05/03/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #300 - Rodrigo Quintino


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de Agudos (São Paulo). Rodrigo Quintino tem 24 anos, é graduado em História e mestrando em História Social. Vem desenvolvendo pesquisas sobre a relação entre História e cinema desde o começo da graduação, e criou o perfil @historiaemframes no Instagram pra compartilhar experiências e ajudar a tornar o conhecimento acadêmico sobre o tema mais acessível. Além disso, é crítico de cinema nas horas vagas, tem escrito suas críticas no seu perfil do Letterboxd, mas já foi colaborador do blog da Gradus Editora e ta ensaiando pra criar seu blog e compartilhar textos um pouco maiores.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

A cidade que eu moro é bem pequena e não têm salas de cinema. A minha sorte é que fica a menos de 15 minutos de Bauru (sim, aquela do sanduíche e do time de basquete), que é a maior cidade da região. 

 

Bauru possui dois Shoppings e um posto de gasolina/conveniência com cinemas. Curiosamente o posto, Alameda Boulevard Center, tem o menor conforto e a melhor programação. Como é um lugar menor e mais difícil de competir com os Shoppings, eles acabam trazendo alguns filmes de diretores que são sim muito famosos, mas não ganham tanto espaço quando em comparação com grandes Blockbusters. Além disso, eles costumam trazer alguns filmes nacionais interessantes e que são mais difíceis de chegar no interior.

 

2) Qual o primeiro filme que você  lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

O primeiro filme que realmente me marcou foi A Sociedade dos Poetas Mortos, mas esse eu vi em casa.  Na sala de cinema: Harry Potter e as Relíquias da Morte pt. 2. Eu nem sou tão fã da saga, e esse é na real um dos que eu menos gosto, mas eu me lembro muito do impacto que me causou ver ele em uma tela gigantesca e como a experiência foi transformadora pra eu me apaixonar de vez por essa arte. Ainda demorou um pouco pra eu começar a estudar cinema efetivamente, mas as obras de fantasia como Harry Potter e O Senhor dos Anéis contribuíram muito pra essa paixão nascer.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Eita pergunta difícil haha. Se tiver que escolher UM, acho que fico com Yasujiro Ozu, e o meu filme favorito dele é Era Uma Vez em Tóquio.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Meu filme nacional favorito é bem recente, chama Histórias Que Só Existem Quando Lembradas. Esse filme trabalha com muita delicadeza temas como memória e esquecimento, que eu amo estudar são essenciais para minha área de pesquisa, além de trazer em sua forma uma sensação quase de realismo mágico. Eu me senti como se estivesse lendo algo do Gabriel Garcia Márquez. Além de ter um dos títulos mais bonitos e poéticos que já vi.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Ser cinéfilo é ser apaixonado por cinema.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Acredito que sim. É claro, eu entendo que 90% das salas de cinema têm uma programação bem restrita que limita muito o acesso a filmes fora do grande circuito comercial, principalmente em cidades do interior, e isso pode ser problemático. Mas, todo filme é uma obra de arte, e quem entende de cinema com certeza conseguirá enxergar valor e aproveitar a experiência de obras mais Blockbuster.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acabar eu acredito que não, nada substitui a experiência de ver um filme no cinema, e o público sabe disso, mas vai se modificar. Acho que a tendência é as salas de cinema proporcionar experiências mais coletivas, como foi com Vingadores Ultimato por exemplo. As pessoas foram ao cinema menos pelo filme em si, e mais pela experiência como um todo (e algumas salas viraram quase estádios de futebol, para o bem ou para o mal).

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Além de Era Uma Vez em Tóquio e Histórias Que Só Existem Quando Lembradas...

Tem uma animação do Studio Ghibli chamada Memórias de Ontem, que é maravilhosa e acaba sendo esquecida mesmo por aqueles que gostam do estúdio. Acho que vale a pena conferir.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Esse é um assunto complexo. Há muita coisa envolvida, inclusive salário de pessoas que tem em seus empregos lá a única fonte de sustento, mas ainda assim acho que não. Mesmo com lugares reduzidos, não acho que uma sala fechada, sem janelas, com ar condicionado funcionando, seja exatamente um lugar seguro em uma pandemia.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Eu acho que o cinema brasileiro ainda é um dos melhores do mundo. É claro, existem muitas dificuldades e desafios, principalmente na atual conjuntura, mas o que não falta são realizadores criativos e competentes. Os grandes problemas são a falta de investimento e a dificuldade na distribuição.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Eu adoro o trabalho do Marcelo Gomes, Estou Me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar é um dos melhores documentários brasileiros já feitos (e olha que o Brasil tem muita tradição documental). Além dele, a Júlia Murat também é talentosíssima, e eu tento ver tudo que ela lança.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Sentimento em imagem em movimento.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

A primeira vez que fui ao cinema foi em um cinema de rua que existia em Bauru, eu era pequenininho, nem lembro a idade. Eu e minha família fomos ver Xuxa e Os Duendes, e o pessoal da sala vendia mais ingressos do que tinha lugares. Nós tivemos que sentar no chão do corredor, e meu pai acabou sentando em um chiclete.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Obra-prima.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo? 

Não necessariamente, mas claro, quanto mais conhecimento de linguagem e história do cinema se tem, melhores são suas referências e maiores as chances de conseguir fazer algo realmente bom. 

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida? 

1964: O Brasil entre Armas e Livros. Me dá até desgosto de chamar aquela atrocidade de filme. É simplesmente terrível em tudo.

 

17) Qual seu documentário preferido? 

Documentário é um dos meus gêneros (ou seria estilo?) favoritos de filmes, então é bem difícil dizer. Mas aqui eu seria injusto se não colocasse o Eduardo Coutinho, então fico com Edifício Master.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?   

Vingadores Ultimato. Na real nem acho ele o melhor filme do MCU, mas com o embalo todo da sessão parecendo à arquibancada do Pacaembu em dia de final, não teve como não se contagiar.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu? 

Cidade dos Anjos é um filme que eu gosto e foi bem marcante na minha infância, apesar de hoje preferir Asas do Desejo, a versão do Wim Wenders. Mas o meu favorito de verdade é A Lenda do Tesouro Perdido. Ele abraça o bom humor, o absurdo e a tosquiçe pra construir a aventura e fica FANTÁSTICO.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

De notícias o Adorocinema, e de críticas eu gosto muito o Cineplot e o Cinemascope, e também gosto das críticas do Cineratus.