O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de Salvador (Bahia). Marina Lordelo tem 33 anos, é Bacharel
em Artes - concentração em Cinema e Audiovisual, diretora de fotografia,
fotógrafa still, roteirista e pesquisadora no Grupo de Estudos e Pesquisa
Arqueologia do Sensível.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Espaço Itaú Glauber
Rocha de Cinema em Salvador. Uma sala que combina conforto, filmes de maior
e de menor circulação. Além da ótima curadoria, é o local que abriga o Festival Panorama de Cinema, com uma
vista especial do terraço para a Baía de Todos os Santos.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
Psicose de Hitchcock foi o primeiro filme que eu
assisti com alguma consciência cinematográfica. Lembro de ficar impressionada
com as camadas narrativas mas também da encenação que o diretor propõe.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Eu já tive vários diretores e diretoras favoritas.
Atualmente é Agnes Varda e o filme
dela que mais tenho revisitado é Cléo
das 5 às 7.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Atualmente ando apegada ao O Som Ao Redor de Kleber
Mendonça Filho. São muitas as razões que me atraem, mas a consciência de
decupagem, sem dúvidas, é a mais sedutora.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
Cinefilia é um conceito que sofre muito, desde a Cahiers du Cinema. Eu penso que é
preciso usá-lo com parcimônia e gentileza, para que não seja excludente. Um
cinéfilo pode carregar muitos estigmas e talvez o mais produtivo deles seja a
sensibilidade para apreciar os filmes de forma respeitosa e democrática.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas
que entendem de cinema?
A programação dos cinemas é um assunto demorado. Vai de
distribuição ao mercado e, certamente, em alguma medida, os profissionais
envolvidos com programação das salas se relacionam com algumas das temáticas
necessárias para preencher uma sala de cinema com filmes diversos.
7) Algum dia as salas
de cinema vão acabar?
Não.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Garota Sombria Caminha
Pela Noite, Ana Lily Amirpour.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Já há a vacina, o que precisa é de vacinação. Mas penso que
as salas de cinema deveriam ter sido subsidiadas pelo estado e pelas
distribuidoras para que se mantenham fechadas até que pelo menos uma parte
razoável da população tenha sido vacinada.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
O cinema brasileiro é diverso assim como o cinema de
qualquer outro país. Há cinema de grande orçamento geralmente focado em
comédias globais ou filmes de ação e também há um cinema preocupado com a
democratização da situação sócio-política do país e de sua população. O Brasil
faz cinema de gênero de excelente qualidade, por exemplo (Bacurau, O Animal Cordial, Divino Amor), mas ainda alcança um
público restrito. Há incoerência entre o tamanho do público que os diferentes
setores alcançam e essa equação é difícil de resolver sem políticas públicas de
incentivo à cultura. O sucateamento da ANCINE é um problema grave que precisa
de atenção - não há como pensar em qualidade de um cinema nacional sem pesar em
suas agências de fomento e promoção.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Wagner Moura.
12) Defina cinema com
uma frase:
Cinema é invenção e
experiência.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
2018 estava em um festival de cinema que exibia uma sessão
nostálgica de Mulholland Drive (Cidade dos Sonhos, 2001) de David Lynch, e um senhor que estava
sentado atrás de mim achou que o filme era de comédia. Resultado - ele
gargalhou em vários momentos (inapropriados, inclusive). Foi uma experiência
divertidíssima.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
Carla Perez
mostrando que todo mundo pode ocupar o cinema.
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Não necessariamente, mas diretores e diretoras que flertam
com a cinefilia talvez consigam dimensionar a complexidade que é trabalhar com
cinema.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
A última experiência ruim que tive no cinema foi A Trama Fantasma (2018), de P. Thomas Anderson.
17) Qual seu
documentário preferido?
Cabra Marcado Para
Morrer (1984, Eduardo Coutinho).
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Muitas vezes, geralmente em festivais.
19) Qual o melhor filme
com Nicolas Cage que você viu?
O Homem-Aranha no
Aranhaverso, com a voz do Spider-Man Noir.
20) Qual site de cinema
você mais lê pela internet?
Revista Cinética.
Mas ouço muito podcasts também, gosto do Feito
Por Elas e do The Cinematography
Podcast.