Um absurdo ou uma sátira escancarada do American Dream? Nascido de um rabisco em um guardanapo durante as férias do roteirista húngaro Joe Eszterhas, que recebeu quase quatro milhões de dólares pelo roteiro, um dos filmes mais polêmicos dos últimos 50 anos, Showgirls até hoje gera ótimos debates. Orçado em cerca de 45 milhões de dólares, um valor bem elevado para os filmes daquela época, o projeto busca de algumas formas explícitas, exageradas, com algumas cenas realmente chocantes, mostrar as desilusões e a ambição abraçadas na inconsequência tendo como pano de fundo a exploração de strippers em uma Las Vegas dos anos 90 aos olhos de uma conturbada protagonista.
Na trama, conhecemos Nomi (Elizabeth Berkley), uma jovem com um passado misterioso que parece
ter se metido em muitas encrencas mas sempre tendo o sonho de ser uma dançarina
profissional. Ela então resolve ir para uma cidade de oportunidades de vida
noturna pulsante, mas seu início já se apresenta com o pé esquerdo. Mal chega à
Las Vegas, de carona, é roubada mas esse acontecimento a faz encontrar Molly (Gina Ravera), uma figurinista do show
mais badalado da cidade que nunca dorme. Assim, Nomi começa a buscar entender
essa cidade e fica fascinada com as oportunidades que vai conseguindo até
chegar ao desejo de ser a estrela principal do mais badalado show do lugar.
O ano de 1995 ficaria marcado na carreira do cineasta
holandês Paul Verhoeven, responsável
pela direção dessa obra. Se unindo ao já mencionado roteirista Joe Eszterhas, que escreveu os sucessos
Flashdance e Instinto Selvagem, tinha a missão de transformar em imagens e
movimentos uma crítica social tendo como elementos um recorte do caos emocional
e o brilho de um sonhar sob a ótica de uma mulher sem muitas escolhas na vida.
O caminho adotado, gera interpretações diversas e marcou para sempre a
trajetória profissional da atriz Elizabeth
Berkley.
Existe uma certa obviedade que o filme busca, através de uma
crítica social, refletir sobre o caos da junção entre ambição e oportunidade em
um mundo desigual, onde o entretenimento está aliado ao poder. Mas é super
compreensivo que o chocar dentro da narrativa além das cenas constantes de
nudez podem atrapalhar um pouco os olhares nessa direção. Mas a questão que
pode mais deixar em total confusão o olhar do espectador é em relação a
trajetória de conflitos de sua principal personagem, seu arco dramático é
embolado limitando as reflexões para as chamativas cores pulsantes usadas em
grande parte das cenas que denotam intensidade mas que não se completam com o
caminho da misteriosa protagonista.
A piada sensual, pode virar sensacional depende de como você
enxerga. Impopular e em alguns casos até ridicularizado por muito tempo, Showgirls foi um enorme fracasso de
bilheteria, inclusive indicado ao famoso ‘Framboesa de Ouro’, na sua décima
sexta edição, onde levou muitos prêmios. Um fato curioso foi que o diretor Paul Verhoeven compareceu pessoalmente
para receber aos prêmios, se tornando o primeiro cineasta a ir buscá-los numa
cerimônia. Mas as críticas negativas daquela época não apagaram outros olhares
futuros para a obra, logo se tornando um clássico cult.
Além de tudo, essa é uma produção repleta de curiosidades
fora do set de filmagem. O papel principal foi disputado por nomes famosos como:
Angelina Jolie, Denise Richards (que
trabalhou com Verhoeven mais tarde
no ótimo Tropas Estelares) e Charlize Theron. Imagina algumas dessas
atrizes nesse papel? Outro fator curioso é que o filme foi banido na Irlanda
sendo exibido por lá somente nos anos 2000. E não podemos esquecer do sucesso
que foi a venda de home vídeos (vhs, Dvd, bluray) desse filme que beirou a casa
dos 100 milhões em vendas!
Em resumo, essa produção seguirá sendo debatida ao longo dos
próximos anos. É um daqueles casos de amo ou odeio!