15/03/2024

Crítica do filme: 'Ervas Secas'


Quando se fecha os olhos, os problemas nunca tem fim. Um vilarejo turco, um professor desiludido e com o sonho de sair dali, um fato marcante em meio a uma neve incessante. Indicado à Palma de Ouro em Cannes no ano passado, o longa-metragem turco Ervas Secas escancara o conformismo para destrinchar as relações humanas movidas pela esperança, a raiva, as incertezas. Baseado no diário do professor Akin Aksu, esse, que é o nono longa-metragem do excelente cineasta Nuri Bilge Ceylan, um decifrador da natureza humana, caminha na objetivo de apresentar argumentos de que uma vida tem valor mesmo que não encontre mais sentido.

Na trama, acompanhamos um período na vida do professor de artes Samet (Deniz Celiloglu), um homem que chegou no último ano como professor em uma aldeia distante e já planeja novos voos em uma das maiores cidades da Turquia. As desilusões sobre o ensino, as desconfianças sempre foram uma marca de sua personalidade. Um dia, ele e mais outro professor, são acusados de contato inadequado com duas alunas, fato esse que muda para sempre seus planos. Quando tudo parecia bem confuso e perdido, se aproxima de Nuray (Merve Dizdar), professora de uma outra escola da região, uma mulher que o confronta sobre seu conformismo, sua acomodação dentro de um fugir ao invés de encarar, trazendo novos olhares e restos de esperança.

O sufoco dos próprios gritos. As desilusões sobre o papel do ensino na formação, as desconfianças, retratos políticos, os relacionamentos se somam a trajetória de um protagonista que culpa o lugar por todos os seus problemas. O intrigante labirinto das suas emoções se jogam na evidência ao não conseguir entender os porquês das acusações que podem influenciar para sempre seu futuro. Cansado da esperança, se joga na incerteza. Esse relato nada mais é que um paralelo com muitos destinos do lado de cá da tela, transformando essa obra é algo muito próximo quando enxergamos uma enxurrada de realidade em cada movimento.

O espectador precisa de paciência, são mais de três horas de duração. A narrativa caminha de forma lente e desabrochando uma poderosa trama onde tudo é minuciosamente envolvido por belas imagens e diálogos longos, profundos. Impressionante como tudo faz grande sentido quando pensamos no uso das imagens e seus movimentos. Somos testemunhas de uma enorme viagem rumo ao abstrato dos sentimentos sem perder o norte de apresentar os caminhos para novas perspectivas, novos olhares, para dentro e para o que está lá fora.