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25/11/2025

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Crítica do filme: 'Dona Onete - Meu Coração Neste Pedacinho Aqui' [Mostra de Cinema de Gostoso 2025]


Movido por uma figura central de personalidade marcante - que se impõe sem esforço, dona de um carisma raro e um salve à Amazônia - chegamos com grande expectativa para a última sessão da 12ª Mostra de Cinema de Gostoso. Lá, acompanhamos a trajetória e a carreira de uma artista paraense que conquista todos que a conhecem. Dirigido por Mini Kerti, Dona Onete - Meu Coração Neste Pedacinho Aqui revisita fatos importantes da vida de uma estrela musical brasileira – e, se você nunca ouviu falar, deveria.

Desde os tempos de professora, passando pelos momentos como sindicalista e chegando em um casamento cheio de amarras - para depois se libertar e conquistar o mundo fazendo o que ama - Ionete da Silveira Gama, ou, como todos a conhecem, Dona Onete, nascida no interior do Estado mais populoso da região norte de nosso país, é uma joia rara da nossa cultura.

Com tanta riqueza de detalhes sobre a artista de 86 anos – que só alcançou o reconhecimento após os 60 – a narrativa opta pela própria personagem contando sua história, com a ajuda de personalidades (Emicida, Dira Paes, Gaby Amarantos) e amigos próximos que a tiveram como referência em algum momento da vida.

Composto por uma montagem eficiente que mistura depoimentos a empolgantes números musicais – com canções que também ajudam a contar essa história - o documentário consegue a proeza de nos transportar para reflexões sobre cultura e causas sociais de forma acachapante. Rimos e nos emocionamos em fração de segundos: um tempero de emoções que conquista e, ao mesmo tempo, transmite ensinamentos importantes.

Com mais de 300 composições - do magnetismo à espontaneidade, passando pelas influências indígenas e caribenhas pulsando em sua arte, um som gostoso de ouvir e cheio de recados - a eterna Rainha do Carimbó é um rico livro aberto que podemos agora acessar por meio desse poderoso e envolvente caldo cultural. Como é bom conhecer as lindas histórias ligadas à cultura do nosso país!

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Crítica do filme: 'Kaira e o Temporal' [Mostra de Cinema de Gostoso 2025]


Rotinas controladas, forças rebeldes, última esperança. Se pensarmos rapidamente, parece até que estamos falando de Star Wars, né? Mas garanto que não: trata-se de um curta-metragem brasileiro repleto de simbolismos e criatividade. Exibido no penúltimo dia da 12ª Mostra de Cinema de Gostoso, Kaira e o Temporal, obra cearense dirigida por Wagner Nogueira Mendes, nos surpreende a todo momento - inclusive com a inserção de uma animação dentro de sua distopia, que funciona como a cereja do bolo ao criar paralelos com temas atuais e relevantes.  

Na inventiva trama, acompanhamos uma jovem menina com o poder de usar o tempo a seu favor para resgatar memórias, em um futuro onde uma metrópole opressiva controla as ações e os movimentos da população que restou. Buscando entender esse mundo cheio de portas fechadas, ela encontra no passado uma forma de enxergar o futuro. 

E, olha, esse ótimo roteiro não poderia encontrar uma melhor maneira de contar essa história. Nessa narrativa repleta de referências culturais – incluindo algumas citações em versos rimados e métricos (cordel) – a animação complementar faz muito sentido, assim como os personagens que buscam soluções carregados de significados, levando o público nessa jornada inquietante para conhecer a história de uma das cidades brasileiras de identidade cultural mais marcante.

Sempre muito bom se deparar com novos cineastas trazendo um frescor criativo para a linguagem, sem medo de arriscar e conduzindo o público para um registro importante, social, efetivo, que pulsa em nossos corações. Adorei! Um dos melhores filmes de Gostoso neste ano.

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24/11/2025

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Crítica do filme: 'Quem se Move' [Mostra de Cinema de Gostoso 2025]


O silêncio e as percepções do vazio quando a luz no fim do túnel parece distante. No penúltimo dia da 12ª Mostra de Cinema de Gostoso, fui até a Sala Petrobrás - um lugar maravilhoso para assistir a um filme - e lá me deparei com um interessante curta-metragem paulista que me fez refletir sobre seus temas durante todo o dia.

Abordando algumas horas na noite cheia de possibilidades de uma jovem imigrante brasileira em Lisboa - completamente perdida sobre o futuro e buscando atalhos para suas soluções nos encontros e desencontros que a vida coloca em sua frente - Quem se Move busca encontrar significados no campo das percepções, sem deixar de destacar o conflito existencial, se aventurando nas possibilidades infinitas da linguagem e prendendo nossa atenção.

Criando significados por meio de uma montagem dinâmica, a diretora Stephanie Ricci busca o confronto emocional e o despertar de um estado de alerta, em uma bela condução narrativa que preenche a tela com possibilidades. Muitas vezes estático – sustentado também pela atuação competente da ótima atriz Olívia Torres – o filme mantém seu clímax constante através de uma tensão interna profunda.

Esse é um assunto que sempre está presente na atualidade: a imigração. No entanto, a obra não se limita nessa questão, abrindo camadas para questionamentos sobre propósito e identidade, significados das relações e uma angustiante percepção do vazio. Um belo projeto.

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23/11/2025

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Crítica do filme: 'Buenosaires' [Mostra de Cinema de Gostoso 2025]


Buenos Aires fica no Brasil, e eu posso provar. No segundo dia de exibições da 12a Mostra de Cinema de Gostoso, um curioso documentário chamou a atenção. Trazendo as peculiaridades de uma cidade do interior de Pernambuco, homônimo da capital Argentina, Buenosaires, dirigido por Tuca Siqueira, nos conduz a um tour por esse lugar através de personagens reais.

Das festas populares à maior paixão dos brasileiros – e também dos nossos hermanos - vamos acompanhando a rotina de alguns moradores e sua relação com a cultura local e com as homenagens à outra Buenos Aires, algo que parece mexer com as emoções, movido, em alguns casos, por um ponto de vista diferente sobre a rivalidade Brasil x Argentina.

Tem ex-jogador de futebol que virou presidente de um clube chamado Boca Júnior (em homenagem ao famoso time do país vizinho), tem coveiro que deseja ser enterrado no lugar onde trabalha, tem comerciante de camisas não oficiais que agita as vendas, e até aula de espanhol gratuita. Um mix de situações e ações inusitadas que evidenciam o lado cultural e suas interpretações.

A questão que mais pesa nesse documentário - que levou alguns anos desde a ideia inicial até sua finalização - é a maneira como tudo isso é apresentado, em uma montagem que não seduz tanto nossa atenção ao longo de seus 70 minutos. Nesse encontro de histórias espaçadas, que rapidamente perdem fôlego, somos envolvidos apenas pelas peculiaridades – o que é muito pouco para conquistar nossa atenção por completo.

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Crítica do filme: 'Presépio' [Mostra de Cinema de Gostoso 2025]


Quando chegamos ao final de um curta-metragem e ele deixa aquele gostinho de quero mais, é porque um bom trabalho foi feito. Exatamente isso que acontece em um projeto carioca que chamou a atenção nos primeiros dias da 12a Mostra de Cinema de Gostoso. Um projeto simples em sua forma que encontra camadas, uma espécie de parábola repleta de simbolismos – do moral ao existencial - que se encaixa como uma luva em muitas histórias familiares por aí.

Imagina a situação: uma família se reúne para o amigo oculto natalino, e os conflitos logo afloram quando um pai presenteia o filho com uma arma de brinquedo. Dentro desse cenário, se desenvolve uma história que expõe embates e questões guardadas - mas nunca esquecidas - até a necessidade de reencontrar o amor em meio à decepção.

Indo direto ao ponto, com uma contextualização importante construída pelas entrelinhas e buscando, através das dinâmicas familiares, um olhar bastante profundo sobre nossa sociedade, Presépio utiliza a relação conturbada de pai e filho para gerar reflexões importantes - inclusive sobre o choque entre gerações.

Impressionante a qualidade desse roteiro, que se une a uma narrativa ágil e cheia de tensão que não perde nossos olhos em nenhum instante. Nos detalhes, também encontramos complementos às ações dos personagens - aspecto que enriquece a obra, que, mesmo com seu contexto de relações desgastadas pelo tempo e os diferentes caminhos no modo de pensar, consegue acender uma luz de esperança.

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Crítica do filme: 'Uma Baleia Pode ser Dilacerada como uma Escola de Samba' [Mostra de Cinema de Gostoso 2025]


Um dos filmes mais desafiadores do cinema brasileiro lançados ainda em festivais no ano de 2025, o longa-metragem Uma Baleia Pode ser Dilacerada como uma Escola de Samba é, basicamente, uma alusão ao carnaval inserida dentro de um contexto das angustias de um protagonista que vê seu sonho não se realizar. A partir do contraponto peculiar de associar uma grande festa se abraçando a momentos tristes, acompanhamos uma história que convoca a paciência – embora até ela pode acabar.

Dividido em curtos capítulos que fazem referências diretas à maior festa popular de nosso país, por meio de uma autoapresentação de personagens, nos leva até uma história que apresenta um presidente de uma escola de samba que percebe chegar ao fim os dias de folia. Entre as memórias de um começo promissor até um presente de agonias, com a falência batendo à porta, somos guiados por personagens que circulam em torno da amargura do adeus.

Na tentativa de ser um experimento poético, o projeto dirigido por Marina Meliande e Felipe M. Bragança, esbarra em uma narrativa lenta, que insiste em construir uma atmosfera indecifrável pelo subúrbio carioca. Esse incômodo no ritmo parece ser uma proposta - um desafio ao espectador – talvez na esperança de suscitar reflexões variadas. A poesia contemplativa chega por meio de imagens e movimentos que dizem pouco sobre o que é essa história, além do óbvio, se arrastando por intermináveis 70 minutos de projeção.

Do musical aos dramas de um encerramento de ciclo, o roteiro apresenta seus confrontos ao sensibilizar e sugerir, se escondendo do dinamismo – algo que a narrativa clama em alguns momentos, mesmo com uma composição visual que estimula o olhar e chama a atenção. Nessa visão pessimista de almas solitárias perdidas no caos de uma cidade (aqui representado também pela violência), Uma Baleia Pode ser Dilacerada como uma Escola de Samba se desponta como um verdadeiro teste de paciência, disponibilizando reflexões isoladas dentro de um mar de tristeza – do abre-alas até cruzar seus créditos finais.  

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22/11/2025

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Crítica do filme: 'Pupá' [Mostra de Cinema de Gostoso 2025]


Do curioso ao familiar. Abrindo a noite de competições do segundo dia da 12ª Mostra de Cinema de Gostoso, um curta-metragem do Rio Grande do Norte busca, através do olhar familiar, um recorte íntimo sobre uma mulher que não passa desapercebida por onde anda. Seu apelido é Pupá, famosa anotadora do Jogo do Bicho na região onde mora (Acari), que criou os filhos na raça – quase sempre sem apoio - e se tornou uma figura bastante conhecida e querida.

Com uma série de registros caseiros que buscam compor uma atmosfera cheia de respingos de emoções - algo que dialoga com nossa percepção a todo instante -, vamos nos encaminhando para o valor do depoimento pela ótica da família. Assim, chegamos numa composição narrativa que usa o íntimo e a proximidade para abrir os horizontes de reflexões – um convite para que o público busque semelhanças, ou mesmo lembranças, em sua própria história.

Indo mais a fundo nesse ponto fundamental da obra, o diálogo franco e aberto que é proposto a partir do cotidiano da personagem-título pode gerar muitas identificações. Apresentando logo no inicio a mais peculiar de suas atividades - anotadora do Jogo do Bicho, prática de jogo ilegal no Brasil mas amplamente difundida – e, logo depois, chegamos na liberdade de escolhas, na necessidade de ser feliz que acaba gerando um impacto positivo em todos que a rodeiam.

Pupá é um documentário simples e objetivo, uma carta de amor, que não entrega nada além do que se propõe – e, ainda assim, se revela um retrato interessante de uma mulher e sua força em acreditar no viver.

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23/11/2024

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Crítica do filme: 'Kubrusly – Mistérios Sempre há de pintar por aí' [Mostra de Cinema de Gostoso 2024]


Uma história de amor em meio a um rico material de um profissional exemplar que sempre colocou a cultura brasileira em suas pautas. Assim podemos começar uma análise sobre esse cativante projeto. Exibido em primeira mão na Mostra de Cinema de Gostoso 2024, Kubrusly – Mistérios Sempre há de pintar por aí reúne uma importante pesquisa, que junta materiais de arquivo aos detalhes do cotidiano, para registrar o começo, meio e as novas descobertas do viver de um homem diagnosticado com uma doença cruel que continua a escrever a sua própria história.

Diagnosticado com demência frontotemporal, o jornalista Maurício Kubrusly marcou a história do rádio e da televisão brasileira. Desde a primeira matéria de repercussão – ainda quando era estagiário – um furo de reportagem sobre a passagem da atriz francesa Brigitte Bardot pelo Rio de Janeiro décadas atrás, até as lendárias críticas musicais, passando também por um quadro de sucesso no importante programa televisivo da Rede Globo, Fantástico, que levou o olhar curioso de vários pontos do Brasil que poucos conheciam, Kubrusly é um mestre na arte de como atrair a atenção dos espectadores - inspiração para tantos outros profissionais da área.

Fugindo do convencional, o projeto vai do divertido ao curioso, guiado por um olhar delicado, sensível, que navega pelo tempo sendo essa uma variável com paralelos e trocas com a fabulosa carreira do personagem principal. Com um rico material, em áudio e vídeo, ultrapassa os desafios dos arquivos criando uma sintonia no discurso honesto e intimista que se propõe. Através de retratos de uma história de amor, sua forte ligação com a esposa – que conheceu anos atrás em um site de relacionamentos – logo chegamos na intimidade que conversa com as lembranças e se juntam com a sua condição de hoje, na perda da memória.  

Sendo também importante para falar de uma condição de saúde (demência frontotemporal (DFT) que invade tantos outros lares, que recentemente ganhou holofotes por ser a mesma que passa o ator Bruce Willis, Kubrusly – Mistérios Sempre há de pintar por aí é um recorte também sobre os caminhos para lidar com essa doença e pode servir de inspiração para tantas outras famílias que passam pela questão com um alguém próximo.

Dirigido por Caio Cavechini e Evelyn Kuriki esse projeto que chega no início de dezembro na Globoplay se consolida como uma obra atemporal, muito bem estruturada, comovente, que vai seguir como um importante registro de um jornalista único, uma linda história de amor e a eterna arte de novos olhares para o viver.  

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02/12/2023

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Crítica do filme: 'Quando eu me Encontrar'


Sobre as curvas que se cruzam em plena contramão. Exibido no segundo dia de exibições na Mostra de Cinema de Gostoso 2023, o longa-metragem cearense Quando eu me Encontrar consegue por meio de uma narrativa eficiente explorar com eficácia as riquezas das interseções de seu principal conflito, esbarrando em laços abruptamente desfeitos, chegando aos poucos em questões existenciais acopladas a uma pergunta que segue constante: Qual o sentido no se jogar na vida? Dirigido por Amanda Pontes e Michelline Helena, Quando eu me Encontrar é aquele filme que vai te conquistando aos poucos e quando termina queremos saber mais.


Na trama, somos apresentados a uma curiosa história de uma jovem chamada Dayane que do dia pra noite resolve partir da vida que levava, abandonando mãe, irmã e o namorado de longa data. E exatamente esses três personagens e seus entendimentos sobre essa situação é quem viram os protagonistas. Assim, conhecemos Marluce, a mãe de Dayane, uma mãe esforçada, com dois empregos que está lutando contra a surpresa do abandono da filha. Mariana, é a irmã mais nova da jovem que sumiu, uma adolescente que passa a enfrentar algumas questões no colégio, no qual é bolsista. E por fim, Antonio, o apaixonado ex-namorado de Dayane que segue ladeira abaixo sem entender direito porque foi abandonado.


O abandono de tudo e todos refletindo sobre outras histórias. A simplicidade é o melhor remédio para contar as verdades que estão lá fora. Essa é uma verdade absoluta e que vira uma marca dessa produção que surpreende o público apresentando um alguém que nunca aparece mas insiste em estar presente na vida de três pessoas que estão passando por momentos de turbulências em suas vidas. Ambientada em uma Fortaleza da atualidade, o longa-metragem também abre brechas para abordar o cotidiano, aproximando mais ainda seus refletires aos espectadores.


Qual o sentido no se jogar na vida? Tem paralelos com quem consegue driblar os medos? Somos testemunhas de uma curiosa e instigante investigação sobre uma crise existencial, dentro do contexto desse marcante abandono, acaba fazendo surgir novos caminhos na vida de pessoas que olhavam apenas em uma direção. A casa vazia, os conflitos maternais, a narrativa caminha por estradas de completas redescobertas nos levando para um desfecho de reflexões.


O filme é produzido pela Marrevolto Filmes, um grupo nascido na cidade de Fortaleza cerca de sete anos atrás formado por profissionais do audiovisual brasileiro que já estão nessa indústria faz mais de uma década. A data de estreia nos cinemas deve ser para 2024.



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01/12/2023

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A décima edição de um dos festivais de cinema mais legais do Brasil: a Mostra de Cinema de Gostoso!




Imaginem um lugar paradisíaco, com praias lindas, pousadas maravilhosas, onde todos da região respiram simpatia e recebem bem aos que chegam de visita. Agora imaginem esse lugar com uma tela de cinema enorme, no meio da praia, onde, de forma gratuita, todas as pessoas podem assistir a um filmaço confortavelmente em uma espreguiçadeira tendo a luz da lua como cenário. Esse lugar existe e estivemos lá!


De 24 a 28 de novembro aconteceu na cidade de São Miguel do Gostoso, no Rio Grande do Norte, a décima edição de um dos festivais de cinema mais legais do Brasil: a Mostra de Cinema de Gostoso. Com direção geral e curadoria de Eugenio Puppo e Matheus Sundfeld, e tendo literalmente o mais espetacular cinema a céu aberto do país, a edição desse ano reuniu excelentes curtas e longas-metragens brasileiros, alguns desses com passagens de enorme sucesso em festivais pelo Brasil e no mundo. 


A estrutura montada nas areias da Praia do Maceió, badalado point turístico do nordeste brasileiro, contou com a estreia de mais uma sala de exibição, a Sala Petrobrás, um espaço em formato geodésico, totalmente climatizada, onde foram exibidos quatro longas e sete curtas. A programação de filmes, a mostra ainda teve debates sobre as produções exibidas com seus representantes, além de seminários sobre distribuição, filmes e públicos no Brasil e Europa, até de roteiro e direção.


A curadoria é fabulosa, conseguindo entre nove longas-metragens e 17 curtas-metragens mostrar recortes importantes além de trazer para reflexões ótimos temas. Os vencedores, que foram premiados com o Troféu Cascudo, foram os seguintes filmes:

 

Troféu da Crítica:

Melhor Longa-metragem: Saudade fez Morada aqui Dentro de Haroldo Borges.

Melhor Curta-metragem: A Edição do Nordeste de Pedro Fiuza.

 

Troféu Voto Popular:

Melhor Longa-metragem: O Dia que te Conheci de André Novais Oliveira.

Melhor Curta-metragem: As Marias de Dannon Lacerda.

 

Menção Honrosa:

Estranho Caminho de Guto Parente.

 

Uma das inúmeras questões que impressionam, além de uma produção e estruturas impecáveis, é como a cidade de São Miguel do Gostoso abraçou o Festival. As sessões estavam quase sempre lotadas, emocionando o público a cada noite. Estivemos presentes lá durante todos os dias e podemos afirmar que esse é o festival mais gostoso do Brasil! Ano que vem voltamos, se Deus quiser!

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13/10/2023

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Crítica do filme: 'Estranho Caminho'


Pai, você foi meu herói...pelo menos no meu sonhar. Detalhar cinematograficamente uma conturbada relação entre pais e filhos não é algo muito raro de se encontrar nas centenas de filmes que chegam nas prateleiras invisíveis dos streamings ou mesmo na sala de cinema. Mas, caro leitor, tem filmes que mostram essa temática de maneira tão bonita que durante um quase óbvio devaneio nos sentimos lutando para que as verdades sejam ditas. Esse é o caso de Estranho Caminho, premiado filme do diretor cearense Guto Parente, que teve sua estreia nacional durante o Festival do Rio 2023, que ainda encaixa em sua poesia em forma de narrativa os tempos de incerteza na mais recente pandemia que abalou o planeta.


Na trama, conhecemos um jovem (Lucas Limeira) cineasta que após longos anos volta para o lugar onde nasceu e morou para apresentar o seu mais recente trabalho em um Festival de Cinema. Com a pandemia da Covid batendo na porta, ele busca se encontrar com seu pai (Carlos Francisco) com quem não fala faz mais de uma década. Após uma tentativa quase frustrada, já que o pai se tornou uma pessoa cada vez mais reclusa, algumas situações peculiares começam a atingir seu caminho.


Exibido no Festival de Tribeca e selecionado também para o Festival de San Sebastián, ambos em 2023, vencedor de um prêmio no primeiro, Estranho Caminho é objetivo, poético, busca em seus brilhantes 83 minutos mostrar sentimentos perdidos, até mesmo escondidos, com um estopim que chega como flecha na vida de um jovem que não sabia muitas coisas que queria na relação sempre muito distante com o pai. A relação entre pai e filho é o alicerce de um roteiro que navega sempre com uma belíssima fotografia, que vai muito além do contorno das emoções, nos levando para curiosas surpresas com o andamento dessa história.


Sem esquecer de um contexto importante que o mundo viveu curtos anos atrás, a problemática da Covid e seus desenrolares, situações nos mostram o caos e o desespero dos atendimentos de uma doença que mudaram rumos de muitos. De uma relação familiar, passando por um surpreendente devaneio, em seu oitavo longa-metragem, Guto Parente busca resgatar a essência de uma relação destruída pela distância, brinca com o imaginário trazendo elementos do cinema experimental, associando o estranho ao desejo de se encontrar. Não tenham dúvidas, a magia do cinema está contida em todos os cantos desse brilhante filme brasileiro.



 

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12/10/2023

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Crítica do filme: 'O Dia que te Conheci'


Os caminhos inesperados do conhecer um novo alguém. Produzido pela Filmes de Plástico, produtora mineira que vem trazendo lindos filmes para o público desde 2009, O Dia que te Conheci é uma espécie de crônica cotidiana que de forma simples, simpática e objetiva nos faz refletir sobre questões da sociedade, da classe trabalhadora, dos encontros e desencontros que o destino apronta. Dirigido por André Novais Oliveira, esse projeto se torna uma caixinha de surpresas transformando um drama em um romance que atinge nossos corações.


Na trama, ambientada em uma Minas Gerais na atualidade, conhecemos Zeca (Renato Novaes), um simpático homem, imaturo, por muitas vezes inocente, descompromissado com o que pode vir no futuro, que trabalha na biblioteca de uma escola pública localizado longos quilômetros longe de sua casa. Um dia, por conta de seus constantes atrasos por um presente ligado à crises de sono intensas, é demitido de seu trabalho. No mesmo dia, pega uma carona com Luísa (Grace Passô) e entre desabafos e papos sobre diversos assuntos aos poucos um vai abrindo o coração para o outro.


Diálogos que nos transportam para a realidade de muitos trabalhadores brasileiros com um forte olhar para o cotidiano, as angústias, as aflições, os desencontros, as segundas chances, são vistos ao longo de singelos 71 minutos de projeção. Mas tudo isso é envolvido, conectado, por um ponto em comum entre os personagens, uma curiosa problemática com os remédios. Aqui, nosso campo de reflexão se torna mais amplo, profundo, as agonias de um mundo cada vez mais concorrido no campo profissional, as dores, os traumas, emoções conflitantes que levam ao caos emocional estão implicitamente ligadas ao uso desses medicamentos. Essa é uma questão importante para refletirmos.


A virada para uma história de amor, ou pelo menos o início de uma, é uma consequência de duas almas que se conectam, que observam e tentam entender o outro. É muito bonito a forma como essa construção é feita, não há malabarismos quando o discurso vai na raiz das emoções em cima dos caminhos inesperados do conhecer um novo alguém. As produções da Filmes de Plástico retratam como poucos o cotidiano, O Dia que te Conheci é mais um filme que na sua simplicidade tem muito a dizer.

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Crítica do filme: 'Pedágio'


Pare, olhe, escute. Um embate familiar que se choca com a realidade de uma vida difícil, com o preconceito, com verdades impostas, com a absurda oferta de uma ‘cura gay’ se tornam os primeiros elementos de um longa-metragem exibido nos festivais de San Sebastian e Toronto, que contorna as duras camadas de momentos conflitantes com inteligência, com uma fotografia que escancara as emoções. Segundo longa-metragem da carreira de Carolina Markowicz, uma grande contadora de histórias com imagens em movimento (já tínhamos visto isso no excelente Carvão), Pedágio não é um filme fácil, necessita de atenção, há reflexões por todos os lados. Um dos melhores longas-metragens exibidos no Festival do Rio 2023.


Na trama, acompanhamos Suellen (Maeve Jinkings, em grande atuação) uma mulher batalhadora que trabalha como cobradora de um pedágio em Cubatão, São Paulo. Ela tem um filho, Tiquinho (Kauan Alvarenga), perto de completar 18 anos, que adora fazer vídeos e imitar divas da música. Ao longo do tempo, Suellen passou a se incomodar com algumas situações envolvendo o filho e de maneira inconsequente resolve ser parte de uma pequena gangue que rouba relógios, tudo isso para financiar a ida de seu filho à uma cura gay organizada por um pastor gringo.


Os protagonistas, mãe e filho não chegam a ser antagonistas, há sentimentos conflitantes mas não falta amor. Essa relação repleta de altos e baixos, acaba se transformando em mais um personagem que segue como uma sombra para todas as ações e consequências que se chocam no destino dos protagonistas. Suellen vive num presente perdida em um relacionamento abusivo repleto de falsas promessas em choque com a carência, com a solidão e parece despejar todas suas frustrações no único filho. Tiquinho sofre com as agressões por sua orientação sexual mas não deixa de seguir seu caminho driblando a bolha conservadora que sua mãe está estacionada.


Como percorrer uma distância entre dois pontos? Tem artistas que adotam o discurso reto e direto outros buscam as trajetórias mais difíceis por meio de profundas camadas dramáticas para trazer ao centro do palco (ou melhor, da telona) uma série de críticas sociais importantes para serem debatidas. Um relacionamento entre mãe e filho marcado pelo preconceito é o primeiro passo de um brilhante roteiro que detalha a vida como ela é, uma versão nua e crua de recortes de uma sociedade que algumas vezes buscam os caminhos mais difíceis em busca de algum sentido para verdades impostas. A narrativa é cirúrgica também ao relatar e se fazer refletir sobre a opressão sofrida pela comunidade LGBTQIA+.


Um dos seis filmes pré-selecionados para uma vaga no Oscar 2024 (acabou sendo escolhido Retratos Fantasmas), Pedágio estreia dia 30 de novembro. Um filme que marca mais uma vez o talento de Carolina Markowicz.



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07/10/2023

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Crítica do filme: 'Sem Coração' (Festival do Rio 2023)


Tempo bom, tempo ruim, nas duas situações se aprende. Com passagem pelo prestigiado Festival de Veneza em 2023, o longa-metragem brasileiro Sem Coração desembarcou no Festival do Rio 2023 para sua première nacional. O projeto ambientado em uma Alagoas dos anos 90 aborda a descoberta da sexualidade na visão de uma jovem adolescente com o destino traçado longe do lugar onde foi criada. Escrito e dirigido por Nara Normande e Tião, o filme reforça o discurso das fases conturbadas da adolescência por meio de uma narrativa com altos e baixos.


Na trama, conhecemos Tamara (Maya de Vicq), uma jovem alegre e repleta de amigos que vive seus últimos momentos numa cidade no litoral de Alagoas, onde nasceu e foi criada. Certo dia, ela escuta falar de uma outra jovem, conhecida como ‘sem coração’ (Eduarda Samara), uma menina solitária que ajuda o pai pescador nos trabalhos profissionais. Aos poucos Tamara começa a desenvolver uma atração por essa jovem.


O imaginar, o sonhar e a realidade entram em choque, numa zona de conflito que busca ser o combustível da narrativa, por vezes confusa, outras alcançando o refletir com certo brilhantismo. O projeto caminha sobre a descoberta da sexualidade por alguns pontos de vistas, não só da protagonista, reforçando o discurso das fases conturbadas da adolescência. A amizade se torna uma força dentro do roteiro, nesse olhar social de interação a troca de experiências abrem margens para longos debates sobre a vida. Nesse último ponto, brilham jovens atores, rostos ainda desconhecidos do cinema brasileiro mas que estarão em breve em outras produções.


Pais e filhos, amizade, dúvidas, a violência, o preconceito, a desigualdade social, o roteiro abre seu leque para personagens e seus conflitos. Oriundo de um curta-metragem premiado no Festival de Cannes, uma extensão dessa história, Sem Coração, mesmo sem alcançar um clímax, se perdendo muitas vezes nas constantes subtramas que o envolvem, o filme consegue chegar ao objetivo de refletir sobre a vida na visão imatura de uma fase repleta de medos e incertezas sobre o futuro.



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