21/01/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #253 - Raquel Vasconcelos


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, do Rio de Janeiro. Raquel Vasconcelos tem 32 anos. É formada em Cinema pela UFRB. É natural da Bahia mas mora na cidade maravilhosa. Se considero cinéfila desde infância quando já assistia filmes mais adultos como Amadeus e A Dança dos Vampiros de Polanski. Ainda na infância, graças a TV Cultura, conheceu um pouco mais do cinema nacional, saindo um pouco dos filmes da Xuxa e Trapalhões, ficou maravilhada com os filmes de Grande Otelo, Dercy Gonçalves e Mazzaropi. Atualmente escreve em sua página do instagram (Vitamina Cult - @vitaminacult) sobre suas paixões culturais, que são: cinema, literatura e seriados.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Qualquer sala do Espaço Itaú de Cinema. São filmes diversos, documentários, ficção, e de diversas nacionalidades. O melhor que o cinema tem para oferecer está lá.

 

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Lembro de ser muito pequena quando assisti A Pequena Sereia e Mogli, claro que deveria ser um relançamento. Mas a primeira vez que senti o impacto de estar naquela sala da tela gigante foi ao assistir Jurassic Park, apesar de minha pouca idade a emoção foi grande.

 

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Difícil escolher apenas um, sempre tive um gosto eclético e em cada momento de minha vida tive um diretor favorito ou gênero. Mas uma constante é a Laís Bodanzky. Esse nome nunca saiu dos meus favoritos, do meu TOP 5. Meu filme favorito dela é Bicho de Sete Cabeças, uma das obras que afloraram minha paixão pelo cinema nacional.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Poderia citar Deus e o Diabo na Terra do Sol pela sua importância na história do cinema, “O pagador de promessas” pelo seu destaque em Cannes, Central do Brasil pelo seu quase Oscar, ou um mais recente, Bacurau de Kleber Mendonça Filho. Mas acredito que filme favorito é algo muito pessoal, é um filme que desperta algo dentro de si que é difícil de descrever. Meu filme favorito é Cinema Paradiso. Um filme que aumenta meu amor pelo cinema cada vez que assisto.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Cinéfilo para mim é aquele que tem o cinema como a grande paixão. Que assiste todos os filmes sem preconceitos de nacionalidade. E enxerga no cinema a arte mais completa, capaz de unir todas as outras.

 

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não. Os cinemas hoje (em sua maioria) são estritamente comerciais. Buscam em sua programação não a arte, mas o que dará maior retorno financeiro. Isso fica claro quando você percebe que na programação da semana 90% dos filmes são americanos e os outros 10% são comédias nacionais.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Espero que não. Assim como a televisão não acabou com o rádio, acredito que o streaming não acabará com as salas cinema.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Sinfonia da Necrópole de Juliana Rojas é o primeiro que me vem a mente. Um filme divertido, inusitado, mostra como o cinema nacional pode ser diverso e extremamente original.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não. Pois não temos estrutura para assegurar que todos clientes não irão se contaminar.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Enxergo como algo crescente. Com a disseminação do conhecimento das técnicas através de oficinas, cursos e universidades, a qualidade só tem crescido. Sem contar com as novas tecnologias que propiciam a qualquer um com um celular na mão o poder de fazer seu filme. Sendo assim o cinema se tornou algo mais diverso e democrático, contribuindo assim para sua maior qualidade.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Atualmente acompanho muito Irandhir Santos, na minha opinião é um dos melhores atores da atualidade, e o Júlio Andrade que também é magnífico. Mas quem sempre me emociona e eu não perco nada, sempre revejo muita coisa é a Andréa Beltrão. Sua atuação é esplêndida, naqueles minutos do filme ou seriado ela se torna o personagem, ela é aquela atriz que você acaba conhecendo mais pelo nome da personagem, pois todos se tornam extremamente reais para o espectador.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é a arte que em poucos minutos é capaz de mudar seu olhar para a vida.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Não consigo lembrar de nada muito inusitado, mas algo aconteceu comigo que achei interessante. Quando fui assistir Nasce uma Estrela (2018), no final do filme começo a ouvir as pessoas em minha volta chorando, quando o filme finalmente acabou e as luzes se acenderam olho para o lado, vejo uma senhora, que seca as lágrimas e me olha com pesar, como quem procurasse consolo ou alguém semelhante. Apenas olhei para aquela pobre senhora, dei um suspiro e a olhei com compaixão, apesar de não ter chorado, ela sorriu como se fosse isso que ela precisasse no momento. Mas rapidamente me levantei antes que ela pudesse iniciar uma conversa. Sim, gostei do filme, mas não compactuei com a maioria dos espectadores que foram as lágrimas. Dificilmente um filme me emociona ao ponto das lágrimas, é mais fácil eu ficar com o choro preso do que chorar de fato. Um filme que me emocionou a esse ponto foi o francês Amour (2012).

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras…

Um trash-cult baiano cheio de axé que todo brasileiro deveria assistir.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não necessariamente. Para dirigir um filme precisa-se de técnica, e essa técnica pode ser adquirida de diversas formas, não é fator determinante que o cineasta precise ser cinéfilo.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Não consigo lembrar ao certo o pior de toda minha vida, foram muitos. Mas deixo aqui o último: Megatubarão.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Pergunta difícil. Mas como gosto muito de Eduardo Coutinho, escolho Jogo de Cena, pois se trata de um documentário simples mas imersivo e emocionante.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Sim. Mas nunca no circuito comercial, isso aconteceu mais em mostras e festivais.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Nossa, essa sim é uma pergunta difícil (risos). Confesso que estou um tanto quanto desatualizada, tem alguns mais recentes que pretendo assistir como Mandy e A cor que caiu do espaço. Acho que o melhor filme de Nicolas é Arizona Nunca Mais, pelo menos é o que eu gosto mais. Deixo registrado aqui meu desejo para Nicolas Cage, que ele volte a suas origens. Seus filmes mais antigos são os melhores.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Não existe um site específico. Leio de diversas fontes, sendo minha principal as páginas do instagram que sigo, e para notícias americanas leio a Variety e a Entertainment Weekly.