Existo porque resisto. Ruído, longa-metragem mexicano dirigido pela cineasta Natalia Beristain é quase um filme denúncia, uma obra que abre o olhar para a violência, para a repressão policial, para a corrupção, todo esse contexto gira em torno de uma trama que nos mostra a incansável busca de uma mãe por informações sobre sua filha desaparecida. Ao longo dos intensos 105 minutos de projeção somos testemunhas de relatos aterrorizantes, de sofrimentos imensuráveis, de absurdos e incertezas que a protagonista encontra pelo caminho. O título não poderia ser mais certeiro, Ruído, aqui no sentido de algo desagradável, com um olhar para dentro, na mistura de sentimentos conflitantes e desesperadores nas dores de uma mãe. No papel principal, a experiente atriz mexicana Julieta Egurrola, mãe da diretora do filme.
Na trama, acompanhamos a jornada de dor, tristeza e lampejos
ligados à esperança de Julia (Julieta
Egurrola), uma artista plástica que vê sua vida tomar outros rumos quando,
durante uma viagem a uma cidade do México, sua filha, a psicóloga Gertrudis, desaparece.
Lutando com todas as forças que lhe restam, passando pelos absurdos
burocráticos, descasos de autoridades, sem saber em quem confiar, acaba
conhecendo Abril (Teresa Ruiz), uma
jornalista que está disposta a se juntar a Julia nessa caminhada e assim também
denunciar os horrores da violência que encontra pelo caminho.
Uma mãe em busca de sua filha. O olhar de Julia quase
atravessa os sentimentos, é impactante pensarmos sobre o abstrato universo
desse sofrimento, essa experiência aversiva modela passos dolorosos em busca de
qualquer informação. Atrapalhada pelos passos de uma arrogante burocracia, tendo
como referência pelo lado da lei já o terceiro promotor em nove meses, Julia
não consegue mais se comunicar com os outros, se jogou num mar sem fim de solidão,
seus desabafos chegam pela voz do desespero. Viajando de ônibus por cidades
onde possa ter notícias da filha, o que parece ser seu último ato, se joga com sua última força
para se manter na luta de seus direitos.
A narrativa é lenta sem deixar de ser impactante, busca seu
clímax no choque dos encontros dessa mulher que sofre com tudo que encontra
pelo caminho. Inclusive em um momento, conhece outras mães, irmãs, avós,
parentes que lutam batalhas diárias parecidas pelos parentes desaparecidos
buscando entender melhor tudo que vive pela ótica também de alguém que sofre
como ela. Aqui, uma curiosidade, as mulheres que aparecem procurando seus entes
queridos desaparecidos não são atrizes, mas mulheres interpretando elas mesma,
são de um grupo chamado ‘las buscadoras’, que organizam grupos de busca na
esperança de encontrar seus familiares desaparecidos.
Ruído é intenso
do início ao fim, um poderoso drama que fará você pensar bastante sobre os
temas que são abordados, uma história que mostra a força de uma mulher, um
alguém que nunca está só nos seus pensamentos e está sempre pronta pra lutar
contra os absurdos do mundo.