O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo de Juiz de Fora (Minas
Gerais). Giovani Machado tem 49
anos, é nascido no Espírito Santo, mas foi criado em Minas Gerais. Fez Letras
na UFJF, é ator, produtor, roteirista, apresentador, locutor, professor de
inglês e faz bolos nas horas vagas. Filmes e livros são imprescindíveis para
manter sua saúde mental e fala um pouco sobre eles no seu perfil no Instagram
@egiggiomais.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Juiz de Fora, atualmente, não tem nenhuma sala exclusiva
(como já teve, em inúmeros momentos de sua história) para exibição de filmes
independentes ou fora do circuito mainstream. A que mais se aproxima desse
conceito é o CineMais do Alameda Mall
que, recorrentemente, exibe em sua programação filmes “alternativos”. Além
disso, é a casa que abriga o Festival Primeiro Plano e o Varilux. É a minha
rede de cinema e meu local preferido na cidade.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
Curiosamente, a primeira lembrança que eu tenho de ter
pensado isso foi justamente um filme que não vi no cinema: o primeiro Superman, de 1978. Minha mãe, por
motivos que apaguei da memória, não autorizou minha ida ao cinema com os meus
vizinhos e irmãos para assistir ao filme. Fiquei revoltado! E, quando eles
retornaram da exibição, contando os detalhes do filme, as sensações, o tamanho
da tela e da sala de cinema, me recordo de ter pensado: “Eu preciso conhecer
esse lugar mágico!” Eu fui criado em frente á televisão, como a maioria das
pessoas da minha geração, e os filmes não eram, exatamente, uma novidade.
Porém, não ter ido a essa sessão, especificamente, mudou tudo. Obrigado, mãe!!!
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Pergunta difícil... Um dos meus filmes preferidos da vida
não é de um diretor cuja filmografia sou apaixonado: O Silêncio dos Inocentes de Jonathan
Demme. Eu tenho vários diretores preferidos: Ang Lee, Wes Anderson, David Fincher, Fatih Akin, Woody Allen...
Mas eu vou ficar com Billy Wilder e
seu Crepúsculo dos Deuses e Asas do Desejo do Wim Wenders. Dei uma embromada e acabei citando três. Muito “A
Escolha de Sofia” isso, gente!!!
4) Qual seu filme
nacional favorito e por quê?
Pergunta dificílima! Como já deve ter ficado evidente, sou
um adorador da metalinguagem, então vou citar Saneamento Básico do Jorge
Furtado. E, por conta das excelentes atuações, entre inúmeros outros
méritos, Cidade Baixa do Sérgio Machado.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
É ter o cinema como seu local de refúgio, aprendizagem,
diversão, acolhimento, experimentação, lugar de se sentir incomodado (mas de
forma segura), de exercitar a alteridade, de vivenciar experiências emocionais
e apurar um sentido estético como em nenhuma outra forma de arte. É observar a
imitação da vida que o cinema oferece e achar que é quase suficiente.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por
pessoas que entendem de cinema?
Acredito que sim, embora, muitas vezes a programação de uma
sala de cinema não seja feita por essas pessoas, mas pelo distribuidor e pela
perspectiva de bilheteria que o filme possa arrecadar.
7) Algum dia as salas
de cinema vão acabar?
Eu acredito que não. Porém, acredito também que é importante
incentivarmos, de forma orgânica e natural, os jovens e as futuras gerações, a
acreditar que a experiência sensorial e emocional de frequentar as salas de
cinema é única. A facilidade do streaming é um fator preocupante em relação a
isso, além de todos os outros. Acabar, acabar, acredito que não irá. Seguirá se
transformando, como vem acontecendo desde seu surgimento.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Custódia, filme
de 2017 do diretor Xavier Legrand.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Eu percebo o cinema como um lugar de segurança e
acolhimento, de relaxamento e aprendizagem, e se não é possível que nos
sintamos à vontade para tal experiência da melhor forma possível, então eu
acredito que abrir as salas de cinema nesse momento é, além de precipitado,
inoportuno. Enquanto respondo a essas perguntas, já vemos mais de 47 países
tendo sua população sendo vacinada. O cinema vem sofrendo duras quedas nos
últimos tempos, então por que não aguardamos um pouco mais e voltamos à sala
escura como uma forma de celebração da vida e da arte? Ir ao cinema com receio,
medo ou de forma irresponsável, no meu ponto de vista, é mais um desserviço do
que um benefício, tanto para o público quanto para a própria importância que o
ato carrega em si.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Excelente! No que diz respeito tanto às qualidades técnicas,
quanto às atuações e roteiros. E, também, vejo uma diversidade maior de temas,
gêneros e inovações narrativas que me deixa empolgado e interessado.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Wagner Moura é um
ator que se arrisca em vários gêneros cinematográficos e, na maioria das vezes,
se sai muito bem. Acompanho seu trabalho há tempos e estou ansioso para conferir
sua estreia como diretor com Marighella.
12) Defina cinema com
uma frase:
Vou de cliché: Cinema é luz! (Em vários sentidos...)
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Já fui gerente de uma locadora de vídeo em um Shopping
Center e tínhamos uma clientela fiel. Certa feita, eu fui a uma sessão de
cinema e entrei bem cedo na sala, pois já estava no Shopping. Logo reparei num
casal entrando na sala. Os dois, meus clientes, me cumprimentaram. O curioso é
que eles não eram o casal que eu atendia quase diariamente na locadora: eles
eram parceiros de outras pessoas que também eram meus clientes. E não é que,
minutos depois, entra outro casal na sala formado pelos (naquele momento
entendi) ex-parceiros de cada um. Ou seja, os casais estavam trocados, pelo
menos para mim! O melhor de tudo: o casal número 2 cumprimentou educadamente o casal
número 1 e, logo em seguida, a mim. A única coisa que consegui pensar na hora
foi justamente: “Essa história dá um filme!”.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
Não sou capaz de opinar, nunca vi inteiro. Será que a
própria Carla viu o filme todo?
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Conhecimento, informação, pesquisa e estudo são essenciais
em qualquer profissão. E acredito que em relação à direção de audiovisual não
seja diferente. Contudo, há diretores e diretores: alguns se preocupam e
pesquisam mais sobre recursos técnicos, outros sobre roteiro e direção de
atores, e assim vai. E, além disso, é impossível acompanhar toda a produção
cinematográfica que é produzida no mundo, ou seja, é necessário fazer escolhas.
Percebo que os grandes diretores acabam “fazendo sempre o mesmo filme”, ou
seja, os temas, estilos, universos, são bastante pessoais e o que procuram
fazer é apenas desenvolvê-los e lapidá-los. Digo isso pensando em Allen, Scorsese, Wenders, Fincher,
Hitchcock, Bergman, Villeneuve, Kurosawa e tantos outros.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
Tem filme tão ruim que acaba sendo ótimo! Só que não foi o
caso de O Monstro do Armário, filme
de 2017 do diretor Stephen Dunn. Não
sei se foi o pior; porém, como foi indicação de alguém de confiança, assisti a
ele bastante animado e com boas expectativas. Durante o filme, me peguei
criticando tudo, das atuações ao roteiro e, de repente, me vi às gargalhadas.
Acho que pior do que assistir a um filme ruim é fazê-lo querendo gostar e não
conseguir. A sensação que me dá é de vergonha alheia.
17) Qual seu
documentário preferido?
Vou escolher dois: O
Equilibrista, pois, sempre que o assisto, tenho que fazer um esforço pra
acreditar que aquela história realmente aconteceu; e Jogo de Cena do mestre Eduardo
Coutinho, que brinca com a relação entre o que é real e o que é ficção.
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Já, algumas vezes, embora fique um pouco envergonhado quando
sou um dos únicos a fazer isso ao término da sessão.
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
Essa é fácil: Despedida
em Las Vegas do Mike Figgs.
20) Qual site de cinema
você mais lê pela internet?
Adoro Cinema, Plano
Crítico, Cinema em Cena, Empire Magazine, Guia do Cinéfilo.