Quando a dor é maior que o desejo, o corpo não suporta mais. Lançado anos atrás no circuito exibidor brasileiro, depois de passagens em alguns ótimos festivais, o suspense brasileiro Clarisse ou alguma coisa sobre nós dois afirma a tese de que cinema também é detalhe, movimento, e algumas vezes uma jornada sob ótica muito individual. Dirigido pelo cearense Petrus Cariry, percebemos uma tentativa de personificação do desgaste emocional, um caminho difícil de criar pensando em cinema, porém, a técnica em sua excelência, principalmente da fotografia (assinada pelo próprio diretor) nos leva a pontos de reflexão.
Na trama, conhecemos Clarisse (Sabrina Greve) uma mulher casada que durante alguns dias resolve ir
visitar o pai que está doente. Chegando lá percebe que o lugar, objetos e
situações começam a envolvê-la. Vemos quase uma mulher em transe, hipnotizada
por um lugar que traz lembranças, memórias e que se choca com tudo em que a
mesma se transformou. A boa captação do áudio, um problema resolvido de anos
passados do nosso cinema, é fundamental para o clima profundo que o inusitado
da trama pede.
Loucura? Imprecisão emocional? De onde nasce as certezas
universais? Há uma tentativa de personificação do desgaste emocional (até mesmo
a biologia como paralelo das emoções), um caminho difícil de criar pensando em
cinema, porém, a técnica em sua excelência, principalmente da fotografia
(assinada pelo próprio diretor) nos provoca pontos reflexivos aos montes dentro
de um contexto de noites longas e tempo devagar.
Com uma intensidade profunda, podemos afirmar que Clarisse ou alguma coisa e nós dois não
é um filme fácil, é provocativo e instiga o espectador a uma viagem metafórica cheia de margens argumentativas.