28/03/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #342 - Heloisa Machado


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, nascida em Brasília. Heloisa Machado tem 27 anos é formada em Cinema e Audiovisual pela UFF, é integrante do DAFB, Coletivo de mulheres e pessoas transgênero do departamento de fotografia do Brasil e trabalha há 8 anos na ANCINE. Dirigiu e fotografou alguns curtas-metragens e está finalizando seu primeiro longa de ficção como roteirista e diretora, o Cartografia das Ondas.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Em Brasília, minha cidade natal, sou apaixonada pelo Cine Brasília, por ser um templo arquitetônico maravilhoso e por ter visto grandes mostras e festivais por lá. No Rio, gosto muito do Estação Botafogo. A programação é sempre muito boa e diversa, mas tem que dar sorte pro seu filme preferido estar em uma das salas boas, porque tem umas que a tela mexe quando abre a porta rs.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Me lembro muito de ter visto Gran Torino na sala de cinema do CCBB de Brasília, em uma mostra do Clint Eastwood. Lembro de ser uma experiência marcante depois de uma infância de cinema de shopping e VHS de locadora. Na mesma época vi Tio Boonmee, que Pode Recordar suas Vidas Passadas, no cineclube da faculdade. Mesmo me sentindo meio perdida nos meus 17, soube ali que o cinema era o meu lugar.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Andrei Tarkovsky é um eterno mestre. Apesar de achar O sacrifício o melhor filme dele, tenho uma relação muito afetiva com o Stalker, que foi o primeiro filme que vi dele. Aquilo foi algo que mudou minha relação com o cinema.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

O Bandido da Luz Vermelha é um clássico muito marcante. Mesmo tendo dezenas de outros filmes mais recentes que eu amo, o Bandido é muito especial pela potência anárquica e ao mesmo tempo popular que ele conseguiu construir. É um fenômeno absolutamente único na história do cinema brasileiro.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Ser cinéfilo para mim é amar a experiência de ver filmes, simples assim. Pra mim não há uma meritocracia em conhecer mais ou menos filmes, ou de se gostar de determinado estilo de filmes em detrimento de outros, ou de conhecer mais ou menos diretores. Acho que tudo isso varia de acordo com a vida de cada um, sua classe social, o meio em que está inserido. Então pra mim ser cinéfilo é estar aberto para a experiência que um filme pode te provocar, seja ela boa ou ruim, seja riso ou choro, seja agonia ou reflexão. Ser cinéfilo é estar aberto e disposto a se afetar por um universo que acontece em uma tela à sua frente.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Acho que entender de cinema é relativo. A programação geralmente é feita por pessoas que entendem de ganhar dinheiro com cinema e isso nem sempre depende do filme ser bom rs.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acredito que não. As novas tecnologias irão surgir, mas a sala de cinema sempre terá o seu lugar. O rádio está aí até hoje, não é?

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Arábia, do Affonso Uchôa. Ganhou o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro em 2017.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Eu acho que não, pois é um risco muito grande estar em um local fechado com dezenas de pessoas enquanto duas mil pessoas morrem por dia no país. Apesar de amar ir ao cinema, eu não vou voltar a uma sala até que haja vacina para 70% da população. Mas acho também que várias medidas deveriam ser tomadas e não só limitar os espaços de lazer das pessoas.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Há coisas brilhantes sendo feitas e uma variedade muito grande de estilos e temáticas, o que vejo como fruto de uma política pública consistente que começou em 2001 com a ANCINE e ganhou força durante os 13 anos de governos que se importavam com a cultura. Há quem diga que o cinema brasileiro é ruim porque se prende aos grandes lançamentos, geralmente comédias com um apelo mais popular. Eu acho isso uma bobagem. As comédias tem seu público e há uma variedade de outros gêneros sendo explorados por uma diversidade de diretoras e diretores incríveis, desde o drama, até o suspense, terror, romance... Pra mim o grande gargalo é a distribuição, pois vários filmes ficam pouco tempo em cartaz por não ter um apelo comercial mais óbvio. A solução acaba sendo acompanhar os festivais e ficar ligado naquele cinema mais alternativo da sua cidade.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

A Juliana Rojas é uma que tenho acompanhado assiduamente e sempre amo os trabalhos dela.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é um mosaico de sons e imagens com infinitas possibilidades.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Quando minha filha tinha uns seis meses, viajei com ela para o Festival Olhar de Cinema em Curitiba. Eu e o pai dela assistimos uma média de 3 filmes por dia, sempre com ela a tira colo. Ela virou o mascote do festival. Às vezes ela assistia um pouquinho, depois mamava e dormia. O único filme que ela chorou até abandonarmos a sessão foi o único filme do festival que a gente não gostou. Até hoje a gente fala que ela chorou porque o filme era ruim.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

O fenômeno mais brilhantemente engraçado do cinema brasileiro.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Acho que não. Diferentes tipos de filmes exigem diferentes tipos de experiências. Às vezes para um filme em especial vai contar mais a experiência do diretor do que quantos filmes ele viu, e tudo bem.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Fim dos Tempos, do Shyamalan.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Eu amo Exit Through the gift Shop, mas como é um falso documentário, vou ficar com Chão, da Camila Freitas, que é o último que me arrepiou todinha.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?

Sim, mas acho que só faz sentido quando algum dos realizadores está presente.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Adaptação.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Revista Cinética.