Quando o passado adormecido encontra o alarmante presente. Baseado na obra ‘Heart of the Hunter’ de Deon Meyer, Alma de Caçador apresenta em sua ação desenfreada uma complexa conspiração política, um jogo de interesses, onde temos um protagonista com sede de vingança. Pena que o roteiro acaba se perdendo pelo caminho com entrelinhas que não dizem muita coisa, personagens mal construídos e subtramas espaçadas que demoram a fazer sentido. Dirigido por Mandla Dube, Alma de Caçador tem como mérito as ótimas cenas de ação que seguem fórmulas criativas (mas repetitivas) já vistas em outras produções.
Na trama, conhecemos Zuko (Bonko Khoza), um homem que encontrou a felicidade ao lado de sua
família após anos de intensa ação e sofrimento. Filho de pais adotivos, teve os
pais seriamente feridos em uma blitz da polícia de segurança do Apartheid. Quando
o passado bate à sua porta, ele, que pertence a um grupo que tem como objetivo
atual expor os absurdos cometido por Mtima (Sisanda Henna), um forte candidato para as próximas eleições na
África do Sul, munido de sua adaga precisará reunir todas suas habilidades,
contatos, em busca de completar mais uma missão.
A jornada do herói aqui é vista de maneira convencional:
começo, meio e fim, estruturado em uma narrativa que busca seus pontos de
empolgação nas cenas de total ação (muito bem dirigidas). Como drama, não
avança da superfície, com conflitos de seu protagonista jogados em um
emaranhado confuso onde traumas existem mas dentro de uma construção confusa.
Há uma tentativa de trazer aos holofotes a subtrama de um jornalista
prejudicado no passado por agentes políticos mas que é jogado para escanteio
sendo uma peça nula dentro de um todo.
No roteiro, há uma busca por um contexto mais amplo,
chegando até mesmo a menções sobre o famoso regime de segregação racial que
durou de meados da década de 40 até 1994 (apartheid), envolvendo assim as lutas
políticas e uma curiosa agência de segurança particular que parece refém de um
jogo de interesses. Mas como narrativa nada disso traduz a força que poderia
ter no seu discurso, algo na linha da reflexão, se perdendo dentro dos
conflitos do personagem principal.
Chegando rapidamente ao topo do ranking do mais famoso dos
streamings disponíveis no Brasil, a Netflix, essa fita sul-africana pode ser
definida como um filme sul-africano americanizado. Não entendam isso como uma
crítica, o cinema norte-americano é e sempre será uma referência, é apenas uma
constatação. Traições, quebras de confiança, dilemas dentro da linha do
previsível que serão resolvidos, são parte dos elementos que envolvem esse
projeto que poderia empolgar muito mais.