Críticas sociais profundas camufladas pelo Nonsense. Dividido em três pequenas histórias chocantes, girando em torno de um personagem coadjuvante, com pouquíssimo tempo de tela, quase imperceptível, mas que aos mais atentos logo vira um pivô de tudo que acompanhamos, Tipos de Gentileza, novo trabalho do aclamado cineasta grego Yorgos Lanthimos explora o descontrole na desconstrução. Caminhando em cima de um muro, onde de um lado está o controle e o outro a falta dele, o longa-metragem joga na tela hipocrisias de uma sociedade doente com uma lupa para jogos de imoralidades e a adição de um conceito difícil de definir: a prisão no algoritmo humano.
Com destacadas atuações, com protagonistas interpretando
mais de um personagem, não podemos deixar de mencionar a vencedora do Oscar Emma Stone, já no seu quarto filme de
Lanthimos, além do também indicado a famosa estatueta do cinema, Jesse Plemons. Ambos fabulosos. O
segundo, inclusive, vencedor do prêmio de Melhor Ator no Festival de Cannes
desse ano por esse papel. Completando o elenco principal, a ótima Margaret Qualley (do elogiado seriado
da Netflix, Maid) e o experiente
ator norte-americano Willem Dafoe.
Na trama, conhecemos três história. Na primeira, um homem
praticamente vivendo uma vida dada pelo chefe resolve romper essa parceria de
anos após um pedido absurdo e se vê perdido com o fim desse laço. Na segunda,
um policial entra numa espiral de loucura e desconfiança quando sua esposa,
sobrevivente de um acidente, volta pra casa. Na terceira, uma mulher, em busca
de alguém com habilidades espirituais, que largou a família por conta de uma
seita se vê em dúvidas quando é expulsa desse grupo.
Até onde você está disposto a ir quando se vê em dúvidas ou
desprotegido da vida que leva? Levantando essa e outras perguntas, além de
utilizar elementos na narrativa que logo nos fazem entrar em um clima de tensão,
principalmente uma trilha sonora incisiva (assinada pelo britânico Jerskin Fendrix), tendo as linhas do
absurdo como sustentação, ao longo de quase três horas de duração, Lanthimos
convida o público para refletir sobre indivíduos congelados no desejo de um
outro que culminam num show de loucuras com possíveis várias leituras.
A prisão do algoritmo humano, mencionada no primeiro
parágrafo, que diz respeito a pessoas completamente influenciáveis que se
acomodam em bolhas imersas numa vida onde são marionetes de um alguém ou um
sistema, aqui tem representações que vão desde a paranoia até camadas do luto,
com o chocar e estradas de humilhações apresentando as consequências. Essa é a
tentativa de Lanthimos de mais uma vez impor a reflexão através de um já conhecido
ar de loucura mas que são completamente adaptáveis
a realidades por aí.