A força do algoritmo contra o pensamento obsoleto. Dividido em capítulos que mostram pontos de vistas diferentes sobre a criação e consolidação do serviço de streaming de música, Spotify, Som na Faixa é uma minissérie sueca que causa seu impacto através da profundidade com que consegue gerar reflexões sobre um modelo de negócios à princípio muito contestado mas que acabou sendo algo revolucionário na indústria fonográfica. As interseções da narrativa não deixam de ser grandes embates onde o público recebe bastante informações para tirar suas próprias conclusões.
Na trama, conhecemos Daniel Ek (Edvin Endre), um programador que mora em Rågsved, subúrbio que fica
no distrito de Bandhagen, na capital sueca Estocolmo. Após passar por alguns
empregos frustrantes e limitados para todo seu potencial sonhador e
empreendedor, montou uma pequena empresa aos 22 anos e a vendeu por uma dezena
de milhões. Com o dinheiro partiu para uma nova ideia, uma player de música
diferente de tudo que se via na internet e no mercado do música. Assim, procuro
uma sociedade com o investidor Martin (Christian
Hillborg) que logo enxerga o potencial e juntos começam a montar as
primeiras peças do que seria a hoje tão famosa Spotify. Mas essa caminhada não
foi fácil, com bastante situações que colocaram a empresa em risco. Nesse contexto,
conhecemos outros importantes personagens para essa história: Per (Ulf Stenberg), um alto executivo de uma
poderosa da indústria musical. Petra (Gizem
Erdogan) uma influente advogada que acaba se juntando à equipe. Bobbie T (Janice Kavander), uma artista que
conhece Daniel desde os tempos de escola. O programador da equipe do Spotify, Andreas
(Joel Lützow). Sob diversos pontos de vistas, vamos acompanhando essa história.
Daniel era um ser solitário, somente ele e sua mãe no mundo
de família, sempre teve na nostalgia musical um certo alicerce para as duras
rotinas como programador. Uma forte lembrança, é de sua mãe que amava dançar ao
som de Aretha Franklin. Como toda mente empreendedora, encontrou soluções para uma
oportunidade que muitos enxergavam como complexa por conta de questões na
compra de direitos autorais (uma batalha que durou um longo período até uma
fatia do bolo ser repartida). A narrativa se joga em cima do confronto entre a
força do algoritmo contra o pensamento obsoleto de uma indústria que não
acompanhava as mudanças tecnológicas e as interações digitais que avançavam na
história da humanidade. O protagonista aos poucos foi conseguindo que as
pessoas, investidores, funcionários, outros empresários da indústria
fonográfica, enxergassem o negócio na sua perspectiva. Lembrando que a criação
da empresa foi feita num período em meio a uma guerra entre o download gratuito
e os detentores de direitos sobre as obras.
Mas a visão mais ampla sobre toda a criação e consolidação
do Spotify não estaria completa se outras variáveis não fossem colocadas no
tabuleiro. É o caso da visão do artista, a remuneração quando se está dentro da
plataforma, algo que ficou em tamanha crescente quando até mesmo tribunais
foram acionados e nomes importantes da indústria se manifestaram com questões
em relação ao modelo de negócios de Daniel Ek e sua equipe. E por falar em
equipe, a minissérie joga para o espectador pontos de vistas conflitantes, que
vão desde o programador-chefe do projeto e seu desânimo pelos rumos do negócio
até mesmo as decepções de Martin, o co-fundador e um dos primeiros a investir
dinheiro na criação da plataforma.
Com intensos episódios que não deixam nossos olhos desgrudar
da tela, Som na Faixa consegue em
poucos capítulos mostrar um empreendimento e suas questões em relação à indústria
fonográfica, conflitos de pensamentos que duram até os dias atuais.