O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de São Paulo. Adam William é apaixonado por cinema
desde pequeno, principalmente por obras de terror, fantasia e super-heróis,
começou a escrever de forma independente em 2016. Hoje, além do Instagram (@comentadam) e canal no YouTube
(YouTube.com/c/adamwilliam), também possui seu produto site, o Salve Ferris (salveferris.com.br).
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Infelizmente minha sala de cinema favorita de SP fechou no
começo do ano, pouco antes do cenário atual de pandemia, que era o Cinearte que ficava aqui o Conjunto
Nacional, na Avenida Paulista. Qualquer jornalista ou crítico que já participou
da Mostra de Cinema de SP conhecia a
sala e era maravilhosa. Hoje, minha favorita é o Petra Belas Artes. O principal é por que, além de serem cinemas de
ruas, eles são um “escape” para fugir da programação padrão dos cinemas de
shopping — que eu também amo, mas você pode ver em diversas salas sem
dificuldade — e trazem obras que, dependendo da situação, talvez você nunca
assistiria pela simples dificuldade de acesso.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
Meu primeiro filme no cinema foi Tarzan, em 99 que já me “viciou” em cinema desde pequeno. Eu não
lembro exatamente qual filme virou essa chave, mas diria que uma das sessões
que mais me impactou enquanto uma pessoa que só “gostava de filme” e passou a
enxergar cinema como algo totalmente maior, foi Garota Exemplar, do David
Fincher. Foi uma experiência incrível ir dissecando aquela história pela
primeira vez e mergulhando cada vez mais na mente daqueles personagens. Foi sem
igual e acho que nunca mais enxerguei o cinema da mesma forma de antes.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Eu elegi David
Fincher como meu diretor favorito há uns 10 anos. Eu realmente curto a
filmografia do cara e acho que ele se destaca bastante pelo estilo de câmera,
identidade visual e por possuir filmes que mesmo tocando em um assunto
semelhante (Se7en, Zodíaco e Garota
Exemplar, por exemplo, giram em torno de crimes e criminosos), o faz de
forma diferente entre si. E depois de muito tempo vendo e revendo seus filmes,
acabei percebendo que meu favorito é A
Rede Social. É uma obra incrivelmente distinta, surpreendente e divertida
de assistir. Eu amo. E sempre aponto que se um diretor conseguiu fazer um filme
tão bom sobre a história da criação do Facebook, é por que ele é um ótimo
diretor.
Outro diretor que gostaria de destacar rapidamente aqui é o Wes Craven, que eu acho incrível e
embora ele não seja necessariamente meu diretor favorito, ele é o responsável
pelo meu filme favorito: Pânico, de
1996.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Não tem como: independente de quantos novos filmes do cinema
nacional eu veja e ame, meu favorito — por questões emocionais e pessoais mesmo
— é O Auto da Compadecida. É uma
adaptação incrível, atemporal e que diz muito pra mim. Sempre me recordo de
assisti-lo com pessoas da família, sei o filme de cor praticamente e ainda dou
risada das mesmas piadas… Enfim, é um carinho muito único por ele.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
Cinéfilo pra mim é a pessoa apaixonada por cinema, que assiste
sem preconceitos pelo simples prazer de assistir, conhecer novas obras, novos
cineastas, novos atores e atrizes. Acho que não existe um checklist para isso,
mas com certeza envolve paixão.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por
pessoas que entendem de cinema?
Não. Infelizmente fica claro que a curadoria de um cinema é
voltada para a parte mercadológica e ao meu ver está tudo bem. Enxergo e
concordo que exista um problema claro aí, mas eu entendo que para um dono de
cinema, estamos falando de um negócio e, portanto, a programação vai girar em
torno do retorno financeiro. É uma pena. “Salvam-se” os cinemas de rua, mais
preocupados em disseminar obras menores e com acesso mais dificultado, mas para
um público-alvo específico. Esses eu creio que possuem um cuidado maior na
programação, embora questões mercadológicas também estejam envolvidas.
7) Algum dia as salas
de cinema vão acabar?
Não. Acho que nada vai conseguir bater a experiência do
cinema, que com certeza deve sentir um impacto e mudar nos próximos anos — seja
pela pandemia, seja pelo modo como grandes estúdios estão tocando suas
produções —, mas duvido muito que as salas de cinema acabem.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Encurralado (Duel) do Steven Spielberg. Eu acho bizarro como esse filme é bom, é de um
diretor incrivelmente conhecido, mas não vejo ninguém comentando dele. É quase
um test-drive para o que o diretor veio a fazer em Tubarão alguns anos depois.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Apesar de todos os protocolos e o problema financeiro que
muitas salas estão enfrentando, eu não acredito que o público em sua maioria
tenha maturidade para se comportar numa sala de cinema a ponto da experiência
tornar-se minimamente segura. Portanto, não.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Eu adoro cinema brasileiro, cada dia descubro novas obras
incríveis que perpetuam. É um apanhado de produções realmente incríveis e que
mostram como nosso país é plural, diversificado. Mas o problema recai no mesmo
ponto mercadológico que citei, pois os cinemas populares sabem o que chama
atenção de seu público-alvo e continua criando buzz em cima do mesmo estilo
comédia-com-ator-global enquanto outras obras maravilhosas perdem-se nesse
caminho. Mas para o espectador que busca com mais afinco, o cinema nacional se
mostra uma verdadeira mina de ouro.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Lázaro Ramos. É
um ator e uma pessoa maravilhosa, sempre gosto de ver seus trabalhos antigos ou
novos.
12) Defina cinema com
uma frase:
Cinema “é para os tolos que sonham”, tal como Emma Stone canta em La La Land.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Sou um grande fã de quadrinhos desde pequeno, então, é meio
impossível não-gostar do trabalho que a Marvel
vem fazendo nos últimos anos. Tal qual um fã, estava super ansioso por Guerra
Infinita e quase como aquelas histórias que vemos no cinema, fui um dos
primeiros a comprar meu ingresso em uma das melhores salas de SP. Peguei o
“melhor” assento e show, fui todo orgulhoso assistir o filme na pré-estréia.
Já na poltrona, praticamente extasiado esperando o filme
começar, alguém passou por mim na fileira, apontou o dedo e disse (bem sério)
“Você pegou meu lugar”. Em questão de segundos chequei a poltrona e ia mostrar
o ingresso quando o cara completou dando risada “Eu sempre compro nessa
poltrona, tu conseguiu ser mais rápido que eu” e saiu para um assento na mesma
fileira, mas na lateral. Dei muita risada depois.
Coisa de fã né?
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
Um meme fortíssimo.
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Faz bem, prova disso é o apelo que o cinema de Quentin Tarantino possui. Mas não acho
que seja um requerimento, cinema (arte, no geral) é muito subjetivo para ter
limitações como essa.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
Esse ano teve um “bom” empate: 365 Dias e Megan is Missing,
que viralizou há uns meses atrás. Fortes candidatos a piores filmes da vida.
17) Qual seu
documentário preferido?
Eu nunca fui muito de documentários e o filme que mudou isso
foi Going Clear: Scientology and the
Prison of Belief (algo como Cientologia e a Prisão da Crença). Bastante
interessante (e chocante), me abriu os olhos para o gênero. Depois disso,
assistindo a vários docs, vi o curta Ilha
das Flores do Jorge Furtado,
também impactante (de outra forma). Esses dois são os meus favoritos ainda
hoje.
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Sim! Apesar de não ter “lógica”, acho legal que o público
esteja tão empolgado a esse ponto.
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
Gosto bastante de A
Lenda do Tesouro Perdido, A Outra Face e Presságio. Mas no meu favorito com ele no elenco, eu não o vi,
apenas “ouvi”, pois foi Homem-Aranha no
Aranhaverso onde ele dubla o Aranha Noir.
20) Qual site de
cinema você mais lê pela internet?
Por muito tempo li o Omelete,
hoje acompanho mais os textos do Marcelo
Hessel por lá. Fora este, gosto bastante das críticas do Adoro Cinema, Plano Crítico e volta e
meia estou lendo o Screen Rant e a Empire Magazine.