O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de Santa Maria (Rio
Grande do Sul). Vinicius Denardin tem
25 anos. É graduado em Publicidade e Propaganda e pós-graduando em Cinema.
Atualmente, é roteirista da produtora Toca Audiovisual. Paralelamente,
desenvolve projetos cinematográficos independentes, tendo dirigido e roteirizado
os curtas-metragens ficcionais “Conectados e Desconexos” (2019), “Liberta”
(2021) e “Concreto Adaptado” (2021).
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Antes polo cinematográfico do estado, hoje Santa Maria só conta
com dois cinemas. Apesar de ambos serem bem comerciais, prefiro o Cinépolis pela programação um pouco
mais variada. Mas devo confessar que não foram raras as vezes que viajei a Porto
Alegre só para assistir aos filmes que jamais chegaram aqui – em sua maioria no
Itaú Cinema.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
The Dark Knight,
Nolan, 2008. Lembro que meu primo e eu chegamos atrasados na sessão – bem
na cena inicial do filme. Nos minutos que transcorreram, minha pipoca ficou intacta
e a latinha de refrigerante lacrada. Aquela atmosfera caótica, aquela trilha
fervorosa, a atuação do Ledger,
enfim, minha cabeça entrou em completo transe. Dali em diante, o cinema passou
a ter outro significado para mim.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Costumo dizer que não tenho um diretor favorito por muito
tempo. De ano em ano, gostos pessoais vão mudando, novos artistas são
conhecidos, etc. Claro que tem aqueles que são do coração mesmo, como o Richard Linklater, mas atualmente tenho
curtido muito o trabalho do Kleber
Mendonça Filho, por tudo que ele representa pro novo cinema nacional. E o
meu filme favorito dele segue sendo O
Som ao Redor, 2012, uma obra “suja” de tão verdadeira, um retrato curioso e
certeiro do Brasil daquela época.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Consumo muito cinema brasileiro, acho um dos mais criativos
do mundo. Gosto muito do Cinema da Retomada (metade dos anos 90 até início dos
2000) pois, entre outros grandes filmes, nasceu o meu favorito, Central do
Brasil, Salles, 1998. Uma obra-prima agridoce sobre um país eternamente perdido
que só sobrevive no tempo graças ao seu povo de coragem.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
É enxergar o filme além do audiovisual. Uma obra não termina
no minuto 120, ela transcorre pelos anos, representa épocas, cria contextos,
provoca questionamentos e possui potencial para se tornar objeto de estudo.
Cinema, assim como as outras artes, são retratos, logo, interessantíssimos para
um melhor discernimento da sociedade e do mundo em si.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por
pessoas que entendem de cinema?
Em Santa Maria, não. Se entendessem mesmo de cinema, eles optariam
por, pelo menos, fazer uma mescla entre a pluralidade e o comercial. Se eles só
pensam na lucratividade, talvez estejam atuando em uma área errada.
7) Algum dia as salas
de cinema vão acabar?
Nunca. A sala de cinema é o berço de um filme. O lugar onde todo
cineasta deseja apresentar sua obra, pois ele sabe que lá, e apenas lá, o
público vai ser conectar verdadeiramente com ela. Consumo e respeito os
streamings, acho que são importantíssimos para uma maior diversificação
cinematográfica, mas jamais irão substituir aquele ambiente.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Um dos meus favoritos, Dazed
and Confused, Linklater, 1993. Perfeito para tempos saudosistas.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Essa pergunta é difícil de responder. Sanitariamente falando,
não. A aglomeração ajuda a proliferar o vírus, como sabemos. Mas ao mesmo
tempo, prezo pelas redes de cinema, cada vez mais raras nas cidades do interior.
Se elas dependerem 100% das vacinas e do Governo Federal atual, estão fadadas a
sumirem. Logo, fico em cima do muro.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
O cinema brasileiro é e sempre foi ótimo, principalmente o
independente. Além de inventivo e
premiado, é corajoso, pois segue enfrentando inúmeras barreiras,
como o Governo inculto, concorrência desleal contra as obras estrangeiras e o
desleixo do público com a própria cultura – algo manipulado, diga-se. Nosso
cinema é bem maior do que as comédias da Globo Filmes – que também merecem o
devido respeito.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Fernanda Montenegro,
um ensinamento em cena.
12) Defina cinema com
uma frase:
“A arte não é só talento, mas sobretudo coragem”. Glauber Rocha.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Reclamações de um lado e risadas do outro durante a cena dos
forasteiros sulistas sendo mortos pelos norte-americanos, em uma sessão de
Bacurau, em Santa Maria.
14) Defina ‘Cinderela
Baiana’ em poucas palavras...
Indispensável para quem estuda roteiro.
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Acredito que sim, principalmente pelas referências. Nenhum
cineasta atual inventou ou vai inventar a “roda”, quase tudo já foi contado. O
que faz o cinema continuar maravilhoso e vivo são os infinitos caminhos que
existem para se contar a mesma história. E pra ti achar um desses caminhos, é
preciso conhecer a base. Sei que existem cineastas nada cinéfilos,
principalmente os da nova geração, criados sob a tese da autossuficiência. Não
os entendo, mas a ver.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
The Avengers e
derivados.
17) Qual seu
documentário preferido?
Cabra Marcado Para
Morrer, Coutinho, 1984. Um dos meus filmes brasileiros favoritos.
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Já. Bacurau. Um filme que de tão grande mal cabe em si.
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
Essa é difícil, são tantos clássicos... gosto bastante de Adaptation, Jonze, 2002.
20) Qual site de
cinema você mais lê pela internet?
Cinema em Cena,
do Pablo Villaça.
21) Qual streaming disponível
no Brasil você mais assiste filmes?
Amazon Prime.