26/03/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #339 - Marina Lordelo


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de Salvador (Bahia). Marina Lordelo tem 33 anos, é Bacharel em Artes - concentração em Cinema e Audiovisual, diretora de fotografia, fotógrafa still, roteirista e pesquisadora no Grupo de Estudos e Pesquisa Arqueologia do Sensível.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Espaço Itaú Glauber Rocha de Cinema em Salvador. Uma sala que combina conforto, filmes de maior e de menor circulação. Além da ótima curadoria, é o local que abriga o Festival Panorama de Cinema, com uma vista especial do terraço para a Baía de Todos os Santos. 

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Psicose de Hitchcock foi o primeiro filme que eu assisti com alguma consciência cinematográfica. Lembro de ficar impressionada com as camadas narrativas mas também da encenação que o diretor propõe.  

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Eu já tive vários diretores e diretoras favoritas. Atualmente é Agnes Varda e o filme dela que mais tenho revisitado é Cléo das 5 às 7.  

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Atualmente ando apegada ao O Som Ao Redor de Kleber Mendonça Filho. São muitas as razões que me atraem, mas a consciência de decupagem, sem dúvidas, é a mais sedutora.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Cinefilia é um conceito que sofre muito, desde a Cahiers du Cinema. Eu penso que é preciso usá-lo com parcimônia e gentileza, para que não seja excludente. Um cinéfilo pode carregar muitos estigmas e talvez o mais produtivo deles seja a sensibilidade para apreciar os filmes de forma respeitosa e democrática.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

A programação dos cinemas é um assunto demorado. Vai de distribuição ao mercado e, certamente, em alguma medida, os profissionais envolvidos com programação das salas se relacionam com algumas das temáticas necessárias para preencher uma sala de cinema com filmes diversos. 

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Garota Sombria Caminha Pela Noite, Ana Lily Amirpour.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Já há a vacina, o que precisa é de vacinação. Mas penso que as salas de cinema deveriam ter sido subsidiadas pelo estado e pelas distribuidoras para que se mantenham fechadas até que pelo menos uma parte razoável da população tenha sido vacinada.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

O cinema brasileiro é diverso assim como o cinema de qualquer outro país. Há cinema de grande orçamento geralmente focado em comédias globais ou filmes de ação e também há um cinema preocupado com a democratização da situação sócio-política do país e de sua população. O Brasil faz cinema de gênero de excelente qualidade, por exemplo (Bacurau, O Animal Cordial, Divino Amor), mas ainda alcança um público restrito. Há incoerência entre o tamanho do público que os diferentes setores alcançam e essa equação é difícil de resolver sem políticas públicas de incentivo à cultura. O sucateamento da ANCINE é um problema grave que precisa de atenção - não há como pensar em qualidade de um cinema nacional sem pesar em suas agências de fomento e promoção.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Wagner Moura.

 

12) Defina cinema com uma frase:

 Cinema é invenção e experiência.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

2018 estava em um festival de cinema que exibia uma sessão nostálgica de Mulholland Drive (Cidade dos Sonhos, 2001) de David Lynch, e um senhor que estava sentado atrás de mim achou que o filme era de comédia. Resultado - ele gargalhou em vários momentos (inapropriados, inclusive). Foi uma experiência divertidíssima.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Carla Perez mostrando que todo mundo pode ocupar o cinema. 

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não necessariamente, mas diretores e diretoras que flertam com a cinefilia talvez consigam dimensionar a complexidade que é trabalhar com cinema.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

A última experiência ruim que tive no cinema foi A Trama Fantasma (2018), de P. Thomas Anderson. 

 

17) Qual seu documentário preferido?

Cabra Marcado Para Morrer (1984, Eduardo Coutinho).

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?

Muitas vezes, geralmente em festivais. 

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

O Homem-Aranha no Aranhaverso, com a voz do Spider-Man Noir. 

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Revista Cinética. Mas ouço muito podcasts também, gosto do Feito Por Elas e do The Cinematography Podcast.