Amor e desejo são coisas diferentes. Nem tudo o que se ama
se deseja e nem tudo o que se deseja se ama. Baseado no best-seller
mundialmente famoso de E.L. James, chegou aos cinemas brasileiros na última
semana o aguardado longa-metragem 50
Tons de Cinza. Para comandar esse trabalho, foi chamada a cineasta
britânica Sam Taylor-Johnson (que havia feito ótimo trabalho no excelente filme
O Garoto de Liverpool) e os quase
desconhecidos atores Dakota Johnson e Jamie Dornan para protagonizar o casal
chave da trama. Ao longo dos sonolentos 125 minutos de fita, vemos uma direção
totalmente perdida na hora de captar as emoções/objetivos dos personagens, o
casal de protagonistas parecendo robôs de transformers (tamanha falta de
carisma e emoção) e um roteiro (adaptado) de Kelly Marcel que esconde, ou
praticamente some, com qualquer vestígio dos personagens contidos nos livros. 50 Tons de Cinza é o mais novo Titanic
(o navio) do cinema.
Na trama, conhecemos a bela e tímida Anastasia Steele
(Dakota Johnson), uma jovem que após ir para uma entrevista no lugar de
uma amiga, acaba conhecendo o misterioso empresário Christian Grey (Jamie
Dornan). Logo de cara, os dois futuros pombinhos se atraem e logo começam a
embarcar em uma relação peculiar, com contratos e pedidos exclusivos, tudo por
conta de um segredo que Grey esconde em um quarto secreto dentro de sua casa. Lendo
essa sinopse parece até um filme de mistério, né? Mas na verdade, 50 Tons de Cinza em vez de provocar acaba
gerando uma outra coisa: sono.
Para um filme baseado em um livro dar certo, sabemos muito
bem que a química entre os protagonistas precisa estar super afiada, o que nem
de longe acontece com essa fita. A norte-americana Dakota Johnson e irlandês Jamie
Dornan não conseguem se entender em momento algum na história. Movimentos
robóticos (principalmente nas cenas mais aguardadas), falta de carisma, diálogos
fracos que não geram quase nenhum tipo de interação com o público. Com certeza,
a maioria das pessoas que adentrarem as salas de cinema para assistirem a este
trabalho sairão decepcionadas, não só pela falta de harmonia em cena, mas por
inúmeros motivos. Tentaram transformar uma história impactante na leitura (o número
de adeptos pelo menos mostra isso), em um filme romântico com os mais caricatos
clichês hollywoodianos.
Com o absurdo lançamento em 1079 salas de cinema de todo o
Brasil, o que prejudica os verdadeiros filmes bons chegarem aos nossos cinemas,
50 Tons de Cinza corre um sério
risco de estar em muitas categorias no próximo Framboesa de Ouro. Os leitores
não foram premiados com uma boa adaptação, a indignação deve ser grande. Como
cinema, simplesmente não funcionou. Como
diria nosso querido dramaturgo e poeta William Shakespeare: “É mais fácil obter
o que se deseja com um sorriso do que à ponta da espada.”