A angústia de um desaparecimento duplo. Exibido no Festival de Cannes do ano passado, o documentário As 4 Filhas de Olfa, por meio de ensaios, bate-papo entre personagens reais e atrizes, nos mostra uma história que vai se montando por seus detalhes tendo como alicerce toda forte relação familiar entre uma mãe e suas quatro filhas. O reabrir as feridas se torna uma marca presente dentro de um contexto no passado doloroso que influenciou a trajetória de todas elas. Indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2024, o projeto é escrito e dirigido pela cineasta tunisiana Kaouther Ben Hania.
Ao longo de 107 minutos de projeção vamos acompanhando
recortes nas vidas de Olfa e suas filhas. Desde a infância, o crescimento das
meninas, a vivência no período da conhecida Revolução de Jasmim até uma
radicalização e sumiço de duas delas que acaba trazendo dor e sofrimento sem
fim. Reviver tudo o que passaram se transporta para a tela, com encenações de
momentos das duas filhas que ficaram e duas atrizes substituindo as que foram.
Memórias se misturam com as incertezas que duram até os dias atuais.
A angústia do desaparecimento é algo que percorre todo o
filme. Não sabemos a princípio o que realmente aconteceu com as duas filhas
mais velhas de Olfa. Fugiram? Foram sequestradas? Quando as peças se alinham
nas posições de revelação, o campo de reflexões se amplia nos levando até
alguns porquês. Dentro desse contexto, se expõe o processo criativo do projeto
como um complemento da narrativa.
Nesse interessante documentário, com 18 prêmios
internacionais, todo rodado em um hotel abandonado, passamos por uma Tunísia em
plena revolução e a protagonista buscando a própria, chegando até uma temida organização
jihadista que justifica seus atos pela aplicação da lei religiosa islâmica e
muitas questões políticas que se amontoam. As
4 Filhas de Olfa é um forte e contundente retrato de uma sociedade que
parte da dor de uma família até os caminhos da perplexidade.