16/01/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #247 - Otávio Almeida


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado é cinéfilo, de São Paulo. Otávio Almeida é PR na agência DPZ&T, cinéfilo desde criancinha e fala sobre cinema nos perfis @hollywoodiano no Instagram, Twitter e Facebook.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Gosto do Cinemark do Shopping Eldorado, em São Paulo, para ver os grandes lançamentos. Mas quando o filme exige IMAX, prefiro a qualidade do Cineflix The Square Granja Viana. Por outro lado, sinto falta de cinemas de rua, então vira e mexe vou até o Belas Artes sempre que possível para ver filmes fora do circuito dominado por blockbusters.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

No cinema, acho que senti isso quando me levaram pra ver De Volta Para o Futuro: Parte II. E eu era muito fã do primeiro, então acho que foi a primeira vez que entrei no cinema carregado de expectativa. Ainda bem que saí de lá feliz.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Na infância, Spielberg e escolho E.T. . Mas cito O Resgate do Soldado Ryan como seu último grande filme. Hoje, considero Scorsese e meu favorito é Os Bons Companheiros, sendo que O Lobo de Wall Street é o melhor dele pra mim nesta última década.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Cidade de Deus por ser cinema em todos os quesitos. Não é só uma mensagem política; algo que sinto que trava um pouco o nosso cinema, assim como a escassez de filmes de gênero. E acho que o filmaço do Meirelles evoca muito de Scorsese (meu diretor favorito) em sua composição.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É a minha vida. Aprendi quase tudo vendo filmes. Postura, o jeito de falar, andar, gesticular, aprendi inglês com o cinema, fui atrás de músicas e muitas informações importantes para a vida depois de ver filmes. Eu durmo e acordo pensando em cinema. Meus amigos gostavam de sair pra dançar e beber, enquanto minha balada sempre foi o cinema.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não, mas são pessoas que entendem de negócios. Elas pensam no lucro e sabem que seus públicos pagam caríssimo por pipoca e refrigerante. Elas conhecem suas regiões e os anseios dos consumidores. Por exemplo, não dá para abrir um Belas Artes em todos os cantos de São Paulo, mas é fato que a região da Avenida Paulista/Consolação atrai um público mais preocupado com arte e, claro, com um poder aquisitivo geralmente elevado. Mas não, não entendem necessariamente de cinema, porque mesmo em lugares dominados por pessoas com renda baixa, existem consumidores dos tais filmes de arte, mas eles costumam se deparar com blockbusters à exaustão.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

A ascensão do streaming e os preços abusivos cobrados por uma simples ida ao cinema indicam que o caminho é esse. Infelizmente, cinema não é para o povo, mas um passeio elitista. É verdade que as salas de cinema sobreviveram à televisão, ao video cassete, DVD e Blu-ray (até mesmo à pirataria), mas nunca houve uma concorrência (legal) tão acessível e “democrática” quanto as plataformas de streaming, que permitem mais de um perfil na mesma assinatura. O movimento da Warner/HBO Max pode ser o início do fim, porque estava faltando acertar a questão da distribuição. Além disso, imagine que o streaming pode virar coisa do passado num futuro bem próximo — a tecnologia evolui tão rápido que a cartada seguinte pode vir a ser ainda mais avassaladora para as salas. O cinema como conhecemos deve sim acabar, mas talvez nossas gerações não vivam pra ver isso acontecer, porque a resistência ainda será duraroura.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Exemplos recentes: Palm Springs e A Vastidão da Noite.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não! Sem vacina, sem cinema. Tem gente que entra com máscara e tira lá dentro. Então, infelizmente, o ideal seria esperar pela vacina.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Sinto falta de filmes mais focados em gêneros. Uma variedade maior de comédias de qualidade e não produtos da Globo, suspenses, ficção científica, ação, filmes de terror. Mais isso que o habitual cinema 99% político.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Fernanda Torres e Fernanda Montenegro.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é a melhor invenção da humanidade e a forma mais completa de expressar e compartilhar arte e sonhos.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Fui ver Boogie Nights no cinema com a minha namorada e ela ficou reclamando desde o início da “pouca vergonha” do diretor (ninguém menos que Paul Thomas Anderson). Antes mesmo da metade, ela levantou e me disse: “Estou indo embora! Você vem?”. Ela saiu e eu fiquei. Pensei, pensei, fui atrás dela e perdi o resto do filme. É claro que o namoro não durou e voltei ao cinema pra ver Boogie Nights de forma... decente.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Risos!

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Eu prefiro dizer que seria o ideal. Acredito que a experiência para quem consome cinema vorazmente é muito mais completa quando um filme sai de um cineasta apaixonado por cinema. Um profundo conhecedor não somente das técnicas, mas da história dos filmes desde seus primórdios.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Eu não poupo filmes que miram alto e caem feio no chão. Entre os recentes, odiei Under The Silver Lake, provavelmente o que mais me irritou no ano passado. Então, não gosto de bater em filmes de baixíssimo orçamento, trash ou no Ed Wood. Também não sou cinéfilo que prepara listas dos piores do ano, porque sempre acho que todo e qualquer filme tem algo bom para oferecer.

 

17) Qual seu documentário preferido?

No Direction Home, documentário de Martin Scorsese sobre Bob Dylan. Vou citar um segundo colocado: Buena Vista Social Club, de Wim Wenders.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Várias vezes. Até mesmo sozinho. Já me chamaram de doido ou que isso se faz somente no teatro. Mas não ligo. Acho que a sessão mais ovacionada em que eu estive foi a de O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (pré para fãs do Tolkien organizada pela Warner). E as pessoas se abraçavam na saída do cinema, inclusive desconhecidos. A segunda mais aplaudida talvez tenha sido em 2019, Vingadores: Ultimato.

 

 

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Ah, eu adoro ele (risos). É uma escolha difícil, mas eu vou citar meu favorito dos Irmãos Coen, Arizona Nunca Mais. Acho que foi um dos primeiros filmes ‘loucos’ que eu vi na vida.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

The Playlist.