As dúvidas já dentro da incerteza pelos caminhos tumultuados do acreditar. Buscando refletir sobre diversos temas tendo como sua força motriz a fé, o seriado brasileiro Santo Maldito, de forma muito inteligente, propõe ao espectador um passeio investigativo canalizado pelos abstratos passos de um vazio existencial com forte ligação ao imprevisível, ao acaso, jogando seus holofotes para um professor de cursinho, declarado ateu, que ganha uma chance de sair da sua bolha de lassidão mas antes tendo que passar por um túnel de constantes questionamentos. Criado pela dupla Rubens Marinelli e Ricardo Tiezzi, com um elenco que merece muitos aplausos, Santo Maldito, disponível na Star Plus é um dos grandes seriados brasileiros lançado na ‘era do streamings’.
Na trama, conhecemos Reinaldo (Felipe Camargo), um estudioso professor e escritor de meia idade que
bate no peito defendendo seu ateísmo para todos desde sempre. Ele vive com sua
esposa, a doutoranda Maria Clara (Ana
Flavia Cavalcanti) e sua filha adolescente Gabriela (Bárbara Luz) em uma casa de classe média de uma grande cidade
brasileira. Certo dia, sua esposa acaba sendo atingida por uma bala perdida e
entra em coma praticamente irreversível. Desesperado, e não aguentando mais
aquela situação ele vai tomar uma drástica atitude quando milagrosamente sua
esposa desperta. Durante essa situação chocante, ele é filmado por um
enfermeiro bastante religioso e o vídeo viraliza chamando a atenção do pastor Samuel
(Augusto Madeira), o líder de uma
pequena igreja, que vai lhe fazer uma inusitada proposta.
Será que o desespero do caos nos fazer acreditar em qualquer
coisa? Ao longo dos oito episódios (um melhor que o outro), o surpreendente
roteiro desse projeto passeia pelas tumultuadas incertezas do acreditar sem
deixar de nos apresentar um completo raio-x de seu intrigante protagonista, um
homem com orgulho de seu ceticismo que se vê totalmente perdido e com a
necessidade de se descontruir entrando em ebulição quando se vê em conflito com
suas antigas certezas.
Ajudando a contar essa intrigante trama, ótimos coadjuvantes
brilham e aos poucos vamos descobrindo que na verdade estamos rumando para um enorme
duelo entre dois homens, um anti-herói com atitudes moralmente questionáveis e
um enigmático homem de fé que pode estar escondendo outras facetas, assim somos
levados a explicações bem profundas sobre suas maneiras de enxergarem o mundo
através de seus traumas. Todo o elenco está fantástico, mas temos que destacar Felipe Camargo e Augusto Madeira, que nos proporcionam cenas com forte oposição de
ideias que geram reflexões por todos os cantos.
A violência também ganha espaço de reflexões por aqui, na
verdade é até mesmo um elo intercessor dos eventos que rumam para o mais
exposto ponto de tensão de qualquer narrativa. As atitudes de controle de quem
comanda a região de onde fica a igreja de Samuel, o porquê Samuel é um
cadeirante, a ação sofrida por Maria Clara. A fé e a violência acabam se
encontrando em muitos momentos.
Santo Maldito é
uma enorme, insinuante e surpreendente estrada de um improvável santo, maldito
no sentido de estar condenado a enfrentar seus conflitos através de seu estado
de espírito amargurado. Um projeto que pode fazer você também se questionar
sobre aquela famosa frase: ‘Só uma coisa que sabemos: é que não sabemos nada’.