Quando o amor traduz as lacunas complexas do vazio existencial. Baseado no livro de grande sucesso da escritora irlandesa Sally Rooney, Normal People, disponível em algumas plataformas de streamings no Brasil, nos apresenta a saga de um platonismo as vezes reverso entre dois jovens, através de um período de tempo importante em suas vidas. Caminhamos junto com os personagens rumo às mágoas, as derrapadas, o pânico, o caos social, a maturidade precoce, a imaturidade tardia, são cerca de 30 minutos divididos em 12 episódios que desejamos que nunca acabem. A minissérie, envolvente, intensa, que conta com uma fabulosa trilha sonora, foi indicada a quatro Emmys, sendo alguns episódios dirigidos pelo competente cineasta Lenny Abrahamson (O Quarto de Jack, Frank).
Na trama, acompanhamos as idas e vindas de um relacionamento
de amizade e algo mais de dois jovens de uma cidadezinha da Irlanda. Marianne (Daisy Edgar-Jones) é uma jovem
solitária que possui muitas dificuldades em se relacionar com os que estão ao
seu redor, principalmente sua família e seus amigos de colégio. Connell (Paul Mescal) é aquele queridinho de
todos, amado pela mãe, pelos amigos, estrela do rúgbi do colégio. Marianne é de
família rica, Connell não. Certo dia, os dois começam a conversar e aos poucos,
e com inúmeras passagens de tempo para frente (época de faculdade etc),
percebem que podem ter sidos feitos um para o outro mas que só isso não basta
para ficarem sempre juntos.
Em quase 6 horas de material, contando todos os 12 episódios,
percorremos uma longa linha de tempo entre os tempos de colégio e um começa de
fase adulta já na época de faculdade. É primoroso como Normal People consegue
aproximar o espectador de cada detalhe de sua poderosa história. Há muitos
pontos a se analisar mas destaco dois que chamam muito a atenção: O papel
importante da mãe de Connell, Lorraine (a ótima Sarah Greene), que sempre chega com lições sobre valores sociais e
educação sempre no contraponto a mãe de Marianne, Denise (Aislín McGuckin) uma advogada que não consegue fugir de sua
melancólica e distante relação com os filhos; As paredes ideológicas surgem em
conversas com amigos diversos e nos é mostrado com muita inteligência e até
mesmo com sarcasmo o modo de pensar dos protagonistas perante ao que escutam
pela estrada da vida.
A grande virada de chave para a minissérie é a troca da
cidadezinha para a cidade grande, onde há uma certa inversão de dilemas, sendo
algo mais complicado pra Connell e menos para Marianne, ao contrário da época
de escola onde se conheceram. Sempre em evidência, o êxtase da felicidade de
encontros de descobertas entre duas boas almas, complementares em seus
extremos, harmônicos quando estão juntos parece ser um terceiro protagonista
levando o público a torcer para um final feliz dessa fácula moderna de amor mas
que vamos precisar imaginar seu final (afinal, isso importa?!). Maravilhoso
trabalho. Imperdível.