Para toda ação uma consequência. Com um roteiro que consegue se manter firme no seu discurso remetendo ao sonhar pela arte, o longa-metragem independente brasileiro Morte Vida e Sorte aborda as desilusões da vida adulta e os perrengues para não desistir dos sonhos na visão de amigas que mergulham juntas no abismo das incertezas. Dirigido por Alexandre Setembro, o projeto flerta com a metalinguagem, com a fantasia que se mostra real, numa série de profundas reflexões sobre a vida tendo como palco o coração de São Paulo.
Na trama, conhecemos três amigas que moram juntas na mais
badalada cidade brasileira buscando recursos para montar uma peça de teatro. Soterradas
pelas cobranças da vida adulta mas sem desistir dos sonhos acabam chegando ao
limite e resolvem realizar assaltos pra conseguir dinheiro. Esse fato, de
virarem criminosas, mexerá para sempre nas suas trajetórias com a consciência
sobre os atos cometidos aos poucos chegando com força.
O que fazer quando não se pode mudar o mundo? O projeto
embarca em camadas interessantes na construção de suas personagens. A busca
pelo sonho é uma variável constante, nesse ponto o confronto com as
dificuldades de uma profissão, com as incertas audições, os editais que nunca
saem, desaguam até mesmo em constantes confrontos criativos. Num segundo
momento, com os conflitos mundanos se acumulando, a razoabilidade é jogada fora.
Todo esse processo é muito bem conduzido pela direção.
A narrativa busca por meio de intensos diálogos situar a
chegada até os limites, passando pelas ações e consequências quando ultrapassam o
importante semáforo de valores do que é certo ou errado. A estética toda em
Preto e Branco faz parte dessa construção, algo que pode gerar uma série de
interpretações mas o vazio existencial é algo que a princípio chega com impacto.
Morte Vida e Sorte é
um interessante exercício da linguagem cinematográfica, a partir de um roteiro que
busca bater na tecla das desilusões sem se projetar para algo muito longe de
muitas realidades.