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01/05/2021

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Crítica do filme: 'Raia 4'


As mensagens que o silêncio traz. Exibido em diversos festivais de cinema pelo mundo, como 35º Festival Internacional de Cinema de Santa Barbara (EUA), o 41º Festival de Havana (Cuba), a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o Festival Internacional do Rio e vencedor do prêmio da crítica no Festival de Gramado, Raia 4 possui uma narrativa lenta, perto da amargura, de paralelos com o psicológico, que busca em suas imagens e movimentos revelar o caos emocional de uma jovem, de família de classe média alta do sul do país,  perto de completar 13 anos entre as competições semi-profissionais de natação que participa e as descobertas das primeiras fases da adolescência. Escrito e dirigido por Emiliano Cunha.


Na trama, acompanhamos o dia a dia de Amanda (Brídia Moni), uma jovem que está passando por uma turbulenta fase emocional e divide seu tempo em suas novas descobertas e seu ritmo acelerado de competição na equipe de natação de sua cidade. Em casa, seu relacionamento com os pais é um pouco conturbado, tendo imenso carinho pelo pai e uma certa distância da mãe. Ambos são médicos e vivem sempre com suas agendas lotadas de compromissos. Amanda fica mais confusa com a existência de uma linha tênue entre algum sentimento confuso e a competição na relação com a amiga de treinos Priscila (Kethelen Guadagnini).


Tecnicamente é um filme muito interessante, as metáforas aquáticas, seus movimentos, luzes, mostram uma aflição em crescente com o que podemos fazer um paralelo com a mente da protagonista, completamente confusa nas suas interpretações sobre as escolhas que lhe aparecem. Introspectiva, de poucas palavras, parece não saber lidar direito com suas fases de vida, como a primeira menstruação, o primeiro beijo, a competição. A cada nova saída da água (seu lugar de refúgio), a ansiedade e as cobranças de uma jovem atleta chegam por todos os lados, gerando um caótico recorte emocional que determina as ações, inclusive, do desfecho marcante.



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29/04/2021

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Crítica do filme: 'O Homem que Vendeu sua Pele'


Quais os limites da arte? Existe? Quais os limites do ego humano? Existe? Indicado ao Oscar na categoria de Melhor filme estrangeiro pela Tunísia, ficando entre os cinco finalistas inclusive, O Homem que Vendeu sua Pele, escrito e dirigido pela cineasta tunisiana Kaouther Ben Hania, faz paralelos com a realidade, sobre a liberdade, criando brechas importantes para falar de um assunto muito importante: dos refugiados. É o segundo trabalho da diretora em um longa-metragem de ficção.


Na trama, conhecemos Sam (Yahya Mahayni), um homem apaixonado que após uma exposição de alegria ao lado do amor de sua vida (mas essa já com casamento pronto com outro homem) em um trem acaba tendo que entrar em rota de fuga de seu país (Síria) e acaba indo para o Líbano. Chegando lá consegue alguns bicos e acaba conhecendo Jeffrey Godefroi (Koen De Bouw) um artista Belga que ao lado de sua assistente Soraya (Monica Bellucci) que  propõe ao protagonista um contrato para ‘ceder’ as costas dele para se tornar uma obra de arte. Assim, precisando do dinheiro e querendo chegar na Europa (onde está o amor de sua vida) Sam resolve aceitar e acaba virando praticamente uma peça de museu o que gera conflitos e revolta de seus parentes e de toda a comunidade de ativistas de direitos humanos.


Há um grande tom de crítica bem evidente em todo o andamento da narrativa que foca nas escolhas do protagonista mas tende ao lado do amor com grandes arcos sobre a relação conturbada dele com a mulher de sua vida o que acaba deixando um pouco confusa as subtramas sobre direitos humanos.  O próprio personagem principal é bastante confuso não se desprende de tentar reconquistar seu amor e embarca em uma jornada quase inconsequente onde precisa medir na balança seu papel em um grande contexto social mundial que muitas vezes para ele passa batido, não interessando encontrar alguma solução para isso, entrando em modo conformista, acomodado.


Kaouther Ben Hania executa um bom trabalho na direção. Mesmo com o roteiro tendo altos e baixos, O Homem que Vendeu sua Pele levanta questionamentos importantes gerando ondas de reflexão e abrindo os olhos de todos que conseguem alcançar nas entrelinhas as mensagens que o filme carrega.




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05/03/2021

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Crítica do filme: 'Nós Duas'


Amor escondido é igual a liberdade dentro de um quadrado. Representante da França ao Oscar 2021 e indicado ao Globo de Ouro, Nós Duas, Deux no original, é uma interessante incursão sobre sentimentos íntimos de duas mulheres mais velhas, que se conhecem toda uma vida, onde fora colocado um papel no buraco da fechadura para os demais jamais, ou nem ao menos, terem a chance de se intrometer. Honesto e bastante delicado, trata com muito respeito a questão da aceitação do amor de duas mulheres apaixonadas e o eterno receio do que os outros podem pensar sobre isso. Destaque para Barbara Sukowa, uma das melhores atrizes europeias, não só da atualidade, em mais uma atuação magnífica, vibrante e delicada ao mesmo tempo.


Na trama, conhecemos Nina (Barbara Sukowa) e Martine (Martine Chevallier), duas mulheres já bem mais velhas que durante toda uma vida vivem um amor escondido. Vivem em um prédio, de dois apartamentos por andar, e ambas moram uma de frente pra na outra. Tentando dar um passo importante na relação, elas resolvem procurar soluções para o futuro e quem sabe até contar para a família de Martine (já que Nina é sozinha no mundo) sobre o relacionamento que vivem. O problema é que essa última, sofre um avc e tudo muda bastante na rotina escondida das duas amantes.


Há um belo brilho na poesia que camufla os conflitos, seja na visão e descoberta dos filhos de Martine, seja nos embates intensos entre as almas gêmeas. O amor é um dos focos, dividindo a tela com a questão do pré-conceito/preconceito e também de um complexo relacionamento entre mãe e filhos por conta de um segredo de anos e descoberto apenas por causa da situação emergencial que estão passando. O roteiro faz um trajeto bonito entre os arcos. No mais reflexivo, as memórias ganham contornos metafóricos e de alguma forma nos fazem entender melhor a quão profundo é o sentimento de afeto e carinho que Nina e Martine possuem. Impossível não se apaixonar por essa história.  

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04/01/2021

Crítica do filme: 'Retrato de uma Jovem em Chamas'


Estar livre é estar só? Escrito e dirigido pela ótima cineasta francesa Céline Sciamma (do excelente Tomboy), Portrait de la jeune fille en feu, no original, aborda com sensíveis tons delicados um recorte sobre sentimentos e sensualidade em uma época de muitas limitações para as almas femininas. As memórias e as emoções colocam a iminência de um amor com data de validade marcada mas com uma intensidade para nunca se esquecer. O projeto conta com uma direção impecável com direito a uma arrebatadora sequência final, digna de aplausos. Impressionante filme francês, um dos grandes trabalhos dos últimos anos desse país que volta e meia nos brinda com ótimas produções. Indicado à Palma de Ouro do Festival de Cannes, também ao Bafta e ao Globo de Ouro.


Na trama, conhecemos a jovem pintora Marianne (Noémie Merlant) que é contratada por uma mulher (Valeria Golino) para pintar o retrato de sua filha Héloise (Adèle Haenel). Só que essa última não aceita o futuro casamento que já está entrelaçada com um homem em milão e assim, Marianne precisa disfarçar a princípio seus reais motivos do convívio diário durante algumas semanas com Héloise. Só que após muitas conversas, um interesse mútuo vira algo que transborda, transformando dramas em uma paixão arrebatadora.


O filme, que estreou no Brasil em janeiro (ainda antes da pandemia), possui um certo ar misterioso em seus primeiros arcos, acaba virando um grande pedestal onde diálogos sobre imposições da vida em uma época arcaica, cheia de ações nada progressistas onde a mulher não tinha direitos. Os diálogos sobre cultura e pintura e os paralelos com os dramas de uma sociedade reclusa nas tradições encaixam como uma luva no que vivem ou conhecem da vida as protagonistas. A coadjuvante Sophie (Luàna Bajrami), a empregada da casa de Héloise, tem papel importante com sua subtrama, mais uma vez mostrando o papel das tradições e até mesmo rituais em uma época muito distante da que vivemos.

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31/12/2020

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Crítica do filme: 'Pacarrete'


A força da paixão do artista, da inigualável margarida em francês. Baseado em fatos reais, Pacarrete, dirigido pelo cineasta Allan Deberton conta a história de uma personagem feminina, uma mente iluminada de criatividade, incompreendida, ex-professora, vaidosa, amante da cultura francesa que nos faz acreditar do início ao fim que o palco é lugar onde bate mais forte o coração de um artista. Uma personagem tão forte quanto as mensagens do filme. Ficamos hipnotizados com o impacto a todo instante da presença dessa mulher sonhadora e tão carismática. Nunca fez tanto sentido que os gritos lá de fora não são mais fortes que as emoções que alguém pode carregar dentro de si. Uma atuação inesquecível de Marcélia Cartaxo, rimos e choramos com ela. Um dos grandes filmes nacionais de 2020.


Na trama, que possui uma bela trilha sonora, conhecemos Pacarrete (Marcélia Cartaxo), forte como um mandacaru, uma ex-professora que veio de Fortaleza para morar com a irmã Chiquinha (Zezita de Matos), moradora do município de Russas. Ela tem o sonho em se apresentar como bailarina em um grande evento da cidade, os 200 anos de Russas, mas acaba encontrando muitas dificuldades em ser compreendida. Ao longo dos quase 100 minutos de projeção somos testemunhas da determinação, sonhos, desilusões dessa personagem que vai ser difícil esquecermos. 


O belo, o bonito, está no desejo em se apresentar, no gesto da bailarina. Pacarrete é um recorte delicado e muito profundo de uma mulher batalhadora, guerreira cujo os sonhos parecem somente ter sentido para ela, muito criticada pelos outros ao seu redor. Dorme em sua rede todos os dias junto com seus sonhos junto a verdade de que uma artista nunca deve deixar os palcos.


Poderia até virar seriado, sendo esse belo filme a primeira temporada. Reflexivo, nos diz muito nas entrelinhas, nos momentos de pausas dos diálogos deixa uma certeza: o mundo é um lugar muito pequeno para o quanto grandioso podem ser nossos sonhos, mas mesmo assim nunca deixamos de sonhar e sonhar e sonhar...

 

 

 

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26/12/2020

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Crítica do filme: 'Druk - Mais uma Rodada'


O mundo nunca é como esperamos. Exibido no prestigiado Festival de Cannes desse ano e também filme de encerramento da Mostra de SP, o novo longa-metragem do aclamado cineasta dinamarquês Thomas Vinterberg é um grande paradoxo sobre como conseguimos que a despeito de conflitos e angústias a vida ainda pareça boa ou que gere algum tipo de caminho prazeroso dentro de um cotidiano repleto de saudades que sentimos de tudo aquilo que ainda não vimos ou não víamos mais. Another Round pode ser considerado um ensaio psicológico ou uma baboseira total, mas as linhas tênues criadas pelo experimento proposto pelos e para os personagens nos levam a uma junção de reflexões importantes sobre a sociedade. Um trabalho primoroso de Vinterberg que aparece como grande favorito para o próximo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. O filme é estrelado por um dos grandes artistas do mundo quando pensamos em cinema, Mads Mikkelsen, que mais uma vez nos brinda (literalmente nesse caso também) com mais uma inesquecível atuação.


Na trama, acompanhamos quatro amigos, professores que passam cada um à sua maneira por muitas infelicidades em suas vidas e analisando suas trajetórias e o presente nas reuniões que fazem quase que semanalmente resolvem tirar do papel a curiosa hipótese de Finn Skarderud que mostra haver um déficit de álcool no sangue e que para isso é preciso consumir uma determinada quantidade de álcool para melhorar as interações sociais/profissionais/familiares. Assim, resolvem serem adeptos ao movimento e acabam descobrimento muito sobre a vida mas também os efeitos colaterais do tal experimento.


Quando anunciamos derrota, podemos recomeçar? O roteiro transborda o foco no limite do ser humano que caminha pela angústia, fraco e inoperante, sem saber o que fazer para mudar seus dias. Crise profissional, problemas no casamento, amigos e seus conflitos, desesperados em uma mesmice dentro do cotidiano que não desenvolve viram um reflexo mais amplo de uma sociedade que muitas vezes não sabe como lidar para mudar as situações que a vida lhe impõe, principalmente, quando partimos do princípio que a felicidade não existe, o que existe na vida são momentos felizes.


Vinterberg, uma das grandes mentes atuais do cenário audiovisual europeu, tem o mérito de conseguir captar a angústia de maneira simples e que passa uma realidade absurda onde logo identificamos olhares parecidos perto de nós ou próximos. Pra chegar ao brinde à vida é necessário vencer os obstáculos.

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20/11/2020

Crítica do filme: 'Mulheres ao Poder'


Uma luta pelos direitos não é somente diária, semanal, mensal...é pra toda a vida. Dirigido pela cineasta britânica Philippa Lowthorpe e baseado em uma obra de Rebecca Frayn,  Misbehaviour é um filme, antes de tudo atemporal, que mostra a luta de movimentos feministas e suas ações de revolta contra o concurso Miss Mundo na década de 70. Acompanhamos essa trajetória pela a ótica de Sally (Keira Knightley) uma estudante de história que sofre demais por não conseguir ter os mesmos direitos que os homens na sua profissão. O longa-metragem abre margem para vários paralelos importantes, bastante reflexivo joga na cara dos machistas todo o absurdo sobre a diminuição das mulheres. Destaque para ótimas atuações de Keira Knightley, Rhys Ifans e Greg Kinnear.


Na trama, conhecemos Sally (Keira Knightley), uma jovem mãe de uma criança, divorciada que busca uma pós-graduação em História em consagrados centros de estudos mas sofre bastante preconceito a todo instante por ser mulher. Certo dia, acaba esbarrando com Jo (Jessie Buckley) uma ativista feminina que usa dos protestos com pichações e passeatas para poder reinvindicar o papel feminino mais preponderante e de direitos iguais aos homens. Com a chegada do concurso Miss Mundo 1970, o grupo de Jo e Sally resolve organizar um protesto contra o concurso, algo que ficou marcado na história.


O roteiro é muito bem construído, com arcos harmônicos sempre deixando portas interessantes para acompanharmos os futuros passos de uma protagonista em constante descoberta sobre como pode se expressar melhor e lutar pelos seus direitos. O ponto de vista das concorrentes do Miss Mundo também ganham ótimas cenas, a questão racial e o emblemático pódio do concurso. O machismo é mostrado bem didaticamente em muitas cenas e nas atitudes dos personagens Bob Hope (Greg Kinnear) e Eric Morley (Rhys Ifans), o primeiro um famoso apresentador da época, o segundo o criador do Miss Mundo.

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28/09/2020

Crítica do filme: 'De Volta à Itália'


Querer ser como o pai é também uma maneira de tentar se comunicar com ele. Paisagens lindas, Idílio romântico italiano, uma passagem linda com uma sessão de cinema a céu aberto no meio de uma praça linda, poucos personagens, um forte dilema e uma tentativa de acerto de contas entre pai e filho. Podemos detalhar muitas coisas de Made In Italy, Infelizmente, já no primeiro arco percebemos como os clichês tomarão conta do filme. A emoção da arte as vezes não consegue ser totalmente transmitida mas alguns conseguem interpretá-la. Na dupla de protagonistas temos Liam Neeson que estrela ao lado de seu filho na vida real Micheál Richardson. Debutando em longas-metragens, o agora cineasta mas também ator James D’Arcy assina a direção e também o roteiro do projeto.

Na trama, conhecemos Jack (Micheál Richardson), um jovem administrador de uma galeria de arte que vê sua vida mudar quando o local onde trabalha, que pertence à família da quase ex-esposa, vai ser vendido. Tentando ser um provável comprador, embarca em uma jornada de redescobertas com o pai, o pintor Robert (Liam Neeson) para venderem uma casa que pertencia a família da mãe de Jack, na Itália. Com tantas variáveis acontecendo ao mesmo tempo na vida do jovem administrador da galeria, ele precisa lidar principalmente em tentar se entender com seu pai novamente.


Um relacionamento complicado entre pai e filho, que ficou mais distante após a morte trágica da mãe. 15 anos de amargura e solidões distantes, eles viveram suas vidas mais separados do que deviam. Tendo esse ponto como plano de fundo, está sempre presente, o desenvolvimento dos personagens é lento e não apresenta muitos argumentos cativantes/carismáticos. A trilha sonora não convence com a superficialidade do entendimento da situação e embates entre pai x filho. Essa relação é mal explicada durante boa parte dos arcos, deixando para o desfecho elementos que poderiam ser apresentados pelo caminho para um conhecimento do público, criaria mais empatia. Há alguns diálogos interessantes, como dentro do restaurante italiano num debate sobre formas de encontrar um novo amor, um duelo estabelecido, curtinho, entre passado e presente, quando pensamos em argumentações e visões diferentes.


Dá a impressão, às vezes, que já vimos esse filme antes. Ou vários filmes parecidos que se juntam e viram um só. Infelizmente dá essa impressão.

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23/09/2020

Crítica do filme: 'A Vida Extraordinária de David Copperfield'


A vida e sua trajetória: o que para alguns pode parecer até um conto de fadas! Não se engane, não tem nada de ilusionismo nas próximas palavras. Baseado no livro de Charles Dickens chamado David Copperfield, publicado em meados de 1850, The Personal History Of David Copperfield, dirigido pelo cineasta escocês Armando Iannucci (A Morte de Stalin) é antes de mais nada uma metáfora muito inteligente por trás de toda a luta de classes diferentes, em um período antigo onde o mundo buscava seu desenvolvimento. Repleto de personagens excêntricos (lembra até certo ponto a obra-prima de Tim Burton, Peixe Grande e Suas Maravilhosas Histórias), com uma direção de arte impecável, a saga de David é muito dinâmica, não dá tempo para piscar. Há também um desfile de artistas competentes que formam um conjunto harmônico de grandes atuações.

Desde seu nascimento e dentro de uma narrativa/cronologia corrida, com um ar de filme épico, em The Personal History Of David Copperfield, conhecemos David Copperfield (Dev Patel), um jovem que após sua amorosa mãe Clara (Morfydd Clark) se casar novamente é expulso de casa pelo novo padrasto Murdstone (Darren Boyd) e enviado aos cuidados do malandro Mr Micawber (Peter Capaldi). A partir daí, sua vida muda radicalmente e ele cresce em busca de seu quase evidente sonho de contar suas inimagináveis histórias para os que querem ouvir, assim entende melhor o mundo em que vive, faz amizades, encontra a inveja mas também descobre o amor.


A vida é uma trajetória fantástica para quem assim a quiser e tiver coragem de se arriscar nela. Colocando todo um contexto sociológico importante (posso até dizer que algumas situações quase atemporal) como plano de fundo, a saga de David é daquelas que beiram ao mirabolante. Iannucci consegue dar algum sentido ao clichê do lema ‘desastre ao triunfo’ colocando uma lupa sobre as classes e suas linhas distantes, além de dar uma sutileza e sensibilidade aos ótimos e peculiares personagens que vão chegando aos montes durante todas as passagens da vida do personagem título. Um belo trabalho, pra você enxergar muita coisa pelas entrelinhas.

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11/04/2020

Crítica do filme: 'The Way Back' (O Caminho de Volta)


As segundas chances para quem precisa e as oportunidades diferentes que a vida oferece. Com um background bem definido falando sobre o alcoolismo, The Way Back é um poderoso drama que dribla os clichês com bastante proximidade com a realidade, fruto de uma interpretação bastante honesta do intérprete do protagonista, Ben Affleck, sem dúvidas, um dos seus grandes trabalhos na carreira. Dirigido pelo cineasta nova iorquino Gavin O'Connor (O Contador) e roteirizado por Brad Ingelsby (Tudo por Justiça) essa grata surpresa é mais um dos lançamentos desse ano que vão direto para plataformas digitais por conta da crise dos cinemas pela pandemia que o mundo atravessa.

Na trama, acompanhamos o desiludido, deprimido, alcóolatra, ex-astro dos campeonatos de basquete do high school na década de 90 e atualmente trabalhador de obras Jack (Ben Affleck). O protagonista passa seus dias entre um gole e outro, tendo uma relação bastante explosiva com sua irmã e um distanciamento da ex-esposa. As coisas parecem tentar mudar para Jack quando seu telefone toca e uma inesperada oportunidade de treinar um time de basquete de um colégio onde estudou aparece. Mas problemas do seu passado voltam a atormentar e o personagens trilhará um caminho complicado em busca de uma luz no fim do túnel.

Com arcos bem definidos, fica claro desde o início que o foco é o protagonista e as analogias do ganhar ou perder se tornam escancaradas aos olhos cinéfilos, sendo nos jogos de seu novo time, ou, seja nos caminhos espinhosos de dramas inesquecíveis de seu passado. Jogando com essa variável das emoções congeladas no tempo a construção desse complicado protagonista é feita com muita honestidade por Affleck, o trabalho corporal, inclusive, é muito visível.

Muito mais do que vencer partidas como treinador de um time de jovens, Jack busca encontrar um real sentido para sua vida após uma perda irreparável e o abismo de um vício terrível que assombra milhares de pessoas mundo à fora.

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27/01/2020

Crítica do filme: 'Parasita'


Indicado na principal categoria do Oscar 2020 (melhor filme), e em mais outras cinco, o filme sensação do universo cinéfilo dos últimos meses Parasita merece realmente todos os elogios por sua trama impactante que não deixa de ser interessante um só segundo. Além de abordar temas importantes da nossa sociedade, como o desemprego, o projeto vai rumo ao brilhantismo ao mostrar as linhas psicológicas mais complexas do ser humano e todo seu poder de conseguir o novo e destruir. Escrito e dirigido pelo cineasta sul-coreano Bong Joon Ho (dos excelentes O Expresso do Amanhã e Mother - A Busca Pela Verdade), essa obra-prima asiática é um filme inesquecível, muito por conta de muitas de suas cenas impactantes que vão demorar a sair de nossa memória cinéfila.

Vencedor do prêmio de Melhor Filme de Língua Estrangeira no Globo de Ouro desse ano, Parasita conta a saga de Kim Ki-woo (Woo-sik Choi) e sua família toda desempregada. Passando os dias olhando pela janela da casa no subsolo onde vivem, Kim Ki-woo consegue através de uma amigo que vai viajar uma oportunidade única: ser professor de inglês de uma jovem milionária. Assim, usando todas as suas facetas de um grande cara de pau aos poucos vai instalando na família da jovem empregos para toda sua família. Quando determinadas situações acontecem, a família trambiqueira precisará realizar escolhas que mudarão os rumos de toda essa impactante história.

Foco principal na trama, a questão da ascensão familiar é o grande background para ações e consequências eletrizantes. Sem o mínimo de pudor, a família consegue aos poucos ganhar a confiança de quase todos nesse novo universo que lhes é proposto. Mas as reviravoltas da trama evoluem a história e deixam cenas marcantes na nossa memória. Reflexivo e até certo ponto aterrorizador, os limites do ser humano são colocados em cheque fruto de um deslumbramento sem pilares de resistência culminando numa impressionante jornada de queda.

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18/11/2018

Crítica do filme: 'Benzinho'


Os filhos são para as mães as âncoras da sua vida. Exibido no importante Festival de Sundance desse ano, Benzinho conta todas as dificuldades de uma família moradora da região de Petrópolis no Rio de Janeiro, seja no lado financeiro, seja no lado emocional com a eminente partida do filho mais velho para uma nova oportunidade na Alemanha. O longa, dirigido por Gustavo Pizzi (do ótimo Riscado), gira todo em torno da forte personagem Irene, interpretado magistralmente pela excelente atriz brasileira Karine Teles. Entre as dificuldades do cotidiano, o amor não falta nesse grande retrato de família brasileira.

Na trama, super elogiada pelos críticos não só no Brasil, conta a saga de Klaus (Otávio Müller) e Irene (Karine Teles), pai e mãe de quatro filhos que vivem a cada dia tendo que matar um leão para que a felicidade reine no lar deles. Os negócios de Klaus, que tem uma copiadora, e o trabalho de vendedora sem dinheiro fixo de Irene, não vão muito bem e associado a isso, a irmã de Irene, Sonia (Adriana Esteves) busca refúgio na casa deles após ser agredida pelo marido Alan (César Troncoso). Para completar as variações emocionais presentes nesse presente da família, o filho mais velho do casal Fernando (Konstantinos Sarris) é chamado para jogar handball profissionalmente na Alemanha, fato esse que mexe demais com Irene.

Buscando retratar o cotidiano também de muitas famílias brasileiras, que buscam com bastante esforço ter o melhor para dar na criação de seus filhos, Benzinho navega com muita profundidade sobre as angústias, alegrias e surpresas que chegam a eles diariamente. Todos em cena brilham mas o foco principal fica com Irene e o grande conflito que enfrenta por não aceitar muito bem a ida de Fernando para longe de casa por tanto tempo. Mesmo reconhecendo ser uma oportunidade de vida para o filho, Irene não consegue esconder sua insatisfação. Mas o longa metragem (que poderia ser o indicado do Brasil ao próximo Oscar tranquilamente) não se prende só a esse conflito, as razões financeiras e dificuldades de uma vida melhor chegam como plano de fundo assim como a situação de Sonia que busca refúgio na casa da irmã.

A emoção não deixa de estar contida em cada cena, seja nas felicidades, seja nas tristezas. Benzinho é um retrato muito bem feito sobre milhares de outras famílias, seus dramas e suas forças para enfrentar de cabeça erguida as loucuras desse mundo tão cheio de obstáculos em que vivemos, principalmente aqui no Brasil.

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27/10/2018

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Crítica do filme: 'Dogman'


Como você enxerga as brutalidades da vida? Indicado da Itália ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro para a próxima grande festa do cinema, Dogman é um retrato social, brutal, passado em uma periferia italiana onde vários questionamentos são levantados a cada nova virada no roteiro. O longa é dirigido pelo cineasta italiano Matteo Garrone, do inesquecível e impactante Gomorra, e protagonizado pelo ator Marcello Fonte, vencedor da Palma de Ouro em Cannes de melhor ator esse ano por esse papel.

Na trama, passada em uma cidadezinha na Itália não identificada, conhecemos o carinhoso, peladeiro e boa praça Marcello (Marcello Fonte), um humilde e gentil dono de uma petshop localizada na região central dessa cidadezinha. Marcello vive tranquilo seus dias e adora passar o tempo com sua única filha. Mas Marcello acaba envolvido em várias situações com Simoncino (Edoardo Pesce) um perturbador, baderneiro que incomoda todos na cidade, sempre arrumando confusão. Após uma dessas situações terminar em consequências terríveis para Marcello, o protagonista busca sua vingança da maneira mais radical que poderia.

O bom roteiro é aquele que sabe flexionar sua trama para chegar ao clímax de maneira certa, sem pressa, levando ao público um estrondoso ar de surpresa. É exatamente isso que Dogman faz! De drama, vira thriller em frações de segundos, levando o espectador a ser o juiz das ações de Marcello na segunda parte do filme. A ação e consequência que sofre o dono da pet shop, por ter a reputação abalada e o desespero de não saber o que fazer para acabar com aquela dor são parte desse quebra cabeça psicológico instaurado e muito bem dirigido por Garrone.

Coisas ruins vão acontecer com pessoas boas. É praticamente um versículo vital. Os coadjuvantes dão ótimo tom a todo o liquidificador de pensamentos que chegam até o protagonista quando está em crise existencial, sozinho, tendo que combater o vilão de todos e que fora muito mais para ele. Somos testemunhas de uma desconstrução total do personagem e nos levam a pensar à margem da sociedade, como se vivessem em áreas sem regras, nem leis, onde os homens caminham pelos seus próprios e nublados pensamentos. Um soco no estômago esse belo trabalho.

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03/02/2018

Crítica do filme: 'Victoria e Abdul: O Confidente da Rainha'

A força de uma amizade. Acostumado a projetos de grandes orçamentos, e muitos desses filmes de época, o cineasta britânico Stephen Frears, creditado como diretor em mais de 60 produções em toda a carreira, que vão de longas, curtas até episódios de seriados, chega aos cinemas com uma delicada história de amizade que a família real britânica tentou esconder durante anos. Victoria e Abdul: O Confidente da Rainha, baseado no livro homônimo de Shrabani Basu, é uma bonita história sobre culturas diferentes que reunidas por uma amizade fazem o conhecimento do mundo chegar aos olhos dos envolvidos.O projeto traz uma atuação de gala da genial Judi Dench na pele da protagonista, com uma curiosidade: Dench já havia interpretado a Rainha Victoria em outro filme, o belo Sua Majestade, Mrs. Brown.

Na trama, ambientada em 1887, conhecemos o carismático indiano Abdul (Ali Fazal) que acaba sendo escolhido pela guarda britânica para participar de uma cerimônia do jubileu de ouro da Rainha Victoria (Judi Dench). Aos poucos e sempre com os olhos atentos de todos ao redor, Abdul começa a se aproximar da rainha e acaba se tornando o professor de Victoria e ao mesmo tempo um fiel escudeiro. Uma linda amizade que duraria pouco tempo mas com uma intensidade maravilhosa.

Victoria e Abdul: O Confidente da Rainha é um filme muito bonito, mas que não consegue a profundidade que poderia. Judi Dench desfila elegância e presença em cena, leva o filme muitas vezes sozinha. As idas e vindas dessa amizade inusitada, já que a Inglaterra estava no comando da Índia e os britânicos sempre enxergavam os indianos como uma raça inferior, são compostas por cenas lindas principalmente com a vontade da toda poderosa da Inglaterra em ampliar seus conhecimentos sobre uma cultura que não conhecia.

Indicado a dois Oscars, o projeto passou com certo sucesso pelas cinemas brasileiros, talvez camuflado pelos outros filmes mais poderosos da corrido ao Oscar. É um filme que passa boas energias mas que deixa um gosto de que poderia ser mais impactante do que é.


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07/12/2017

Crítica do filme: 'O Poder e o Impossível'

As dores e o poder do impossível. Com uma história super corrida, onde tudo acontece com uma ansiedade danada, chega aos cinemas no próximo dia 14 de dezembro, o relato baseado em fatos reais ‘O Poder e o Impossível’. Dirigido pelo cineasta Scott Waugh (do terrível ‘Need for Speed: O Filme’) e com os sumidos Josh Hartnett e Mira Sorvino no elenco, o projeto parece uma propaganda motivacional, um livro de auto ajuda sobre um ex-atleta com problemas graves com drogas que vai para o alto de uma montanha, com o tempo fechando, praticar snowboard terapêutico.  

Na trama, conhecemos Eric LeMarque (Josh Hartnett), um jovem que nos últimos meses se perdeu completamente na vida. Viciado em drogas, afastado da mãe, deu adeus a uma vida de sucesso no mundo do Hóquei no gelo e agora vive aos pés de uma montanha onde pratica snowboard quase que diariamente sem muitas pessoas saberem de seu paradeiro. Certo dia, acorda em sua rotina de busca da salvação de seu vício, faz exercícios físicos, se alimenta de maneira balanceada e parte para a montanha surfar na neve. Após receber uma carona de uma bela jovem responsável por resgates emergenciais, chega até o topo da montanha, com o tempo fechando e, após uma descida complicada, acaba ficando preso na neve durante dias. Assim, para sobreviver, precisará de muita força de vontade, criatividade e sorte.

Baseado no livro ‘Crystal Clear’ de Eric LeMarque e Davin Seay, O Poder e o Impossível pode ser que funcione como livro de auto ajuda, mas como cinema deixa bastante a desejar. Tudo é bastante corrido, não conseguimos entender o personagem em nenhum momento, os flashbacks que aparecem para mostrar as dificuldades que teve com as cobranças do pai e parte de seu vício sendo desenvolvido na fase adulta são jogados na tela em alguns momentos como se fossem um forçado paralelo dos pensamentos de Eric lá na montanha.


A distância da personagem de Mira Sorvino, mãe de Eric, com a trama é algo esquisito. Aparece em cenas, quase paralelas ao que está vivendo o filho, em espécies de clipes que poderiam muito bem ser de outros filmes. Cada partezinha que acontece fora do drama de Eric nas montanhas geladas são peças estrategicamente colocadas e vestidas de insuportáveis clichês para se chegar a um sonolento final apoteótico. 
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11/11/2017

Crítica do filme: 'Na Selva'

A responsabilidade de todos é o único caminho para a sobrevivência. Dirigido pelo cineasta Greg McLean (do interessante O Experimento Belko), Jungle conta uma quase inacreditável história, baseada em fatos reais, de jovens aventureiros e seus dramas quando enfrentam dificuldades na inexplorável selva boliviana. No papel do protagonista, o famoso Harry Potter Daniel Radcliffe, esforçado no papel, que a cada novo trabalho tenta se desprender do eterno bruxinho que fez milhares de fãs mundo a fora.  

Baseado no livro Jungle: A Harrowing True Story of Survival, Jungle conta a história do israelense Yossi Ghinsberg (Daniel Radcliffe,), um jovem que resolve largar por um tempo os estudos e se aventurar na exploração de novos lugares e cultura ao redor do mundo. Assim, chega à Bolívia décadas atrás e lá conhece o fotógrafo Kevin (Alex Russell) e o jovem professor Marcus (Joel Jackson). Uma grande amizade começa a se iniciar e após Yossi cruzar com Karl (Thomas Kretschmann, que vemos também no excelente Taeksi Woonjunsa – A Taxi Driver), um aventureiro experiente que os convence a adentrar uma parte da floresta boliviana pouco explorada mas que reserva diversos riscos para o grupo. Ao longo de todo o complicado trajeto, aos poucos, vamos vendo que os amigos precisarão de muita força de vontade para saírem vivos desse lugar.

O filme explora o lado dos instintos da sobrevivência que todos nós possuímos. Longe de ser a melhor história sobre redenções ou coisa parecida, Jungle se sustenta pelas escolhas que os personagens tomam, mesclando imaturidade e ansiedade em busca de um objetivo ilusório que mais os deixam em perigo do que trazem alguma satisfação. O primeiro arco é bastante corrido, sabemos pouco do protagonista e todos os encontros com o restante do elenco acontece de maneira instantânea, parece que se conhecem faz anos. Essa correria na história é exatamente para chegar no seu clímax, as dificuldades e desencontros misturados com decisões vitais que acontecem em um lugar isolado em uma época que nem celular tinha (o filme é ambientado em décadas atrás).


Radcliffe se esforça para passar ao espectador todas as angústias e dores que o seu personagem sofre ao longo desses dias calamitosos lutando para sobreviver. Os clichês o perseguem a todo instante, há bons e sonolentos momentos, nesse último, principalmente quando metáforas de ilusão começam a surgir de maneira constante na mente de Yossi. Ao longo das quase duas horas de projeção, é preciso termos também um instinto cinéfilo de sobrevivência para que nossos olhos não pisquem ou que o sono não venha.


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20/01/2017

Crítica do filme: 'A Garota do Trem'

O mistério do amor é maior que o mistério da morte. Baseado no livro homônimo, de Paula Hawkins, best-seller do jornal The New York Times, A Garota do Trem é uma trama esquisita onde nada é o que parece e o que parece também não é nada demais. Tudo é muito confuso na história dirigida pelo ator e diretor Tate Taylor (Histórias Cruzadas). A protagonista não possui a força e carisma necessários para prender nossa atenção nos sonolentos 100 minutos de projeção. Como filme, realmente não deu certo.

Na trama, conhecemos a desequilibrada Rachel (Emily Blunt) que tenta seguir em frente em sua vida mesmo tendo um vício constante por álcool e ter sida abandonada pelo ex-marido. Assim, escondendo da amiga que divide apartamento que perdeu seu emprego, passa seus dias andando de um lado para o outro de trem desenhando e criando em sua imaginação histórias para seus reais personagens. Até que certo dia acaba se envolvendo como testemunha de um terrível crime que aconteceu, por grande coincidência no bairro onde seu ex-marido mora com a nova esposa e o filho recém nascido.

O grave problema dessa produção é a falta de lacunas preenchidas para a composição de sua protagonista. Completamente fora do controle (ritmo desnecessariamente acelerado) , com várias passagens vagas e diálogos sem força na história, a personagem principal é mais confusa que o atual meio campo do time do São Paulo.  O filme fica navegando nas águas do mistério mas na verdade é um grande drama existencial mas sem possibilidades de nos conectarmos com seu enredo. Emily Blunt até se esforça em tentar compor a personagem mas chega no meio do caminho e parece mais perdida do que nós que assistimos o filme.


A Garota no Trem estreou no Brasil no fim do ano passado, é o típico produto enlatado hollywoodiano adaptado de um Best Seller que na hora de virar filme acaba se enchendo de elementos com recheios de clichês. O livro deve ser bem melhor!
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31/12/2016

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Crítica do filme: 'Horizonte Profundo: Desastre no Golfo'

A ganância insaciável é um dos tristes fenômenos que apressam a autodestruição do homem. Dirigido pelo cineasta nova iorquino Peter Berg (O Grande Herói (2013)), o ótimo filme Horizonte Profundo: Desastre no Golfo fala sobre, entre vários pontos, a ganância do ser humano. Baseado em fatos reais, o filme consegue deixar o espectador com os olhos atentos ao longo dos 107 minutos, muito porque consegue fugir de vários clichês retratando com muita verdade os acontecimentos traumáticos desse dia que foi o maior desastre em uma plataforma de petróleo da história dos Estados Unidos.

Na trama, ambientada no ano de 2010, conhecemos o chefe de manutenção da plataforma Deepwater Horizon Mike Williams (Mark Wahlberg), um mecânico que mora com sua esposa Felicia (Kate Hudson) e sua única filha. Em abril de 2010, Mike irá enfrentar o maior desafio de sua experiente carreira quando a plataforma em que está começa a pegar fogo por conta de descaso nas políticas de prevenções. Lutando contra a vida e tentando ajudar a todos se salvarem, Mike e Jimmy Harrell (Kurt Russell), um dos chefes da Deepwater Horizon, precisarão reunir forças para enfrentar o caos em alto mar.

O filme bate profundamente nas políticas de proteção das plataformas petrolíferas norte americanas, mostrando de todos os ângulos os verdadeiros culpados por esse trágico acidente. Por conta disso podemos dizer que é um filme muito corajoso, além disso, o roteiro (escrito por Matthew Michael Carnahan e Matthew Sand, baseados no artigo de David Rohde e Stephanie Saul) é muito bem definido tentando também fugir de eventuais clichês. O projeto consegue unir as críticas contundentes aos responsáveis pelo acidente a um enredo envolvente com cenas de tirar o fôlego.


Lançado nos cinemas brasileiros no início de novembro passado, Horizonte Profundo: Desastre no Golfo passou rapidamente pelo circuito mas é um filme que se você tiver a oportunidade de assistir não deixe de conferir. Grata surpresa. 
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01/01/2016

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Crítica do filme: 'Burnt (Pegando Fogo)'

O perfeccionismo é um perigoso estado de espírito em um mundo imperfeito. Baseado em uma história de Michael Kalesniko, Burnt (Pegando Fogo) é mais um daqueles filmes onde se tem uma boa idéia, um roteiro até certo ponto interessante, com um personagem forte mas uma certa demasia de clichês acabam ofuscando um pouco o fulgor do arrevesado protagonista. Dirigido pelo experiente produtor John Wells (Álbum de Família), o longa-metragem que teve quase Keanu Reeves no papel principal, dá até água na boca quando pensamos nos maravilhosos pratos que desfilam ao longo dos 101 minutos de projeção mas falta um pouco o aprofundamento dos coadjuvantes personagens na trama para ser uma degustação cinéfila completa.

 Na trama, conhecemos o brilhante chef de cozinha Adam Jones (Bradley Cooper), um homem com um passado conturbado regado à brilhantismo, babaquices com outros colegas de profissão e vícios que o foram afundando ladeira à abaixo. Depois de passar meses sumido, tentando uma espécie de reabilitação em forma de jornada pessoal, volta a um grande centro culinário que é Londres e tenta cumprir um novo objetivo: conseguir a sua terceira estrela Michelin (algo como o Oscar da culinária mundial). Para isso, reúne uma competente equipe e conta com a ajuda Tony (Daniel Brühl) um amigo do passado.

Burnt (Pegando Fogo) é a prova que muitos clichês em um filme podem destruir totalmente uma receita de sucesso. Mas antes de chegar aos exageros que a produção comete, começamos com o lado forte da história com um protagonista que chama a atenção pelo perfeccionismo e dedicação em uma profissão amada por todos. Bradley Cooper incorpora com competência seu difícil personagem, explorando principalmente suas emoções quando a ‘chapa esquenta’, no rigoroso cotidiano dos chefs das melhores cozinhas mundo à fora. A falta de elementos de contorno ao personagem, esclarecimentos de seu passado e interações com os coadjuvantes acabam deixando a fita não rica para o público explorar com mais vontade a história.

Os clichês infelizmente comandam um pouco da receita do filme. Fora da cozinha parece que o roteiro prefere navegar em águas chatas, constantemente já vista em outras produções hollywoodianas. Um dos fatos que chama a atenção foi praticamente anular o ótimo Daniel Brühl, não dando a chance do mesmo explorar com mais força seu personagem que podia e devia ser mais interessante para a história.


Mesmo se tornando uma historinha água com açúcar com os passar dos minutos, Burnt (Pegando Fogo) pode se sustentar na magia que tem o ato simples de cozinhar, e essa determinação na cozinha do chef Adam Jones faz pelo menos o público ficar com certa atenção na telona. O que deixa triste os cinéfilos é que a trama poderia ter uma melhor evolução.
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10/06/2015

Crítica do filme: 'Jurassic World - O Mundo dos Dinossauros'


Os animais são todos iguais, mas uns são mais iguais que outros. Aquela trilha sonora nostálgica, marcante (dessa vez assinada por Michael Giacchino), aquela tensão que um bom blockbuster pode provocar, o desejo do espectador de ser transportado para uma história criativa e cheia de efeitos mas com conteúdo. Esse mundo fabuloso de animais adorados por muitos, mereciam um filme do tamanho do carinho que toda essa franquia conquistou ao longo desses últimos anos. E conseguiram.  Dirigido pelo desconhecido cineasta californiano Colin Trevorrow, Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros, além de tudo que os efeitos especiais podem comprar é uma experiência inteligente que faz o espectador pensar sobre a origem das espécies a cada instante.

Na trama, acompanhamos a aventura de dois irmãos em um parque de diversão cheia de dinossauros tentando lutar pela sobrevivência após a fuga de um dinossauro geneticamente manipulado. Para ajudá-los, a administradora do local Claire (Bryce Dallas Howard) contará com a ajuda do domador de dinossauros Owen (Chris Pratt), especialista em terópodes que viveram aproximadamente a 75 a 71 milhões de anos atrás, também conhecidos como Velociraptors.

O roteiro é bem amarrado, causas e consequências bem exploradas, personagens bem definidos dentro da trama e ótimos diálogos. Além de tudo, e talvez o mais interessante de todo o contexto que cerca esse blockbuster, faz uma viagem ao complexo mundo das engenharias genéticas, é criado um híbrido geneticamente temido até pelos próprios dinossauros. Há também um paralelismo no instinto dos animais muito bem embasada, com vários argumentos fazendo o público imaginar e  tirar suas próprias conclusões sobre as ações dos personagens.

Falando em personagens, esses exalam carisma, está no Dna dessa fabulosa história. O sucesso do novo parque, gera desejos ambiciosos de quem o controla. Claire (Bryce Dallas Howard) é um ponto importante da trama. Controladora, certinha, possui uma jornada muito interessante dentro da história e se torna a personagem que mais se aproxima de uma realidade próxima à nossa. O ótimo ator indiano Irrfan Khan (do espetacular The Lunchbox) é o novo dono da festa, pena que sua participação foi encaixada na margem de segurança de todo filme norte-americano chamada clichê.  Talvez o mais querido de todos seja mesmo Owen (interpretado pelo iluminado ,mais uma vez, Chris Pratt), um intrigante personagem que descobriu uma maneira de fazer alguns dinossauros o obedecerem.

Você se arrepia, você fica em estado de tensão, você se diverte. , Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros é um filme imperdível. Vale o ingresso.
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