Um peculiar recorte sobre encontros e desencontros. Indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, e provável indicado na lista final do próximo Oscar na mesma categoria, o longa-metragem japonês Decisão de Partir navega na filosofia para criar uma tese sobre uma bolha irremovível dentro de conflituosos sentimentos que se justificam por uma visão bastante peculiar sobre o tempo (aqui revestido de momento). O projeto é escrito e dirigido pelo genial cineasta sul-coreano, filósofo de formação, diretor do clássico Oldboy e tantos outros ótimos filmes, Park Chan-wook que se inspirou em uma série de romances policiais suecos chamados de The Story of a Crime, dos escritores Maj Sjöwall e Per Wahlöö.
Na trama, conhecemos o ex-militar da marinha sul-coreana e
detetive da divisão de homicídios da polícia de Busan Jang Hae-joon (Park Hae-il) que vive seus dias
agitados decifrando casos complexos. Ele vive uma rotina monótona, é casado, e
se afunda perto da linha da obsessão no seu trabalho. Certo dia, é chamado para
investigar o caso de um homem que caiu do topo de uma montanha e logo percebe
que a esposa chinesa do falecido, Song Seo-rae (Tang Wei), tem tudo para ser uma das suspeitas. Só que ao longo dos
dias que se passam, o detetive acaba se interessando além da conta pela
misteriosa mulher.
O tempo aqui se veste sobre a importância do momento. Buscando
soluções para os significados complexos dos conflitos que se encontra o confuso
protagonista e uma misteriosa personagem, Park
Chan-wook rompe as camadas superficiais das emoções transformando encontros
e desencontros em impactantes instantes, com camuflados significados. O
roteiro, extremamente detalhista, modela suas ações variando entre drama,
romance e um suspense de plano de fundo construindo seu alicerce em uma relação
cheio de impossibilidades.
Há importantes reflexões existenciais que precisamos
conversar. Além do jogo de gato e rato instaurado entre duas almas completamente
diferentes que de alguma forma se completam dentro de uma enigmática harmonia,
até mesmo com conclusões que danificam o entendimento pelo o que seria o
sentimento que nasce alcançando outros significados, vemos uma paralisação de
vida oriunda da decepção, uma bolha irremovível que se junta a carga negativa
de uma dignidade esvaziada, sobre as feridas da ética, o descontrole perante à
obsessão, o desejo impossibilitado, o abstrato num tom acima do que a razão. E
as consequências de tudo isso culminam em uma apatia generalizada.
Decisão de Partir é
um filme para olhares atentos, sensíveis, uma junção de peças ligadas ao
abstrato universo dos sentimentos e suas construções que abraçam a filosofia em
muitos momentos, principalmente quando implementa um exercício do pensar sobre
a essência da necessidade de compreensão de tudo que existe no mundo.