A luta contra a opressão em um país que tem o mesmo líder faz 23 anos. Vencedor do Oscar de melhor documentário em 2023, Navalny nos mostra parte da trajetória recente de um advogado e blogueiro na casa dos 40 anos que acaba sendo o grande opositor ao governo Russo e seu comandante Vladimir Putin. O projeto foca nas estratégias de campanha de Alexei Navalny, em busca de apoio, que usando a internet como uma verdadeira força, uma ferramenta de comunicação que o governo russo não consegue controlar, acaba ficando muito famoso em todo o planeta. Dirigido por Daniel Roher, Navalny possui algumas surpresas que acontecem no caminho e ditam o ritmo do filme até seu desfecho faltando em partes uma profundidade maior no passado do protagonista. Confrontado de relance nesse mesmo documentário sobre polêmicas em seu passado, apenas disfarça.
Pra entender melhor essa história, é preciso se ambientar
com o sistema político russo, o semipresidencialismo, onde o poder executivo é partilhado
entre o presidente eleito pelo povo e o primeiro-ministro. Até agora, no século
XXI, o país só viu um presidente, Vladimir
Putin, que está no cargo desde o ano 2000 após substituir Boris Iéltsin. E isso
pode perdurar mais um tempo, já que Putin sancionou recentemente uma lei que
lhe permite concorrer para mais dois mandatos.
Profissão mais perigosa do mundo? Ser político em uma Rússia
comandada por uma mesma pessoa faz quase 20 anos realmente não é uma tarefa
simples. Putin e seus comandados criam embates, barreiras, contra qualquer tipo
de ascensão política e ainda se fortalecem por uma oposição cada vez mais
fragilizada. Em 2024, novas eleições estão marcadas na terra da segunda maior
potência nuclear do planeta. Será que algo vai mudar?
Assim chegamos em Alexei Navalny que começou a andar pela
política quando em seu blog, muito acessado, começou a denunciar
irregularidades em empresas estatais russas e logo subiu em palanques e passou
a ser o mais conhecido rosto opositor à Putin. Ele foi inclusive banido de
concorrer as eleições em 2018 por uma suposta condenação criminal no passado. Proibido
de se expressar nos principais meios de comunicações de seu próprio país, o carismático
político, pai de dois jovens, em seu canal com mais de 13 milhões de
seguidores, virou sensação no meio político mundial e uma enorme dor de cabeça
para o governo de um um país com a expectativa de vida apenas na casa dos 60
anos.
O documentário, rodado em tempos recentes, foca na aliança de
Navalny com um jornalista búlgaro que mora em Viena e investiga crimes na Rússia.
Ambos passam por uma angustiante jornada quando uma tentativa de envenenamento
de Nalvany é realizada usando Novichok, um poderoso veneno criado pelos russos
faz mais de 40 anos atrás. Com essa informação nas mãos, Navalny e sua equipe
investigam o envenenamento, sequência surpreendente que logo vira o clímax do
documentário.
Será então essa uma batalha igual que vemos toda hora nos
filmes? Entre um herói e um vilão? Entre o bem e o mal? Não é bem assim e aqui
mora o calcanhar de aquiles desse vencedor do Oscar: não conseguir criar um
recorte mais profundo desse impactante protagonista que tem seus méritos na corajosa
luta contra Putin mas que já foi criticado até mesmo pela Anistia internacional
por tristes falas em seu passado.