Para seguir em frente, primeiro você deve se lembrar. Um dos filmes mais aguardados desse primeiro semestre no mais famoso streaming disponível em nosso país (já que por conta da pandemia pulou a janela cinema), o drama camuflado de faroeste Relatos do Mundo mostra a saga de um homem, ex-membro da infantaria do Texas que após encontrar uma criança perdida resolve ir atrás do paradeiro de seus parentes mesmo que isso o faça enfrentar inúmeras adversidades pelo caminho. Indicado a dois globos de ouro, o projeto dirigido pelo competente cineasta britânico Paul Greengrass e protagonizado por Tom Hanks sem grande profundidade passa por um pouco da história norte-americana, principalmente sob o ponto de vista sulista em tempos difíceis e com forte segregação racial.
Na trama, conhecemos o respeitado capitão Kidd (Tom Hanks), um homem que serviu ao
exército, depois foi tipógrafo e após a guerra (onde perdera quase tudo que
conquistara) abandonou a esposa anos atrás indo de cidade em cidade anunciando
notícias que chegam do mundo através das poucas publicações jornalísticas que
haviam naquele tempo (o longa-metragem é ambientado em 1870). Certo dia, saindo
de uma cidade para outra, encontra uma jovem perdida, chamada Johanna (Helena Zengel), que fala um idioma
indígena. Sem saber direito o que fazer para ajudar a menina, após tentativas
de pedir ajuda para terceiros, resolve ele mesmo percorrer mais de 600 kms para
levar a jovem a seu destino que é a casa dos únicos parentes vivos dela. Mas
esse caminho não será fácil e ele precisará defender a menina e a si mesmo das
garras de muitos inescrupulosos que atravessam o caminho deles.
Com um orçamento de um pouco menos de 40 milhões de dólares
e tentando reproduzir um faroeste selvagem repleto de egocentrismo, Relatos do Mundo, mesmo tendo muitas
questões interessantes, é profundo em poucos momentos e rasos e muitos outros.
O roteiro, baseado no livro de sucesso da escritora norte-americana Paulette Jiles, acaba sendo muito ágil
e eficaz para mostrar uma profissão inusitada na parte final do século XIX,
onde por meio de nômades viajantes a população de alguns cidades tinham luz
sobre notícias e histórias narradas, como a criação de ferrovias, pandemias
como a meningite assolando o mundo além de histórias de superação e etc. Porém
não consegue construir uma identidade forte para as confusas transformações dos
personagens. Se analisarmos pela ótica dos sentimentos e as razões/porquês do
capitão partindo do princípio que seu sonho é: visitar os lugares que ele lê
para as pessoas, em busca do seu papel nessa história, o filme pode ganhar um
bom fôlego para alguns. Hanks novamente mostra porque é um dos mais badalados
atores das últimas décadas, competência sempre.