O silêncio apaga tudo. Um homem, sua Kombi e suas buscas por respostas da história de seu avô, a reconstrução da memória de uma região, por quem ainda se lembra dessa época terrível, fatos que parte da elite se esforça em ocultar. As margens de uma estrada de ferro e no alto do sertão morriam centenas de pessoas nos chamados campos de concentração (os currais do governo), lugares criados no início da década de 30, sob conhecimento do governo federal, onde flagelados da seca eram tratados com indiferença e discriminação pela elite que já morava na cidade de Fortaleza. Escrito e dirigido pela dupla de cineastas David Aguiar e Sabina Colares, modelado em uma mistura entre documentário e ficção, Currais apresenta relatos impactantes, impressionantes, surpreendentes, além de fotos antigas mostrando o que as palavras dizem ao longo dos cerca de 90 minutos de projeção.
Uma história real, onde campos de concentração, chamados
assim mesmo, lugares onde pessoas de baixa renda e sem praticamente nenhuma
escolaridade, além de pessoas que fugiam da seca de outras regiões eram
mantidos confinados, milhares de pessoas em raios pequenos. Um formigueiro
humano. Eles eram mantidos nesses lugares, sem alimentação básica, pagamentos,
para não conseguirem chegar as grandes cidades ao redor de fortaleza. A dor e o
sofrimento são marcantes nos relatos de conhecidos de sobreviventes e alguns
até testemunhas oculares dos horrores praticados nesses currais onde as pessoas
tentavam sobreviver pessoas, trabalhadores brasileiros, desesperados que foram esquecidos
pela história.
Depois que você assiste a esse documentário, é muito difícil
de tirá-lo da memória. Pensar que uma cidade se ergueu sob suor e sangue é
assustador. Nosso país é enorme. Tantas histórias...e muitas delas desoladoras,
tristes. Como um ser humano pode fazer isso com outro ser humano? Um capitalismo
desenfreado, um elitismo esnobe e arrogante, entendemos o reflexo dessas
atitudes até os tempos atuais se formos comparar com a questão social das
favelas, pessoas que vivem à margem de uma sociedade privilegiada. O filme abre
espaço também para mostrar a religião ganhando contornos culturais através dos
devotos das almas da barragem. Um documentário/ficção arrebatador que diz muito
sobre a história de nosso país.