16/12/2022

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Crítica do filme: 'Passagem'


Os aprendizados numa jornada pela melancolia. Filme de estreia como diretora de longa-metragem da cineasta nova iorquina Lila Neugebauer, Passagem, disponível no ótimo catálogo da Apple TV Plus, nos apresenta uma imersão à solidão de uma jovem militar que volta pra casa depois de terríveis sequelas no Afeganistão. A partir de uma amizade com um mecânico, esse também com toda uma estrada de angústia em um passado recente, busca novos horizontes, um novo olhar para frente, numa linha mais positiva sobre o que consegue alcançar no seu pensar sobre existência. Esse poderoso drama conta com atuações emocionantes dos excelentes Jennifer Lawrence e Brian Tyree Henry. Esse último indicado ao Spirit Awards 2023 na categoria Melhor Atuação Coadjuvante.


Na trama, conhecemos Linsey (Jennifer Lawrence) uma militar do corpo de engenharia do exército, especialista em sistemas de águas, que sofre uma complicada lesão cerebral no Afeganistão quando o veículo onde estava é atacado. Ela perde alguns movimentos do corpo e na volta para os Estados Unidos acaba indo num primeiro instante para a reabilitação na casa de uma cuidadora depois ruma para casa, onde tem a chance de resolver (ou pelo menos tentar) problemas adormecidos na relação com a mãe Gloria (Linda Emond) e nesse meio tempo, consegue emprego como piscineira e acaba conhecendo o mecânico James (Brian Tyree Henry) um homem muito bondoso que perdeu a perna em um grave acidente que mudou para sempre o destino de sua família. Assim, essas duas almas iniciam uma amizade com ganhos mútuos numa estrada dolorosa para saírem da solidão.


Um dos principais pontos para refletirmos sobre essa bonita história de superação é a questão do estado de desencanto, da tristeza. A melancolia embutida, muito por conta dos diálogos passarem pela caminhada até ali dos novos amigos, dentro de seus conflitos difíceis de serem superados aqui se torna um raio-x de personalidades que buscam meio que inconscientemente respostas para questões ligadas aos respectivos passados vividos ali mesmo naquela Nova Orleans com altas temperaturas. No caso de Linsey, enxergamos logo de cara uma barreira na comunicação com a complicada mãe e os motivos de uma fuga do lugar de criação. No caso de James, reflexões e a busca de uma redenção em contraponto à culpa que sente por ser o responsável de um terrível acidente.


Há um parábola, uma mensagem indireta, nas cenas tendo a piscina como cenário. A de plástico, que divide com a mãe em uma cena a protagonista passa a pensar sobre o seu redor e logo depois em outros pensares limpando as enormes piscinas de endinheirados da região. Quando se sente curada de qualquer que sejam suas angústias salta numa piscina lotada como se fosse um forte paralelo onde encontra a hora de se jogar na vida novamente e buscar a felicidade.


No projeto, rodado todo em 2019 mas só lançado no segundo semestre desse ano, o tempo e o valor de um abraço também se tornam variáveis importantes em todo esse processo que gera aprendizados. Na jornada desse recorte pós traumático surge uma mola propulsora para preenchimentos de lacunas no campo emocional já que o Afeganistão, no caso da protagonista, não é o único trauma que busca-se soluções.