02/05/2021

Crítica do filme: 'Diga-me Quando'


Quando a ingenuidade encontra as indomáveis lições do amar. Filme de estreia na direção e roteiro do cineasta mexicano Gerardo Gatica, Diga-me Quando apresenta pequenos exageros costurados com clichês mas nada que gere bocejos ou desinteresse, pelo contrário, o projeto se apresenta muito mais profundo do que aparenta, uma belíssima construção com diálogos criativos, emoções variadas, se tornando uma crônica latina sobre as descobertas do amar. Sem pretensão de ser perfeito, se arrisca com sucesso nas linhas tumultuadas da melancolia. Grata surpresa. Disponível na Netflix.


Na trama, conhecemos Will (Jesús Zavala), um jovem economista de formação, sem amigos, que nunca se diverte, workholic, pentelhado pelo seu chefe inclusive aos sábados, que mora em Los Angeles próximo a seus avós de origem mexicana. Quando seu avô morre no mesmo deserto que atravessou anos atrás quando chegou aos Estados Unidos, o tempo passa e Will encontra uma pequena caderneta que o avô deixou dizendo todas as coisas que ele precisa fazer no México (redescobrir suas origens, cantar com mariachis, ficar bêbado com mezcal, ir até a praça da constituição, ao palácio belas artes...encontrar um amor, fazer amigos...)  para ser uma pessoa mais feliz. Assim, parte em busca desse país multicultural e lá acaba conhecendo pessoas que mudarão sua maneira de ver o mundo, principalmente a atriz de teatro Dani (Ximena Romo), por quem se apaixona loucamente.


Entre uma polaroid e outra, até declamação de poema, passando por quase todas as fases do se apaixonar a comédia romântica apresenta de maneira muito poética o lado bom e o lado ruim de se jogar em uma paixão. Esses contrapontos, dentro de uma Inserção no universo da conquista, ditam o ótimo roteiro a um ritmo de gerar risos e energias boas, talvez pelas belas atuações, talvez por já sentirmos algumas daquelas fases vividas pelo protagonista.


Você precisa aprender a ser, não só a ter. O longa-metragem bate bastante na tecla do importante que é ter experiências que nos moldem como seres humanos e como é a melhor forma de aprendermos a perder e ganhar. O protagonista, antes um desajustado no convívio social, se descontrói e renasce através do mesmo universo que vive mas com uma ótica diferente, vira um constante observador de um novo mundo que já existia mas ele não conseguia enxergar.


Em um programa de perguntas e respostas, se essa mesma história se passasse ambientada nos Estados Unidos, mais precisamente em Nova Iorque, a maioria dos cinéfilos e cinéfilas diria que se tratava de um filme do Woody Allen.