Quando a ingenuidade encontra as indomáveis lições do amar. Filme de estreia na direção e roteiro do cineasta mexicano Gerardo Gatica, Diga-me Quando apresenta pequenos exageros costurados com clichês mas nada que gere bocejos ou desinteresse, pelo contrário, o projeto se apresenta muito mais profundo do que aparenta, uma belíssima construção com diálogos criativos, emoções variadas, se tornando uma crônica latina sobre as descobertas do amar. Sem pretensão de ser perfeito, se arrisca com sucesso nas linhas tumultuadas da melancolia. Grata surpresa. Disponível na Netflix.
Na trama, conhecemos Will (Jesús Zavala), um jovem economista de formação, sem amigos, que
nunca se diverte, workholic, pentelhado pelo seu chefe inclusive aos sábados, que
mora em Los Angeles próximo a seus avós de origem mexicana. Quando seu avô
morre no mesmo deserto que atravessou anos atrás quando chegou aos Estados
Unidos, o tempo passa e Will encontra uma pequena caderneta que o avô deixou
dizendo todas as coisas que ele precisa fazer no México (redescobrir suas
origens, cantar com mariachis, ficar bêbado com mezcal, ir até a praça da
constituição, ao palácio belas artes...encontrar um amor, fazer amigos...) para ser uma pessoa mais feliz. Assim, parte
em busca desse país multicultural e lá acaba conhecendo pessoas que mudarão sua
maneira de ver o mundo, principalmente a atriz de teatro Dani (Ximena Romo), por quem se apaixona loucamente.
Entre uma polaroid e outra, até declamação de poema,
passando por quase todas as fases do se apaixonar a comédia romântica apresenta
de maneira muito poética o lado bom e o lado ruim de se jogar em uma paixão.
Esses contrapontos, dentro de uma Inserção no universo da conquista, ditam o
ótimo roteiro a um ritmo de gerar risos e energias boas, talvez pelas belas atuações,
talvez por já sentirmos algumas daquelas fases vividas pelo protagonista.
Você precisa aprender a ser, não só a ter. O longa-metragem
bate bastante na tecla do importante que é ter experiências que nos moldem como
seres humanos e como é a melhor forma de aprendermos a perder e ganhar. O
protagonista, antes um desajustado no convívio social, se descontrói e renasce através
do mesmo universo que vive mas com uma ótica diferente, vira um constante
observador de um novo mundo que já existia mas ele não conseguia enxergar.
Em um programa de perguntas e respostas, se essa mesma história
se passasse ambientada nos Estados Unidos, mais precisamente em Nova Iorque, a
maioria dos cinéfilos e cinéfilas diria que se tratava de um filme do Woody
Allen.