Pai, você foi meu herói...pelo menos no meu sonhar. Detalhar cinematograficamente uma conturbada relação entre pais e filhos não é algo muito raro de se encontrar nas centenas de filmes que chegam nas prateleiras invisíveis dos streamings ou mesmo na sala de cinema. Mas, caro leitor, tem filmes que mostram essa temática de maneira tão bonita que durante um quase óbvio devaneio nos sentimos lutando para que as verdades sejam ditas. Esse é o caso de Estranho Caminho, premiado filme do diretor cearense Guto Parente, que teve sua estreia nacional durante o Festival do Rio 2023, que ainda encaixa em sua poesia em forma de narrativa os tempos de incerteza na mais recente pandemia que abalou o planeta.
Na trama, conhecemos um jovem (Lucas Limeira) cineasta que após longos anos volta para o lugar
onde nasceu e morou para apresentar o seu mais recente trabalho em um Festival
de Cinema. Com a pandemia da Covid batendo na porta, ele busca se encontrar com
seu pai (Carlos Francisco) com quem
não fala faz mais de uma década. Após uma tentativa quase frustrada, já que o
pai se tornou uma pessoa cada vez mais reclusa, algumas situações peculiares
começam a atingir seu caminho.
Exibido no Festival de Tribeca e selecionado também para o
Festival de San Sebastián, ambos em 2023, vencedor de um prêmio no primeiro, Estranho Caminho é objetivo, poético,
busca em seus brilhantes 83 minutos mostrar sentimentos perdidos, até mesmo
escondidos, com um estopim que chega como flecha na vida de um jovem que não
sabia muitas coisas que queria na relação sempre muito distante com o pai. A
relação entre pai e filho é o alicerce de um roteiro que navega sempre com uma
belíssima fotografia, que vai muito além do contorno das emoções, nos levando
para curiosas surpresas com o andamento dessa história.
Sem esquecer de um contexto importante que o mundo viveu
curtos anos atrás, a problemática da Covid e seus desenrolares, situações nos mostram
o caos e o desespero dos atendimentos de uma doença que mudaram rumos de
muitos. De uma relação familiar, passando por um surpreendente devaneio, em seu
oitavo longa-metragem, Guto Parente
busca resgatar a essência de uma relação destruída pela distância, brinca com o
imaginário trazendo elementos do cinema experimental, associando o estranho ao
desejo de se encontrar. Não tenham dúvidas, a magia do cinema está contida em
todos os cantos desse brilhante filme brasileiro.