15/04/2020

Crítica do filme: 'O Chefe'


As verdades quando são descobertas se desenrolam com mais naturalidade do que quando são apenas ditas pelos outros. Debutando em longas após uma série de curtas-metragens, o cineasta espanhol Sergio Barrejón traz para a tela do streaming Netflix a comédia O Chefe. O projeto é uma sucessão de mudanças na vida de um empresário importante que vão desde sua separação, o inusitado encontro com uma colombiana, até os novos rumos de sua complicada empresa. Escondido no catálogo, o filme passa na média mesmo não conseguindo ir além de uma superfície tapada por clichês mas com a vantagem de ter muito carisma nas atuações de seu elenco.

Na trama, conhecemos o endinheirado e CEO de uma empresa que ele mesmo criou, César (o ótimo Luis Callejo), um homem que atravessa uma fase difícil na vida com a eminente separação de seu casamento de anos, o distanciamento de seu único filho, e a surpreendente notícia de que alguém de sua própria empresa o está roubado faz anos. Munido de uma personalidade explosiva, que aflora na semana que vai definir de vez os rumos de sua vida dali pra frente, em uma noite trabalhando até tarde no escritório acaba conhecendo Ariana (Juana Acosta), uma faxineira colombiana que acaba criando um laço de amizade com o protagonista.

Uma coisa que sempre é importante em um filme e tentamos argumentar por aqui: o ritmo. Esse filme tem ritmo mesmo que não consiga romper as complexas barreiras da superfície quando pensamos em emoções e formas de lidar com as consequências preenchidas pelos atos que acompanhamos ao longo dos modestos 90 minutos de projeção. O filme é todo implementado na ótica de Cesar e sua conturbada visão do mundo, o desconstruir ao longo do filme desse personagem é um dos pontos positivos desse longa que pode não ser nem de longe a melhor comédia disponível na Netflix mas cumpre seu objetivo de tentar ser uma narrativa que busca ser envolvente, mesmo com defeitos.

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Crítica do filme: 'Frankie'


Os desejos de um momento chave na vida de uma pessoa que teve tudo na vida. Abordando um grave drama na vida de uma artista e suas escolhas que se sucedem a partir do acontecido, o cineasta norte-americano Ira Sachs volta às telonas, após um pequeno hiato de três anos, para dirigir mais um ótimo elenco na carreira no indicado à Palma de Ouro em Cannes no ano passado, Frankie. Pena que as peças não se encaixam, tentando dar leveza à profundidade e melancolia que o momento da protagonista corresponde, Ira Sachs (dos excelentes O Amor é Estranho e Deixe a Luz Acesa) acaba nos aparentando uma bonita paisagem apenas e uma porção de diálogos insossos com o grande elenco pouco inspirado. Sem dúvidas, uma das grandes decepções do ano.

Na trama, conhecemos a famosa atriz francesa Françoise Crémont, para os amigos íntimos Frankie (Isabelle Huppert), que resolve se refugiar na belíssima cidade de Sintra, em Portugal, chamando amigos e conhecidos de seu ciclo mais próximo para passar com ela seus últimos momentos, já que a protagonista está com uma doença que avança diariamente. Assim, conhecemos, entre outros, seu atual marido, o ex-marido, seu filho, sua enteada e uma velha amiga que ela tenta de todas as formas que fique com seu filho. Conforme os dias vão passando Frankie possui momentos de diálogos sobre a situação dela com a maioria desses personagens.

Um dos defeitos desse projeto é nunca conseguir alcançar seu clímax com força, na verdade até mesmo chegar no clímax acaba não conseguindo, se tornando tedioso assistir a uma série de diálogos que não se encaixam nos guiando a belas paisagens apenas. É como se estivéssemos assistindo a um daqueles programas de viagens turísticas que passam de madrugada na televisão, ou, aquele time de futebol que tem o domínio da bola, toca e toca mas não consegue chutar no gol. As subtramas também não ganham seu devido valor, deixando os potenciais coadjuvantes sumidos atrás dos desejos de manipulação da protagonista. Uma grande decepção, em muitos sentidos.

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14/04/2020

Crítica do filme: 'Borrowed Time'


As dores de traumas do passado em um ambiente hostil e cheio de melancolia. Um dos indicados ao prêmio de melhor curta de animação do Oscar de 2017, Borrowed Time utiliza a técnica de animação para dar luz a uma história que fala sobre como um momento pode guiar toda uma vida. Escrito e dirigido pelo trio da Pixar Andrew Coats, Lou Hamou-Lhadj e Mark C. Harris, o faroeste curtinho é um dos bons curtas de animações dos últimos anos.

Na curta trama, acompanhamos em rápidos dois tempos a história de um jovem e seu pai xerife que ao passar por uma situação de risco o segundo acaba morrendo nas mãos do filho. De volta ao mesmo lugar onde tudo ocorreu muitos anos mais tarde, o filho, agora velho e que seguiu na carreira da lei também, precisa enfrentar seus traumas do passado.

Profundo e bastante humano. No universo de conjuntos das leis as emoções são muito intensas e traumas viram pesadelo que podem percorrer durante anos. Essa relação de perda entre filho e pai nos leva a questionar valores e situações, quando há mais pingos de consequências para qualquer ato principalmente quando pensamos no perdoar, no sem querer. A mágoa com o ex-momento o leva a tal das segundas chances, onde alguns conseguem atravessar a ponte do sentido daquilo tudo que viveu. Borrowed Time é bruto em sua essência mas necessário para muitas almas.

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Crítica do filme: 'Pearl'


Impressionante como em 6 minutos dizem tanto sobre quanta coisa para muita gente. Escrito e dirigido pelo cineasta Patrick Osborne (que antes trabalhara na equipe de animação de Big Hero e O Avião de Papel), Pearl é comovente do primeiro ao último minutinho. Profundo em apresentar a relação de carinho e afeto entre pai e filha, o projeto consegue levar o espectador a uma road trip de amadurecimento e quando precisamos abrir mãos de nossos sonhos a favor de uma causa maior. Maravilhoso projeto indicado ao Annie Award de melhor curta animado e na mesma categoria no Oscar de anos atrás.

Na curta trama acompanhamos um pai músico independente e sua filha que atravessam cidades dentro de um carro antigo fazendo pockets shows pelas esquinas. A menina cresce, se torna adolescente e o pai vê a necessidade de ter um emprego fixo e mudar totalmente sua vida para dar mais chances para sua filha no futuro. A garota cresce e os sonhos esquecidos se tornam reais através de outros olhos.

As cores do filme preenchem para o espectador as emoções e os momentos, curioso perceber que quando estão dentro do carro as cores viram quase uma só reforçando o elo de amor e carinho dessa família de dois. Com poucos diálogos, conseguimos entender tudo pelo coração, principalmente as partes dos sonhos distantes e o recomeço pelo outro. O carro, valor mais importante desse elo, tem valor emocional, ele começa e terminar essa história que fica pra sempre em nosso coração cinéfilo.

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13/04/2020

Crítica do filme: 'A Volta por Cima'


Como conseguir ritmo e cenas com mensagens dentro de um caos camuflado de clichês? Mal ranqueado no imdb (fato que influenciam alguns cinéfilos) o filme francês A Volta por Cima é um baita achado para quem gosta de se divertir e perceber profundidade sociais características dos novos tempos nas entrelinhas. Escrito e dirigido pela dupla Remy Four e Julien War o projeto consegue tirar risos das situações menos inusitadas possíveis e com emblemáticos pontos quando pensamos na trajetória e inconsequências dos personagens principais.

Na trama, conhecemos, Jonathan (Jérôme Niel) e Pierre (Ludovik Day), dois amigos de longa data, bem sucedidos que descobrem uma comemoração da turma que estudaram quando criança e sofriam bastante bullying. Agora de bem com a vida, resolvem ir até esse encontro para se gabarem de seu presente mas acabam esquecendo que surpresas podem ocorrer quando se há um reencontro depois de muito tempo e obviamente nada sai como o esperado deixando a dupla em situações onde precisarão tomar decisões rápidas para se sentirem bem.

Todo o entorno do esqueleto do roteiro de A Volta por Cima já foi visto e revisto diversas vezes em muitos outros filmes, europeus ou não. A questão do bullying, a questão do ‘antes e depois’, reunião de amigos da escola, etc. A fórmula nesse caso funciona bem por conta da trivial profundidade que se dá através dos atos dos protagonistas e de tudo que acaba girando ao redor dessas atitudes. Assim como muitos do lado de cá da telona, Jonathan e Pierre através do seu esforço e dedicação, buscam uma certa vingança pelo sofrimento e traumas do passado mas acabam entrando em uma jornada onde esquecem um pouco quem são, e somente mais pra frente, ficam em conflito quando vestem de vez a camisa do que são como pessoa.

Lançado em agosto do ano passado na Netflix, esse pequeno tesouro está escondido na poderosa do streaming. Se você quiser se divertir, não perca seu tempo e assista a esse filme, um filme com alta sensibilidade camuflado de pipocão.  

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Crítica do filme: 'Um Amor, Mil Casamentos'


Algumas reviravoltas que matam a experiência do espectador. Um Amor, Mil Casamentos, novo filme no catálogo da Netflix nesses tempos de pandemia tanta causar riso adotando a fórmula de Morte no Funeral (o original principalmente) mas que se perde totalmente após uma inusitada rebobinada que joga fora toda o primeiro arco. A partir daí tudo se desmonta e contamos os minutos acabarem lentamente como um grande sofrimento que nossos olhos estão sendo testemunhas. Dirigido pelo cineasta britânico Dean Craig (roteirista de Morte no Funeral), o filme bate na tecla da repetição e dos clichês se tornando mais um filme esquecível.

Na trama, conhecemos Jack (Sam Claflin) um jovem engenheiro estrutural beirando aos 30 anos que durante uma passagem pela Itália para visitar sua irmã, acaba conhecendo Dina (Olivia Munn) e se apaixona mas a despedida deles não foi como a esperada. Anos mais tarde, o protagonista está de volta à Itália para, agora, o casamento da irmã e tem a chance de reencontrar esse provável amor, só que outras subtramas e outros excêntricos personagens aparecerão para transformar tudo em uma grande confusão. O filme conta com uma peculiar rebobinada que mexe bastante nos rumos de todos.
 
Será que o sonho de todo roteirista é driblar os clichês e analogias óbvias com outros filmes? Acredito que não, porque, como todos sabem, cinema é uma indústria e agradar a parte do público com risadinhas e momentos tragicômicos limitados acaba virando receita de bolo de muitas produções ao longo de todos os anos. Em Um Amor, Mil Casamentos o filme começa de uma forma e seu desenrolar se perde completamente deixando claro e evidente a falta de carisma dos personagens e muita falta de força cênica. Tudo é extremamente forçado, com ritmo descontrolado munidos de caras e expressões de espanto/cômicas.

Sem pretensão em tentar ser um bom filme a mais do que um tipo de público, as limitações são migalhas reunidas desde o primeiro minutos até o sonolento desfecho. Abordar ações e consequências em ‘estradas’ diferentes são para poucos, talvez se adotassem a fórmula do ponto de vista seria mais certeiro. Fora que, em minutos momentos parece uma cópia muito mal feita de Morte no Funeral. Isso incomoda que pesca as referências.

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Crítica do filme: 'Confissão de Assassinato'


As verdades que aparecem através da paciência. No seu segundo longa-metragem como diretor, no ano de 2012, o cineasta sul-coreano Byung-gil Jung (que depois realizaria o bom filme A Vilã, em 2017) reuniu tudo de excelente em técnicas cinematográficas dentro de um roteiro assinado por ele e a dupla Won-Chan Hong e Dong-kyu Kim, culminando em um filme de suspense, com uma genial reviravolta onde o espectador não consegue desgrudar os olhos durante as quase duas horas de projeção. Um projeto impactante que marca mais uma vez uma excelência do cinema sul-coreano de reconhecimento mundial.

Em Confissão de Assassinato, Nae-ga sal-in-beom-i-da no original, somos apresentados a um detetive chamado Choi (Jae-yeong Jeong em grande atuação) que há 17 anos atrás deixou escapar um serial killer, responsável pela morte de no mínimo 10 mulheres em uma grande cidade da Coreia do Sul. Sempre incomodado como a forma que ocorreu o desenrolar dessa história, certo dia, Choi é surpreendido por um homem chamado Lee Du-seok (Shi-hoo Park) que publica um livro chamado Confissão de Assassinato onde assume as responsabilidade dos crimes cometido 17 anos atrás. Virando uma celebridade instantânea e protegido pelas leis coreanas de crimes prescritos após esse período de distância entre as mortes e seu reaparecimento, Lee Du-seok confundirá a cabeça do detetive, ainda mais quando uma terceira pessoa entre na história alegando ser o verdadeiro assassino.

Não é à toa que o cinema sul-coreano detém mais de 60% da bilheteria em seu país faz mais de um década. Não perdem em nada a maioria dos filmes feitos ao redor do planeta. A qualidade é impressionante e parece que a cada nova geração de realizadores sul-coreanos a margem de satisfação dos cinéfilos só aumenta. Em Confissão de Assassinato, filme do início da década, nada é o que aparenta ser e esconder esses segredos do público é algo muito difícil mas que, nesse caso, é feito com bastante maestria. Além do esqueleto do roteiro e seus background bem definidos, há pitadas de crítica em relação a imprensa e ao entendimento da situação pelo público já oriundo dessa onda de massificação instantânea das ‘pseudocelebridades’.

Se você leitor, curte filmes empolgantes, surpreendentes e muito bem filmados, você não pode perder esse excelente projeto que, a não ser que eu esteja enganado pois estou puxando de memória sem pesquisar, nunca chegou ao circuito brasileiro de exibição. Um absurdo tamanho e pior que isso acontece com frequência, principalmente com os filmes orientais. Porque será? Falta de visão das distribuidoras? Falta de faro cinéfilo? Sim, entre outras questões.

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11/04/2020

Crítica do filme: 'The Way Back' (O Caminho de Volta)


As segundas chances para quem precisa e as oportunidades diferentes que a vida oferece. Com um background bem definido falando sobre o alcoolismo, The Way Back é um poderoso drama que dribla os clichês com bastante proximidade com a realidade, fruto de uma interpretação bastante honesta do intérprete do protagonista, Ben Affleck, sem dúvidas, um dos seus grandes trabalhos na carreira. Dirigido pelo cineasta nova iorquino Gavin O'Connor (O Contador) e roteirizado por Brad Ingelsby (Tudo por Justiça) essa grata surpresa é mais um dos lançamentos desse ano que vão direto para plataformas digitais por conta da crise dos cinemas pela pandemia que o mundo atravessa.

Na trama, acompanhamos o desiludido, deprimido, alcóolatra, ex-astro dos campeonatos de basquete do high school na década de 90 e atualmente trabalhador de obras Jack (Ben Affleck). O protagonista passa seus dias entre um gole e outro, tendo uma relação bastante explosiva com sua irmã e um distanciamento da ex-esposa. As coisas parecem tentar mudar para Jack quando seu telefone toca e uma inesperada oportunidade de treinar um time de basquete de um colégio onde estudou aparece. Mas problemas do seu passado voltam a atormentar e o personagens trilhará um caminho complicado em busca de uma luz no fim do túnel.

Com arcos bem definidos, fica claro desde o início que o foco é o protagonista e as analogias do ganhar ou perder se tornam escancaradas aos olhos cinéfilos, sendo nos jogos de seu novo time, ou, seja nos caminhos espinhosos de dramas inesquecíveis de seu passado. Jogando com essa variável das emoções congeladas no tempo a construção desse complicado protagonista é feita com muita honestidade por Affleck, o trabalho corporal, inclusive, é muito visível.

Muito mais do que vencer partidas como treinador de um time de jovens, Jack busca encontrar um real sentido para sua vida após uma perda irreparável e o abismo de um vício terrível que assombra milhares de pessoas mundo à fora.

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Crítica do fime: 'Vivarium'


As impossibilidades de viver em uma loucura e a insanidade de um argumento que não existe. Em seu segundo longa como diretor, o cineasta Lorcan Finnegan consegue reunir toda uma insana trama, jogar dentro de um processador críticas sociais, no que vale a intimidade de um casal, e, como cereja do bolo, uma série de cenas sem pé nem cabeça fazendo o espectador perder mais de uma hora e meia do seu precioso tempo. Tudo dá errado em Vivarium!

Na trama, conhecemos Gemma (Imogen Poots) e Tom (Jesse Eisenberg), um jovem casal que vive feliz seu dia a dia. Eles estão na fase de morarem juntos e assim decidem irem procurar alguma imobiliária que os atraia. Passando após o trabalho em uma específica, entram e logo são envolvidos pelo agente imobiliário para visitarem naquele mesmo dia a residência. Chegando lá, a surpresa! Um imenso condomínio com todas as casas iguais e onde nada é o que parece, principalmente na hora de tentar ir embora.

Depois de estrear no Festival de Cannes ano passado, e um dos filmes transferidos da janela cinema para o streaming por conta da pandemia desse ano, Vivarium é o tipo de filme que ou você ama ou você odeia. É uma trama muito complicada de explicar sem causar spoilers mas podemos afirmar que a excentricidade rola solta e o espectador fica a todo tempo tentando buscar referências/argumentos para o que capta na tela. Tentando ir a fundo na questão existencial de um casal, o filme passa por metáforas recriadas do absurdo e seus desenrolares.

Olha, tá pra existir um filme mais louco do que esse nesse século. As peças não se encaixam, a direção é fraca, tudo é muito artificial. Nada faz sentido quando você abre a ótica fora relacionamento entre o casal e os atritos dentro do imaginário mundo criado. Você se sente jogando The Sims com extensão em filmes de terror a todo tempo. Uma perda de tempo.

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10/04/2020

Crítica do filme: '7 Ãnos'


As verdades íntimas de pessoas que pensamos conhecer. Dirigido pelo cineasta espanhol Roger Gual, 7 Ãnos mais parece uma peça de teatro com situações que se desenvolvem através dos argumentos de cada uma das pessoas envolvidas em uma trama que definirá o futuro de uma empresa e de cada um deles. Instigante e com ótimas críticas sociais, o filme navega entre a linha tênue entre o certo e o errado e nos mostra um certo eufemismo em argumentos pretenciosos de vilões capitalistas.

Na trama, conhecemos Vero (Juana Acosta), Marcel (Alex Brendemühl), Luis (Paco León) e Carlos (Juan Pablo Raba), quatro sócios majoritários de uma empresa em crescimento milionário que são convocados em pleno sábado, dia que não trabalham, para uma reunião emergencial onde um deles precisará assumir a culpa de um problema contábil e ir para a prisão durante 7 anos para poder salvar a empresa e a todos os outros. Sem saberem direito como tomar alguma decisão, o quarteto que se diz muito amigo contrata um mediador profissional para acompanhar os rumos dessa curiosa decisão.

Durante as horas que se seguem de maneira bastante acalorada, descobrimos traições, amores escondidos, pensamentos nunca expostos, além, de todo e qualquer tipo de argumento para ‘tirar o seu da reta’. É um jogo de egoísmo e egocentrismo onde duplas de tornam trios e de repente ficam sozinhos, em discussões que vão desde os primórdios da empresa até a necessidade de cada um deles estarem no presente e nos rumos que deveriam tomar. Lealdades são colocadas à prova a todo instante rumando a um desfecho para lá de simbólico. Bom filme, disponível na Netflix.

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Crítica do filme: 'Icare'


Os sonhadores sempre tentam dominar o mundo em que vivem. Escrito e dirigido pelo cineasta Nicolas Boucart, o média-metragem Icare, no original, indicado ao Magritte Awards de melhor filme não longa e um dos 10 curtas semifinalistas ao Oscar 2019 de Curta-Metragem de Ficção, brinca em forma de fábula sobre o conflito emocional entre a utopia e a distopia. Com poucas falas, usa de um simbolismo de imagens bastante simples e objetivo. Destaque também para a bela fotografia que acompanha essa história cheia de questões.

Acompanhamos nos curtos 27 minutos de projeção, um homem que acorda por viver de solidão, isolado em uma única casa numa ilha, em lugar não bem determinado. Ele é um inventor e através de analogias e pensamentos através de coisas que ouviu e/ou leu/aprendeu, acredita que apenas um jovem teria a capacidade de voar através de uma pequena engenhoca que inventara. Logo, ele consegue o candidato ideal para seu experimento.

As metáforas atravessam essa história que sendo atemporal por si só nos faz pensar na sociedade onde vivemos, nossos sonhos e as inconsequências dos atos que por si só não se validam pelo extremo viver. Entre sonhos e verdades através do modelo empírico do funcionar ou não sua invenção, o protagonista nos leva a pensar e a pensar...será que ele consegue voar?

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Crítica do filme: 'Minha Mãe é uma Peça 3'


A necessidade de atenção de uma mãe com os filhos já criados e suas descobertas sobre a esquecida arte do viver. Uma das grandes trilogias do cinema brasileiro contemporâneo, quando pensamos pura e exclusivamente em bilheteria (ingressos vendidos), Minha Mãe é uma Peça 3, baseado no estrondoso sucesso no teatro de Paulo Gustavo, é a continuação da história de uma família que o Brasil aprendeu a amar. Reunindo todos os personagens dos filmes passados e adotando curtos flashbacks entre arcos para sintonizar a emoção e pensamentos do presente, o filme dirigido por Susana Garcia (Minha Vida em Marte), pouco antes do fechamentos dos cinemas por conta da pandemia que domina o mundo, Minha Mãe é uma Peça 3 se tornou o filme mais lucrativo da história do cinema nacional.

Na trama, acompanhamos uma nova fase na vida da Dona Hermínia (Paulo Gustavo), moradora de Niterói no RJ, que vê seus filhos saírem de casa e começarem a construção de suas famílias, Marcelina (Juliana Xavier) grávida e Juliano (Rodrigo Pandolfo) prestes a se casar com seu namorado. Buscando fugir da rotina: farmácia, feira, casa, a simpática mãezona se mete nas conhecidas discussões sobre a vida e assim busca aprender a viver esse momento de sua vida.

Não há como negar que Paulo Gustavo é um grande comediante, conquista o público toda vez em cena, e sem dúvidas a Dona Hermínia é seu grande personagem da carreira, não só no cinema, mas no teatro, nesse último onde começou. Entretanto, nesse terceiro filme, a fórmula parece batida demais e se torna forçada a todo instante tentando buscar caminhos aleatórios para se fazer mais um filme. Outra coisa, porque será que muitos filmes nacionais precisam de viagens internacionais para contornar suas histórias? Há tanta necessidade de viajar assim para seus personagens? Falta uma generosa pitada de criatividade as vezes aos nossos roteiristas de ‘blockbusters internos’. Orçado em cerca de 8 milhões de reais, o filme arrecadou mais de 140 milhões somente em bilheteria.

Batido dentro de um liquidificador com uma fórmula adotada em outros filmes de comédia brasileira, Minha Mãe é uma Peça 3 usa e abusa de seu intérprete principal, com seus improvisos, para ser diferente e buscar alguma originalidade.

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09/04/2020

Crítica do filme: 'Nefta Football Club'


Nas linhas da ingenuidade, propósito e razão nunca desaparecem. Um dos indicados ao Oscar de Melhor Curta desse ano, Nefta Football Club usa da criatividade de um assunto comum com a fragilidade do olhar ingênuo. Sacada bastante interessante do cineasta Yves Piat que entre outros pontos incorpora à sua história a essência do futebol pelo olhar das crianças.

Ao longo dos quase 17 minutos de projeção, conhecemos rapidamente dois irmãos que estão sozinhos andando de moto por uma estrada deserta da Tunísia (próximo à fronteira com a Argélia) até que eu deles precisa urinar e acaba avistando um burro com o headphone e uma carga curiosa: um pó branco que, no modo deles enxergarem, parece sabão em pó. Tentando descobrir ao certo o que é aquele produto, o mais velho bola um plano para tentar negociar aquilo, enquanto o mais novo acaba tendo outros planos.

Todo curta bom precisa ser impactante em algum momento, pois são poucos minutos para se fazer o público se interessar pelo que acontece em tela. Nefta Football Club consegue reunir elementos que juntos constroem um desfecho com mensagem positiva, pra lá de emblemática, onde a pureza e a ingenuidade vencem qualquer tipo de caminho.

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Crítica do filme: 'O Despertar de Motti'


Um destino traçado é uma adaga no coração de quem quer respirar ares de liberdade e realizar suas próprias escolhas. Indicado ao último Oscar na categoria de Melhor Filme Estrangeiro pela Suíça, e lançado pelo streaming em diversos países (incluindo o Brasil por meio da Netflix), O Despertar de Motti conta as sequentes confusões de um jovem universitário que em busca de sua felicidade, resolve ir contra tudo que aprendeu com sua família, principalmente o casamento arranjado. Delicado e com ótimo tempo de comédia, o longa-metragem dirigido pelo cineasta suíço Michael Steiner é uma grande aula sobre tradições. Um ótimo achado no catálogo da toda poderosa do streaming (que deve estar lucrando horrores nesses tempos de coronavírus).

Na trama, conhecemos o tímido Motti Wolkenbruch (Joel Basman), um jovem exemplar que se dedica à faculdade de economia de tarde e pela manhã ajuda seu pai na contabilidade da empresa da família. De família Judia Ortodoxa, enfrenta o maior obstáculo da vida quando se apaixona por Laura (Noémie Schmidt), uma colega de faculdade que não é Judia Ortodoxa e isso deixará sua mãe e família com a pulga atrás da orelha. Mas Motti, movido por esse sentimento tão grandioso que temos como o amor, quer navegar e ser comandante de seu próprio destino, nada arranjado.

Em 94 minutos de filme somos testemunhas de uma grande transformação que passa o protagonista. No início tímido e com aspectos de fraquezas nas escolhas que passam pela sua frente, se torna um corajoso jovem em busca de uma felicidade que lhe faça se sentir bem e feliz. O conflito religioso/costumes é visto em vários filmes, de diversas formas, ano após ano e praticamente sobre todas as religiões e tradições que andam por esse nosso mundo. O que faz acontecer o destaque, nos bons filmes que abordam o tema, é ter uma personalidade própria e personagens carismáticos. Exatamente o que ocorre com essa fita.

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Crítica do filme: 'O Declínio'


A responsabilidade de todos é o único caminho para a sobrevivência. Disponível no catálogo da Netflix desde o finalzinho de março desse ano, O Declínio conta de maneira desapiedada a falta de limites da filáucia humana quando se enxerga em uma situação inquietante, onde cada escolha é vital. Ao longo dos intensos 83 minutos de projeção, somos colocados como testemunhas de até onde o ser humano pode ir para defender seu ponto de vista, flertando a todo instante com empáfia. A direção é do cineasta Patrice Laliberté, que debuta na posição nesse interessante projeto.

Na trama, conhecemos Antoine (Guillaume Laurin) um pai de família que logo percebemos é um aficionado em proteção e muito fã de um youtuber que fala sobre táticas de sobrevivências caso o mundo entre em parafuso por qualquer motivo. Querendo ir mais a fundo nesses ensinamos, que vão desde o manuseio de armas e armadilhas, até como estocar arroz por 20 anos, o protagonismo resolve ir ao treinamento pessoal desse youtuber, que é em uma área isolada cheia de neve no interior de Quebec. Chegando lá, ele e mais alguns alunos precisarão enfrentar uns aos outros quando, após uma aula de explosivos, um deles acaba morrendo acidentalmente. Sem saberem o que fazer, se chamam a polícia ou não, a loucura toma conta do lugar.

Tudo é muito rápido até se chegar ao clímax. De maneira bem objetiva e deixando rastros de sangue em muitas cenas, a trama se desenvolve com arcos curtos e que se blindam pelas inconsequências do instinto de sobrevivência que é instaurado. É quase como se o feitiço virasse contra o feiticeiro, pois, esse último, nunca pensou ou concluiu uma análise mais completa sobre a mente humana e como ela reage em determinadas situações extremas. O jogo de gato e rato se desenvolve quando as escolhas já estão feitas, o bem contra o mal? Talvez, mas cada um precisa chegar na sua conclusão. Uma fita interessante, para se pensar na sociedade e em tempos como o do coronavírus e todo o egoísmo que ainda vemos, principalmente dos que insistem em fugir de uma necessária quarentena.  

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