03/01/2023

Crítica do filme: 'Decisão de Partir'


Um peculiar recorte sobre encontros e desencontros. Indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, e provável indicado na lista final do próximo Oscar na mesma categoria, o longa-metragem japonês Decisão de Partir navega na filosofia para criar uma tese sobre uma bolha irremovível dentro de conflituosos sentimentos que se justificam por uma visão bastante peculiar sobre o tempo (aqui revestido de momento). O projeto é escrito e dirigido pelo genial cineasta sul-coreano, filósofo de formação, diretor do clássico Oldboy e tantos outros ótimos filmes, Park Chan-wook que se inspirou em uma série de romances policiais suecos chamados de The Story of a Crime, dos escritores Maj Sjöwall e Per Wahlöö.


Na trama, conhecemos o ex-militar da marinha sul-coreana e detetive da divisão de homicídios da polícia de Busan Jang Hae-joon (Park Hae-il) que vive seus dias agitados decifrando casos complexos. Ele vive uma rotina monótona, é casado, e se afunda perto da linha da obsessão no seu trabalho. Certo dia, é chamado para investigar o caso de um homem que caiu do topo de uma montanha e logo percebe que a esposa chinesa do falecido, Song Seo-rae (Tang Wei), tem tudo para ser uma das suspeitas. Só que ao longo dos dias que se passam, o detetive acaba se interessando além da conta pela misteriosa mulher.


O tempo aqui se veste sobre a importância do momento. Buscando soluções para os significados complexos dos conflitos que se encontra o confuso protagonista e uma misteriosa personagem, Park Chan-wook rompe as camadas superficiais das emoções transformando encontros e desencontros em impactantes instantes, com camuflados significados. O roteiro, extremamente detalhista, modela suas ações variando entre drama, romance e um suspense de plano de fundo construindo seu alicerce em uma relação cheio de impossibilidades.


Há importantes reflexões existenciais que precisamos conversar. Além do jogo de gato e rato instaurado entre duas almas completamente diferentes que de alguma forma se completam dentro de uma enigmática harmonia, até mesmo com conclusões que danificam o entendimento pelo o que seria o sentimento que nasce alcançando outros significados, vemos uma paralisação de vida oriunda da decepção, uma bolha irremovível que se junta a carga negativa de uma dignidade esvaziada, sobre as feridas da ética, o descontrole perante à obsessão, o desejo impossibilitado, o abstrato num tom acima do que a razão. E as consequências de tudo isso culminam em uma apatia generalizada.


Decisão de Partir é um filme para olhares atentos, sensíveis, uma junção de peças ligadas ao abstrato universo dos sentimentos e suas construções que abraçam a filosofia em muitos momentos, principalmente quando implementa um exercício do pensar sobre a essência da necessidade de compreensão de tudo que existe no mundo.