01/11/2020

Crítica do filme: 'Toprak'


O acrobata no abismo de olhos vendados para um norte que desconhece. Diretamente da Turquia o longa-metragem Toprak nos mostra um recorte muito verdadeiro de uma família com Avó, tio, sobrinho, e, como relações ‘pais e filhos’ atravessaram gerações com a mesma mentalidade. Há duas perspectivas, a do tio (um homem que não viu o mundo, desconfia de tudo, e só acredita no trabalho manual, no campo, como forma de ganhar seu sustento) e a do protagonista Burak que sonha em cursar a universidade. Dirigido pela cineasta turca Sevgi Hirschhäuser, o filme nos leva para a terra, a dor, as escolhas em um confronto contra o medo do desconhecido.


Na trama, conhecemos o jovem Burak (Burak Aydin) que passa seus dias entre a escola e vendendo romãs na beira de uma estrada que divide o campo do centro, voltando tarde da noite sozinhos pela estrada, a pé. Ele é criado pelo tio Cemil (Numan Çakir), um homem analfabeto que cria o protagonista desde a morte dos pais dele anos atrás. Eles vivem junto com a avó de Burak, mãe de Cemil, que está muito doente. Quando a oportunidade de Burak em ir pra universidade bate a porta, uma decisão de Cemil acaba o deixando no limite para testar sua fé.


Tradições, cultura, fé, campo, terra. Entendemos melhor o universo de Burak quando pensamos nesses elementos incorporados as ações pelo tio. Os conflitos chegam para os dois personagens de forma determinante e assim entendemos melhor os porquês. O sonho tem um papel importante dentro do modo de pensar de Burak e cenas lindas são vistas como forma imaginativa do encontro do mesmo com os pais que pouco conheceu. Lições importantes, até mesmo pelo rico sentimento da quebra da quarta parede no ato final fazem desse um delicado retrato de muitos mundo à fora. Afinal, as oportunidades deveriam chegar mais facilmente para quem não vai desperdiça-las.