O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, nascida em Brasília. Heloisa Machado tem 27 anos é formada
em Cinema e Audiovisual pela UFF, é
integrante do DAFB, Coletivo de mulheres
e pessoas transgênero do
departamento de fotografia do Brasil e trabalha há 8 anos na ANCINE. Dirigiu e fotografou alguns
curtas-metragens e está finalizando seu primeiro longa de ficção como
roteirista e diretora, o Cartografia das
Ondas.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Em Brasília, minha cidade natal, sou apaixonada pelo Cine Brasília, por ser um templo
arquitetônico maravilhoso e por ter visto grandes mostras e festivais por lá.
No Rio, gosto muito do Estação Botafogo.
A programação é sempre muito boa e diversa, mas tem que dar sorte pro seu filme
preferido estar em uma das salas boas, porque tem umas que a tela mexe quando
abre a porta rs.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
Me lembro muito de ter visto Gran Torino na sala de cinema do CCBB de Brasília, em uma mostra do
Clint Eastwood. Lembro de ser uma
experiência marcante depois de uma infância de cinema de shopping e VHS de
locadora. Na mesma época vi Tio Boonmee,
que Pode Recordar suas Vidas Passadas, no cineclube da faculdade. Mesmo me
sentindo meio perdida nos meus 17, soube ali que o cinema era o meu lugar.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Andrei Tarkovsky
é um eterno mestre. Apesar de achar O
sacrifício o melhor filme dele, tenho uma relação muito afetiva com o Stalker, que foi o primeiro filme que
vi dele. Aquilo foi algo que mudou minha relação com o cinema.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
O Bandido da Luz
Vermelha é um clássico muito marcante. Mesmo tendo dezenas de outros filmes
mais recentes que eu amo, o Bandido é muito especial pela potência anárquica e
ao mesmo tempo popular que ele conseguiu construir. É um fenômeno absolutamente
único na história do cinema brasileiro.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
Ser cinéfilo para mim é amar a experiência de ver filmes,
simples assim. Pra mim não há uma meritocracia em conhecer mais ou menos
filmes, ou de se gostar de determinado estilo de filmes em detrimento de
outros, ou de conhecer mais ou menos diretores. Acho que tudo isso varia de
acordo com a vida de cada um, sua classe social, o meio em que está inserido.
Então pra mim ser cinéfilo é estar aberto para a experiência que um filme pode
te provocar, seja ela boa ou ruim, seja riso ou choro, seja agonia ou reflexão.
Ser cinéfilo é estar aberto e disposto a se afetar por um universo que acontece
em uma tela à sua frente.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas
que entendem de cinema?
Acho que entender de cinema é relativo. A programação
geralmente é feita por pessoas que entendem de ganhar dinheiro com cinema e
isso nem sempre depende do filme ser bom rs.
7) Algum dia as salas
de cinema vão acabar?
Acredito que não. As novas tecnologias irão surgir, mas a sala
de cinema sempre terá o seu lugar. O rádio está aí até hoje, não é?
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Arábia, do Affonso Uchôa. Ganhou o Festival de
Brasília do Cinema Brasileiro em 2017.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Eu acho que não, pois é um risco muito grande estar em um
local fechado com dezenas de pessoas enquanto duas mil pessoas morrem por dia
no país. Apesar de amar ir ao cinema, eu não vou voltar a uma sala até que haja
vacina para 70% da população. Mas acho também que várias medidas deveriam ser
tomadas e não só limitar os espaços de lazer das pessoas.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Há coisas brilhantes sendo feitas e uma variedade muito
grande de estilos e temáticas, o que vejo como fruto de uma política pública
consistente que começou em 2001 com a ANCINE e ganhou força durante os 13 anos
de governos que se importavam com a cultura. Há quem diga que o cinema
brasileiro é ruim porque se prende aos grandes lançamentos, geralmente comédias
com um apelo mais popular. Eu acho isso uma bobagem. As comédias tem seu
público e há uma variedade de outros gêneros sendo explorados por uma
diversidade de diretoras e diretores incríveis, desde o drama, até o suspense,
terror, romance... Pra mim o grande gargalo é a distribuição, pois vários
filmes ficam pouco tempo em cartaz por não ter um apelo comercial mais óbvio. A
solução acaba sendo acompanhar os festivais e ficar ligado naquele cinema mais
alternativo da sua cidade.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
A Juliana Rojas é
uma que tenho acompanhado assiduamente e sempre amo os trabalhos dela.
12) Defina cinema com
uma frase:
Cinema é um mosaico de sons e imagens com infinitas
possibilidades.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Quando minha filha tinha uns seis meses, viajei com ela para
o Festival Olhar de Cinema em Curitiba. Eu e o pai dela assistimos uma média de
3 filmes por dia, sempre com ela a tira colo. Ela virou o mascote do festival.
Às vezes ela assistia um pouquinho, depois mamava e dormia. O único filme que
ela chorou até abandonarmos a sessão foi o único filme do festival que a gente
não gostou. Até hoje a gente fala que ela chorou porque o filme era ruim.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
O fenômeno mais brilhantemente engraçado do cinema
brasileiro.
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Acho que não. Diferentes tipos de filmes exigem diferentes
tipos de experiências. Às vezes para um filme em especial vai contar mais a
experiência do diretor do que quantos filmes ele viu, e tudo bem.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
Fim dos Tempos,
do Shyamalan.
17) Qual seu
documentário preferido?
Eu amo Exit Through
the gift Shop, mas como é um falso documentário, vou ficar com Chão, da Camila Freitas, que é o último que me arrepiou todinha.
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Sim, mas acho que só faz sentido quando algum dos
realizadores está presente.
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
Adaptação.
20) Qual site de
cinema você mais lê pela internet?
Revista Cinética.