Não nascemos só para nós mesmos. Indicado para cinco Oscars e trazendo para reflexões o acordar para a maneira que levam a vida alguns personagens que possuem em comum a ausência e suas lacunas, Os Rejeitados parte das companhias inusitadas, passando pelo luto, problemas familiares, abrindo seu leque de emoções através de um roteiro sublime que nos faz pensar sobre a importância do entender um outro alguém. Dirigido pelo ótimo cineasta norte-americano Alexander Payne e escrito por David Hemingson (em seu primeiro roteiro para um longa-metragem) esse é um daqueles filmes que vão morar nos corações de muitos nesse ano.
Na trama, ambientada no início da década de 70, conhecemos Paul
(Paul Giamatti), um exigente, até
mesmo rabugento, professor de história das civilizações antigas que se dedicou
toda sua vida lecionando em Barton, um colégio internato de grande prestígio na
região da nova Inglaterra. Perto das comemorações de natal, ele fica
responsável por alguns alunos que não visitarão as famílias e ficarão nesse
lugar. Assim, acaba tendo seu destino cruzado com um dos alunos, Angus Tully (Dominic Sessa), um jovem que se mete em
muitos problemas desde que sua mãe iniciou uma nova família, e também com a
cozinheira do lugar, Mary (Da'Vine Joy
Randolph), uma mãe com uma enorme perda recente.
O que é o equilíbrio no seguir em frente na vida? O pensar,
o sentir, o agir são estágios, aqui vistos como camadas dos conflitos, que são
minuciosamente colocados em tela através do caminho e interseções dos três
personagens. Um lugar frio (que remete ao estado emocional dos personagens), o
luto, problemas familiares, situações não resolvidas no passado veem à tona modelando
assim uma narrativa linear, detalhista, que empurra seu clímax em arcos
conclusivos, desenvolvidos através das interações, a troca de experiências,
dentro de um olhar sensível para o relacionamento interpessoal.
Os corações preenchidos tem espaço para mais momentos
felizes? Qual o sentido da felicidade? Através da compreensão do olhar ao
próximo, o desabrochar para novas maneiras de pensar seus próprios conflitos se
tornam um objetivo de cada um dos personagens. Mesclando a imaturidade com seu
total oposto, o foco é centralizado no professor amargurado pelo seu passado
que usa a disciplina como um escudo para nunca o verem por completo através
dessa defesa. É uma linda composição de personagem de Paul Giamatti, que merece todos os prêmios por seu impactante
papel. Outro destaque é Da'Vine Joy
Randolph, impecável no seu difícil papel, emociona e diz muito pelo olhar.
Estreando aos olhos do mundo no prestigiado Festival de
Toronto do ano passado, todo rodado em locações reais, longe de qualquer
estúdio, Os Rejeitados se posiciona como
uma parábola social, expondo os reflexos através de profundas camadas ligadas
às emoções variadas e os mais distantes tipos de ausência.