24/04/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #391 - Demerson Souza


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de São Paulo. Demerson Souza tem 22 anos, é bolsista graduado em Cinema e Audiovisual pela Universidade Anhembi Morumbi. Em 2019, roteirizou e dirigiu o média-metragem “Mamãe Tem um Demônio”, que foi selecionado em 25 festivais pelo mundo e ganhou 8 prêmios, a obra foi licenciada para o Canal Brasil. No ano seguinte, Demerson venceu o edital Spcine Curta em Casa e com os recursos dirigiu a animação “Nunca Mais Me Vi”, que foi selecionada para o 11° Cine Fantasy. Em 2021 dirige uma nova animação com recursos da Lei Aldir Blanc, com previsão de estreia no segundo semestre.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Petra Belas Artes tem sempre um bom filme passando, boas poltronas e uma boa tela, e se for o dia do pagamento, dá para aproveitar alguma comidinha caríssima do bar.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Abracadabra, eu assisti na creche, ainda não tinha nem televisão em casa, então pode ter sido o primeiro filme da minha vida. Foi lindo!

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

David Lynch, Cidade dos Sonhos.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Está sempre mudando, mas O Céu de Suely me pegou de jeito ano passado. Acho que sou um pouco a Suely, pelo menos queria ter a coragem dela.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Gostar de filmes assim como você gosta de café.

 

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não, mas elas entendem o que o público geral gosta, então quem sou eu?

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Nada se perde, nada se cria, tudo se transforma.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Polyester de John Waters. A Criterion recentemente lançou uma edição lindíssima.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Sim, mas com poucas poltronas disponíveis, fiscalização de máscaras apropriadas e afins. Eu fui e foi bem divertido e seguro.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Altos e baixos, mas amo a popularidade crescente. Acho incrível os filmes brasileiros no TOP 10 da Netflix. Precisamos ser assistidos em nosso próprio território!

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Matheus Nachtergaele.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Uma linda ilusão.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Eu odeio perder o começo do filme, e estava com essa amiga super enrolada em saber que pipoca pediria. Pois bem, eu abandonei ela e fui para a sala. Quando ela conseguiu entrar, me xingou alto por uns minutos para todos ouvirem. Foi o caos, mas eu a amo.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Fez mais do que a Regina Duarte pela cultura brasileira.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Cinéfilo é um termo que muita gente acha feio, então creio que esses diretores só não queiram se envergonhar. Pois se eles amam filmes, são cinéfilos.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Algum pornô estranho.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Ilha das Flores continua incrível e acho que será atual por séculos a vir, infelizmente.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Sim, Aquarius! O Kleber Mendonça Filho estava lá, então não tinha nem como não aplaudir. Mas o filme merece, é incrível.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Coração Selvagem.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

O Notebook da Mubi.

 

21) Qual streaming disponível no Brasil você mais assiste filmes?

Netflix ainda tem o melhor catálogo.

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #390 - Lara Sampaio


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, do Rio de Janeiro. Lara Sampaio tem 21 anos, é Co-CEO do Quarentena Online Film Festival, uma das criadoras do formato inovador do festival de cinema completamente online e aberto, nascido 19 dias depois do início da pandemia. Além disso, é Showrunner de um webreality pós-Masterchef chamado “AfterChef” indicado ao festival Cawcine. Além disso, é produtora e editora do seu primeiro longa-metragem “Desafio: Ilha Grande x Copacabana”, lançado em 2020. O filme fala sobre nove ultra-maratonistas aquáticos que se põem a atravessar 110km em alto mar. Ademais, tem 10 curta-metragens atuando em diversas funções, dentre elas direção, roteiro, edição, dublagem, atuação, produção etc, com 10 indicações em filmes como “VIRA-TEMPO”, “Jorge de Caio”, “No Ar”.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Gosto muito do Cinema Itaú, porque lá tem filmes comerciais e independentes, então pego todo o leque de possibilidades narrativas.

 

2) Qual o primeiro filme que você  lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Scooby Doo, alguns dos de live-action, não me lembro qual. Sempre foi muito mágica a experiência de aproveitar um ambiente escuro, com ar condicionado e cheirinho de pipoca. Juntando com o filme, era o perfeito relaxamento e viagem que se precisava. Várias vezes esquecia que estava sentada em uma cadeira, me sentia ao lado dos personagens, desvendando os mistérios.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Confesso que não tenho muito isso, mas se tivesse que escolher alguém seria o Jordan Peele e o meu favorito dele é Us.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

É muito difícil escolher, são muitos. Mas eu ficaria bastante em dúvida entre "Que Horas Ela Volta?" e "Xingu". São dois filmes que contam sua história de uma forma extremamente sensível. Utilizam da simplicidade para trazer profundidade, além de transmitirem sua mensagem por meio de uma linguagem mais acessível a qualquer pessoa que assista, e não necessariamente só para um cinéfilo ou profissional do audiovisual.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É assistir todo tipo de filme de todo tipo de lugar e gostar disso. É quem gosta desde o que é considerado arte e o que não é, porque isso não passa de uma bobagem. É reconhecer o que gosta e não ter vergonha disso, mas assistir também o que não gosta e saber o porquê. É assistir de tudo e não ter vergonha de nada.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece  possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

A grande pergunta seria "o que é entender de cinema"? Criar um tipo de programação que faz com que o cinema não se sustente, não é entender de cinema ao meu ver. Assim como criar um tipo de programação que não dá espaço para novas narrativas e diferentes linguagens, profissionais de diferentes tamanhos, também não é entender de cinema. A grande questão está em montar um modelo de negócio que funcione para dar espaço para que não tem, mas sustentar aquele espaço com o que é vendível para que ele não morra. Não há tristeza maior do que ver um cinema fechando. Poucos cinemas fazem isso, isso é certo, porque não é nada fácil e extremamente desafiador. Saber balancear isso é o grande entendimento de como funciona um cinema.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não mesmo, cinema já teve mais crises existenciais seculares do que todos nós.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Benzinho de Gustavo Pizzi.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Eu não tenho como firmar uma resposta sobre a questão. Se considerarmos uma situação onde o quadro da pandemia se encontra mais controlado, por mais que sem a vacina, de repente a ida ao cinema do jeito que vários lugares têm feito com espaços entre as cadeiras, quantidade limitada de ingressos, sem bomboniére, sem ninguém tirar a máscara etc, as pessoas teriam que se preocupar em não tocar em nada e higienizar suas cadeiras, pois ficariam paradas assistindo ao filme durante 02h. Uma questão é se vale a pena abrir um cinema para lucrar míseros ingressos das poucas pessoas que iriam, sendo que sabemos que os cinemas se sustentam pela pipoca de 30 reais e a bomboniére estaria fechada. Ao mesmo tempo, manter salas que custam mais de 60 mil reais paradas, sem funcionamento, também é uma perda absurda de dinheiro. Contudo, nos encontramos numa guerra com o invisível, literalmente milhares de mortes por dia, quem sou eu para dizer que temos que voltar a funcionar antes da vacina? É uma questão ultra complexa com muitas variáveis. A única questão que sempre ressalto é a necessidade e a habilidade que temos de nos reinventar, de nos adaptar. Não só por sermos artistas, mas por sermos brasileiros. Não podemos assistir os filmes na tela grande agora, por que não criar streamings, sites, canais, qualquer coisa para que esses filmes não fiquem guardados na gaveta e esses cinemas zerados de bilheteria? O que puder ser feito diante do que nos há disponível neste momento, tem que ser feito.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Excelente, mas podemos melhorar. Ainda precisamos ter mais investimento para desenvolvimento e distribuição para aproveitar o máximo possível de nossas histórias, além de conseguir vendê-las e vinculá-las a mais janelas e possibilidades de espaço.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Anna Muylaert.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Indefinível.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Colocaram um filme adulto em uma sessão infantil, houve um pânico absurdo entre pais e mães. Crianças assustadas e famílias estressadas, presenciamos cenas fortes de depressão, agressão e violência. Não diria que foi inusitada, apenas que foi horrível.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Não assisti ainda.

 

15) Muitos diretores de cinema  não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não, eu acredito que para você dirigir um filme você precisa ter muitas referências. Não é só filme, é série, é YouTube, é pintura, é desenho, é música, é clipe, é poesia, é livro, é dança... Não se pode restringir a apenas a filmes.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Ano Passado Em Marienbad.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Estou Me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Claro, muitos.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Eu tenho uma memória afetiva infantil pelo A Lenda do Tesouro Perdido. Provavelmente não é o melhor que vi dele, mas gosto muito e é o primeiro que me lembro.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Nenhum, eu prefiro revistas e portais que falam sobre o mercado, como a Exibidor. Sites com críticas e resenhas não me interessam muito. Gosto quando apenas preciso ler sobre um filme específico. Mas para esse tipo de conteúdo, prefiro o YouTube, canais como o Vanity Fair, por exemplo.

 

21) Qual streaming disponível no Brasil você mais assiste filmes?

O Disney+ e o Netflix, são os únicos que consigo assinar no momento.

 

 

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23/04/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #389 - Geison Luz


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de São Paulo. Geison Luz tem 39 anos, é um cineasta apaixonado, diretor do Instituto Pensamentos Filmados e diretor de Vídeo na produtora Meu Estúdio.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Eu passei a infância numa cidadezinha chamada Moreno, no interior de Pernambuco. E lá não tinham salas de cinema. Na verdade, até a televisão era uma coisa rara de se ter em casa. Tanto que a primeira vez que vi uma TV ligada eu pensei que fosse uma janela aberta. Mas, quando eu completei 10 anos de idade, abriu uma videolocadora no meu bairro, e foi por meio dela que eu comecei a ter contato com filmes. Eu passava o dia inteiro lá dentro lendo as sinopses dos filmes. E eu nem tinha como assisti-los em casa. 

 

2) Qual o primeiro filme que você  lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

No final dos anos 80, Os Trapalhões fizeram um show numa cidade próxima da minha e a produção montou uma sala de cinema itinerante para que a população local pudesse assistir aos filmes deles. E foi lá, numa cadeirinha de plástico, que eu tive a minha primeira experiência cinematográfica. Eu fiquei encantado com o tamanho da tela projetada na lona improvisada e eu guardei pra sempre aquela sensação de ver e ouvir as pessoas sorrindo com o filme.   

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Eu amo a possibilidade que um filme tem de abordar a natureza humana, as sensações e sentimentos comuns a todos nós. E o Ingmar Bergman, cineasta sueco, é um mestre neste sentido. Eu amo o cinema dele, e destaco o filme 'Fanny and Alexander', de 1982, o filme é uma obra de arte.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Durante a Pandemia, eu me dei a oportunidade de conhecer melhor o movimento do Cinema Novo Brasileiro que aconteceu nos anos 60. Eu sou apaixonado pela força cinematográfica daquele período. E pela vontade de documentar através da arte a realidade do nosso país. Então, eu vou destacar 2 filmes e 2 cineastas daquele movimento: ''Vidas Secas' (1963), de Nelson Pereira Dos Santos. E 'Terra em Transe' (1967), de Glauber Rocha. Clássicos!

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É um estudante apaixonado pelas artes audiovisuais.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Essa é uma questão delicada. Porque, por mais que um programador queira apresentar um filme de qualidade artística na sala dele, o grande público brasileiro foi condicionado ao longo dos anos a consumir o cinema norte-americano. Então, por uma questão de sobrevivência financeira, os programadores são obrigados a atender esse gosto condicionado do público. E isso começou lá atrás, no período da 1ª Guerra Mundial, quando o cinema norte-americano dominou o mercado mundial, e a nossa produção cinematográfica, que já era fraca, sofreu uma queda violenta. Nesse período surgiram as primeiras revistas especializadas em cinema e elas começaram a difundir os mitos e estrelas de Hollywood. E, a partir dos anos 1930, diversos acordos comerciais estabeleceram que os filmes norte-americanos entrariam no Brasil isentos de taxas alfandegárias. E esses incentivos tornavam muito mais lucrativo para um programador exibir um filme 'enlatado' norte-americano do que um filme brasileiro ou mais artístico.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

As salas de cinema não vão acabar, mas eu acredito que, em breve, elas irão se adaptar para dar ao público uma sensação de entretenimento mais parecida com a encontrada num parque de diversões. As pessoas não irão ao cinema necessariamente para assistir ao filme, mas sim para viver uma experiência divertida com os amigos com telas tridimensionais, poltronas que se movem, jatos d'água que esquiçam durante a projeção, ... essas coisas. 

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Eu tô pelo Brasil rs, e indico o filme 'Eles Não Usam Black-Tie', de Leon Hirszman. Esse filme é muito atual. Conta com interpretações maravilhosas da Fernanda Montenegro e Gianfrancesco Guarnieri. E ganhou o Grande Prêmio Especial do Júri, o Leão de Ouro, no Festival de Veneza em 1981.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Infelizmente, não. A Covid-19 ainda é uma doença misteriosa, e a nossa paixão por cinema não poder ser maior do que a saúde e vida das pessoas. Mas eu acredito que até o final do ano as coisas comecem a melhorar. Mas até lá, o Governo precisa ter boa vontade e começar a realmente criar programas de incentivo para a área.  

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

A nossa qualidade técnica é muito boa, o digital abriu muitas possibilidades para o audiovisual brasileiro. Mas sinto que ainda pecamos na questão do conteúdo. Alguns dos nossos roteiros ainda são muito fracos. E as abordagens superficiais. E eu acredito que isso tem a ver com a formação dos profissionais e a falta de oportunidades. Nós temos roteiristas maravilhosos, mas muitos deles não conseguem chegar até os produtores. 

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Karim Aïnouz. Eu amo a direção sensível dele. E 'O Céu de Suely' é um filme lindo.

 

12) Defina cinema com uma frase:

“Eu acredito que o audiovisual tem o poder de sensibilizar e transformar as pessoas. Foi assim que aconteceu comigo. ”

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Em 2001, eu trabalhava numa pequena rede de videolocadoras na zona leste de SP e a nossa equipe foi convidada para assistir a pré estreia do suspense 'Os Outros', estrelado pela Nicole Kidman (atriz que eu amo!). A nossa equipe entreteve tanto com sustos e gritos o público presente na sala que fomos convidados pela distribuidora do filme no Brasil pra participar de TODAS pré estreias dele em SP.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Um surto rs. O filme é muito ruim. 

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Eu acredito que sim. A gente não precisa acumular informações (até porque pessoas assim as vezes são chatas rs), mas é fundamental conhecer a fundo a nossa arte.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Eu fico com 'Cinderela Baiana' rs.

 

17) Qual seu documentário preferido?

'Honeyland' (2019), dos cineastas Tamara Kotevska, Ljubomir Stefanov. Um documentário poético sobre uma apicultora solitária e a relação dela com a natureza.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Sim. 'A Montanha Sagrada' (1973), do cineasta Alejandro Jodorowsky.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

'A Outra Face' (1997), do John Woo. O filme é uma viagem. Pra mim, um dos melhores do gênero ação.   

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

thefilmstage.com

 

21) Qual streaming disponível no Brasil você mais assiste filmes?

Netflix.

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Crítica do filme: 'Estados Unidos Vs Billie Holiday'


A incompreensão sobre a dona de uma voz marcante, inesquecível. Baseado no livro Chasing the Scream de Johann Hari, Estados Unidos Vs Billie Holiday, novo trabalho do cineasta Lee Daniels (diretor do sucesso Preciosa: Uma História de Esperança), Estados Unidos Vs Billie Holiday conta em certos detalhes (dentro de um ponto de vista que pode ser até questionável) alguns anos de vida da inesquecível cantora norte-americana Billie Holiday e sua guerra contra o governo, entre outras questões por conta de uma música emblemática chamada Strange Fruit onde condena o racismo em seu país, especialmente o linchamento de afro-americanos. O filme está indicado ao Oscar de Melhor atriz pela bela e impactante interpretação de Andra Day.  


Na trama, conhecemos, já no auge, cerca de dez anos em sequência da vida da cantora Billie Holiday (Andra Day), uma mulher corajosa que enfrentou enormes dificuldades desde criança, sofreu abusos durante muito tempo e se relacionou com diversos homens violentos. Durante sua fase de maior sucesso, nem os direitos autorais recebia, ficando nas mãos de produtores de shows e alguns que diziam ajudar sua carreira. Ela foi uma viciada em drogas pesadas e por conta disso acabara sendo condenada à prisão durante algum tempo, muito também pela perseguição imposta por J. Edgar Hoover e seu FBI que se incomodavam quando ela cantava uma música chamada Strange Fruit, um tapa na cara de um governo que não fazia nada na época para mudar as atrocidades que os negros sofriam por toda a América, principalmente no sul do país.


Toda biografia tem seus pontos positivos e negativos. Buscando detalhar mais sobre os absurdos sofridos pela artista, seus vícios, a perseguição que sofrera do governo e seus relacionamentos que vão desde um agente infiltrado do FBI chamado Jimmy (Trevante Rhodes) até com a atriz Tallulah Bankhead (Natasha Lyonne), acaba esquecendo, ou melhor, não dando tanta importância a força da artista no palco à questão musical que, por mais que esteja envolvida na trama, fica apenas na superfície.


Figura incompreendida por muitos, que tinha fãs de todas as cores e classes sociais, foi uma das grandes personalidades a usar sua arte para dizer suas indignações do que via ao mundo, esperando mudanças. Estados Unidos Vs Billie Holiday, disponível na Amazon Prime, vale para conhecermos mais sobre uma das maiores divas do Jazz, ao lado de Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, mesmo que não consiga contar uma história de vida tão complexa de maneira mais completa.

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Crítica do filme: 'Clarisse ou alguma coisa sobre nós dois'


Quando a dor é maior que o desejo, o corpo não suporta mais. Lançado anos atrás no circuito exibidor brasileiro, depois de passagens em alguns ótimos festivais, o suspense brasileiro Clarisse ou alguma coisa sobre nós dois afirma a tese de que cinema também é detalhe, movimento, e algumas vezes uma jornada sob ótica muito individual. Dirigido pelo cearense Petrus Cariry, percebemos uma tentativa de personificação do desgaste emocional, um caminho difícil de criar pensando em cinema, porém, a técnica em sua excelência, principalmente da fotografia (assinada pelo próprio diretor) nos leva a pontos de reflexão.


Na trama, conhecemos Clarisse (Sabrina Greve) uma mulher casada que durante alguns dias resolve ir visitar o pai que está doente. Chegando lá percebe que o lugar, objetos e situações começam a envolvê-la. Vemos quase uma mulher em transe, hipnotizada por um lugar que traz lembranças, memórias e que se choca com tudo em que a mesma se transformou. A boa captação do áudio, um problema resolvido de anos passados do nosso cinema, é fundamental para o clima profundo que o inusitado da trama pede.


Loucura? Imprecisão emocional? De onde nasce as certezas universais? Há uma tentativa de personificação do desgaste emocional (até mesmo a biologia como paralelo das emoções), um caminho difícil de criar pensando em cinema, porém, a técnica em sua excelência, principalmente da fotografia (assinada pelo próprio diretor) nos provoca pontos reflexivos aos montes dentro de um contexto de noites longas e tempo devagar.


Com uma intensidade profunda, podemos afirmar que Clarisse ou alguma coisa e nós dois não é um filme fácil, é provocativo e instiga o espectador a uma viagem metafórica cheia de margens argumentativas.

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #388 - Karen Meira


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de Guarulhos (São Paulo). Karen Meira tem 25 anos é a criadora do portal Meleka Pop (https://melekapop.com), Instagram: @melekapop .

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Gosto de ir nos cinemas de rua, como o Petra Belas Artes, que contam com programações diferentes dos cinemas de shopping. Além de trazerem mais filmes estrangeiros, eles também fazem semanas temáticas e eventos diversificados, também é um ambiente muito mais gostoso de visitar. 

Infelizmente muitos deles estão sofrendo financeiramente por conta da pandemia mas espero que consigam sobreviver.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Sempre vi o cinema como um grande evento. Onde eu sempre ia com minha família e amigos, mas antes não era tão frequente ir aos cinemas como hoje. Eu ia com meus primos assistir Harry Potter e Homem Aranha sempre que saia um filme novo da franquia.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Xavier Dolan. Gosto dele porque tem "poucas" produções, é um diretor mais novo mas é muito inteligente. Meu filme preferido dele é Mommy.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Estômago, é genial e nenhum filme de hollywood consegue fazer igual.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Muito se fala sobre ser especialista em filmes, ter assistido todos os clássicos e saber fazer crítica sobre eles, mas acho que é mais sobre ter paixão em assistir filmes e gostar de falar sobre eles.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece  possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não, a maioria são cinemas do shopping, com programações feitas por profissionais que entendem o que a massa gosta. Mas ainda assim da pra atingir todos os públicos.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acredito que não. Muito difícil substituir a experiência do cinema.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Vou aproveitar pra indicar o meu preferido Mommy de Xavier Dolan.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não, infelizmente não é um serviço essencial então indo pela lógica não faria sentido correr mais um risco.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

É ótima, só não é reconhecida tanto pelos próprios brasileiros quanto pelas distribuidoras e o governo.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Selton Mello.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Não importa o filme, estar no cinema é sempre mágico.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Difícil lembrar agora, mas a primeira vez que fui ao cinema sozinha fiquei no meio de duas senhoras que se conheciam e ficavam comentando sobre o filme. Me irritou no começo mas depois achei graça e acabei até virando colega delas.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Você pode até não conhecer mas com certeza já viu o meme

 

15) Muitos diretores de cinema  não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Acho que só precisa ter amor pelo que faz, usar o cinema como referência e conseguir chegar ao seu objetivo.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Vende-se está casa. Péssimo!

 

17) Qual seu documentário preferido?

Tower, pesado.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Acho que fui na vibe da galera em Vingadores Ultimato e Bohemian Rhapsody haha mas não gosto de fazer isso

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Amo Motoqueiro Fantasma ninguém pode me julgar. Mas acho Mandy maravilhoso também.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Não leio um específico, tô sempre passeando por vários. Mas gosto do IMDB, Variety e Cinema Virtual.

 

21) Qual streaming disponível no Brasil você mais assiste filmes?

Netflix, Amazon e Telecine.

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #387 - Leonardo Lopes


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de São Paulo. Leonardo Lopes tem 23 anos, é jornalista, crítico de cinema e pós-graduando em Sociopsicologia. Desde 2014, integra o portal Cinema de Buteco, com coberturas de dois Festivais do Rio, duas Mostras de São Paulo, dezenas de críticas, listas e podcasts pelo caminho.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Não há cinema em Arujá, onde passei a maior parte da minha vida, e escolher um de São Paulo, para onde depois fui, seria muito óbvio. Sendo assim, escolho o Cinemark do Shopping Colinas, em São José dos Campos. São José fica alguns minutos mais perto de Arujá do que a capital paulista, por isso frequentei muito o Colinas. A programação é, dentro do que um cinema de shopping permite, diversificada, as salas são boas e o principal, com certeza, é que há grande oferta de filmes legendados (quem mora fora de uma capital sabe o quanto isso é raro).

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Não sobre o espaço físico, mas sobre o cinema, em si: Jurassic Park. Eu tinha uns 9, 10 anos, quando ouvi a música do parque subir e roí as unhas com um filme pela primeira vez. Obviamente, não comecei a estudar e descobrir mais dessa arte a partir daquele momento, mas foi nele que uma chave virou.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Brian De Palma. Um Tiro na Noite.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

O Invasor, de Beto Brant. Aquilo é puro Brasil. Ambição, trambique, pessoas fora de seu lugar, a subversão de uma história de sucesso. A cena do Anísio (Paulo Miklos) filosofando na piscina da mansão da Marina (Mariana Ximenes) com Sabotage e Chorão na trilha resume tudo.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

O cinema me aproximou das pessoas que eu amo. Me deu um ofício, um lugar onde eu me encontro ao trabalhar, produzir. Me deu espaço de encontro e pertencimento. Me deu uma maneira de encarar e dar significado ao mundo. Me deu referência para memórias que eu tenho e coisas que ainda vou viver. O cinema dá sentido à minha história.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece  possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

A maioria, não. Há ótimos cinemas gerenciados por gente realmente apaixonada. Cinema, porém, é negócio. A maioria das salas estão em shoppings e são programadas por um modus operandi das suas redes. Elas têm sua importância.

 

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acabar, não. Minha preocupação é que elas se tornem espaços muito restritos. Os grandes estúdios (Disney, Warner) e as empresas de streaming (Netflix, Amazon) parecem interessados em diminuir a relevância dos lançamentos no cinema e, com isso, a atividade pode se tornar exclusiva dos críticos, pesquisadores e apaixonados. Esse público não basta para manter os cinemas como uma atividade comercial forte e, portanto, presente em muitos lugares. Viraria um mercado de nicho. A formação de novas gerações de fãs de cinema passa por isso. Você não vê o mercado de discos de vinil, por exemplo, aumentando seu público: quem já comprava, compra.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram, mas é ótimo.

Antes da Chuva, de Milcho Manchevski.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não. São espaços fechados com pessoas dentro por, no mínimo, uma hora e meia. O ambiente é inseguro.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Muito alta. Grandes filmes brasileiros são lançados ano após ano. Faltam melhorias no sentido de comercialização e distribuição/ no artístico, muito alta.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Irandhir Santos.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Vou usar uma do Rubens Ewald Filho, que eu tenho tatuada: “Quem ama a vida, ama o cinema.”

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

A sessão era de Invocação do Mal 2. Ainda nos trailers, uma mulher começou a reclamar com a outra a respeito de um suposto assento trocado. Uma delas, não sei qual, deixou a sala após uma breve discussão. Até aí, tudo normal. Passaram alguns minutos e ela voltou ao local, mais raivosa e acompanhada, dirigiu-se ao lugar de sua oponente e, pronto, barraco armado. Já nas primeiras cenas do filme, a gritaria tomou conta, tinha gente filmando, flashes ligados e nenhuma ação da equipe do cinema para conter a confusão. Saí e pedi meu dinheiro de volta.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Um meme.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Acho que não. Há grandes diretores cinéfilos, mas não se pode ignorar que o trabalho de direção tem um aspecto muito operacional, também, em que às vezes essa paixão e vocação artística pode não ser suficiente.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Difícil, hein. Vou de Esse é o meu Garoto, de Sean Anders.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Edifício Master, de Eduardo Coutinho.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Sim. Na sessão de Cinema Novo, no Festival do Rio 2016. Além dos méritos do filme, o palco (Cine Odeon) e a presença da Fernanda Montenegro e de outros figurões do nosso cinema no local criaram uma atmosfera que pedia aplausos.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Empate: Con Air, de Simon West, e Vivendo no Limite, de Martin Scorsese.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Na soma histórica, o Cinema em Cena. Acesso com frequência o CinePlayers, o blog do Roberto Sadovski e o Cinema com Crítica, que publica pelo Instagram.  E puxo a brasa para a minha sardinha citando o Cinema de Buteco, que também leio muito.

 

21) Qual streaming disponível no Brasil você mais assiste filmes?

Hoje, o Telecine Play. Catálogo ótimo.

 

 

Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #387 - Leonardo Lopes

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #386 - Maria Caú


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, do Rio de Janeiro. Maria Caú tem 38 anos, é professora, pesquisadora e crítica de cinema (filiada à Abraccine). Formada em Cinema pela UFF e Doutora em Ciência da Literatura pela UFRJ, trabalha como especialista em conteúdo audiovisual. É autora do livro Olhar o mar: Woody Allen e Philip Roth — a exigência da morte (Editora Verve, 2015) e integra o conselho editorial do site Críticos (https://criticos.com.br/).

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Acho que certamente a melhor programação do Rio de Janeiro ainda é a do Grupo Estação, mas sou bastante fã da galera do Grupo Casal também, que programa o Cine Santa Teresa, o Museu da República e o Barra Point. Ambos os grupos apostam numa programação mais afinada com a minha visão de cinema, apesar de eu ter me chocado ao ver Vingadores no Estação Botafogo em 2019.

 

2) Qual o primeiro filme que você  lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Olha, eu sou fascinada por cinema desde muito novinha, então essa pergunta poderia ter múltiplas respostas a depender do sentido das palavras diferente e lugar. Se você está falando do cinema como um espaço físico, a sala de cinema e o que acontece ali, então a minha primeira lembrança é Batman, o de 1989, do Tim Burton, que eu vi legendado com minha mãe sussurrando as legendas porque eu, recém-alfabetizada, não lia naquela velocidade ainda. Mas se você está falando do espaço imaterial do cinema, então talvez Persona, do Bergman, que eu vi boquiaberta no extinto Telecine Classic com uns 16/17 anos.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Hora da resposta polêmica. Todo mundo que me conhece sabe que esse cara é o Woody Allen. Eu passei anos da minha vida escrevendo sobre ele (dissertação, que foi publicada, e tese, que com essa polêmica toda jamais será). Woody Allen é um diretor com uma obra grande e genial, mas vamos dizer que hoje (não amanhã, não ontem) o meu filme favorito dele é Manhattan.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Essa coisa de favorito é uma obsessão das pessoas, né? É bastante próprio de uma parcela da crítica de cinema, que se tornou mais uma compilação e listas e notas do que um diálogo com as obras e os autores. Acho ótimo para uma conversa de bar, mas para uma análise mais séria é complicado sustentar UM favorito na cinematografia brasileira como um todo. O que eu posso dizer é que o filme nacional mais próximo do meu coração é Cabra marcado para morrer, do Eduardo Coutinho.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Eu não sei. Eu sinto que essa palavra foi esvaziada pelos ditos cinéfilos de hoje em dia. Por isso, eu mesma jamais me defino como cinéfila. Na sua origem, a palavra designava um movimento cultural e uma forma de espectatorialidade crítica, além de social, política e filosoficamente engajada. Na minha cabeça não há diferença entre cinéfilo e crítico, ambos têm a mesma construção de olhar e transitam nos mesmo espaços. Mas isso tudo era antes. Agora cinéfilo é o cara que compete nas redes sociais com outros cinéfilos para ver quem viu a maior quantidade de filmes ou é capaz de dizer mais prontamente alguns fatos de decoreba sobre eles.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Depende do que você define com entender de cinema. Entender de mercado exibidor é ou não “entender de cinema”? A questão também é a liberdade que essas pessoas têm ou não para programar. A gente fica aqui culpando esses indivíduos quando o problema da distribuição é muito maior, é uma questão que deveria passar primeiro pelas medidas de Estado, que são uma piada no Brasil. De que adianta você entender tudo de cinema e trabalhar num conglomerado enorme que te pressiona a atingir certos números sem desejar construir ações de formação de público? Acho que a grande maioria dos programadores que eu conheço têm formação compatível com seus cargos, ou seja, “entende de cinema”. Mas têm pouca liberdade de propor ações no contexto em que estão inseridos. Dito isso, há pessoas que conseguem quebrar essas enormes barreiras, em geral em cinemas menores e de “arte”, como o Pedro Azevedo, meu grande amigo, que faz um trabalho brilhante programando o Cinema do Dragão em Fortaleza, ou o Paulo Máttar, que está à frente do Cine Arte UFF (Niterói/RJ) e tem uma proposta de programação muito bonita e coerente com a universidade.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Algum dia tudo vai acabar. Nos próximos cem anos? Não. Elas vão se transformar? Certamente.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Até hoje nunca consegui conversar com ninguém sobre O som das nuvens, o primeiro longa do Hans Weingartner (que depois dirigiu Edukators), com Daniel Brühl antes de ele ser uma grande estrela do cinema alemão, porque sempre que eu menciono o filme ninguém viu. E eu gosto muito.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Já temos uma vacina, né? Resta saber quando esse governo genocida vai vacinar uma parcela mais expressiva da população. Mas acredito que os cinemas não deveriam ter reaberto, e digo isso com dor. E acho que deveríamos ter investido em exibições ao ar livre, em parques, por exemplo, e com medidas de distanciamento e máscaras.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

O cinema brasileiro é rico e plural, apesar da completa falta de incentivos que o governo deste genocida que é o Bolsonaro instituiu, com o desmantelamento de políticas culturais que, apesar de ainda insuficientes, vinham dando resultado. O cinema brasileiro é uma expressão cultural de resistência.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Acho que no momento este lugar está ocupado pelo Kleber Mendonça Filho, mas isso muda o tempo todo. Só quer dizer que os caminhos do cinema dele me interessam muitíssimo no contexto atual. Há outros artistas que me interessam muito também, que estão no meu radar, como a Beatriz Seigner, Júlia e Lúcia Murat, o pessoal da Filmes de Plástico, Grace Passô, isso porque eu não entrei na seara do curta-metragem nesta resposta e tentei ser concisa.

 

12) Defina cinema com uma frase:

“O cinema é uma explosão do meu amor pela realidade”. A frase não é minha, é do Pasolini.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.

Quando eu era criança, em Araruama, era comum vender ingressos para muito além da capacidade da sala de cinema. Então, eu assisti a O rei leão senta em cima da minha jaqueta jeans, num corredor cheio de crianças sentadas no chão. Esse cinema era muito velho e carente de reformas, e era também comum que morcegos dessem rasantes sobre nossas cabeças enquanto estávamos assistindo aos filmes.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Uma piada interna velha de certos cinéfilos repetitivos.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não. Mas às vezes ajuda o ser humano a não achar que está revolucionando a linguagem a cada passo. Às vezes, piora ainda mais o ego do sujeito. Vai saber.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

O volume de filmes ruins que eu vi é bem maior do que o de filmes bons, de modo que responder a essa pergunta é impossível.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Sinto que essa pergunta é mais apropriada para pessoas que estão pouco acostumadas a assistirem a documentários. Eu assisto a muitos documentários e amo demais esse formato para ter uma resposta. Poderia fazer uma listinha de 20 títulos ou mais. Impossível responder.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Diversas vezes. É costume fazer isso em sessões apresentadas pelos diretores ou pela equipe do filme, de forma que obviamente a resposta teria que ser sim. Agora, se você se refere a aplaudir espontaneamente, numa sessão comum, sim, já fiz também algumas vezes. Muitas delas porque o filme expressava algo que me parecia politicamente importante naquele contexto.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Acho o Nicolas Cage um dos atores mais inteligentes que eu conheço, nunca entendi as piadas recorrentes com ele. Por que digo inteligente? Porque é alguém que, a partir de uma óbvia limitação como ator, conseguiu entregar ótimos trabalhos em filmes memoráveis e com diretores do quilate de David Lynch, irmãos Coen... Meu filme favorito dele é o espetacular Coração selvagem, mas eu tenho um carinho especial por Despedida em Las Vegas, que vi com meu pai quando era adolescente.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Certamente, o IMDB, site de consulta que fica aberto o tempo inteiro no meu navegador.

 

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22/04/2021

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Crítica do filme: 'O Som do Tempo'


O mundo da mudança ao olhar da simplicidade. Vencedor de mais de duas dezenas de prêmios em festivais espalhados pelo Brasil, O Som do Tempo, é um dos primeiros curtas-metragens da carreira do excelente cineasta cearense Petrus Cariry. Em curtos dez minutos de projeção, somos testemunhas da habilidade técnica, na criação de emoções através do movimento do impacto, das imagens, buscando a reflexão de toda ou qualquer forma dentro do contexto de uma mulher mais velha vendo as transformações do pequeno pedaço de universo que vive ao longo do tempo.


O silêncio que não existe mais. Ao redor prédios e barulhos, o verdadeiro caos urbano das grandes cidades que não param de se expandir. Em contraponto, a vida simples, uma casinha humilde em meio a enormes estruturas, avenidas barulhentas e palavras gritadas pra todos os lados. Em até certo ponto dentro de uma forma de poesia de imagens, identificamos um olhar muito humano e honesto compreendido mais de perto por quem está no epicentro dessa mudança, olhando um mundo novo diferente do que vira até então.


Quase sem palavras (usando a força do ver em vez do escutar), quando chega, a música em um gran finale mostra mais detalhada a questão cultural e existencial e de alguma forma explica bastante das imagens que vemos ao longo desse trajeto, o seguir em frente em meio às transformações que não abalam em nada quem apenas quer viver de sua maneira.

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10 Filmes para você que gosta de Documentários – Parte 1


Iniciando nossa jornada em listar, dentro do universo dos documentários, várias ótimas produções que nos sensibilizam de alguma forma. Tem ex-chefão da União Soviética e seu papo curioso sobre o universo que criou (ou quase), enxadristas da Geórgia que viraram verdadeiras celebridades mostrando toda a força feminina, relatos de um amigo sobre sua comovente trajetória de vida passando pela inauguração de um Mc Donald’s na Rússia até os horrores de fugas atrás de fugas em busca de paz, tem um alpinista muito focado que não estava preparado para a variável amor o que coloca em dúvida seu próximo objetivo, os horrores de campos de concentração em Fortaleza (uma história que você poucas vezes viu em livros de história do Brasil) , um artista plástico genial e as ideias dentro dessa genialidade. E muito mais.

 

Abaixo textos sobre esses 10 filmes nessa primeira parte desse especial contínuo.

 

I Called Him Morgan

 

Como contar a história de uma tragédia e fazer ser interessante os dois lados da moeda? Apresentando uma das histórias mais trágicas e banais da história do Jazz, o cineasta sueco Kasper Collin apresenta ao público argumentos e os porquês que encerraram no início da década de 70 a trajetória do genial trompetista Lee Morgan nesse mundo. Descobrindo uma inusitada entrevista da autora do crime em fita k7, a esposa na época de Lee, Helen Morgan, conseguimos descobrir os motivos da tragédia e um pouco mais da personalidade desses dois personagens, marido e mulher sua união e sua tragédia. Uma história impactante, do início ao fim.

 

 

Belas imagens de arquivos saltam com energia na tela transformando os sons de Morgan ao fundo em uma sinfonia belíssima. Impressionante o talento desse jazzista. No início, acompanhamos fases da vida de Lee Morgan, sua ascensão nas noites das mais badaladas casa de shows de jazz dos Estados Unidos, seu primeiro declínio para as drogas e seu renascimento através de Helen, que conhecera quando estava na pior mas que futuramente em um ato sem pensar acaba destruindo pra sempre essa história. Mesmo que sem depoimentos próximos, os detalhes fornecidos pelos entrevistados, amigos dos dois naquela época, principalmente a situação do clímax desse filme, parece que nos colocam dentro daquela Nova Iorque fria em dezembro.

 

 

O roteiro do documentário é primoroso. Instiga o espectador a cada instante, mostrando os dois lados da moeda, o assassinado e o assassino, os pontos de intercessão até seu final para lá de impactante. Um belo trabalho que merece ser conferido.

 

 

Ligue Djá: O Lendário Walter Mercado

 

Do triunfo ao quase desastre, sempre na esperança de voltar a falar com seu público. Muitas gerações recentes aqui no Brasil talvez nem nunca tenham ouvido falar no porto riquenho Walter Mercado. Sem zap, internet, quem comandava a festa da informação/comunicação eram as televisões e suas enormes audiências. Assim, anos atrás, na década de 90, um chamativo homem sempre com roupas extravagantes, capas, falando sobre astrologia dominou o interesse popular no Brasil e em toda a América Latina durante anos mandando mensagens positivas para milhares de devotos. Mas como que no auge da carreira e exposição na mídia, essa figura pública amada sumiu e nunca mais voltou à tv? Ligue Djá: O Lendário Walter Mercado, produzido pela Netflix, dirigido pela dupla de cineastas Cristina Costantini e Kareem Tabsch, mostra as verdades sobre tudo que aconteceu na formação, no auge do sucesso e no pós sumiço televisivo desse personagem sempre intrigante da televisão. Dois pontos muito interessantes: o encontro do atual gênio da Broadway Lin-Manuel Miranda com seu ídolo de infância é algo que emociona. Segundo, o projeto nos faz uma pergunta indiretamente: será que Walter Mercado faria sucesso nos dias atuais? A resposta está no filme!

 

 

Dividido em arcos muito bem compostos, esse ótimo documentário navega em pontos importantes da trajetória do astrólogo mais famoso do mundo na década de 90. A questão sobre a sexualidade dele, assunto que Walter não gostava de falar muito sobre, contorna o documentário sob ponto de vista de um ativista lgbt de Porto Rico que teve nele como alguém de referência para ser quem ele queria ser. Outra questão é a briga na justiça que Mercado teve com seu ex-empresário. Como a maioria dos artistas que se dedicam fortemente à sua arte sem pensar na estrutura que precisa administrar para que tudo aconteça, Walter acaba caindo em armadilha contratuais que praticamente extinguiram sua marca, seu nome que sempre lutou para deixar intacto no auge. Há um belo destaque também para as lembranças da carreira de ator de Walter, uma passagem muito bonita em um lindo teatro em Porto Rico ganha destaque no documentário.

 

 

Ícone da moda? Figura pop? Rei dos memes foi por jovens que nunca o viram na tv? Cascateiro? Ingênuo? Walter Mercado pode ser definido por você leitor da forma como o enxergar mas uma coisa não tem como nenhum de nós negar: marcou a história da televisão mundial.

 

 

Free Solo

 

Uma vida sem desafios não vale a pena ser vivida. Contando a impressionante saga, e o grande desafio, de um dos mais habilidosos escaladores solo do mundo, Free Solo, o documentário vencedor do Oscar é uma jornada eletrizante por dentro das emoções de um homem e seu desejo peculiar. Tudo é muito bem feito nesse filme, as imagens são de tirar o fôlego, você se emociona, se diverte e não consegue tirar os olhos para saber como termina essa impressionante aventura. Um dos melhores documentários dos últimos tempos, vencedor de 23 prêmios internacionais.  



O enredo desse Doc. é simples, somos apresentados a Alex Honnold, um escalador norte americano que pratica a escalagem sem cordas por meio de diversas paisagens enormes do chão ao topo. O sonho desse corajoso jovem é escalar ‘solo’, sem qualquer outro equipamento de segurança, as falésias de granito do El Capitan, no Parque Nacional de Yosemite que fica nas montanhas da Serra Nevada, na Califórnia, EUA. Mas a missão não será nada fácil, acompanhando o preparo mental e físico de Alex ao longo de um grande período, além do seu recente relacionamento que modifica demais o pensar do protagonista, o filme vai nos guiando em uma aventura inesquecível.

 

Os componentes que envolvem essa saga são de, seus amigos, sua família e sua namorada vão preenchendo as lacunas que ficam soltas, já que Alex é uma pessoa muito tímida e que pouco se abre. A partir do novo relacionamento com sua namorada, parece que há uma mudança no modo de pensar, medos inexistentes começam a surgir bem claramente a sua frente e por um triz todo o projeto de realizar essa escalada não tem um desfecho mais triste.

 

Produzido pela National Geographic, Free Solo, é antes de mais nada uma grande experiência, não só marcante na vida de Alex mas também para aqueles que tiverem a oportunidade de assistir a essa história marcante.

 

 

Siron. Tempo sobre Tela

 

A honestidade na arte de criar. Escrito e dirigido pelos cineastas André Guerreiro Lopes Rodrigo CamposSiron. Tempo Sobre Tela nos apresenta um profundo e impressionante raio-x sobre a criatividade de um dos maiores artistas plásticos de nosso país, Siron Franco. Com muitos depoimentos do próprio artista em uma espécie de narrativa intimista, o processo criativo é mostrado por várias óticas. Fontes de inspiração, meda da tortura, o pensar como uma peça de teatro, o fascínio com outras artes como o cinema, os fundamentos do sonho sobre à arte. Ao longo de cerca de 90 minutos somos premiados com memórias de sua intensa e bem vivida trajetória, tanto no lado profissional como no lado pessoal, declamadas belo lado do saudosismo. Disponível a partir do dia 25 de março em muitos streamings.

 

 

Em Siron. Tempo Sobre Tela, somos imersos ao universo desse grande artista brasileiro, fiel ao seu Goiás. Ele passou por tantas transformações como seu próprio Estado. Buscando fazer o bem e dedicando sua vida à arte acessamos memórias do seu arquivo pessoal, inclusive com um depoimento especial, em uma passagem rápida, do grande Ferreira Gullar que foi crítico de arte durante um tempo. Em um momento tocante, conhecemos as origens, inclusive filmadas do início de uma de suas obras mais famosas, em homenagem à cultura indígena e o absurdo pós destruição de quase 500 colunas onde podemos definir um paradoxo inimaginável sobre a intolerância de terceiros que não entendem nem um pingo do que aquilo tudo representava.

 

 

Um fato chama a atenção na afirmação de que ele lembra mais das coisas que já pintou do que já viveu. Nos faz refletir. A ferramenta do inconsciente com a chegada do cansaço, um processo que pelo relato de Siron deve ser bem difícil explicar mas pelas imagens em fundo podemos começar a ter uma ideia. Os sentidos abertos do sonho, a importância desse momento reflexivo que reflete à arte, também de muitos cineastas como David Lynch.

 

A importância desse documentário é gigante para novas gerações conhecerem artistas emblemáticos de nossa trajetória cultural. A arte, seja ela qual for, é uma conexão entre passado e presente, um exercício de liberdade do seu pensar sem cadeados não criativos contra a novidade após o ontem.

 

 

Currais

 

O silêncio apaga tudo. Um homem, sua Kombi e suas buscas por respostas da história de seu avô, a reconstrução da memória de uma região, por quem ainda se lembra dessa época terrível, fatos que parte da elite se esforça em ocultar. As margens de uma estrada de ferro e no alto do sertão morriam centenas de pessoas nos chamados campos de concentração (os currais do governo), lugares criados no início da década de 30, sob conhecimento do governo federal, onde flagelados da seca eram tratados com indiferença e discriminação pela elite que já morava na cidade de Fortaleza. Escrito e dirigido pela dupla de cineastas David Aguiar e Sabina Colares, modelado em uma mistura entre documentário e ficção, Currais apresenta relatos impactantes, impressionantes, surpreendentes, além de fotos antigas mostrando o que as palavras dizem ao longo dos cerca de 90 minutos de projeção.

 

 

Uma história real, onde campos de concentração, chamados assim mesmo, lugares onde pessoas de baixa renda e sem praticamente nenhuma escolaridade, além de pessoas que fugiam da seca de outras regiões eram mantidos confinados, milhares de pessoas em raios pequenos. Um formigueiro humano. Eles eram mantidos nesses lugares, sem alimentação básica, pagamentos, para não conseguirem chegar as grandes cidades ao redor de fortaleza. A dor e o sofrimento são marcantes nos relatos de conhecidos de sobreviventes e alguns até testemunhas oculares dos horrores praticados nesses currais onde as pessoas tentavam sobreviver pessoas, trabalhadores brasileiros, desesperados que foram esquecidos pela história.

 

 

Depois que você assiste a esse documentário, é muito difícil de tirá-lo da memória. Pensar que uma cidade se ergueu sob suor e sangue é assustador. Nosso país é enorme. Tantas histórias...e muitas delas desoladoras, tristes. Como um ser humano pode fazer isso com outro ser humano? Um capitalismo desenfreado, um elitismo esnobe e arrogante, entendemos o reflexo dessas atitudes até os tempos atuais se formos comparar com a questão social das favelas, pessoas que vivem à margem de uma sociedade privilegiada. O filme abre espaço também para mostrar a religião ganhando contornos culturais através dos devotos das almas da barragem. Um documentário/ficção arrebatador que diz muito sobre a história de nosso país.

 

 

Glória à Rainha

 

A imersão profunda onde o tempo desaparece. Selecionado para a Competição Internacional de Longas e Médias-Metragens do Festival É Tudo Verdade de 2021, Glória à Rainha, dirigido pelas cineastas Tatia Skhirtladze e Anna Khazaradze conta a história de quatro das maiores enxadristas da história desse esporte, todas elas Georgianas e contemporâneas. Concentração, silêncio, o click do relógio. As dificuldades de deixar suas famílias para viajarem pelo mundo, histórias do treinamento intenso (cada uma delas perdia cerca de meio quilo durante um único jogo de xadrez), somos ouvintes de relatos/lembranças dos tempos de seus respectivos momentos grandiosos como reconhecidas enxadristas profissionais, algumas delas até disputavam torneios masculinos contra grandes mestres da época. Uma interessante jornada com mais uma certeza sobre a força das mulheres pelo mundo.

 

 

Em Rhodes, Grécia em 2019, no campeonato europeu de xadrez sênior, que começa essa jornada sobre as memórias e realizações, além do impacto social e de nomes no país que nasceram (muitos bebês na época de suas conquistas foram batizados com seus nomes). Encontros em diversos torneios pelo mundo, no vai e vem de lembranças sobre as carreiras de sucesso, principalmente durante o período de Guerra Fria, e os impactos que possuíram sobre todo um país que durante muito tempo pertenceu a União Soviética. Na Geórgia é comum presentear com um jogo de xadrez à noiva como parte do dote, essa entre outras curiosidades vamos acompanhando ao longo dos quase 90 minutos de projeção, aprendemos muito sobre a cultura desse país considerado antigamente como a Califórnia soviética, destino de muitos nas férias dentro da Antiga União Soviética.

 

 

O filme explora muito bem a força feminina da história desse país muito desconhecido por aqui. Exemplos não faltam, como: Santa Nino, que trouce o cristianismo para esse pequeno país antes do século V, o ‘Rei’ Tamar que na verdade era uma Rainha mas chamada de rei na Idade Média, e, no século XX as brilhantes enxadristas aqui mencionadas, famosas em todo o mundo pelo Xadrez. Além desses fatos, vamos acompanhando as consequências positivas dos feitos das esportistas não só para seu país e região mas também para esse esporte muito machista durante bom tempo.

 

 

Há 18 trilhões de movimentos em um jogo de xadrez, já imaginaram buscar controlar sua mente e seu corpo contra qualquer uma dessas variáveis? E os movimentos externos, guerra fria, união soviética, pressão, marketing unilateral feito pelo governo...? Glória à Rainha é um documentário atemporal que mostra muito através do olhar de corajosas e inteligentes mulheres.

 

 

Professor Polvo

 

Tudo na vida tem começo, meio e fim. Um homem e seus conflitos em certa etapa da vida, consumido pelo stress de um cotidiano caótico em não encontrar um oásis dentro das obrigações que se amontoam em sua vida. Durante mais de 200 dias na África do Sul, resolve interagir todo esse tempo com um polvo e assim acaba embarcando em uma série de descobertas sobre como vive esse molusco de oito tentáculos e que possui uma série de ventanas. Uma narrativa detalhista, emocionante, que mexe com nossos campos reflexivos nos paralelos que encontramos entre as leis da vida de um polvo e nós que estamos fora da água. Professor Polvo, produzido pela Netflix, está concorrendo ao Oscar de Melhor Documentário em 2021.

 

 

Hipnotizante, inspirador. Uma história que pode parecer quando a gente lê a sinopse meio sem sentido, começa a mostrar porque é tão profunda quando começamos a entender as mudanças na maneira de pensar do mergulhador que se sente outro planeta debaixo da água. Acaba criando uma inusitada amizade com o polvo, esse que possui uma capacidade surpreendente e criativa de enganar seus inúmeros predadores. Ricas imagens preenchem a tela a todo instante, é como se estivéssemos dentro daquele pedacinho do oceano acompanhando de perto toda essa saga sem objetivo específico mas sempre surpreendente.

 

 

A parte onde descobrimos a força de vontade de se reconstruir é um clássico exemplo da vida, onde milhões espalhados pelo mundo precisam diariamente buscar suas chances de uma confortável trajetória em uma concorrência muitas vezes desleal mas mesmo assim, a maioria de nós, consegue de alguma forma (ou faz de tudo) sobreviver. Há mais paralelos: o sacrifício, a felicidade, as dificuldades, os obstáculos, nada de novo mas sempre com o olhar do inacreditável pelas intensas imagens que conseguimos acompanhar.

 

 

História de amizade, leis da vida, paralelos com os cotidianos espalhados por aí. Um dos grandes documentários dos últimos anos, despretensioso mas que consegue emocionar até os corações mais distantes de emoções.

 

 

 

Collective

 

O bom jornalismo está em muitos lugares, a fonte desse é a verdade. Prêmio de Melhor Longa-Metragem Documentário da Competição Internacional na edição 2020 do Festival É Tudo Verdade, Collective, de Alexander Nanau é um filme forte e corajoso. Um documentário investigativo mostrando quase em tempo real as chocantes descobertas e os desdobramentos de um fato que desencadeou uma crise feroz no Ministério da Saúde da Romênia. Um grupo de jornalistas tenta apurar e noticiar todas as portas que se abrem conforme vão avançando no caso. Detalhado e argumentativo, somos testemunhas de um golpe completo de um estado disfuncional, sua corrupção e seu sistema de saúde repleto de esquemas gananciosos.

 

 

Indiferença mata! Dilua a corrupção! Uma tragédia com mais de duas dezenas de mortos em uma boate na Romênia. Outras dezenas são levadas a hospitais romenos para cuidarem na maioria dos casos das intensas queimaduras que sofreram. Com a morte de muitos desses que foram para os hospitais, a partir de uma denúncia, um absurdo esquema é descoberto. Diluição de desinfetantes que são comprados pelos hospitais, o que prejudica a conter avanço/ação de fortes bactérias. Uma investigação mais profunda sobre o caso é de uma editoria de esportes, o que coloca em xeque também parte da imprensa.

 

 

Chocante. A ganância, o poder. Há um clima tenso durante todo o filme, que abre em vertentes que mostra a investigação de incansáveis jornalistas, uma troca no comando do ministério da saúde, um pai em luto e uma sobrevivente tentando buscar levantar sua vida após o trauma que viveu. Fugindo um pouco do foco, ou por outro ponto de vista até mesmo indo bem além da superfície, ou em outro abrindo portas de mais sujeira no sistema de saúde romeno ou até mesmo nas entrelinhas destacando a força do papel da imprensa, Collective é um filme importante e merece ganhar debates pelo mundo.  

 

 

 

Gorbachev.Céu

 

 

Se não eu, e se não agora, quem? Herói russo? Reconhecido por seus feitos em boa parte da Europa mas na Rússia não? Um bolchevique teimoso? Selecionado para a Competição Internacional de Longas do Festival É Tudo Verdade 2021, Gorbachev.Céu mostra opiniões e lembranças do oitavo e último líder da União Soviética, Mikhail Gorbachev, gestor de uma grande reforma em sua parte comandada do mundo e que podemos dizer que deu um nó no planeta, responsável pela Perestroika e Glasnost em meados da década de 80. Vamos sendo testemunhas oculares de sua rotina, agora já mostrando diversas fragilidades que chegam com a idade avançada, além de termos uma grande aula sobre história mundial através desse hábil contador de histórias, uma figura histórica, mundialmente conhecida que ainda se vê como socialista tendo Lênin (Organizador do Partido Comunista Russo) como seu Deus. Dirigido pelo cineasta ucraniano Vitaly Mansky.

 

 

A modelagem do documentário é bastante ágil e dinâmica, uma entrevista cheia de caminhos e momentos de grande reflexão, praticamente a história da Rússia das últimas décadas passando na frente de nossos olhos através da opinião sempre firme desse ex-chefe de sua nação, filho de pai ucraniano e mãe russa. Mesmo demasiadamente curioso nos detalhes do apartamento do entrevistado, o documentário consegue preencher lacunas importantes sobre muitas das figuras políticas mencionadas por Gorbachev, o que acaba virando um ótimo complemento dos contextos detalhados de maneira bem simples e didática.   



Alguns assuntos ficam com suas respostas jogadas pelas inúmeras entrelinhas, mesmo quando o entrevistador faz perguntas bem incisivas, como por exemplo a ampla questão sobre a democratização dos contornos após o fim da União Soviética e os detalhes de seu encontro com o ex-presidente norte-americano Ronald Reagan. Mesmo com a Rússia voltando a não-liberdade como sua forma natural de existência, vemos a todo instante seu brilho no olhar desse ex-advogado que governou a União Soviética de 1985 até 1991, deixando o poder depois de traições e manobras políticas de figuras conhecidas do enorme país que tem em Moscou como sua capital.

 

 

Esse projeto deveria ser complemento escolar para todas as gerações que estão estudando as décadas recém passadas e todos os rumos, seus porquês, que o mundo tomou. Tem fatos que o cinema ensina em um ritmo fluente de narrativa objetiva que muitas vezes gera a sensação de estarmos folheando livros e mais livros.

 

 

 

Fuga (Flee)

 

 

A amizade como ajuda na cura de feridas do passado. Baseado em fatos reais, uma história muito próxima do diretor desse projeto, o cineasta dinamarquês Jonas Poher Rasmussen, consegue ser muito criativo usando a técnica de animação para criar um ambiente respeitoso e criativo para um homem pronto para contar sua história, esse que escrevia em um caderno velho suas verdades até aqui agora às vésperas de casar ele precisa enfrentar seu passado. Por meio de memórias e até algo parecido com um relaxamento, quase em ponto de hipnose, voltamos ao ano de 1984 em Cabul (Afeganistão), onde toda avalanche de situações dramáticas deram início na vida do protagonista. Descoberta de sua sexualidade, guerras civis, países saindo do comunismo, fugas e mais fugas. Somos testemunhas de uma incrível história que passa por muitas questões globais. Fuga, ou Flee no original, foi o filme de abertura do Festival É Tudo Verdade de 2021.

 

 

Não deixa de ser uma história contada por conta da amizade entre o diretor e seu protagonista, um velho amigo desde os tempos onde não muitos imigrantes chegavam na capital da Dinamarca, Copenhage. Amin, nosso protagonista, é um homem já pensando no pós-doutorado em Princeton (EUA) mas que ninguém perto dele sabe sobre seu passado, só que é afegão e chegou na Dinamarca e de lá nunca mais saiu. Decidido em enfrentar seu passado para poder oferecer seu amor em 100% ao seu namorado com quem pretende construir uma família e morar junto, ao amigo dos tempos de colégio resolve contar as suas verdades sobre como chegou até ali. Passamos a conhecer o Afeganistão e sua relação com a família, o misterioso sumiço do pai e uma fuga desesperada para fugir dos novos domínios da região onde vivia. Chega em Moscou, nessa fuga, enfrenta outro fato histórico mundial, na época que chega, um ano após o comunismo e testemunha de situações tristes: pessoas morrendo de fome, mercados sem nada, moeda desvalorizada, muitos crimes, polícia impiedosa. Nesse período até a chegada do Mc’Donalds à Rússia ele testemunha.

 

 

Paralelo as fugas que dominaram grande parte de sua vida, vamos conhecendo os pensamentos de Amin desde cedo. As histórias de aviação da irmã, mesmo que pudessem ser enormes invenções o deixava com as asas prontas para sonhar, sem nunca pensar que seus próximos dias, semanas, meses e anos seriam como se fossem um enredo de filme dramático, praticamente lutando para existir, fugindo de muitos males que encontra pelo caminho, buscando uma identidade mesmo que para isso a jornada tenha que ser feita sozinha, longe de todos que ama. Passa por dezenas de constrangimentos, se enche de vergonha sem saber ao certo como sobreviver em meio ao mundo que consegue enxergar até ali. Descobre sua sexualidade cedo, mesmo que até a adolescência ainda seja confuso para ele pois no Afeganistão os homossexuais ‘não existiam’, davam vergonha para a família, um lugar difícil de se aceitar ser gay.

 

 

Fuga (Flee) nos provoca reflexões que vão desde as políticas mundiais, os horrores de uma guerra civil descontrolada, sangrenta e impiedosa, o capitalismo, até os traumas que vivem dentro de nós e muitas vezes nos travam de seguir em frente. Contando suas verdades, Amin se liberta. É lindo ver isso diante de nossos olhos, como testemunhas de mais esse renascimento de um homem que merece demais que a paz e a felicidade nunca mais deixem de estar por perto.

 

 

 

 

 

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