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06/03/2021

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Crítica do filme: 'Feliz Aniversário'

Quando a falta de explicações em uma trama apenas superficial deixa tudo muito confuso aos olhos do espectador. Escrito e dirigido pelo cineasta francês Cédric Kahn (que inclusive atua no filme), Feliz Aniversário é um drama que fala sobre problemas em relacionamentos usando a comédia dentro de um contraponto maçante, deixando muitas cenas em total descontrole e completamente sem elos com que nos apresentam sobre os personagens. Não adianta ter Catherine Deneuve, Emmanuelle Bercot no elenco se o roteiro é um embaralhado de situações que não nos comovem, nos fazem refletir ou melhor que isso tudo: nos fazem chegar a alguma direção de compreensão.


Na trama, conhecemos Andréa (Catherine Deneuve) e sua família formado por netos, amigos e seus filhos Romain (Vincent Macaigne), Vincent (Cédric Kahn) que se reúnem para o seu aniversário na aconchegante casa da família na França. A surpresa de todos para a mãe, a presença da filha que morava fora do país Claire (Emmanuelle Bercot), aos poucos vai deixando essa comemoração com tons dramáticos.


Decepcionante é uma boa palavra para definir esse projeto. Subtramas confusas, distância entre os personagens, roteiro com arcos que não explicam (apenas mostram). Nos fazem sentir vontade de olhar o relógio a todo instante para saber se está perto de acabar o nosso sofrimento. O ponto chave para tudo ter sentido, Claire, é apresentada cheia de cartas na manga mas que nunca são mostradas, principalmente sobre um passado confuso que tem a ver com investimentos, dinheiro e um imóvel da família. O roteiro parece focar em relacionamentos sem se aprofundar, deixando tudo na superfície, principalmente nosso tédio.

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05/03/2021

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Crítica do filme: 'Nós Duas'


Amor escondido é igual a liberdade dentro de um quadrado. Representante da França ao Oscar 2021 e indicado ao Globo de Ouro, Nós Duas, Deux no original, é uma interessante incursão sobre sentimentos íntimos de duas mulheres mais velhas, que se conhecem toda uma vida, onde fora colocado um papel no buraco da fechadura para os demais jamais, ou nem ao menos, terem a chance de se intrometer. Honesto e bastante delicado, trata com muito respeito a questão da aceitação do amor de duas mulheres apaixonadas e o eterno receio do que os outros podem pensar sobre isso. Destaque para Barbara Sukowa, uma das melhores atrizes europeias, não só da atualidade, em mais uma atuação magnífica, vibrante e delicada ao mesmo tempo.


Na trama, conhecemos Nina (Barbara Sukowa) e Martine (Martine Chevallier), duas mulheres já bem mais velhas que durante toda uma vida vivem um amor escondido. Vivem em um prédio, de dois apartamentos por andar, e ambas moram uma de frente pra na outra. Tentando dar um passo importante na relação, elas resolvem procurar soluções para o futuro e quem sabe até contar para a família de Martine (já que Nina é sozinha no mundo) sobre o relacionamento que vivem. O problema é que essa última, sofre um avc e tudo muda bastante na rotina escondida das duas amantes.


Há um belo brilho na poesia que camufla os conflitos, seja na visão e descoberta dos filhos de Martine, seja nos embates intensos entre as almas gêmeas. O amor é um dos focos, dividindo a tela com a questão do pré-conceito/preconceito e também de um complexo relacionamento entre mãe e filhos por conta de um segredo de anos e descoberto apenas por causa da situação emergencial que estão passando. O roteiro faz um trajeto bonito entre os arcos. No mais reflexivo, as memórias ganham contornos metafóricos e de alguma forma nos fazem entender melhor a quão profundo é o sentimento de afeto e carinho que Nina e Martine possuem. Impossível não se apaixonar por essa história.  

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27/02/2021

Crítica do filme: 'Dirty God'


Os dilemas de uma aceitação. Exibido em Sundance e no Festival de Roterdã de 2019, Dirty God é um filme sobre se aceitar em novas condições depois de um trauma que envolve família, queimaduras e decepções. Navegando por todas as fases que a protagonista passa, do ocorrido, até o desespero, a inconsequência, a violência contra ela mulher, e a volta de um certo sentido na vida a cineasta holandesa Sacha Polak consegue captar muitas emoções contidas em uma história cheia de profundidade e problemas ligados à família de alguma forma. O tom melancólico persegue o longa-metragem que mesmo no seu tempo, envolvido em uma lentidão perceptiva, consegue enviar sua mensagem.


Na trama, conhecemos Jade (Vicky Knight), uma jovem, mãe, que mora com a sua, em um pequeno apartamento. Jade sofreu um terrível ataque com ácido e teve parte do corpo, parte do rosto inclusive, queimado. Vamos acompanhando a protagonista no retorno dela a sua vida, nas novas condições, no trabalho, no relacionamento conturbado com a mãe e tentando criar um sentido em sua vida inclusive para tentar ser uma boa mãe para sua filha ainda bebê.


O longa-metragem é meio paradão mas esse tom em pausas é necessário para um melhor entendimento da dor e sofrimento que a personagem principal passa na nova maneira de lidar nas relações interpessoais, seja no trabalho, com os amigos ou em casa com sua mãe. Se rejeitando a princípio, entra em uma busca constante por cirurgias e mais cirurgias para uma tentativa de total melhoria para suas terríveis queimaduras. Na questão de relacionamentos, suas paixões e desejos entram em choque entre a realidade e o virtual, nesse contraponto acaba encontrando no sexo virtual (onde não mostra o rosto) uma maneira confortável de sentir desejo.


O filme se torna interessante quando pensamos que o cinema tem o poder de nos mostrar várias realidades soltas por aí pelo mundo. Um olhar para a pessoa que foi queimada é feito de maneira honesta e delicada mas sem deixar de mostrar todos os dramas que a personagem carrega dentro de si.

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Crítica do filme: 'Cicatrizes'


Nunca desconfiem de um sentimento maternal. Contra tudo e contra todos, perdida em uma solitária e dura não compreensão de seus sentimentos em uma busca improvável a um filho que fora lhe roubado a 18 anos, assim podemos definir a saga da forte protagonista desse surpreendente e impactante filme sérvio chamado Cicatrizes (Savovi, no original). Exibido no Festival de Berlim no ano de 2019, dirigido por Miroslav Terzic, com roteiro assinado por Elma Tataragic, o longa-metragem é inspirado em fatos reais e conta com uma atuação magistral da atriz Snezana Bogdanovic. O filme está disponível até o dia 19/03/2021 gratuitamente na excelente plataforma de streaming do Sesc Digital (https://sesc.digital/home).


Na trama, conhecemos a costureira, amargurada, Ana (Snezana Bogdanovic) que vive dias pacatos e distantes em pensamentos ao lado do marido Jovan (Marko Bacovic), um segurança do turno da madrugada em empresa, e da filha universitária Ivana (Jovana Stojiljkovic). Ana persegue faz quase duas décadas alguma informação sobre o filho que lhe fora tirado 18 anos atrás na maternidade. Sozinha nessa busca, precisa enfrentar o olhar desconfiado de todos ao seu redor até que uma luz surge em meio a esse caos emocional.


O roteiro possui um clima tenso modelado por uma amargura constante. Ana é de poucas falas, diz muito pelo olhar, percebemos uma agonia constante nos inúmeros minutos que bate perna pela cidade sempre na esperança de alguma informação que a possa colocar em um certo rumo. Sofre represálias da polícia, distanciamento de funcionários que poderiam ajudá-la dentro do hospital onde acontecera o ocorrido, e também da própria família, inclusive, nesse último caso colocando o casamento em risco.


Quando a esperança surge, o filme cresce, toma um novo ritmo e os contrapontos são colocados como paralelos, uma espécie de antes e depois, quando cai a ficha para muitos, mas sem esquecer que a mãe sempre esteve à frente da esperança. Há muito dito nas entrelinhas, principalmente pelo fato de ser baseado em fatos reais em uma região que passou por diversas transformações ao longo das últimas décadas. Um filme impactante. Merece ser visto.

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10/02/2021

Crítica do filme: 'Notre Dame'


As facetas do amor em conflito com as escolhas. Em menos de 90 minutos de projeção, o longa-metragem francês Notre Dame consegue de forma metafórica, avançando a mente de uma jovem arquiteta, mãe e sonhadora criar um grande raio-x sobre reflexões que temos ao longo de nossas vidas quando nos sentimos em uma sinuca de bico. Dirigido pela atriz e cineasta Valérie Donzelli (do ótimo A Guerra Está Declarada e que inclusive é a protagonista do projeto), o filme navega por um melodrama ligado ao universo fantasioso dos desejos. Se torna interessante quando o espectador percebe as ótimas analogias sociais embutidas na agitada vida da personagem principal.


Na trama, conhecemos a arquiteta Maud (Valérie Donzelli), mãe de dois filhos no início da adolescência que é separada (ou não) do ex-marido, o faz nada Martial (Thomas Scimeca). Quando, de maneira bastante inusitada, acaba ganhando um concurso para renovação estética do pátio diante da catedral de Notre-Dame sua vida vira uma loucura maior ainda e precisará lidar com um gigante orçamento, as intervenções de seu chefe, o reaparecimento de um antigo amor do passado, uma gravidez inesperada e escolhas que precisarão serem tomadas.


O primeiro arco é quase alucinante, uma série de informações saltam aos nossos olhos, posicionados na forma de analogias sobre o dia a dia corrido de uma mulher forte, batalhadora e guerreira mas que sofre demais com sua situação de idas e vindas com o ex-marido. Criativa, usa da força de seus sonhos para se imaginar, e de fato tentar conseguir almejar seus desejos no campo profissional e também no amoroso. O foco é todo em Maud, através de suas escolhas vamos percorrendo um ótimo recorte atual sobre a força feminina em uma sociedade ainda muito machista.


Notre Dame usa das metáforas e analogias para mostrar a desconstrução e logo depois a construção de uma personagem, sempre à frente do seu tempo mas que tropeça nas suas próprias incertezas. A proximidade com a realidade, se formos pensar em muitas forças femininas que temos pelo mundo, é algo que chega rápido e se conecta com o espectador. Os sonhadores entenderão muito bem o que alguns acharão um eterno labirinto de emoções.

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31/01/2021

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Crítica do filme: 'Abaixo de Zero'


As inconsequências da vingança. Em seu segundo longa-metragem como diretor, o cineasta espanhol Lluís Quílez consegue criar um eletrizante clima de tensão em um suspense impactante. Bastante interpretativo, o projeto apresenta uma noite fria, criminosos, policiais e um misterioso homem buscando vingança. Com cenas de tirar o fôlego, não deixando nossos olhos desgrudar da tela (principalmente no terço final), vamos acompanhando reflexivos contrapontos entre os abstratos sentidos da lei. Recentemente adicionado ao catálogo da Netflix.


Na trama, conhecemos Martín (Javier Gutiérrez), um policial que tem como sua primeira missão em um novo departamento escoltar alguns prisioneiros durante uma noite muito fria. Só andar alguns quilômetros e Martín percebe que as coisas tendem a dar muito errado, quando um homem misterioso chamado Miguel (Karra Elejalde) toma de uma forma bem violenta o veículo de transporte fazendo com que Martín fique preso junto aos prisioneiros. Agora, sem saberem direito quem é Miguel, os prisioneiros e Martín precisam decifrar os objetivos do misterioso homem para tentarem sair com vida dessa enrascada.


Há um grande valor para as ótimas subtramas. Deixando em segredo o passado dos ótimos personagens, vamos caminhando pela ótica do protagonista e de um dos líderes dos prisioneiros Ramis (o ótimo Luis Callejo). Os paradoxos da lei, os impulsos obsessivos em busca de justiça, a racionalidade vs a força das emoções, conseguimos enxergar reflexões nesses sentidos quando paramos para observar a maioria dos personagens, que mesmo sendo decifrado aos poucos de maneira superficial encontram-se com uma profundidade nada abstrata e bem próximo de carmas pessoais.

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27/01/2021

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Crítica do filme: 'Minha Irmã'


A força do amor entre irmãos e as superações da vida que precisam enfrentar. A vida não é fácil, é uma estrada complicada, repleta de obstáculos. Indicado da Suíça ao Oscar 2021, Minha Irmã é um impacto recorte na vida de uma forte mulher que aos poucos vê a solidez de alguns de seus pilares desmoronarem incontrolavelmente, desde o estado complicado de saúde de seu irmão gêmeo até uma crise intensa e amargurada em seu casamento. Escrito e dirigido pela dupla de cineastas Stéphanie Chuat e Véronique Reymond. Destaque para a atuação emocionante da atriz alemã Nina Hoss.


Na trama, conhecemos os irmãos gêmeos Sven (Lars Eidinger) e Lisa (Nina Hoss). O primeiro está com um sério problema de saúde e passa por uma não bem sucedida transplante de medula óssea. A segunda é uma escritora de peças de teatro que está com um vendaval de situações importantes acontecendo ao mesmo tempo em sua vida e precisa ainda ser a principal cuidadora do irmão o que gera nela terríveis dramas e uma iminente decadência em seu casamento com o marido Martin.


O foco é na irmã, uma mulher que precisa se virar para poder conciliar a terrível doença do irmão, a educação de suas filhas, idas e vindas do seu país de origem até onde seu marido trabalha, as complicadas decisões do futuro de sua família com a oportunidade que chega ao seu marido. Os desenrolares das escolhas dessa forte protagonista acabam sendo uma jornada bem bonita de encarar os obstáculos mesmo que para isso precisem ser tomadas decisões solitárias.


Minha Irmã é um longa-metragem repleto de amor e de solidão do afeto. Há contrapontos que se unem em momentos de reflexão, como o fato de uma certa distância da mãe sobre tudo que acontece com o filho. Nem sempre na vida teremos finais felizes mas precisamos converter nossas escolhas em soluções vindas de escolhas que vem do coração. Schwesterlein, no original, nos faz refletir bastante sobre a vida. Belo filme.

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23/01/2021

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Crítica do filme: 'Felicità'


Quantas variáveis existem na relação entre pais e filhos? Um dos filmes disponíveis no ótimo festival online e gratuito My French Film Festival desse ano, Felicità, é um road movie descontraído que nos conta a saga de uma família de três integrantes, meio nômades, que se mete em diversas confusões antes do início das aulas da jovem filha do casal. Parece simples e sem muitas saídas para reflexões mas o projeto consegue avançar a superfície principalmente quando analisamos o que assistimos pela ótica de Tommy, a jovem filha. Um trabalho interessante escrito e dirigido por Bruno Merle.


Na trama, conhecemos o ex-presidiário Tim (Pio Marmaï) e Chloé (Camille Rutherford), dois jovens sem muitas projeções na vida que vivem do dinheiro que a segunda recebe trabalhando na limpeza de casas para uma empresa. Eles tem uma filha, Tommy (Rita Merle), que acaba embarcando sempre nas loucas aventuras que os pais se metem ao longo dos dias que antecedem o início das aulas.


Os absurdos e as peculiaridades que navegam pela história não deixam de serem ingredientes interessantes para conseguirmos enxergarmos conflitos emocionais profundos. Um bom exemplo é a curiosidade da filha, e tudo o que sente quando percebe que seu pai repete os mesmos erros que o levaram para a prisão. As questões de dúvidas de Chloe quanto ao futuro da família e atabalhoadas tentativas de viverem uma vida repleta de amor mas longe de um ‘normal’. Tim é quem possui mais dificuldade em nos fazer refletir sobre suas construções emocionais, não há exatamente uma desconstrução mas algo é buscado para que tudo saia como melhor que ontem, mesmo que as velhas inconsequências não consigam estarem longe de suas ações.


Felicità é um recorte de uma família que se ama muito mas sempre fica distante de uma estabilidade.  Sempre bom assistir a filmes que possuam um bom desenvolvimento na temática muitas vezes vistas na telona que é a relação entre pais e filhos.

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10/01/2021

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Crítica do filme: 'Bænken'


Até aonde vai à redenção de alguém que pensara em não ter mais nada a perder? No início dos anos 2000, lançou-se na Dinamarca o longa-metragem Bænken que nunca pousou por aqui. O filme, escrito (Kim Leona também assina o roteiro) e dirigido pelo cineasta Per Fly conta a trajetória dura sobre um homem sem destino que achava que estava sozinho no mundo mas acaba indo buscar algum tipo de redenção quando encontra de maneira inesperada a filha que não via faz 19 anos. Tocando em muitos pontos polêmicos sobre alcoolismo, abandono e assistência social, o projeto se torna aos poucos reflexivo drama sobre escolhas da vida.


Na trama, conhecemos Kaj (Jesper Christensen), um rabugento alcóolatra na fase final de sua vida que vive gastando seu dinheiro de trabalho com cerveja. Sem ter mais ambições na vida e tratando mal a todos ao seu redor, acaba sendo surpreendido pela chegada de Liv (Stine Holm Joensen) e Jonas, mãe e filho que buscam abrigo no condomínio de apartamentos onde Kaj mora, mas especificamente no apartamento de um frustrado e lunático escritor. Um curto tempo depois, Kaj descobre que Liv é sua filha que não via a quase duas décadas e assim embarca em uma tentativa de jornada de redenção, principalmente, protegendo sua filha e neto do ex-companheiro de Liv e pai de Jonas, um homem ciumento e violento.


As lacunas à preencher após a chegada da dor na consciência. Completamente perdido em sua mesmice, o protagonista sofre com o alcoolismo, uma fuga sempre que não consegue enfrentar o mundo que construiu ao seu redor. As mudanças que chegam em sua vida acabam trazendo memórias perdidas/esquecidas que acabam se reativando por conta dos erros do passado cometidos por ele. Não sabendo lidar com a situação imposta pelo destino, busca se redescobrir como ser humano de maneira simples e objetiva, contando inclusive com a ajuda de alguns que pensas ser amigo. Tocando em assuntos delicados como a violência contra a mulher, a falta de assistência dos governos para determinadas situações emergenciais que muitos sofrem por aí, a trajetória do bom projeto se encaixa em sua essência como um profundo drama sobre relacionamentos entre pais e filhos.

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08/01/2021

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Crítica do filme: 'Undine'


O enigmático mundo entre o que pensamos e como sentimos. Exibido no Festival de Berlim, onde inclusive ganhou o prêmio da crítica (FIPRESCI) e ainda levou o concorrido Urso de Prata de Melhor Atriz, Undine possui um engenhoso roteiro que nos leva a um profundo drama, obsessões, palavras ao vento, perda, como o ser humano reage em momentos difíceis. Escrito e dirigido pelo cineasta Christian Petzold (um dos bons nomes na direção quando pensamos em cinema europeu, com ótimos trabalhos recentes) o projeto nos leva a uma jornada de conhecimento de uma personagem forte e muito complexa que possui um modo de pensar confuso, altera realidade com imaginação como se estivesse perdida dentro das interseções dos seus intensos relacionamentos e sentimentos. Cheio de simbolismos, o roteiro brinca com o espectador a todo instante.


Na trama, conhecemos Undine (Paula Beer), uma historiadora, que está à beira de uma certa loucura, discutindo sobre o iminente término de relacionamento com o namorado Johannes (Jacob Matschenz) que a traiu recentemente. Mas, por coincidência do destino, no mesmo dia que termina o relacionamento, encontra com o mergulhador industrial Christoph (Franz Rogowski) e logo surge uma paixão intensa entre os dois. Com o passar do tempo, idas e vindas de trem (a distância que separam os dois pombinhos), Undine encontra Johannes certo dia e esse momento poderá mudar pra sempre o provável final feliz dessa história.


Nos guiamos pelas ações de Undine a todo instante. Historiadora, obsessiva, uma solidão com a estranheza de não entender muito bem certas situações ao seu redor, muitas vezes introspectiva, vivendo uma fuga atrás da outra dentro de uma lógica fora da realidade. Uma alma carente que não sabe se definir fora de um relacionamento. Personagem extremamente complexa, um grande desafio para a competente atriz alemã Paula Beer.


O interessante e porque não dizer bastante original roteiro não fala somente sobre a complexidade psicologia por trás da sua protagonista, há espaço também para recebemos uma grande aula sobre Berlim e parte da história alemã através dos estudados momentos de palestras que a personagem ministra a muitos visitantes de um ponto turístico de Berlim. Há um vão entre a relação desses momentos com a maneira de pensar de Undine mas nada que atrapalhe o bom filme que se apresenta.

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31/12/2020

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Crítica do filme: 'Mais Outro Filho'


As eternas lições do aceitar. Escrito por Mattia Torre e dirigido por Giuseppe Bonito, Mais Outro Filho, Figli, no original, é um filme italiano que de maneira hilária aborda as dificuldades inesperadas de um casal apaixonado na chegada do segundo filho. Há um equilíbrio entre a comédia e o drama, além de hilárias metáforas em formas de pensamentos muito bem encaixadas que nos fazem entender melhor os personagens e seus conflitos. A paternidade, a maternidade, os medos dos pais, suas angústias e dificuldades na criação dos filhos, um ótimo filme vindo da Itália e disponível na HBO Go.


Na trama, conhecemos o casal Sara (Paola Cortellesi) e Nicola (Valerio Mastandrea) que ‘estão grávidos’ pela segunda vez. Ela uma inspetora sanitária de estabelecimentos, ele um dono de um frequentado armazém, são surpreendidos pelas dificuldades que enfrentam pois achavam que seria mais fácil que na primeira gestação. À flor da pele com as emoções, o casal começa a observar um novo mundo ao redor, inclusive outras formas de se entenderem em busca de soluções para os conflitos que muito se devem aos problemas de comunicação entre ambos.


Buscando soluções em teorias que chegam para eles quando sonham acordados, que vão desde a criação que tiveram oriunda do modo de pensar de outras gerações até conversas em sonhos com uma espécie de Deus e hilários ‘saltos para o lado de fora da janela’ quando querem sumir das discussões que os rodeiam. Exaustos emocionalmente tem ótimas cenas com a pediatra ‘guru’. O filme pode ser considerado uma grande análise sobre o universo que rodeia a mente dos pais com a chegada de uma nova criança a uma família. Várias situações eles enfrentam na tentativa de encontrarem ajuda: seja com os sogros, na busca pela babá perfeita, os conselhos dos amigos, as idas na caríssima pediatra, tudo é composto por um humor agradável que geram risos mesmo nas reflexões mais sérias.


Com ótimas sacadas, como a troca do choro por melodia do Beethoven, Mais Outro Filho é um dos bons filmes lançados em 2020 que falam sobre o universo de pais e filhos.

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20/12/2020

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Crítica do filme: 'Aqueles que Ficaram'


Almas solitárias em tempos incertos. Dirigido pelo cineasta francês Barnabás Tóth e indicado da Hungria ao Oscar 2021 na categoria Melhor Filmes Estrangeiro, Aqueles que Ficaram é construído através de arcos objetivos dentro de um roteiro pouco contextualizado. Somos testemunhas de um grande bate-papo através do cotidiano e das atualizações sobre o mundo entre duas pessoas de gerações diferentes mas que de alguma forma sofreram com a segunda guerra mundial. Religião, família, pensadores, os assuntos vão variando conforme o tempo passa, um ao outro se ajudam. Lento e confuso em alguns momentos, o projeto necessita de paciência para refletirmos sobre o desenvolvimento dos personagens e sobre o contexto em que estão.


Na trama, conhecemos o médico ginecologista Körner Aladár (Károly Hajduk), um homem com um passado marcado por dor e sofrimento que atualmente, em um mundo no pós guerra, busca algum novo sentido para sua vida. Certo dia, acaba conhecendo a jovem Klára (Abigél Szõke), uma inteligente menina que também, mesmo com pouca idade, sofreu com a perda de parentes queridos na guerra, e logo os dois formam uma conexão, e buscam se ajudar na retomada de suas vidas longe da guerra.


A força de um abraço. A relação que acontece é de ajuda mútua, a solidão em que ambos vivem se tornam grandes debates sobre pensadores e diretrizes do mundo onde vivem. Ambos assíduos leitores, Klára inclusive sabe algumas línguas, conseguem se conectar pela inteligência também mesmo o passado de ambos sendo um grande tabu que não comentam muito nem um com o outro. Por simples gestos, vamos decifrando aos poucos a personalidade de ambos, principalmente da jovem que escreve mensagens em forma de diário para os pais que não estão mais perto dela.


Aqueles que Ficaram é melancólico em sua essência, também não é para menos, é ambientado em um momento de reconstrução de milhares de vidas que sofreram os horrores de uma guerra que deixou sequelas para sempre em nosso planeta.

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19/12/2020

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Crítica do filme: 'Destemida'


A rebeldia como forma de desconstrução. Disponível no catálogo da Netflix, o longa-metragem polonês Destemida, Jak zostac gwiazda no original, busca adaptar o famoso feijão com arroz das fórmulas de sucesso do cinema norte-americano aos tempos atuais, a era do selfie, das hastags e da corrida frenética por seguidores. Filme simples até demais o que deixa tudo às margens da superfície, sem se aprofundar em temas que poderiam gerar boas reflexões ao espectador. Dirigido pela cineasta Anna Wieczur-Bluszcz, o projeto não passa de uma sessão da tarde musical made in Polônia.


Na trama, conhecemos Marta (Katarzyna Sawczuk) uma jovem que mora em uma cidadezinha no interior da Polônia junto com sua mãe, a professora Malgosia (Anita Sokolowska) e sua avó (Maria Pakulnis). Certo dia, um famoso programa de televisão que escolhe novas vozes para o estrelato irá ter audições na cidade onde a protagonista mora. A questão é mais complexa pois o pai de Marta, Olo (Maciej Zakoscielny), com quem ela nunca teve relação, é um dos jurados. Assim, para tentar se aproximar dele, Marta resolve se inscrever no concurso.


As luzes criam um corredor que cruzam de novo os acontecimentos. Em 15 minutos de projeção já sabemos grande parte da história dessa comédia com pitadas de drama que não avançam muito. Água com açúcar e com clichês aos montes, o roteiro busca entregar alguma mensagem sobre relações pais e filhos mas é tudo muito corrido e sem muito sentido, principalmente, quando observamos nos arcos finais uma tentativa de jornada de redenção forçada do pai. Uma das definições mais certeiras para esse projeto é uma história rasa, resvaladoura que corre pelos moldes da superfície, deixando a profundidade pelo caminho.

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10/12/2020

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Crítica do filme: 'Barrage'


Como percorrer 10 anos em alguns dias? Buscando responder a essa e a muitas outras perguntas, Barrage, dirigido pela cineasta de Luxemburgo Laura Schroeder (em seu segundo longa-metragem) é um recorte de uma mãe e sua tentativa de recuperar anos perdidos na criação e afeto da filha. O ritmo é lento, sem muitas informações sobre o passado da protagonista, vamos pela dedução de acordo com as migalhas de memórias que nos apresentam o roteiro. Há um paralelo interessante entre o jogo de tênis (assunto que mãe e filha possuem em comum) e a maternidade, sobre a questão existencial da ‘obrigação x pelo amor’. O projeto conta com a participação especial da fabulosa atriz francesa Isabelle Huppert.


Na trama, conhecemos Catherine (Lolita Chammah), uma mulher que possui abalos psicológicos ligados a seu passado e volta após dez anos morando na Suíça a frequentar a mesma cidade de sua filha Alba (Themis Pauwels), que fora criada e mora com sua avó materna Elisabeth (Isabelle Huppert). Buscando essa reaproximação, mãe e filha embarcam em uma jornada de mágoas e ressentimentos sobre tudo que não viveram.


Co-produzido por Luxemburgo, Bélgica e França, o projeto explora em pouco mais de 100 minutos, uma dupla ótica, que é a grande sacada do roteiro. Com seu primeiro ato tenso e sem muitas informações, percebemos as dificuldades iniciais de Catherine de se entender minimamente com a filha. Há um divisor de águas nessa relação, que começa muito distante, logo nesse arco inicial. Contando histórias de sua família pela sua visão, Catherine embarca com Alba em uma viagem pelas emoções que foram vividas separadamente durante todos esses tempos. Já que as memórias acabam machucando muito, há algumas cenas sem diálogos, onde o olhar diz bastante.


Barrage é mais um filme que explora relacionamentos entre pais e filhos. O final aberto deixa margens para interpretações: será que elas algum dia vão se entender? Será que elas já se entenderam?

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19/11/2020

Crítica do filme: 'Charter'


Se tivesse que escolher, você ficaria com sua mãe ou seu pai? Indicado da Suécia ao próximo Oscar na categoria Melhor Filme Estrangeiro, Charter, escrito e dirigido pela cineasta sueca de 34 anos Amanda Kernell, possui um arrepiante abre alas, um diálogo no escuro que diz muito sobre sentimentos dúvidas/incertezas que veremos ao longo dos intensos 94 minutos de projeção. No início tudo é muito misterioso, aos poucos vamos descobrindo as verdades e alguns porquês (nem todos) sobre como todos os personagens foram parar ali naquela situação complexa que envolve guarda das crianças, a polícia, assistentes sociais, e uma mãe em fuga com os próprios filhos. Um drama profundo, muito bem dirigido. A atuação de Ane Dahl Torp é uma das melhores dos últimos anos quando pensamos em filmes europeus.


Na trama, conhecemos Alice (Ane Dahl Torp) uma mulher que precisou se distanciar dos dois filhos, Elina (Tintin Poggats Sarri) e Vincent (Troy Lundkvist) por alguns meses esperando sair a decisão sobre a custódia das crianças. Mas certo dia, Vicent liga para mãe no meio da noite e isso faz com que ela volte correndo para o lugar onde seus filhos vivem e acaba sequestrando as crianças com destino às ilhas canárias. Mas o pai das crianças, o indecifrável Mattis (Sverrir Gudnason) não deixará barato e aciona a polícia em busca do paradeiro deles.


O roteiro bate na tecla ‘Peso na consciência’ constantemente. Há uma mágoa imensa dos filhos para com a mãe deles. Por conta de escolhas do passado, isso fica evidente com mais clareza quando analisamos as atitudes pela ótica da filha Elina. Mas as demonstrações de arrependimento os une, quando o espírito materno grita, atitudes desesperadas e impulsivas se jogam na tela gerando uma fuga para redescobertas e um entrelinhado pedido de desculpas embutido em cada atitude simpática vindo dessa mãe que se distanciou mas voltou.  Charter é uma poderosa Fita nórdica que fala sobre assuntos importantes que acontecem diariamente no mundo, principalmente quando envolve filhos, pais e separação.

 

 

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02/11/2020

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Crítica do filme: 'Mosquito'


A guerra no pensamento e a pátria no coração. Em seu segundo longa-metragem como diretor, o moçambicano João Nuno Pinto encontra dentro de uma fórmula de um roteiro não-linear, fragmentado, para contar o começo, meio e o fim de uma jornada inclusa dentro de uma guerra que encontra pelo caminho o medo, as incertezas e figuras que fazem o protagonista pensar sobre a própria existência. Mosquito passa pela dura realidade da guerra e termina dentro de lições em busca de uma dignidade. Nos sentimos dentro de uma poesia embaçada, explicando as mais diversas formas de ativação do espírito de sobrevivência. Um trabalho muito interessante que provavelmente não chegará ao complicado circuito exibidor brasileiro. Um belo trabalho, sem dúvidas.


Na trama, conhecemos o soldado Zacharias (João Nunes Monteiro) que por vontade própria se alista no exército português e assim é enviado a Moçambique, na África, com a missão de defender a colônia portuguesa da invasão alemã. Seu pelotão acaba o abandonando porque o protagonista contrai malária. Esse se cura e resolve de maneira inconsequente ir atrás do seu pelotão que está a dias na sua frente. Enfrentando vários tipos de problemas e esbarrando com muitas pessoas, há momentos de silêncio e solidão onde o protagonista precisará encontrar forças para lutar contra sua mente e invocar assim um espírito de sobrevivência. O roteiro de Mosquito é baseado na história real do avô do diretor, que foi um dos soldados mandados a Moçambique na guerra.


Os diálogos se tornam rodadas construtivas sobre inflexões da vida e indagações sobre, desde já, um presente incerto. O fator fé chega forte nos momentos de perda da razão. Há um mix de elementos interessantes que contornam esse drama camuflado de filme de guerra (poucos tiros são disparados inclusive) em um grande espetáculo visual. Filme feito para ser visto em salas de cinema, com certeza a experiência que produz será ampliada, pena que nesse ano de 2020 nossa única oportunidade de conferir esse é pela ótima programação da Mostra SP. Uma pergunta importante seria sobre o mercado audiovisual por aqui. Porque filmes portugueses (ou de países co-irmãos de mesma língua da nossa) insistem em não chegar no circuito exibidor brasileiro? É falta de olhar dos distribuidores? Temos sempre que aguardar um festival que role por aqui para termos acesso.


Atualização (03.11): um amigo disse que o filme tem distribuidora no Brasil. Tomara que essa consiga a janela cinema para esse bom filme. Vamos torcer. 

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01/11/2020

Crítica do filme: 'Toprak'


O acrobata no abismo de olhos vendados para um norte que desconhece. Diretamente da Turquia o longa-metragem Toprak nos mostra um recorte muito verdadeiro de uma família com Avó, tio, sobrinho, e, como relações ‘pais e filhos’ atravessaram gerações com a mesma mentalidade. Há duas perspectivas, a do tio (um homem que não viu o mundo, desconfia de tudo, e só acredita no trabalho manual, no campo, como forma de ganhar seu sustento) e a do protagonista Burak que sonha em cursar a universidade. Dirigido pela cineasta turca Sevgi Hirschhäuser, o filme nos leva para a terra, a dor, as escolhas em um confronto contra o medo do desconhecido.


Na trama, conhecemos o jovem Burak (Burak Aydin) que passa seus dias entre a escola e vendendo romãs na beira de uma estrada que divide o campo do centro, voltando tarde da noite sozinhos pela estrada, a pé. Ele é criado pelo tio Cemil (Numan Çakir), um homem analfabeto que cria o protagonista desde a morte dos pais dele anos atrás. Eles vivem junto com a avó de Burak, mãe de Cemil, que está muito doente. Quando a oportunidade de Burak em ir pra universidade bate a porta, uma decisão de Cemil acaba o deixando no limite para testar sua fé.


Tradições, cultura, fé, campo, terra. Entendemos melhor o universo de Burak quando pensamos nesses elementos incorporados as ações pelo tio. Os conflitos chegam para os dois personagens de forma determinante e assim entendemos melhor os porquês. O sonho tem um papel importante dentro do modo de pensar de Burak e cenas lindas são vistas como forma imaginativa do encontro do mesmo com os pais que pouco conheceu. Lições importantes, até mesmo pelo rico sentimento da quebra da quarta parede no ato final fazem desse um delicado retrato de muitos mundo à fora. Afinal, as oportunidades deveriam chegar mais facilmente para quem não vai desperdiça-las.

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28/06/2020

Crítica do filme: 'Little Joe'


Indicado a dois prêmios no festival de Cannes do ano passado (inclusive, vencendo na categoria de melhor atriz) Little Joe é um filme que busca sua originalidade no universo dos sentidos e os contornos de um gap entre o inusitado e o subconsciente. O roteiro se aproxima um pouco das loucuras criativas de novos modos de pensar que encontramos nos estranhos cantos de roteiros de alguns episódios de Black Mirror. A cineasta austríaca Jessica Hausner assina a direção, bastante competência na maneira de contar essa história.
Na trama, conhecemos a viciada em trabalho Alice (Emily Beecham), uma bióloga que trabalha em uma clínica de engenharia genética que lida com diversas experiências com plantas. Um dos mais prolíferos, Little Joe, é uma planta vermelha que busca mudar sensações de humor. Tudo ia bem até que algumas reações inusitadas com todos que se aproximam dessa planta acontece, deixando a protagonista em uma curiosa linha tênue entre o acreditar ou não no poder de sua criação.
Por conta da ênfase no inusitado, numa tentativa com êxito na maior parte do tempo de tentar passar aos olhos do espectador um frescor de originalidade, o projeto adota um ritmo bastante lento, cheio de detalhes e cores que se solidificam marcando um plano muito bonito composto por uma pega da de criatividade necessárias num universo cinematográfico dos últimos anos cheio de mais do mesmo. A profundidade chega forte com as sessões de terapia da protagonista, no seu labirinto de emoções e pensamentos, o que pode ser real ou não, transforma a jornada de Alice em uma tarefa cheia de obstáculos mas que acabam de certa forma deixando ela entender melhor seus desejos e como leva sua vida.
Exibido no último Festival do Rio, Little Joe é um filme para os que curtem detalhes. Uma mescla argumentativa entre o subconsciente e a nossa necessidade de preencher todas as lacunas de nossa vida.

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17/03/2019

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Crítica do filme: 'Um Banho de Vida'


Nunca despreze as pessoas deprimidas. Dirigido pelo ator e também diretor francês Gilles Lellouche, o profundo drama camuflado de comédia Um Banho de Vida, fala sobre um grande mal dos últimos tempos de maneira leve e com uma mensagem muito bonita de como podemos resistir as dores que nos assolam. Usando uma modalidade esportiva como pano de fundo, uma ótima sacada da equipe de roteiristas, o filme reúne grandes nomes do cinema francês como: Mathieu Amalric, Guillaume Canet, Benoît Poelvoorde,Virginie Efira e Jean-Hugues Anglade.

Na trama, conhecemos o desempregado Bertrand (Mathieu Amalric), um homem de idade já quase avançada que não trabalha faz dois anos e vive desiludido e sem rumo sendo sustentado por sua esposa. Certo dia, após ver um anúncio no quadro de avisos da piscina onde frequenta resolve se cadastrar na equipe de nado sincronizado masculina do local e lá acaba descobrindo outros homens desiludidos e perdidos na vida, cada um com sua história, mas aos poucos o protagonista percebe que aquela é uma chance de um certo recomeço não só para ele mas para todos seus novos amigos.

Falar sobre os conflitos internos não é tarefa fácil para nenhum roteiro. Como há várias portas para se abrirem, o projeto da seu jeito de falar um pouco na superfície (de maneira geral) mas focado mais a fundo no seu protagonista. Os diálogos são ótimos e aos poucos, mesmo com não muitas informações, vamos descobrindo os porquês dos personagens que são iluminados pelo carisma de tantos bons artistas franceses reunidos. Um dos recortes mais profundos mas que fica um pouco de lado na história, é o da treinadora dessa equipe de tristes almas, Delphina, interpretada pelo ótima Virginie Efira. Dentro desse 'consultório aquático', sem dúvidas, você vai rir em algumas cenas mas os momentos de reflexão são maiores, transformando esse singelo filme em uma pequena caixinhas de surpresas que fala sobre o poder que existe quando descobrimos novas razões para nosso viver.

O filme, que estreia no Brasil na próxima 5ª (21.03), foi um sucesso de bilheteria na França, ultrapassando a marca de 4 milhões de bilhetes vendidos, além de 10 indicações ao prêmio César (o Oscar Francês) e também participou do Festival de Cannes de 2018. É uma boa oportunidade para você leitor conferir uma constelação de talentos e um filme que possui uma mensagem bastante importante, principalmente para almas em conflito do lado de cá da telona.

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