado por uma narrativa que flui de forma artesanal, conduzida por alguém que viveu intensamente os bastidores daquilo que vemos na tela. As longas conversas dos convidados, e também amigos de Cazuza, com o próprio Nilo, carregadas de emoção e memórias vívidas, transformam-se na cereja do bolo de um filme que tem tudo para se tornar atemporal — como toda grande obra que revela, com honestidade, as verdades de um artista único.


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08/07/2025

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Crítica do filme: 'Desastre Total: O Verdadeiro Projeto X'


Um convite para uma festa de aniversário de uma jovem de 16 anos viraliza pelo Facebook e logo vira o estopim de uma história que marcou uma cidadezinha na Holanda e ganhou as páginas policiais. Abordando esse peculiar caso que envolve inúmeras questões desde a falta de preparo das forças policiais até o comportamento descontrolado de jovens em busca de diversão, a Netflix, no seu ótimo projeto Desastre Total, apresenta um média-metragem documental marcante que gera muitas reflexões sociais.

Em 2002, na cidade de Haren, no município de Groningen (Holanda), uma jovem sonhava em comemorar seu aniversário com uma festa especial. Para isso, decidiu convidar amigos e conhecidos criando um evento no Facebook. No entanto, ao deixá-lo público por engano, o convite rapidamente se espalhou e viralizou, alcançando milhares de jovens que passaram a compartilhar e planejar a ida ao local. Naquele mesmo ano, um dos filmes mais marcantes quando pensamos em festas descontroladas - Projeto X - Uma Festa Fora de Controle - foi lançado nos cinemas, e logo uma inusitada associação foi criada impulsionando ainda mais o evento.

Dentro de um recorte temporal que liga dias antes do ocorrido ao início de toda a confusão, a construção da narrativa se movimenta através de depoimentos de pessoas próximas ao caso, além de reportagens e vídeos que foram divulgados na época. São 48 minutos de total imersão a uma série de situações que levaram ao verdadeiro caos em um lugar sem agitações.

Todos os aspectos que envolveram a situação são amplamente apresentados, desde o descaso da prefeitura local diante de riscos evidentes, até o papel da mídia na cobertura do caso. O documentário também expõe a postura inconsequente de parte dos jovens que só buscavam diversão, do despreparo policial, além dos desabafos da própria aniversariante, que acabou vivendo uma celebração completamente diferente do que imaginava — fruto de uma sequência quase inacreditável de acontecimentos.

Faltou somente alguma profundidade sobre as consequências das ações, seria interessante para um recorte amplo ter mais detalhes sobre o depois do ocorrido. Nesse ponto, o documentário se apressa em destacar a renúncia da autoridade local, mas oferece poucas explicações sobre outros fatores essenciais — peças-chave de um tabuleiro caótico que transformou uma simples festa de aniversário em um verdadeiro cenário de descontrole.

Dirigido por Alex Wood, este é mais um episódio da ótima série da Netflix intitulada Desastre Total que tem algumas outras histórias que beiram ao absurdo já contadas e disponíveis na plataforma.

 

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30/06/2025

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Crítica do filme: 'Paraíso' [CineOP 2025]


Numa gangorra que varia da sutileza ao escancarado, apresentando verdades que rolam soltas pelo Brasil, o documentário Paraíso é um recorte antropológico, sem respiro, com ritmo acelerado, que busca nos conflitos das relações, no ponto de interrogação aos comportamentos, trazer para debate fragmentos de reflexões sobre a sociedade. Exibido no último dia da Mostra Competitiva do CineOP 2025, esse é o novo trabalho da cineasta Ana Rieper.

Utilizando uma ampla variedade de materiais de arquivo, o filme apresenta situações que expõem a desigualdade social, a violência e colocam a indignação no centro da narrativa. No entanto, em meio a esse mar de contextos complexos, a construção opta por abordar apenas fragmentos desse oceano, deixando de estabelecer conexões mais sólidas. Em alguns momentos, a narrativa se assemelha a um carro desgovernado, carregado de informações que buscam sustentação, mas nem sempre encontram equilíbrio.

Com inúmeras críticas sociais contornando a narrativa, o discurso não chega a se dispersar, nem a ser redundante, mas segue acelerado, sem respiro. Nessa montagem, por vezes confusa, o uso do chocar é interessante e salta aos olhos. Nesse ponto, a indignação se impõe, provocando reflexões imediatas. Todos já sabemos que o paraíso não é aqui — e talvez nunca tenha sido —, mas a forma como o filme apresenta diferentes comportamentos, muitas vezes com um deboche inteligente, é uma escolha acertada que prende a atenção e amplia o impacto.

Não sei se era exatamente essa a intenção, mas o filme funciona como um verdadeiro laboratório social — construído a partir de experiências que, de certa forma, definem a essência da obra. Ao longo de seus 75 minutos, busca-se soluções por meio de reflexões e de um recorte antropológico que atravessa a narrativa. Ainda assim, mesmo levantando debates relevantes para a sociedade, o filme corre o risco de atingir apenas um dos lados da bolha de nosso país polarizado.


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21/06/2025

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Crítica do filme: 'Desastre Total: Prefeito do Caos'


Como ser amado e odiado ao mesmo tempo? Contornando os detalhes de conhecimento público sobre a ascensão e a queda de um dos políticos mais polêmicos que já passaram pelo comando em qualquer cidade do Canadá, Desastre Total: Prefeito do Caos apresenta todos os lados e versões da vida de Rob Ford, ex-prefeito de Toronto. Ao longo de menos de 50 minutos, esse média-metragem, que faz parte do projeto ‘Desastre Total’ da Netflix, nos leva de forma contundente ao seu ápice: uma verdadeira batalha entre o político e a mídia.

Robert Bruce "Rob" Ford veio de um berço estável e logo que pintou uma oportunidade se tornou um político populista de direita, amado e odiado. Em pouco tempo foi vereador e logo chegou até a prefeitura. Mostrando seu caminho até o poder, esse documentário político muito bem produzido abre suas portas para os momentos de sua queda, quando ficou à deriva dos próprios atos impopulares, com vídeos polêmicos usando drogas, que gerou uma verdadeira guerra contra a imprensa.

Dirigido por Shianne Brown, o projeto apresenta por meio de depoimentos e matérias da época o conturbado cenário político que viveu a cidade de Toronto entre 2010 a 2014, quando Rob aproveitou um vazio no cenário político canadense, se elegeu e venceu de forma surpreendente. Ao longo de seu governo, muitas matérias saíram sobre sua vida pessoal, levando Rob a uma queda impressionante de popularidade.

Do lado da imprensa, jornalistas relatam com olhar crítico os ataques cometidos por Rob diante das câmeras, trazendo depoimentos contundentes sobre o impacto de suas ações. Além disso, ex-integrantes de seu gabinete oferecem diferentes perspectivas, ajudando a compor o cenário político da época. Por outro lado, as poucas vozes em defesa de Rob vêm principalmente de seu segurança pessoal, que apresenta um raro contraponto favorável ao ex-prefeito.

Trazendo todos os lados de uma mesma história, como todo bom documentário deve fazer, o público fica com as informações e interpreta. As reflexões causadas por bons projetos documentais servem sempre como uma ferramenta eficaz para entendermos nossa sociedade e a busca por mudanças.  


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20/06/2025

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Crítica do filme: 'Titan: O Desastre da OceanGate'


Os detalhes da catástrofe. Chega à Netflix um documentário que reconstrói, com rigorosa pesquisa e depoimentos impactantes, todo o contexto que levou a um dos desastres marítimos mais trágicos dos últimos tempos. Dirigido por Mark Monroe, Titan: O Desastre da OceanGate organiza seus achados investigativos em uma linha temporal precisa, trazendo reflexões profundas e múltiplos pontos de vista sobre o ocorrido.

Um chefe narcisista que não admitia ser questionado. Assim é definido Stockton Rush, um empresário norte-americano fundador e diretor executivo da OceanGate, grande foco de reflexões desse documentário que logo alcançou o Top 10 da plataforma em alguns países. Sua empresa, especialista em levar pessoas pagantes por meio de submersíveis até alguns limites dos oceanos, percorreu noticiários pelo mundo com avanços nas expedições oceânicas em busca também de estudos e relevância sobre grandes naufrágios.

Visto por alguns como um visionário genial, essa imagem desmorona diante dos relatos de ex-funcionários presentes no documentário. Movido pelo sonho de explorar mais detalhadamente os destroços do Titanic, Stockton tornou-se obcecado pelo projeto do novo submersível Titan, assumindo um papel central em sua continuidade, mesmo após sucessivos alertas sobre os riscos envolvidos. A bordo do submersível que viria a implodir, estavam o próprio Stockton, um especialista no Titanic; um empresário britânico; um empresário paquistanês-britânico e seu filho.

Rico em detalhes, este projeto audiovisual com forte caráter investigativo nos conduz por análises técnicas que vão desde a escolha dos materiais até os testes realizados com o novo modelo de submersível. Os relatos vêm de pessoas que acompanharam de perto todas as etapas do processo. A negligência surge como um fio condutor da narrativa, com o documentário apontando de forma direta para Stockton como o principal responsável pela tragédia. Ao longo de quase duas horas, somos levados a um choque constante, com verdades sendo expostas uma após a outra.

Com estreia mundial no Festival de Tribeca dias atrás, esse documentário de grande impacto emocional, que pode gerar indignações pelos absurdos cometidos por um homem que achava que sabia de tudo, chegou logo em seguida ao catálogo da Netflix de muitos países, inclusive o Brasil.

 

 

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18/06/2025

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Critica do filme: 'Sally'


Em busca de uma história real, marcante e cheia de camadas, o documentário Sally nos conduz pela trajetória pessoal e profissional de Sally Ride, a primeira astronauta norte-americana a viajar para o espaço. Corajosa e pioneira, ela abriu caminhos em um ambiente dominado pelo machismo dentro dos estudos aeroespaciais. Disponível no Disney Plus, o projeto, vencedor de um prêmio no Festival de Sundance deste ano, já desponta como um dos grandes documentários lançados em 2025.

O roteiro é cirúrgico ao revelar os detalhes mais significativos da trajetória de Sally Ride, desde o circo midiático em torno de sua primeira missão até os debates sobre sexualidade em uma década de 1970 e 1980 ainda marcada por forte preconceito contra quem decidia se assumir. Além disso, somos guiados pela própria Sally em muitos momentos, por meio de áudios e vídeos da época. Nessa narrativa em grande parte contada por ela mesma, o documentário nos ajuda a compreender o contexto social da época e as inúmeras pressões que ela enfrentou por todos os lados.

Um dia a NASA colocou um anúncio com vagas para selecionar o primeiro grupo de astronautas femininas do programa espacial norte-americano. Num mundo dominado por homens, Sally foi uma das selecionadas. Num primeiro momento somos convidados a conhecer um pouco sobre a protagonista desta história, como se fosse uma espécie de prólogo sobre o que o projeto abordaria mais pra frente. Esses primeiros minutos são fundamentais para reter nossa atenção, somos logos fisgados pelas dicas de camadas que logo se abririam. Embarcamos em um universo de sonhos e segredos.

Graduada simultaneamente em Inglês e Física pela prestigiada Universidade de Stanford, Sally Ride era altamente qualificada para ocupar qualquer cargo que desejasse na NASA. No entanto, a pressão da opinião pública e o ambiente conservador da época a fizeram manter em segredo, por toda a vida, seu relacionamento com Tam O'Shaughnessy — revelação trazida de forma sensível por este documentário. Ao expor essa parte até então oculta de sua história, o filme propõe um exercício de revisitar os mesmos acontecimentos sob uma nova perspectiva, iluminando os sacrifícios pessoais que Sally precisou fazer em sua trajetória. Tudo isso é conduzido com delicadeza e profundidade pelo roteiro.

Dirigido por Cristina Costantini, Sally chega para mostrar todas as verdades de uma vida dedicada a sua profissional mas também com sacrifícios dolorosos. Depois das soviéticas Valentina Tereshkova e Svetlana Savitskaya, Sally Ride marcou seu nome como uma das poucas mulheres a irem para o espaço. Você precisa conhecer essa história!

 

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26/05/2025

Crítica do filme: 'O Efeito Casa Branca'


Por meio de reportagens televisivas que incluem opiniões, coletivas de imprensa, entrevistas, além da exposição de documentos internos que trazem revelações importantes, o chocante documentário O Efeito Casa Branca mete o dedo em feridas, trazendo verdades incômodas via fatos, sobre a relação política x meio ambiente sob a ótica dos Estados Unidos. Filme de abertura da 14ª Mostra Ecofalante de Cinema, esse projeto é um aulão de economia revelando o embate entre interesses políticos e questões ambientais.

Dividido em quatro partes, que funcionam muito bem como complementos narrativos, percorre em seu auge o retrato do governo de George H. W. Bush — figura que esteve à sombra de Ronald Reagan durante quase toda a década de 1980 — e seu duvidoso compromisso ambientalista. Ao longo dessa trajetória, vamos entendendo de forma clara e objetiva alguns porquês sobre os sacrifícios que quase ninguém queria fazer quando o assunto é a mudança climática sem precedentes.

A narrativa, de forma cirúrgica, busca ‘linkar’ situações que levaram a origem da crise climática, que viu seu epicentro no tumultuado governo do 41º presidente dos Estados Unidos. Assim, entramos em questões sobre efeito estufa, aquecimento global, desenfreada queima de combustíveis fósseis, fatores que levaram até um verdadeiro atropelamento do meio ambiente.

Bush (o pai), tinha seu passado ligado a exploração de petróleo e de maneira surpreendente convenceu eleitores que durante seu governo iria se dedicar as causas ambientais, para isso trouxe para ser chefe da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, o ambientalista William Reilly. A questão é que do outro lado da mesa de debates tinha John Sununu, um ex-engenheiro que virou o chefe de gabinete do governo. Esse iminente confronto desencadeou intensos debates que foram de discursos orquestrados, intrigas, até observações empíricas sendo joga na lata do lixo.

Um dos pontos mais perturbadores é quando há um desenvolvimento de situações deixando margens para interpretação sobre a ‘Ciência estar à venda’. Nesse momento, acompanhamos cientistas céticos sobre a questão das previsões climáticas futuras que foram usados como pontos argumentativos do lado governamental, fato que confundiu qualquer leigo e dividiu a opinião pública sobre o assunto.

Exibido no Festival do Rio do ano passado e filme de abertura da 14ª Mostra Ecofalante de Cinema, O Efeito Casa Branca, produção norte-americana dirigida pela dupla Bonni Cohen e Jon Shenk e pelo brasileiro Pedro Kos, tem o mérito de mostrar detalhadamente os bastidores do poder no país mais poderoso do mundo em torno de um do temas mais importantes da humanidade. É reflexão atrás de reflexão, do início ao fim.

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25/05/2025

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Crítica do filme: 'Thunderbirds: A Força Aérea de Elite dos EUA'


Pouca gente sabe mas a maior potência bélica do planeta tem um ‘Dream Team’ na sua força aérea que se prontifica a percorrer os Estados Unidos, e outros lugares do mundo, realizando acrobacias aéreas de tirar o fôlego! Pegando um recorte que avança todo o período de certificação de novos integrantes dessa equipe de pilotos de elite, chegou na Netflix um documentário que abre as portas dessa que é uma das mais antigas equipes acrobáticas em atividade, os Thunderbirds.

Com o nome inspirado no ‘Pássaro-Trovão’, criatura lendária que faz parte das mitologias de algumas culturas indígenas norte-americanas, os Thunderbirds tendo como ferramenta o caça supersônico F-16C Fighting Falcon, muitas vezes percorrendo quatro vezes a força da gravidade, em situações de extremo perigo.   

Guiados pelos depoimentos do Tenente-Coronel Justin Elliott — nome de guerra ‘Astro’ — líder do esquadrão que se despede do posto de comandante da frota, acompanhamos a jornada rumo à excelência e à construção da confiança, em um ciclo contínuo de renovação com a chegada anual de novos pilotos às posições de destaque. Personagem central da narrativa, Elliott é um pai de família que sonhava em ser astronauta, mas acabou trilhando um caminho diferente, encontrando nas acrobacias perigosas uma nova missão de vida.

É uma pena que a narrativa se perca em um foco excessivo no processo, um verdadeiro calcanhar de aquiles comum em obras de apresentação. Como mencionado, acompanhamos alguns meses do período de certificação, mergulhados em uma rotina árdua marcada por erros, correções e uma repetição incessante. Os poucos conflitos que ganham destaque na tela estão ligados ao perfeccionismo extremo exigido pela função — onde um único erro pode significar a diferença entre a vida e a morte.

Sem tanta profundidade, mesmo que passe por tragédias e conflitos que acompanharam a trajetória dessa equipe desde sua criação no início dos anos 1950, o documentário se coloca numa posição de mera apresentação desse esquadrão que não é tão conhecido assim pelo mundo. Quem curte aviões e todo seu contexto vai se deliciar com imagens de tirar o fôlego. Já quem procura um roteiro mais profundo - com fortes desenrolares de conflitos que se mostram presentes - pode se decepcionar.   

 

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22/05/2025

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Crítica do filme: 'Um Outro Francisco'


Dois fotógrafos estrangeiros. Um evento religioso de um famoso santo italiano em terras cearenses. Com essas duas vertentes se unindo por um tour fascinante, objetivo e reflexivo sobre o universo da fotografia, o documentário Um Outro Francisco, dirigido por Margarita Hernández, amplia o olhar para os espelhos culturais através dos personagens que encontram.

Expandindo os horizontes do inesperado e abrindo caminhos para um trabalho fotográfico instigante, a dupla Dario De Dominicis e Giorgio Negro assume, simultaneamente, os papéis de protagonista e coadjuvante em um registro documental que transita pelo essencial e alcança novas formas de compreender as conexões culturais. Descobrindo que na cidade de Canindé (Ceará) acontece uma concorrida celebração dedicada a São Francisco, durante cinco anos resolvem produzir registros dos fiéis e moradores locais.

Com uma estrutura bem delineada — com início, meio e fim — a jornada, que se estende de 2013 a 2017, revela ao longo do tempo imagens e movimentos que caminham juntos rumo a um destino que se confunde com o próprio discurso: a troca de significados por trás dos registros. Os instantes, os sentimentos, os desabafos, as curiosidades, aqui se jogam num contexto sobre a fé, logo virando um laboratório de exposição sobre as emoções genuínas.

Os diferentes olhares e os diálogos em torno do que esperar – num jogo corajoso entre fotógrafos e fotografados - através do que foi registrado, preenche a narrativa com um dinamismo que transmite luz para as linhas que se aproximam (muito mais do que se distanciam) entre a arte e as ferramentas para se chegar num recorte profundo sobre identidade.

Um Outro Francisco chegou recentemente ao circuito exibidor de algumas cidades. É um filme simples, mas potente em suas reflexões. Com menos de 80 minutos, consegue expandir seus questionamentos para além da fotografia, utilizando o audiovisual como um recurso essencial para capturar e transmitir suas verdades.


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16/05/2025

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Crítica do filme: 'Hora do Recreio'


Estabelecendo paralelos entre o poder da educação contra a violência, o fascinante documentário Hora do Recreio constrói uma narrativa que transita entre o documental e o ficcional, sempre alinhada ao discurso proposto. A partir de depoimentos de estudantes de escolas públicas do Rio de Janeiro, a obra traça de forma impactante reflexões profundas sobre a sociedade brasileira.

Menção Especial do Júri Jovem da Mostra Generation 14 plus na última edição do Festival de Berlim e selecionado para os programas especiais da 30ª edição do Festival É Tudo Verdade, esse novo trabalho da ótima documentarista Lúcia Murat escancara ao mundo verdades. Por meio de relatos reais, temas como a violência contra a mulher, o racismo e a gravidez na adolescência tornam-se pontos de encontro para debates ricos e significativos, conduzidos sob o olhar e fala de uma juventude que conquista cada vez mais voz.

O teatro, a dança, também ganham espaço no projeto, ampliando o campo de argumentações. Um dos grandes momentos do projeto é a performance de uma peça baseada no livro Clara dos Anjos, escrita no final da década de 1940 pelo jornalista e escritor brasileiro Lima Barreto. A obra retrata o abuso sofrido por uma jovem negra do subúrbio, tornando-se ponto de partida para reflexões e paralelos com a realidade vivida por moradores das comunidades na atualidade.

Ao longo da projeção, somos testemunhas de uma imersão contínua a retratos dolorosos - e por vezes conflitantes - através de inúmeras formas artísticas, o que valida a cultura como ferramenta importante pra qualquer sociedade. Guiado por importantes mensagens, dividido em atos complementares, as perspectivas futuras se jogam pelas entrelinhas, com o senso crítico cada vez mais afiado de uma juventude atenta e revidando.

Essa realidade de nosso país contada pelo olhar dos jovens que vivem nessas realidades é uma fórmula que traz o choque para encararmos as reflexões que se formam necessárias. Hora do Recreio deve chegar ao circuito exibidor brasileiro ainda em 2025, uma obra cinematográfica que escancara ao mundo verdades que precisam ser debatidas.  


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06/05/2025

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Crítica do filme: 'Criaturas da Mente'


A partir de uma inquietação e também curiosidade de um consolidado cineasta brasileiro, o fascinante documentário Criaturas da Mente vai de encontro as possibilidades de preenchimentos de lacunas onde um universo fascinante logo se abre. Imerso num curioso paradoxo onde um cineasta não consegue mais sonhar, Marcelo Gomes encontra o neurocientista Sidarta Ribeiro e juntos abrem diálogos para profundos paralelos entre o cinema e os sonhos.

Sob esses dois pontos de vistas, inclusive com Gomes – diretor pernambucano de Cinema, Aspirinas e Urubus, Paloma e outros ótimos filmes - se colocando como um importante personagem, vamos entendendo estudos presentes e a espiritualidade de muitos anos que de alguma forma compõem o sonho como objeto científico. Nesse momento engrandece os desenrolares a chegada de Sidarta Ribeiro, professor, escritor e um dos fundadores do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, referência mundial na área dos sonhos.

Filme de abertura da 57ª edição do Festival de Brasília, Criaturas da Mente instiga o público para uma jornada onde o acreditar e o descobrir andam lado a lado através de experiências bastante pessoais conseguindo amplo contexto. O alerta dos pesadelos na vida cotidiana, a representação do que seriam as ‘criaturas da mente’, as janelas de percepções, tudo isso vira pauta para uma investigação detalhada que são lapidadas por depoimentos interessantes e imagens que contemplam o refletir.

Um dos mais visíveis méritos dessa obra é que o discurso nunca se desprender dos 80 minutos de projeção. Contornando as dúvidas do diretor-narrador e as experiências que se joga, abre-se portas para os saberes ancestrais de povos originários, um diálogo enriquecedor com um psicanalista Junguiano e as descobertas de culturas afrodescendentes. Além dessa busca incessante por respostas, caminhamos também por parte da obra de Marcelo Gomes, que 30 anos atrás fez sua estreia no universo cinematográfico assumindo a direção e roteiro do curta-metragem Maracatu, Maracatus.

Desbravando e compartilhando o mundo das sensações e interpretações, Criaturas da Mente - coprodução com Globo Filmes e GloboNews e em associação com a Carnaval Filmes - é um dos ótimos documentários que estrearão esse ano no circuito exibidor brasileiro. Não tenham dúvidas de que é um chamado para se pensar sobre o inconsciente! As reflexões chegam por todos os lados.


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19/04/2025

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Crítica do filme: 'Noel Rosa, um Espírito Circulante'


Quem nasce lá na Vila, nem sequer vacila! Exibido na Mostra Retratos da última edição do Festival do Rio, o documentário Noel Rosa, um Espírito Circulante busca decifrar curiosidades e histórias desse importante personagem da nossa cultura. Através da sua conhecida vida boêmia, da importância e relevância de muitas das suas mais de 200 canções até hoje e da forte ligação que tinha com um famoso bairro da zona norte do Rio de Janeiro, o trabalho da diretora e roteirista Joana Nin nos leva para um encontro animado entre o antes e o depois.

Fixando-se em um espaço querido por sambistas de todo o país - apresentando para muitos não cariocas o bairro de Vila Isabel – desfilando imagens por suas principais ruas e pontos de encontro, o projeto busca em algumas etapas reconstruir a vivência de outrora, a relação com o samba, e a força do legado que o famoso músico deixou para as futuras gerações. Para isso também conta com lindas interpretações de suas canções através do talento de nomes como: Edu Krieger, Dori Caymmi, Moacyr Luz e Mart'nália.

Um dos grandes acertos do projeto é transformar o bairro que nasceu Noel em um personagem, isso dá muito sentido a toda uma costura narrativa que apresenta seu olhar sem precisar se aprofundar, navegando a favor das memórias e das interpretações de quem seria esse célebre boêmio vindo de uma família de classe média, que estudou no prestigiado Colégio São Bento e frequentou a Faculdade de Medicina, na visão daquela época e no olhar do agora.

Conseguindo trilhar numa narrativa pulsante que ainda não foge do seu discurso em nenhum instante, guiada por animadas entrevistas de sambistas de vários períodos, além de canções marcantes do eterno cria de Vila Isabel, ao longo 71 minutos viajamos confortavelmente pela trajetória de um dos mais impactantes compositores da música brasileira - que faleceu de tuberculose aos 26 anos no final da década de 1930.

Noel Rosa, um Espírito Circulante estreia nos cinemas no dia 24 de abril. É um oportunidade de você conhecer melhor esse meteoro criativo que nos deixou muito cedo mas que nunca cairá no esquecimento.


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18/02/2025

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Crítica do filme: 'Nós derrotamos o Dream Team'


No primeiro ano que os jogadores da NBA puderam disputar as olimpíadas, um verdadeiro time dos sonhos foi enviado até a Espanha para vencer com autoridade o evento no verão de 1992 em Barcelona. Durante os treinamentos, oito jovens astros do basquete universitário foram chamados para um jogo treino. Eles venceram o Dream Team.

Disponível na Max, o documentário Nós derrotamos o Dream Team nos mostra por meio de vídeos e depoimentos, olhares para um detalhe pouco mencionado em meio ao estrondoso impacto que teve a equipe norte-americana, liderados por Magic Johnson, Michael Jordan e Larry Bird, no mundo dos esportes.

Mas para entender por completo essa história, é importante um contexto que o documentário passa como uma flecha. Os Estados Unidos até 1988 enviavam times de jogadores universitários para os eventos mundiais, até que perderam pra união soviética numa semifinal e mais outras derrotas em sequência em eventos pelo mundo. Assim, entrando em acordo com a FIBA (Federação Internacional de Basquete), ficou permitido que os atletas da principal liga de basquete do mundo disputassem pelo seu país eventos internacionais.

Com algumas regras que se diferem da aplicada na NBA, o treinador Chuck Daly resolveu criar um cenário utilizando jogadores fantásticos mas ainda não profissionais que fizeram sucesso em suas faculdades. Assim, um jogo impressionante aconteceu a portas fechadas.

Narrado em grande parte por Grant Hill, ex-atleta de sucesso na NBA e que fez parte dos oito selecionados para treinar com o Dream Team, ao longo do documentário, que conta detalhes sobre a ótica dos envolvidos, percebemos uma mudança de foco na parte final quando nota-se um certo desabafo por conta de um depoimento de um dos assistentes de Daly anos após o ocorrido. Esse fato preenche ainda mais a riqueza dos fatos apresentados, mostrando a importância e pressão que até os maiores nomes do esportes podem sofrer.


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30/12/2024

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Crítica do filme: 'A Música de John Williams'


A magia do cinema do cinema também está associada a elementos que muitas vezes não damos devido valor, como a trilha sonora. E quando pensamos nessa questão não podemos esquecer de John Williams. No documentário, lançado no segundo semestre de 2024 na Disney Plus, A Música de John Williams acompanhamos curtos recortes na carreira e vida pessoal desse genial compositor e maestro de 92 anos autor de temas inesquecíveis: Star Wars, Superman, ET – o Extraterrestre, Jurassic Park e tantos outros.

Nesse glorioso passeio pela criação e emoção de forma preponderante para uma obra cinematográfica nos encontram depoimentos de amigos, músicos, cineastas e sua família, sem esquecer de mostrar as origens de suas mais belas contribuições à sétima arte. A narrativa encontra sentido por meio de uma linha temporal detalhando os primeiros trabalhos, suas referências e o poder que uma orquestra possui. História é o que não falta.

Desde os tempos de pianista seguindo a carreira no jazz, que teve como grande referência o próprio pai, já no fim dos anos 1950, após voltar do exército começou sua estrada associada à Hollywood chegando ao grande reconhecimento anos depois assinado a trilha sonora de Tubarão. E por falar nessa obra, o diretor da mesma, Steven Spielberg marca presença no projeto, praticamente um capítulo à parte, já que John Williams fez a trilha de quase todos seus filmes.

Capaz de entregar a emoção de forma preponderante para um filme, a importância da trilha sonora é um ponto fundamental e amplamente debatido por aqui. Desde os primórdios da adição desse elemento no corte final até as novas tecnologias, além da importância citada do uso das orquestras, esse documentário – que teve um lançamento limitado nos cinemas de Nova York, Los Angeles e Londres - se torna um projeto atemporal para profundos debates.

Indicado mais de 50 vezes ao Oscar, vencendo em cinco oportunidades, John Williams é um daqueles nomes que os amantes da sétima arte nunca irão esquecer. Tendo em vista o sucesso na ampla contextualização dentro da narrativa, que passa pelos principais sucessos do compositor sem deixar de entregar acontecimentos importantes no tempo e discurso proposto, A Música de John Williams é um documentário inesquecível.

 

 

 

 

 

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23/11/2024

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Crítica do filme: 'Kubrusly – Mistérios Sempre há de pintar por aí' [Mostra de Cinema de Gostoso 2024]


Uma história de amor em meio a um rico material de um profissional exemplar que sempre colocou a cultura brasileira em suas pautas. Assim podemos começar uma análise sobre esse cativante projeto. Exibido em primeira mão na Mostra de Cinema de Gostoso 2024, Kubrusly – Mistérios Sempre há de pintar por aí reúne uma importante pesquisa, que junta materiais de arquivo aos detalhes do cotidiano, para registrar o começo, meio e as novas descobertas do viver de um homem diagnosticado com uma doença cruel que continua a escrever a sua própria história.

Diagnosticado com demência frontotemporal, o jornalista Maurício Kubrusly marcou a história do rádio e da televisão brasileira. Desde a primeira matéria de repercussão – ainda quando era estagiário – um furo de reportagem sobre a passagem da atriz francesa Brigitte Bardot pelo Rio de Janeiro décadas atrás, até as lendárias críticas musicais, passando também por um quadro de sucesso no importante programa televisivo da Rede Globo, Fantástico, que levou o olhar curioso de vários pontos do Brasil que poucos conheciam, Kubrusly é um mestre na arte de como atrair a atenção dos espectadores - inspiração para tantos outros profissionais da área.

Fugindo do convencional, o projeto vai do divertido ao curioso, guiado por um olhar delicado, sensível, que navega pelo tempo sendo essa uma variável com paralelos e trocas com a fabulosa carreira do personagem principal. Com um rico material, em áudio e vídeo, ultrapassa os desafios dos arquivos criando uma sintonia no discurso honesto e intimista que se propõe. Através de retratos de uma história de amor, sua forte ligação com a esposa – que conheceu anos atrás em um site de relacionamentos – logo chegamos na intimidade que conversa com as lembranças e se juntam com a sua condição de hoje, na perda da memória.  

Sendo também importante para falar de uma condição de saúde (demência frontotemporal (DFT) que invade tantos outros lares, que recentemente ganhou holofotes por ser a mesma que passa o ator Bruce Willis, Kubrusly – Mistérios Sempre há de pintar por aí é um recorte também sobre os caminhos para lidar com essa doença e pode servir de inspiração para tantas outras famílias que passam pela questão com um alguém próximo.

Dirigido por Caio Cavechini e Evelyn Kuriki esse projeto que chega no início de dezembro na Globoplay se consolida como uma obra atemporal, muito bem estruturada, comovente, que vai seguir como um importante registro de um jornalista único, uma linda história de amor e a eterna arte de novos olhares para o viver.  

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16/11/2024

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Crítica do filme: 'As Crianças Perdidas'


A sobrevivência em meio as leis da selva. Reunindo uma série de detalhes sobre um dos resgates mais emocionantes de toda a história da América do Sul, o excelente documentário As Crianças Perdidas nos leva até uma região conflituosa, onde grupos paramilitares, indígenas e militares entram em embates faz muitos anos e se tornam variáveis de uma busca por crianças que sofreram uma traumática tragédia no coração da Amazônia Colombiana.

No início do ano passado, quatro irmãos pequenos embarcaram em um avião em Araracuara para ir encontrar o pai/padrasto no município de San José del Guaviare. Um acidente terrível acontece, com o meio de transporte caindo numa região de difícil acesso. Logo o governo colombiano é avisado e começa uma intensa busca pela difícil selva. Mas será que alguém sobreviveu? Ao longo de desgastantes 40 dias, as respostas vem chegando conforme pistas aparecem e com a adição necessária ao grupo de busca de voluntários representantes indígenas que melhor conhecem a região.

A narrativa chama a atenção pela forte contextualização não só da vida das vítimas mas também sobre a violência em um país de belezas mas de enormes perigosos: uma nação em eterno conflito interno, assim pode ser definida a Colômbia. O governo numa luta de muitas décadas contra a FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), também vê embates entre seus militares e tribos indígenas, tudo isso é mostrado através dos relatos de heróis que fizeram parte da expedição.

Repleto de depoimentos de testemunhas dessa busca, familiares e conhecidos das vítimas, vamos de forma impactante conhecendo melhor um contundente recorte de uma região que logo vira um pano de fundo para um final que já se conhecia. A sabedoria indígena ganha destaque, um ponto onde o sobrenatural chama a atenção, algo que ao lado da estratégia dos militares vira uma soma importante para a equação de salvamento ter êxito. Esse entendimento entre as partes envolvidas em prol do salvamento pode ter aberto caminho para curar feridas do passado. Pelo menos uma porta se abriu.

As Crianças Perdidas completa um ciclo sobre uma situação abrindo camadas para tantas outras reflexões, um trabalho impecável que liga o passado ao presente mostrando a importância das conciliações através do caos de um desaparecimento.


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Crítica do filme: 'Toquinho: Encontros e um Violão' [Festival de Cinema Italiano 2024]


O reconhecimento de um fabuloso artista. Trazendo para o público histórias cativantes da carreira de um dos maiores nomes da música popular brasileira, Toquinho: Encontros e um Violão, documentário de 90 minutos selecionado para a ótima seleção do Festival de Cinema italiano 2024, parte do vínculo do músico - grande parceiro de Vinícius de Moraes - com a Itália para nos apresentar detalhes de fatos marcantes que marcaram a história da música.

Com arquivos de shows e entrevista compondo a narrativa, além de depoimentos de pessoas próximas e do próprio Toquinho, ao longo de um delicioso bate-papo com o artista paulista de 78 anos vamos vendo a história cultural de dois países sendo contada. Sempre ao lado de seu violão, uma união que gerou canções eternizadas, vemos um depoimento emocionado de um alguém que nasceu pra brilhar.

Das lembranças das melodias do passado e da importância do início dos contatos com fabulosos professores, passamos pelo primeiro grande sucesso no início da década de 1970, uma parceria inesquecível com Jorge Ben JorQue Maravilha – até sua caminhada ao lado de Vinícius de Moraes e os sucessos que se seguiram na carreira solo, no Brasil e no exterior.

Conforme as histórias são sendo contadas, percebemos a importância de sua carreira que não deixa de percorrer gerações. Seus trabalhos inesquecíveis pela música infantil não são esquecidos e aqui faz-se um elo novamente com a Itália. Assim conhecemos seu ponto de vista na criação de algumas dessas canções, como a mais emblemática delas: Aquarela.

Em resumo, Toquinho: Encontros e um Violão se consolida como um registro importante sobre a obra de um gênio. Um documentário pra ter na coleção.


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