O diálogo em meio ao caos. Exibido na Première Brasil, entre os selecionados na competição de longa-metragem, o novo trabalho da ótima cineasta brasileira Lucia Murat explora os tempos difíceis da ditadura no Brasil trazendo um recorte de dois personagens que tem seus destinos cruzados trazendo suas visões dos dois lados de um conflito. O Mensageiro, independente de qualquer coisa, é mais um daqueles filmes que são necessários para que nunca caia no esquecimento as barbaridades desse regime autoritário instaurado no Brasil que sufocou a liberdade, explorou a censura e trouxe a violência e a repressão para o cotidiano do brasileiro.
Na trama, conhecemos um soldado Armando (Shi Menegat) que durante os tempos
cruéis da Ditadura no Brasil esteve servindo em um lugar onde estavam
prisioneiros políticos. Entre esses, uma jovem de classe média chamada Vera (Valentina Herszage) que sofre terríveis
barbaridades durante todo o período em que fica presa. Um dia, o soldado
resolve levar uma mensagem dela para a mãe Maria (Georgette Fadel), criando assim uma linha de diálogo com essa
mulher.
Percorrendo uma trajetória de incertezas, o protagonista se
choca a todo instante com as contradições quando começa a refletir sobre os
dois lados da moeda de uma época que deixou marcadas intermináveis em um Brasil
de pouco tempo atrás. Seus conflitos são a força motora dessa história. A
narrativa conquista o espectador quando abre espaço para dois personagens que
giram ao redor do epicentro, o foco aqui não é na jovem presa (como muitos
filmes sobre o tema trilham suas jornadas, mostrar os conflitos dos presos
nessa época) e sim um soldado e a mãe de uma presa. As lições que nascem desses
encontros, nos fazem entender uma época e as dúvidas que chegavam para muitos
durante esse período.
Ao longo de quase duas horas de projeção, o roteiro também abre
olhares para os conflitos familiares, no caso a mãe e o pai da jovem presa,
também para a visão cruel dos militares sobre toda a barbaridade cometida em
lugares escondidos onde ocorriam situações absurdas ligadas a um pensamento
desumano. As marcas de Vera representam a de milhares de outros presos durante
a Ditadura, alguns inclusive que nunca mais encontraram suas famílias
novamente. O Mensageiro reforça a
reflexão sobre esse tempo sombrio, um filme importante para nunca esquecermos
esses tempos.