Quem vive de passado é museu. Contornando os paralelos entre sonhos e oportunidades na visão de um desajustado que tinha uma banda de rock promissora nos anos 90, o longa-metragem Dissonantes, que teve uma rápida passagem nos cinemas brasileiros (em uma parceria exclusiva com apenas uma rede de salas de cinema), é uma comédia dramática que anda no compasso da melancolia buscando criar suas reflexões nas frustrações dos personagens. O roteiro ainda encontra espaço para uma forte crítica em cima do artista como produto de mercado. A direção do projeto é de Pedro Amorim.
Na trama, conhecemos Paulo (Marcelo Serrado), um homem de meia idade imerso nas desilusões dos
sonhos perdidos. Ele tinha uma banda de rock algumas décadas atrás chamada
Super Fuzz, na qual era guitarrista e vocalista. O empreendimento musical não
foi pra frente e nos dias atuais ele vive em situação difícil: com aluguel
atrasado, sem muitas perspectivas de continuar no complicado mercado
fonográfico, além de ter que lidar com o sucesso de outros integrantes da banda
que encontraram espaço em um reality musical. Para complicar mais ainda sua situação,
seu relacionamento de 18 anos com Clara (Maria
Manoella) se desfaz, o levando a uma tristeza profunda. Certo dia, ele
conhece Loly (Thati Lopes), uma
criativa artista que vira um produto da indústria nas mãos de seu antigo
parceiro musical. Paulo e Loly percebem que juntos podem encontrar algum
sentido para as soluções de seus respectivos conflitos.
A crise de meia idade no compasso da melancolia transforma a
narrativa em uma lenta análise sobre o vazio existencial. O protagonista é um
acomodado nas suas frustrações, imagina que as coisas vão cair do céu e assim o
tempo foi passando. Abandonado aos poucos por todos que eram próximos, seu
choque de realidade acaba acontecendo quando conhece Loly, e nas aflições que
encontram horizontes em comum. Não há uma óbvia desconstrução do personagem, o
que talvez esconda ou mesmo não alcance o clímax para a trama.
Há uma interessante crítica sobre a situação do artista como
produto de mercado. Como o filme mostra, alguns produtores investem suas
apostas em caminhos que muitas vezes não são os que os detentores do talento
querem e nessa gangorra as opções podem ser: fazer sucesso se caracterizando
como algo que não queria ou mesmo buscar o cenário independente para brilhar e
chegar as grandes audiências. Essas ‘leis do mercado’ podem ser avassaladoras
para o artista. Por aqui, os dois personagens atravessam de suas formas embates
contra esse mercado.
Dissonantes agora
está disponível no streaming da Star Plus e pra você que gosta de assistir a
filmes brasileiros que buscam reflexões sobre sonhos e oportunidades, esse pode
ser o filme que você está procurando.