As quebras de paradigma e as aberturas para reflexões através de conversas. Dirigido pela cineasta francesa Manele Labidi, em seu primeiro longa-metragem, Um Divã na Tunísia nos mostra a saga de uma mulher forte, destemida, corajosa e deveras solitária. O roteiro mantém-se em tom reflexivo, o riso chega mais para os que alcançam as entrelinhas dentro de um contexto sobre problemas, feridas emocionais e razões/emoções sobre a indefinição do destino. A trilha sonora assinada pelo dinamarquês Flemming Nordkrog dita o ritmo desse recorte cultural com tons em vertente da psicologia.
Na trama, conhecemos Selma (Golshifteh Farahani) uma jovem e solitária psicanalista que chega
na Tunísia, mais precisamente em sua terra natal Túnis, que não visita desde os
10 anos, para abrir um consultório e atender pacientes no terraço de uma casa. Buscando
mudar a natureza dos problemas das pessoas, trazendo uma nova perspectiva, logo
faz bastante sucesso com a vizinhança mas a burocracia quase de fachada do
enrolado serviço público local a pressiona para uma licença que nunca chega.
A protagonista enche a tela com assuntos importantes para
refletirmos sobre (mesmo aqueles que não conhecem muito a região). Navegamos
pela cultura de um país com tradições árabes mas que cada vez mais tende ao
ocidente. Assim, de maneira quase inusitada, vamos aprender um pouco sobre
através dos pacientes que veem na personagem principal uma intelectual parisiense.
Tem paranoicos que sonham com ditadores e outras questões, um parente com
problemas com bebida, alguns com problemas na interpretação de sua fé,
problemas na família e tantos outros.
Os caricatos personagens do serviço público tunisiano fazem
muito sentido dentro da crítica social que o filme toca, além de darem um ótimo
tom cômico à trajetória da personagem. Dos que mais chamam a atenção: a
secretária do ministério da saúde que sempre arranja um tempinho para vender
suas muambas e uma dupla de policiais que não sabem de nada aliados a um chefe
de polícia que está confuso sobre seus sentimentos para com a protagonista.
Um fato curioso chega no arco final, quase uma consulta com
Freud, em tom de desabafo conhecemos as angústias escondidas da profissional de
saúde que guarda muitas coisas dentro de si. Um belo desfecho que acaba
fechando um ciclo recortado dentro de um novo contexto social e político de uma
região que está ainda se abrindo para novos costumes e para o mundo.