O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nossa entrevistada de hoje é brasileira mas que mora na Cidade do México (México). Lilia Lustosa tem 46 anos, Taurina, brasileira, nascida em Fortaleza, criada em Brasília, morando atualmente no México, depois de ter passado 7 anos na Suíça e 5 na Argentina. Casada, mãe de João Pedro e Nina, e tia de muitos sobrinhos. Formada em Publicidade, especialista em Marketing, mestre em História e Estética do Cinema pela Universidade de Lausanne e agora prestes a terminar um doutorado nesta mesma Universidade. Dá aulas de história do cinema, escreve críticas e dá dicas de filmes em seu blog www.lilialustosa.com e no Instagram @cine.meuolhar. Escreve sobre cinema (desde setembro de 2019) também na revista Política Democrática, da Fundação Astrojildo Pereira.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Difícil responder a essa pergunta agora, porque mudei pra
Cidade do México em agosto do ano passado, em plena pandemia, com as salas de
cinema todas fechadas. No fim do ano, tive a sorte de ir a uma sessão para
assistir Tenet, logo que as salas reabriram. Em pouquíssimo tempo, as salas
fecharam de novo e só reabriram na semana passada. Assim, ainda não tenho minha
sala preferida aqui, mas estou super animada porque nunca morei tão perto de
tantas salas de cinema. Acho que tem uns 4 complexos aqui por perto! Fora a
Cineteca, que fica longe de onde moro, mas que é maravilhosa!
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
Minhas primeiras lembranças de cinema têm gosto de férias em
Fortaleza. Sempre ia passar férias lá quando pequena e ia ao Cine São Luiz ou ao Cine Diogo com minha tia ver os
lançamentos do verão. Me marcaram muito ET,
Os Goonies, Ghostbusters e De Volta
ao Futuro. Eu amava aquela experiência da sala escura, da música super alta
tomando conta de todos os cantos da sala e da minha alma! E a gente ali,
mastigando Mentex e viajando naqueles mundos diferentes e inusitados!
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Juro que não sei responder a essa pergunta. Gosto de muitos
diretores e de muitos filmes. Adoro Hitchcock
(Psicose, Vertigo, Janela Indiscreta), Chaplin
(Tempos Modernos, O Grande Ditador), Fritz Lang (Metropolis), Vittorio de Sica
(Ladrões de Bicicleta, Umberto D), Scorsese (Ilha do Medo), Kubrick (O
Iluminado), Spielberg (ET), Tarantino (Bastardos Inglórios), Iñarritu (Babel)…
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Deus e o Diabo na
Terra do Sol (1964), de Glauber
Rocha. Porque foi um filme que quebrou todos os paradigmas do cinema
brasileiro, instaurando uma liberdade criativa que antes não se imaginava em
nosso país culturalmente colonizado. Glauber trouxe o cordel, a seca e a
história do cangaço para a tela, ao contar uma fábula ao mesmo tempo de
desespero e de esperança. Foi com esse filme e com Vidas Secas (1963), de Nelson
Pereira dos Santos, que o mundo entendeu que em terras tupiniquins também
se sabia fazer bom cinema! Foi o auge do Cinema
Novo.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
É sentir um imenso prazer em esquecer a própria vida por
algumas horas e experimentar outras sensações, proporcionadas por histórias
advindas de mentes criativas e transportadas até nós por telas de todos os
modelos e tamanhos.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por
pessoas que entendem de cinema?
Eu espero que sim, mas não tenho certeza que isso aconteça!
Eu adoraria que fossem pessoas que entendessem não só do “business” cinema, mas
também da arte envolvida.
7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?
Não acredito que acabem tão cedo… se é que um dia vão
acabar! Claro que vão diminuir muito de
quantidade, talvez até tornando-se um programa de luxo, mas o prazer de
assistir a um filme em uma sala escura ainda vai resistir e seduzir por um bom
tempo!
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
O Lagosta (2015),
do grego Yorgos Lanthimos. Adoro!
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Se respeitarem todos protocolos de segurança, sim. Mas não
agora, na atual conjuntura do Brasil. Agora, mais que nunca, é fundamental
ficar em casa! A coisa está feia demais por aí. Infelizmente!
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Eu gosto do que tenho visto. Temos excelentes diretores e a
nossa qualidade técnica evoluiu bastante. O que falta ainda (velha história) é
um bom sistema de distribuição. Muitos filmes brasileiros não chegam às salas
de cinema. E quando chegam, ficam por poucos dias em cartaz. Assim o brasileiro
acaba acreditando que não fazemos cinema de qualidade no nosso país, o que é
uma inverdade! Tem muita coisa boa sendo feita! Viva o cinema brasileiro!
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Fernanda Montenegro.
Tem Fernanda, é bom!!!!!
12) Defina cinema com
uma frase:
A arte de viajar no tempo e no espaço sem precisar sair do
lugar.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Tem uma história que não sei se poderia dizer que
“presenciei”, mas vivenciei… e morri de medo! Fui assistir ao filme Twixt (2012), do Coppola – que é de terror – em uma pequena sala de cinema em
Genebra, perto da estação de trem. A sala ficava no subterrâneo, o celular não
pegava e só estávamos na sala eu e mais uma pessoa! Passei o filme inteiro
tensa, imaginando que se fosse atacada por aquela pessoa que eu não conseguia
ver quem era, já que entrou quando a sala estava escura, ninguém ia poder me
ajudar, presa naquela sala-calabouço. Foi tenso! E o filme não ajudou!
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras…
Não tenho a menor ideia do que seja. Tenho que googlear?
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Não acho que seja uma necessidade. Imagino que ajude, já que
quanto mais filmes a gente vê, mais ideias a gente tem. Mas isso também vale
para viagens, livros, experiências, etc. O que conta mesmo é o talento e a
sensibilidade.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
Outra pergunta difícil de responder! Já vi vários que
detestei. Inclusive de diretores aclamados pela crítica. Um que me marcou foi Holy Motors (2012), de Leos Carax, considerado um dos top 10
do Cahiers du cinéma. Passei o filme inteiro achando que ia melhorar… e nada. O
final então, socorro!!!!
17) Qual seu
documentário preferido?
Vários. Amo documentários! Sou apaixonada pelos filmes do Eduardo Coutinho!!!! Acho que vi todos!
Gosto bastante também do Carlos Nader.
Ele tem uma sensibilidade no olhar que me encanta. Recentemente assisti a dois
documentários brasileiros que gostei muito, o Babenco, da Bárbara Paz;
e o AmarElo - é tudo pra ontem, de Fred Ouro Preto. Bem diferentes um do
outro, mas ambos muito bons!
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Sim, e foi justamente um documentário, o Tropicália (2012), de Marcelo Machado. Eu estava morando na
Suíça na época e ver todas aquelas imagens da nossa cultura e da nossa gente na
telona, embaladas por nossa música, me emocionaram loucamente! Não resisti e
bati palmas!
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
Despedida em Las
Vegas.
20) Qual site de
cinema você mais lê pela internet?
Não tenho nenhum site preferido. Talvez o meu
(www.lilialustosa.com)… Brincadeira! Recentemente descobri o canal do Youtube
do Dalenogare e estou seguindo.
Gosto bastante dos comentários dele! Vou começar a me envolver mais agora com a
crítica. Estou terminando meu doutorado (só falta defender a tese) em estética
e história do cinema e depois disso vou mergulhar de vez na cinefilia!!!!!! Me
aguardem!!!! Hahahaha.