O encontro de desabafos, sensações e conclusões. Com um discurso criando seu oásis nas angústias dos relatos de uma viagem pela região amazônica de um dos maiores poetas da nossa literatura, Mário de Andrade, o Turista Aprendiz pode ser interpretado como uma peça filmada - bem definida por atos – caminhando com paradas no experimental, na ficção, no documental. Essa experiência dirigida e roteirizada por Murilo Salles faz valer o encontro das sensações, das emoções, com personagens ganhando força no imaginário.
O caminho traçado por essa obra vai de encontro a uma
necessidade de preenchimento de lacunas das verdades do Brasil pouco visto,
utilizando como trunfo a experimentação – e todo o alcance e possiblidades - da
linguagem cinematográfica na narrativa. Seu ritmo lento parece criar as
reflexões no pós instante, algo que ganha complementos ao longo dos 92 minutos
de projeção. Imagens da época, fotografias, encenações, uma narração que não se
desgruda, se tornam elementos que saltam na aleatoriedade dos movimentos.
Qualquer obra que nos leva na borda do decifrar uma
personalidade através de um ofício que liga os tantos pontos de um país já tem
seu mérito próprio quando pensamos em registro. Esse longa-metragem, que teve
um circuito modesto no tão disputado circuito exibidor brasileiro, se arrisca
também em buscar em alguns momentos traçar os paralelos da época com os tempos
atuais, como nas imagens de um ambulatório lotado durante a Covid-19 embutido
numa passagem por uma região sofrendo com a malária, uma luta naqueles tempos.
Dando ênfase no seu traço mais marcante, o filme busca suas
inspirações no Livro O Turista Aprendiz
e fatos documentais, apresentando sua versão para o olhar do ávido observador,
criador de crônicas que englobam a cultura, a política, a sociedade. Esse
cantinho de personalidade que deixa rastros da complexidade de sua inquietude
se junta a um se jogar na busca, no entender e interpretar tudo que vê com os
próprios olhos durante uma viagem que mudaria sua visão de mundo.
Não há a necessidade de ser um grande conhecedor da história
do cronista paulista - e um dos fundadores do modernismo - para chegar as tão
variadas reflexões. O roteiro localiza o momento deixando nas entrelinhas uma
breve biografia de Mario de Andrade, um homem de mente pulsante que viajou por
alguns cantos de nosso extenso território em busca de uma identidade cultural
para nosso país.