19/11/2018

Crítica do filme: 'Nasce uma Estrela'


Um dos fenômenos em bilheteria no Brasil e no mundo esse ano, Nasce uma Estrela é um comovente remake que empolga em muitos momentos mas deixa a desejar em alguns detalhes. A direção surpreendente de Bradley Cooper é um dos pontos altos desse trabalho que conta com a cantora Lady Gaga como uma das protagonistas. Misturando música, aflições, dramas pessoais, embarcamos em uma história de conquistas e perdas sob um pano de fundo de altos solos de guitarra, interpretações musicais marcantes com um desfecho que ficará na memórias de muitos por muito tempo.

Na trama, conhecemos a esforçada Ally (Lady Gaga) uma sonhadora que vive de trabalhos pingados mas não deixa de se apresentar como cantora em uma boate na cidade onde mora. Certo dia, em mais uma dessas apresentações acaba sendo avistada pelo famoso músico  Jackson Maine (Bradley Cooper) que fica encantado pela jovem. A partir desse encontro, os dois ficam cada vez mais próximos, apaixonados, e Jackson não medirá forças para conseguir a chance de sucesso que Ally buscava. Mas como tudo na vida tem um preço, o sucesso de Ally acaba afetando demais o relacionamento próximo dos dois.

Refilmagem do homônimo Nasce uma Estrela de 1937, que teve outros dois remakes, lançados em 1954 e 1976, essa produção de 2018 consegue manter a essência de todos os outros filmes do passado, adaptando uma sonoridade empolgante além de uma direção bastante elogiável de Cooper, que também protagoniza o filme. Existem muitos momentos marcantes, outros um pouco mornos. Gaga cantando é uma força da natureza, usa e abusa dessa proteção, deixando a desejar em algumas partes mais emotivas, onde não está com o microfone ou perto do piano. Mas não deixa de ser um trabalho correto da famosa cantora. Sua personagem é um dos epicentros do ótima crítica à indústria da música que navega pelo filme na ascensão da carreira de Ally.

O filme cresce em intensidade quando fica mais gritante a descida de ladeira de Maine. Alcoolatra tentando se curar, busca soluções para problemas de seu conturbado passado e principalmente sua relação com o irmão mais velho Bobby (Sam Elliott em atuação digna de Oscar). Aliás, o diálogo entre os dois perto do final do filme com uma forte revelação de Maine é um dos momentos mais belos exibidos em uma tela de cinema esse ano.

Forte concorrente ao próximo Oscar, em diversas categorias, Nasce uma Estrela é um filme/trilha com muita potência, com solos de guitarra de arrepiar e uma dedicação importante de todos os envolvidos no projeto, é muito forte se ouvindo quase tão forte se vendo.

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18/11/2018

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Crítica do filme: 'Culpa'


Depois de dirigir um curta e dois episódios do seriado dinamarquês Bedrag, o cineasta sueco Gustav Möller chega ao mundo dos longas metragens de maneira impactante, com o surpreendente thriller Culpa. Exibido no Festival de Sundance e na Mostra de São Paulo desse ano, o projeto nos leva para dentro de uma sala de ligações de emergências da polícia da Dinamarca onde uma ligação misteriosa revela surpresas que se confundem sobre a vida pessoal do protagonista, interpretado com brilhantismo pelo ator sueco radicado na Dinamarca Jakob Cedergren (Submarino).

Na trama, conhecemos Asger Holm (Jakob Cedergren) um policial com um passado recente conturbado e que será julgado por suas ações em um episódio não esclarecido que contou com a cobertura de amigos que estavam no local. Designado para atender ligações de emergência da polícia Dinamarquesa, possui um comportamento apreensivo e repleto de tensão, principalmente após receber uma ligação de uma mulher desesperada dando a entender que fora sequestrada por seu marido. A partir dessa informação e entre ligações e cortes de sinal, Asger tenta solucionar essa misteriosa situação e ajudar a quem realmente é a vítima dessa história.

Parecido em alguns pontos com o ótimo Locke (filme estrelado por Tom Hardy que absurdamente nunca estreou no circuito brasileiro de exibição), principalmente no fato de ter apenas (ou quase) fisicamente um protagonista sempre em cena, Den Skyldige , no original, se desenrola de maneira alucinante, rompendo a barreira da mesmice ou superfície, repleto de plot twists de surpreender os olhos mais atentos. Quando cava fundo na vida recente de Asger, somos surpreendidos com a composição de sua personalidade e entendemos melhor toda a tensão e reflexão que o personagem passa por conta dessa ligação intrigante. A culpa é um filme de tirar o fôlego, todas as peças se encaixam aos poucos e torcemos para chegar as conclusões dessa misteriosa trama.

Programado para estrear no circuito de exibição brasileiro no dia 20 de dezembro ainda desse ano, com menos de 90 minutos de projeção, Culpa é um dos ótimos thrillers que serão lançados nas próximas semanas.

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Crítica do filme: 'Papillon'


Quando a amizade tenta superar as barreiras do destino. Tentando apresentar para a nova geração dos cinéfilos, além de invocar os pensamentos nostálgicos uma história bastante conhecida do mundo dos livros e baseada em fatos reais, além de um longa metragem emblemático de décadas atrás, Papillon (2018) cumpre com bastante eficácia a essência dessa saga entre duas pessoas que vão se conhecendo ao longo do tempo e em condições desumanas.

O filme, que marca a estreia do cineasta dinamarquês Michael Noer em Hollywood, conta a trajetória de Henri Charrière (Charlie Hunnam), conhecido como Papillon, um criminosos que rouba cofres que fora incriminado de assassinato injustamente e acaba parando em uma prisão bastante rigorosa e desumana no meio da Guiana Francesa. Pensando todo dia em como fugir desse lugar, acaba conhecendo Louis Dega (Rami Malek), um homem preso por estelionato com instituições financeiras. Juntos, lutando contra a solidão e loucura do confinamento, começam aos poucos a planejar o que seria uma fuga digna de cinema.

O foco total é a amizade, tendo como plano de fundo as terríveis ações sofridas pelos prisioneiros, em ações desumanas. Há uma forte crítica ao governo francês da época que mandavam seus prisioneiros para outro país para serem praticamente esquecidos pela civilização. Sem fugir dos fortes personagens, encontramos a união entre a razão e emoção. Papillon é o corajoso, destemido, que bola ideia mirabolantes ligadas à inconsequente e a vontade de sair daquele inferno. Dega é o intelectualizado, a razão, mesmo frágil, que orienta e faz com que as ideias de Papillon sejam possíveis.

Pra quem curte Um Sonho de Liberdade, Prison Break e derivados, e ainda não conhecem essa história imortalizada no cinema na década de 70 por Steve Mcqueen e Dustin Hoffman nos papéis principais, pode ser que se interessar em descobrir o desenrolar dessa inacreditável fuga.

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Crítica do filme: 'Benzinho'


Os filhos são para as mães as âncoras da sua vida. Exibido no importante Festival de Sundance desse ano, Benzinho conta todas as dificuldades de uma família moradora da região de Petrópolis no Rio de Janeiro, seja no lado financeiro, seja no lado emocional com a eminente partida do filho mais velho para uma nova oportunidade na Alemanha. O longa, dirigido por Gustavo Pizzi (do ótimo Riscado), gira todo em torno da forte personagem Irene, interpretado magistralmente pela excelente atriz brasileira Karine Teles. Entre as dificuldades do cotidiano, o amor não falta nesse grande retrato de família brasileira.

Na trama, super elogiada pelos críticos não só no Brasil, conta a saga de Klaus (Otávio Müller) e Irene (Karine Teles), pai e mãe de quatro filhos que vivem a cada dia tendo que matar um leão para que a felicidade reine no lar deles. Os negócios de Klaus, que tem uma copiadora, e o trabalho de vendedora sem dinheiro fixo de Irene, não vão muito bem e associado a isso, a irmã de Irene, Sonia (Adriana Esteves) busca refúgio na casa deles após ser agredida pelo marido Alan (César Troncoso). Para completar as variações emocionais presentes nesse presente da família, o filho mais velho do casal Fernando (Konstantinos Sarris) é chamado para jogar handball profissionalmente na Alemanha, fato esse que mexe demais com Irene.

Buscando retratar o cotidiano também de muitas famílias brasileiras, que buscam com bastante esforço ter o melhor para dar na criação de seus filhos, Benzinho navega com muita profundidade sobre as angústias, alegrias e surpresas que chegam a eles diariamente. Todos em cena brilham mas o foco principal fica com Irene e o grande conflito que enfrenta por não aceitar muito bem a ida de Fernando para longe de casa por tanto tempo. Mesmo reconhecendo ser uma oportunidade de vida para o filho, Irene não consegue esconder sua insatisfação. Mas o longa metragem (que poderia ser o indicado do Brasil ao próximo Oscar tranquilamente) não se prende só a esse conflito, as razões financeiras e dificuldades de uma vida melhor chegam como plano de fundo assim como a situação de Sonia que busca refúgio na casa da irmã.

A emoção não deixa de estar contida em cada cena, seja nas felicidades, seja nas tristezas. Benzinho é um retrato muito bem feito sobre milhares de outras famílias, seus dramas e suas forças para enfrentar de cabeça erguida as loucuras desse mundo tão cheio de obstáculos em que vivemos, principalmente aqui no Brasil.

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Crítica do filme: 'Juliet, Nua e Crua'


As armadilhas do destino e a quantidade de açúcar que pode ter uma relação. Dirigido pelo cineasta Jesse Peretz (de trabalhos pouco expressivos até então), Juliet, Nua e Crua conta a saga de uma mulher em busca de novos desafios no campo amoroso após perceber que o atual relacionamento que se encontra não está dando o resultado que deseja. Com personagens excêntricos e guiados pelo universo da música de alguma forma, o longa-metragem é uma grande viagem rumo as aberturas das portas que o destino realiza de vez em quando. O filme é protagonizado pela competente atriz Rose Byrne e o astro norte americano Ethan Hawke.

Na trama, conhecemos a pacata Annie (Rose Byrne), que trabalha com exposições em uma pequena cidadezinha inglesa. Annie está presa em uma relacionamento morno com o complicado Duncan (Chris O'Dowd). A vida dos dois é envolvida por conta do verdadeiro vício de Duncan, a idolatria a um cantor chamado Tucker Crowe (Ethan Hawke) que fez muito sucesso anos atrás mas que do nada sumiu do mapa. Certo dia, após querer implicar com Duncan por conta de um fórum ministrado por Duncan na web, o verdadeiro Tucker Crowe entra em contato com Annie e assim começa-se uma jornada surpreendente rumo ao desconhecido, para todos os envolvidos.

Baseado no livro homônimo do famoso escritor britânico Nick Hornby (Alta Fidelidade), o roteiro adaptado busca na simplicidade explorar a excentricidade. Há uma desconstrução evidente da personagem Annie, nosso guia nessa jornada de descobertas, o que deixa o filme bastante interessante. A relação ídolo x fã , entre Duncan e Tucker também é pra lá de reflexiva, principalmente quando percebemos que o fã interpretou de maneira errada e durante muitos anos tudo que o ex-astro da música buscava dizer com suas canções. Quando o passado de Tucker é um pouco além da superfície mostrado, percebemos um fechamento de um ciclo e um pouco de compreensão maior de como ele se tornou uma pessoa ressentida e principalmente o porquê de sua tão profunda solidão.  Esses três personagens sofrem com obsessões, uma certa depressão escondida e buscam explicações para seguir em frente.

Nem toda comédia romântica precisa terminar com um final óbvio, esse é um dos grandes méritos desse singelo projeto, que passou voando pelo circuito exibidor brasileiro (talvez por conta da data e da maneira precipitada que fora lançado, sem divulgação quase nenhuma).

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17/11/2018

Crítica do filme: 'Legalize Já'


Eu quero ver se tu é homem, mané...Do jeito que eu fui e que eu sou. Dirigido pela dupla Johnny Araújo e Gustavo Bonafé (esse último com outro filme em cartaz, O Doutrinador) chegou aos circuito brasileiro de exibição semanas atrás, meio timidamente, o filme Legalize Já. Com uma estética toda em preto e branco, que dão um grande charme ao projeto, ao longo de menos de duas horas de projeção somos testemunhas de um encontro entre sonhadores que mudou para sempre não só a história deles mas toda uma geração musical da década de 90. Pode-se dizer que é uma cinebiografia da famosa banda Planet Hemp mas o filme é muito mais que isso, é um contemplar à amizade e os obstáculos enfrentados por jovens mentes criativas da cultural popular brasileira.

Na trama, conhecemos Marcelo (Renato Góes, longe de estar parecido com D2 mas com boa atuação) um camelô de blusas de rock and roll que trabalha no centro do RJ que vê sua vida mudar por alguns acontecimentos: a gravidez de sua namorada e o encontro inusitado com um engajado e viciado em música chamado Skunk (Ícaro Silva, em grande atuação). Aos poucos, se conhecendo melhor, entre brigas e vindas, resolvem investir tempo e criatividade no que viria a se tornar a inesquecível banda Planet Hemp.

Uma mistura de emoções contemplam as interseções entre os arcos aumentando a força da curiosidade sobre todos os temas explorados. Tudo que vemos é baseado em uma história real, todos (ou pelo menos a maioria de nós) conhece ou já ouviu falar de Marcelo D2. Mas e Skunk? Praticamente como uma grande homenagem a esse guerreiro sonhador, que descobre o mortal vírus daquela década e acaba não aproveitando as glórias de tudo que criou com D2, antes Marcelo, Legalize Já passa longe de falar somente sobre drogas ou qualquer pré-conceito que você possa estabelecer, conta a saga de dois amigos com um dom de por meio das palavras cantadas passar a todos um pouco do que viveram no seu dia a dia até chegarem até ali.

Eleito o Melhor Filme Brasileiro de Ficção na Mostra de Cinema de São Paulo 2017, Legalize Já vem passando desapercebido pelo circuito mas não se enganem, é um dos melhores e mais intensos filmes nacionais desse ano.

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16/11/2018

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Crítica do filme: 'Podres de Ricos'


Surpresas da vida modeladas aos exageros de um cinemão. Fenômeno surpreendente de bilheteria nos Estados Unidos nesse ano, Podres de Ricos desembarcou no circuito brasileiro de exibição semanas atrás tentando preencher a lacuna das boas comédias que assistimos de vez em quando no cinema. Baseado no livro de sucesso Crazy Rich Asians de Kevin Kwan, e dirigido pelo cineasta californiano Jon M. Chu (Truque de Mestre: o 2º Ato) o filme é uma grande sessão da tarde ao melhor estilo cinderela.O roteiro busca suas forças nos clichês, algo como aquela fórmula que já deu certo outras vezes, deixando pouca margem para suspiros mais profundos, mesmo assim funciona.


Na trama, conhecemos a feliz e inteligente professora de economia Rachel Chu (Constance Wu) que namora com o misterioso Nick (Henry Golding), de quem nunca conheceu a família. Certo dia e próximo de ser pedida em casamento sem saber, Rachel resolve aceitar o convite de Nick para viajar com ele para Singapura, onde irão juntos ao casamento do melhor amigo dele. Chegando lá, ela percebe que Nick é filho da família mais rica do país, herdeiro de uma fortuna inestimável e um dos solteiros mais cobiçados do lugar. Além de enfrentar toda a surpresa da revelação, precisará enfrentar as regras e desconfiança de Eleonor (Michelle Yeoh), mãe de Nick.

Com filmagens realizadas em Singapura e na Malásia (belíssimas imagens de lindos lugares), Crazy Rich Asians , no original, é a reunião de todo o glamour de riqueza dos personagens ricos das novelas, com pitadas do programa no estilo ‘fofocalizando’ e recheio de reality shows parecido com o das Kardashians. O roteiro é bem simples, superficial e abre margem para continuações, mesmo com personagens simpáticos não consegue fugir do rótulo de água com açúcar.

Melhor personagem e com certo ar de misteriosa, Eleonor, a mãe toda poderosa de Nick, sempre que em cena contribui para que o interesse chegue com mais força para a história que estamos sendo apresentados. Se continuações acontecerem e conseguirem profundidade nesse arco da trajetória dos pombinhos milionários, o eterno duelo entre nora e sogra, o segundo filme tem tudo para ser melhor que esse primeiro.  

Atualizado 02.08.2021.

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Crítica do filme: 'Infiltrado na Klan'


Baseado no livro de memórias Black Klansman, de Ron Stallworth, o novo trabalho do sempre genial cineasta norte americano Spike Lee é uma grande aula sobre as facetas da sociedade norte americana. Ao longo dos 135 minutos de projeção, com um roteiro completamente atemporal, Lee consegue criar uma fórmula de diversão (quando pensamos em cinema) com conscientização. Nomeado à Palma de Ouro em Cannes esse ano, sendo exibido também em festivais aqui no Brasil, Infiltrado na Klan é um daqueles filmes imperdíveis que você precisa ver no circuito esse ano.

Na trama, ambientada em Colorado no final da década de 70, conhecemos um esforçado  policial negro chamado Ron Stallworth (John David Washington - filho do ator Denzel Washington), que enfrenta diariamente preconceito dentro da própria corporação policial, até receber a chance de trabalhar no departamento dos infiltrados ao lado do policial judeu Flip (Adam Driver). Certo dia, precisa fazer uma investigação e por uma janela do destino consegue de maneira surpreendente se infiltrar na organização racista Ku Klux Klan.

Corajoso, desbravador, pulsante. Spike Lee é conhecido por seus filmes que escancaram aos espectadores assuntos polêmicos de toda uma sociedade. Em Infiltrado na Klan, consegue se superar, muito pela relevância e importância que esse projeto, com aquele desfecho para lá de apoteótico, tem para os olhos e ouvidos que vivem pelo planeta nos dias tão complexos como os de hoje. Tendo o preconceito como plano de fundo, busca argumentar sobre todos os lados da história.

Inteligente, instigante e surpreendente. Com ótimos diálogos, um sarcasmo milimetricamente encaixado e personagens bem construídos, Lee orquestra um grande debate que ultrapassa as milhares de telonas que o filme será exibido.

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15/11/2018

Crítica do filme: 'O Confeiteiro' (The Cakemaker)

As entrelinhas detalhistas de situações ligadas ao coração. Após quatro curtas metragens e trabalhos como editor e roteirista, o cineasta Israelense Ofir Raul Graizer escreve e dirige seu primeiro longa metragem que busca nos radapés das explicações emocionais respostas para situações que envolvem a vida de duas pessoas, uma na Alemanha e outra em Israel. O belíssimo roteiro se renova a cada movimento, a cada caminho que os personagens percorrem embalados por uma refinada trilha sonora. Um trabalho surpreendente e deveras interessante.

Indicado a categoria de melhor filme no importante Festival de San Sebastian em 2017, The Cakemaker, no original, conta a história de Thomas (Tim Kalkhof), um habilidoso, organizado e simples confeiteiro alemão que acaba se envolvendo com Oren (Roy Miller) um executivo de uma empresa de construção de trens, que mora com a família em Israel. Entre as idas e vindas de Oren (Berlim/Jerusalém), uma escondida história de amor é criada. Após 12 meses juntos, Oren desaparece por um tempo e Thomas vai atrás de informações, descobrindo que ele falecera em um acidente automobilístico. Sem rumo e tentando se encontrar, Thomas resolve partir para Jerusalém e acaba conhecendo Anat (Sarah Adler), a esposa de Oren.

Todo bom filme é como se fosse um grande prédio que é construído aos poucos, com as portas sendo abertas para as surpresas que envolvem seus personagens. Em O Confeiteiro, tudo é muito delicado, quase minimalista, o protagonista diz muito com seu olhar, um trabalho excelente de Tim Kakhof. Somos completamente envolvidos pelo que há depois que as portas vão se abrindo, não há exageros, o tom certeiro da direção e as surpresas que vemos pela jornada de Thomas nos mostram muito sobre tradições judias (o olhar sobre o estrangeiro), e como o amor pode chegar de todas as formas possíveis.

Já que falamos de um filme que envolve bolos e surpresas, podemos dizer que a cereja desse ótimo longa é a impressionante atuação da atriz francesa Sarah Adler. Fascinante em cada cena. A carga emocional recai totalmente sobre Anat e as dúvidas que começam a aparecer quando as coincidência de seu curto passado se encontram com a fresta de felicidade que se abre no presente. A partir disso, escolhas dominam os desfechos dos fortes personagens.
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27/10/2018

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Crítica do filme: 'Dogman'


Como você enxerga as brutalidades da vida? Indicado da Itália ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro para a próxima grande festa do cinema, Dogman é um retrato social, brutal, passado em uma periferia italiana onde vários questionamentos são levantados a cada nova virada no roteiro. O longa é dirigido pelo cineasta italiano Matteo Garrone, do inesquecível e impactante Gomorra, e protagonizado pelo ator Marcello Fonte, vencedor da Palma de Ouro em Cannes de melhor ator esse ano por esse papel.

Na trama, passada em uma cidadezinha na Itália não identificada, conhecemos o carinhoso, peladeiro e boa praça Marcello (Marcello Fonte), um humilde e gentil dono de uma petshop localizada na região central dessa cidadezinha. Marcello vive tranquilo seus dias e adora passar o tempo com sua única filha. Mas Marcello acaba envolvido em várias situações com Simoncino (Edoardo Pesce) um perturbador, baderneiro que incomoda todos na cidade, sempre arrumando confusão. Após uma dessas situações terminar em consequências terríveis para Marcello, o protagonista busca sua vingança da maneira mais radical que poderia.

O bom roteiro é aquele que sabe flexionar sua trama para chegar ao clímax de maneira certa, sem pressa, levando ao público um estrondoso ar de surpresa. É exatamente isso que Dogman faz! De drama, vira thriller em frações de segundos, levando o espectador a ser o juiz das ações de Marcello na segunda parte do filme. A ação e consequência que sofre o dono da pet shop, por ter a reputação abalada e o desespero de não saber o que fazer para acabar com aquela dor são parte desse quebra cabeça psicológico instaurado e muito bem dirigido por Garrone.

Coisas ruins vão acontecer com pessoas boas. É praticamente um versículo vital. Os coadjuvantes dão ótimo tom a todo o liquidificador de pensamentos que chegam até o protagonista quando está em crise existencial, sozinho, tendo que combater o vilão de todos e que fora muito mais para ele. Somos testemunhas de uma desconstrução total do personagem e nos levam a pensar à margem da sociedade, como se vivessem em áreas sem regras, nem leis, onde os homens caminham pelos seus próprios e nublados pensamentos. Um soco no estômago esse belo trabalho.

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