Tudo acontece por um motivo. Passeando, em partes, pela incrível história de uma das maiores lendas da história do cinema, Steven Spielberg, Os Fabelmans nos apresenta a descoberta do mundo mágico da sétima arte aos olhos de um jovem, que por meio de suas lentes da memória, da lembrança do que significa família, se tornou um ícone que transcende gerações. Ao longo de duas horas e meia de projeção, onde transbordam-se emoções por todos os lados, Os Fabelmans nos mostram as estradas, conflitos e escolhas de um eterno sonhador.
Na trama, conhecemos Sammy (Gabriel LaBelle) um jovem que começa a ter suas primeiras
experiências com cinema logo na pré adolescência após ficar impactado pelo seu
primeiro filme visto numa tela grande. O protagonista mora com o pai, o
engenheiro elétrico Burt (Paul Dano),
a mãe e pianista Mitzi (Michelle
Williams), e suas irmãs. Ambientado nas décadas de 50 e 60, vamos caminhando
na sua aspiração em ser um cineasta, fato que encontra paralelos com uma
descoberta dolorosa que impacta para sempre sua família. Com versões fictícias
de pessoas reais na vida de Spielberg, Os
Fabelmans busca um enorme recorte sobre a influência para um sonho e como
tudo que aconteceu em sua trajetória, de alguma forma, o levaram por esse
caminho.
Desde o primeiro impacto após uma sessão de cinema, passando
pelo seu primeiro filme caseiro: um acidente de trem envolvendo seus trens de
brinquedo, Sammy percebe que o cinema não sairia de sua vida. Um dos clímax do
filme, o conflito com a mãe, algo que impacta sua família, ganha uma melancolia
profunda, algo que se torna inesquecível e que de alguma forma moldou o caráter
e amadurecimento desse jovem que teve em sua vida muitas mudanças de cidades
por conta da profissão em ascensão do pai. Esse sofrimento se junta a outros
conflitos como o bullying numa nova escola. Esses momentos de reflexões acabam
sendo fundamentais para o nunca descansar de sua vontade de recriar relações
pelas lentes. O vazio existencial de em alguns momentos ir contra a real
vocação chega numa fase de escolhas definitivas onde o caminho parecia apontar
para uma estrada só.
O longa-metragem teve estreia mundial no Festival Internacional
de Cinema de Toronto e é de longe um dos filmes mais pessoais de Spielberg. Uma
carta de amor ao cinema, à sua família. Mas como criar isso tudo numa tela de
cinema? A ideia pro filme, que já vinha perseguindo o pensar de Spielberg, se concretizou
durante os tempos de pandemia da Covid-19, onde ele e o co-roteirista Tony Kushner escreveram de suas
respectivas casas durante dois meses. O projeto marca o retorno de Steven para
os roteiros, fato que não acontecia desde o inesquecível A.I. Inteligência Artificial (2001). Entre algumas curiosidades e
liberdades artísticas, até encontra-se brechas para o destino cruzar-se com o
lendário John Ford (vencedor de
quatro Oscars de melhor direção) e sua contra simpatia camuflada de genialidade
interpretado por ninguém menos que um dos maiores diretores de todos os tempos David Lynch.
Será que a felicidade existe? Ou o que existem são momentos
felizes? Os Fabelmans contorna
olhares e reflexões para uma geração de sonhadores e a busca por um lugar ao
sol de uma família de classe média, num período pós segunda guerra mundial,
batendo forte na tecla de que na vida, não importa se o horizonte está em cima
ou embaixo, o que importa é viver.